Refutação do artigo “A Igreja Católica definiu o cânon?”

Introdução

Consta na Internet um artigo intitulado “A Igreja Católica Definiu o Cânon?” (1) de autoria do teólogo protestante inglês William Webster e adaptado pelo site protestante CACP. A investida é contra a Verdade Histórica e portanto imutável de que foi a Igreja Católica que nos deu a Bíblia. Neste opúsculo faremos uma análise do texto denunciando os artifícios enganadores utilizados contra o leitor.

Sobre o CACP

Segundo o próprio grupo “O CACP é um centro de pesquisas que fornece pesquisas e informações religiosas voltadas para a área apologética. É de confissão evangélica de caráter não denominacional composta por pastores e obreiros de varias denominações Evangélicas, que visa alcançar os perdidos nas seitas e ao mesmo tempo alertar o povo evangélico sobre a sedução das mesmas, incentivando-os e preparando-os para ‘batalhar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos’ (Judas 3)” (2).

O CACP é mais uma iniciativa da Indústria da Desinformação que já está acostumada a apresentar o erro partindo da meia-verdade, complementando esta com conjecturas apresentadas sob um véu de ciência ou estudo científico.

De uma entidade que se intitula “centro de pesquisas” se espera um trabalho acadêmico e cientifico, isto é, muito bem abalizado na literatura e/ou em estudos de especialistas, com metodologia científica comprovada e citação das fontes. Mas infelizmente não é isso que se encontra nos artigos desta entidade, como já mostramos em outras oportunidades e mostraremos especialmente no presente trabalho.

Artigo do CACP:

Os católicos alegam que os protestantes devem confiar em sua tradição para saber que livros devem incluir no cânon Bíblico. O argumento diz que desde que não há um “índice inspirado” da Bíblia, então nós somos forçados a confiar na tradição católica para saber que livros pertencem realmente à Bíblia, e que livros não pertencem.
Os católicos ainda alegam que foi a igreja de Roma, que determinou o cânon bíblico nos Concílios de Hipona (393 A.D.) e Cartago (397 A.D.), e somente por isso que hoje os protestantes sabem quais livros são inspirados, e quais não são. Conseqüentemente, é à Igreja Romana que deveríamos nos submeter em questões de fé e decisões doutrinárias.
Contudo, o argumento acima é espúrio por diversas razões as quais nós iremos comentar logo abaixo:

Cartago e Hipona

Primeiramente, os Concílios de Cartago e Hipona não estabeleceram o cânon à Igreja como um todo. Até mesmo “A Nova Enciclopédia Católica” em inglês assegura o fato de que o Cânon não esteve oficialmente estabelecido à Igreja Ocidental até o Concílio de Trento no século XVI e que até mesmo uma autoridade tal como Gregório, o Grande que posteriormente veio a ser papa havia rejeitado os Apócrifos como canônicos.


Nossa Resposta:

Os Concílios de Hipona (393 d.C) e Cartago (397 d.C) realmente não determinaram o cânon bíblico para todos os cristãos, mas somente para os cristãos de TODO continente africano. Isto exatamente por terem sido concílios regionais e não ecumênicos. Isso tudo é verdade, mas não é toda verdade.

Entretanto, foram eles a confirmar a tendência da Igreja dos primeiros séculos em considerar os livros de Judite, Tobias, 1 e 2 Macabeus, Eclesiástico (Sabedoria de Sirac),  Sabedoria (de Salomão), Baruc e os apêndices gregos de Ester e Daniel como livros canônicos (por isso são conhecidos como deuterocanônicos (deutero=depois)). Consta ainda ao final das atas destes concílios que “as determinações aqui estabelecidas aguardarão o parecer da igreja além-mar”, isto é, da Igreja de Roma. Isso além de ser uma evidente prova do primado de Pedro e da Igreja Romana, mostra ainda que o mesmo parecer dado na África para o cânon das Escrituras foi o da Igreja Romana, pelo fato desta ter aprovado as referidas atas. Conseqüentemente o mesmo cânon foi observado também em todo ocidente, conforme se pode atestar pelo decreto Gelasiano, pelas antigas traduções latinas (Vetus Latina) ou pela célebre tradução de São Jerônimo, conhecida como Vulgata (que desde o séc IV é a versão oficial da Escritura para a Igreja Latina).

Será que os “pesquisadores” não sabem que as “Bíblias” (4) utilizadas no ocidente incluíam os livros que os Protestantes arrancaram de suas bíblias no séc. XVII? Se não sabem, que tipo de pesquisadores são? E se sabem porque escondem esta informação de seus leitores?

Ora, se depois do séc. IV não houve divergência na Igreja do ocidente sobre quais livros deveriam ficar no cânon, logo não havia necessidade de um Concílio para isto, pois onde divergência não há, nada existe para conciliar (daí a origem da palavra “Concílio”).

E se por acaso um Concílio Ecumênico da antiguidade tivesse tratado esse tema, será que o sr. Webster e o CACP aceitariam suas determinações? A resposta nós já sabemos: NÃO. Por que então essa malandragem de ficar negando as determinações destes Concílios só porque eram regionais? Para essa gente não importa o que os Concílios decidiram, caso contrário aceitariam a Maternidade Divina de Maria Santíssima (Concílio de Éfeso), não confessariam o iconoclatismo (II Concílio de Nicéia) e etc.

O sr. Webster, tão caro ao CACP, mente ao dizer que “’A Nova Enciclopédia Católica’ em inglês assegura o fato de que o Cânon não esteve oficialmente estabelecido à Igreja Ocidental até o Concílio de Trento no século XVI”, pois nela consta a seguinte informação:

“F. O Cânon do Antigo Testamente e os Concílios Ecumênicos

O Concílio de Florença (1442)

Em 1442, durante a vida, e com a aprovação, deste concílio, Eugênio IV emitiu diversas Bulas, ou os decretos, visando para restaurar a união dos cismáticos Orientais com Roma, e de acordo com o ensino comum dos doutores teológicos, estes documentos gozam do estado da infabilidade doutrinária. O “Decretum pro Jacobitis” contém uma lista completa dos livros recebidos pela igreja como inspirados, mas omite, quem sabe por prudência, os termos cânon ou canônicos. O Concílio de Florença então ensinou a inspiração de toda a Escritura, mas não as declarou formalmente canônicas” (3).

A infeliz observação que a Nova Enciclopédia Católica Inglesa (NECI) fez porque a Igreja não usou os termos “canônicos” ou “cânon” ao se referir aos livros sagrados, não anula o fato concreto de que uma lista de livros sagrados foi emitida. Por acaso há diferença entre escrituras inspiradas ou canônicas? Não é exatamente por serem consideradas inspiradas que também são canônicas e logo Escrituras (com “E” e não com “e”)? O sr. Webster tirou do texto algo que ele não diz e adotou como verdade suas especulações em detrimento à verdade concreta presente nas fontes pesquisadas. Já deu para ver com quem o CACP aprendeu a fazer pesquisas, não?

Infelizmente nem só de conjecturas absurdas vive a apologética protestante, mas também de devaneios… O Sr. Webster colocou novas mentiras na boca da NECI, afirmando que esta afirmou que “até mesmo uma autoridade tal como Gregório, o Grande que posteriormente veio a ser papa havia rejeitado os Apócrifos como canônicos”.

O Papa Gregório, também chamado o Grande, que governou a Igreja Católica entre os séculos VI e VII, jamais foi contrário ao caráter canônico dos deuterocanônicos (5). Foi Gregório Nanzianzeno (séc. IV) que tinha tal oposição, fazendo coro a uma parcela pequena dos Pais da Igreja que negavam a canonicidade dos deuterocanônicos. Portanto, a informação dada pelo Sr. Webster é equivocada. Mais uma vez suas conclusões não condizem com as fontes pesquisadas.

Artigo do CACP:

Jerônimo, chamado de doutor da igreja, fez uma clara distinção entre os livros que considerava canônicos e eclesiásticos. Quanto ao ultimo grupo ele declarou que poderia circular pela Igreja como literatura útil, mas não foi reconhecida como Escritura Sagrada e autorizada para fins doutrinários.
A situação permaneceu obscura nos séculos seguintes Por Exemplo, João Damasceno, Gregório o Grande, Walafrid, Nicolas de Lyra continuaram a duvidar da canonicidade dos livros deuterocanônicos. Segundo a doutrina católica, o critério usado para definir o cânon bíblico é a decisão infalível da Igreja. No entanto esta tal decisão nunca foi tomada antes do Concílio de Trento. Que isto não tinha sido feito antes de Trento é provado pela incerteza que persistia até o tempo deste Concílio.

Nossa Resposta:

Primeiro é preciso dizer que há uma diferença tremenda entre livros eclesiásticos (que podem ser usados na Igreja) e livros apócrifos (que não podem ser usados). Muito diferente dos protestantes que hoje dizem que os livros deuterocanônicos são heréticos e contra a Fé, alguns dos Santos Padres que não criam na canonicidade destes livros, NUNCA os consideraram contrários à Fé (6).

Apelar para o testemunho destes Padres da Igreja para dizer que os deuterocanônicos são contrários à Fé é distorcer suas palavras, ou ainda, é colocar o testemunho deles contra eles próprios, o que é uma mentira absurda.

É verdade que São Jerônimo quando começou a criar a Vulgata foi contra o caráter canônico dos deuterocanônicos. Isso se explica facilmente pelo fato de ter ele aprendido o hebraico com os mestres rabinos, portanto teve deles influência, fato este muito normal, pois um aluno que não sofre a influência de seu mestre é um aluno bem medíocre. Mas o que o “grande pesquisador” o “mestre do CACP” se esqueceu de mencionar é que depois São Jerônimo reviu alguns de seus conceitos. Isto pode ser atestado em várias fontes: como o prólogo que escreveu à tradução do livro de Judite (7) onde o reconhece como canônico e em sua carta “Apologia contra Rufino” onde defende a canonicidade dos acréscimos gregos aos livros de Daniel (8).

São João Damasceno, ao contrário do que afirma o sr. Webster, reconhecia a canonicidade dos deuterocanônicos. É o que atestamos em sua obra “A Fé Ortodoxa” (9).

Sr. Webster mestre do CACP, mente e equivoca-se com uma constância de assustar.

Artigo do CACP:

Houve pais da igreja de grande influência antes dos Concílios Africanos do Norte que rejeitariam o julgamento destes dois Concílios tais como Orígenes, Melito de Sardes, Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Gregório de Nazianzeno, Hilário de Poitiers, Epifânio, Basílio o Grande, Jerônimo, Rufino e muitos outros. Eles defendiam que os livros do Velho Testamento foram em número de 22 ou às vezes 24, dependendo de como os livros eram agrupados. Isto corresponde ao cânon Judaico que não aceitava os livros apócrifos como sendo canônicos. Jerônimo, que gastou muitos anos estudando na palestina e que teve mestres judaicos, rejeitou os apócrifos porque aqueles livros não foram reconhecidos como canônicos pelos Judeus.

Nossa Resposta:

Devo perguntar ao leitor: o que vale mais? A Voz da Igreja como um todo ou o parecer de vozes isoladas? A resposta é óbvia, mas o Sr. Webster prefere as vozes isoladas. Entretanto, vejamos o que realmente pensavam os autores citados:

Orígines reconhece com canônicos os livros do Macabeus, Baruc e a Carta de Jeremias (que é o capitulo 6 do livro de Baruc nas bíblias católicas) (10, pg. 312). Melitão de Sardes reconhece Baruc e a Carta de Jeremias (Baruc 6), exatamente por referir às obras de Jeremias por pelo título geral “Jeremias” (que organizada Jeremias, Baruc, a Carta e as Lamentações, conforme a Septuaginta) e omite Ester (Ibidem, pg.214-215). S. Atanásio considerava os deuterocanônicos livros úteis para a formação cristã, portanto não contrários à Fé, incluindo nesta lista o livro de Ester (11), porém considera Baruc canônico. S. Cirilo observa a composição de Jeremias conforme a Septuaginta: Jeremias, Baruc, a Carta de Jeremias e as Lamentações (12). S. Gregório de Nanzianzeno observa Jeremias como S. Cirilo: Jeremias, Baruc, a Carta de Jeremias e as Lamentações; não cita Ester. S. Hilário de Poiters declara que “alguns adicionam Tobias e Judite” (13). S. Basílio não fala nada sobre o Cânon, porém utiliza várias citações dos deuterocanônicos (14). S. Jerônimo já dissemos que em sua “Carta à Rufino” revê muitas de suas posições. Rufino considera os deuterocanônicos “eclesiásticos”, isto é, não contrários à Fé (15).

Como se pode constatar, os Pais da Igreja citados pelo Sr. Webster não dizem lá o que ele diz que eles dizem. Sr. Webster falta com a verdade mais uma vez e o CACP vai atrás. Será mesmo que o CACP não confere as informações que citam? Que centro de pesquisas é esse?

Será que o CACP não sabe que até os Pais da Igreja que consideravam os deuterocanônicos canônicos, organizavam-nos em 22 ou 24 livros?

Também é bom lembrar que o tal cânon judaico referido pelo Sr. Webster foi definido em pela Era Cristã. Pergunta: Que autoridade eles tinham para definir à Igreja o que era ou deixava de ser Escritura Sagrada? É verdade que os fariseus de Jâmnia recusaram os deuterocanônicos, mas também recusaram todo o Novo Testamento. Eles não definiram um cânon do AT, mas tão somente um cânon que se pretendia ser observado pelos judeus. Porém, os próprios testemunhos dos Pais da Igreja mostram que tal decisão levou quatro séculos para ser aceita, e os estudiosos são quase unânimes em dizer que as decisões tomadas em Jâmnia não refletiam um costume comum entre os Judeus.

Artigo do CACP:

A objeção que os católicos levantam é que se a Septuaginta incluía esses livros é prova de que os judeus alexandrinos tiveram um cânon mais extenso que seus irmãos palestinenses. Todavia isso não passa de mera especulação. Eles fazem esta afirmação porque os livros apócrifos são incluídos em alguns dos antigos manuscritos que nós temos da Septuaginta. Mas se isto prova alguma coisa, prova no máximo que a Septuaginta incluía os livros apócrifos junto com os livros canônicos do velho Testamento para propósitos de leitura, e não que eles fossem recebidos como canônicos. O manuscrito mais antigo que nós possuímos da Septuaginta remonta ao 4º ou 5º século d.C. Sendo assim eles não refletem necessariamente a crença dos Judeus de Alexandria sobre os apócrifos. Também, esses manuscritos da Septuaginta contêm livros tal como III Macabeus que nunca foi aceito como canônico por Roma. Acrescenta-se a isso, como importante fato, que Orígenes e Atanásio mesmo sendo de Alexandria, ambos rejeitaram os livros apócrifos como sendo canônicos. O único livro apócrifo que Atanásio incluiu na sua lista foi Baruque, mas isto devido ao fato de ele ter pensado que este livro fazia parte do livro de Jeremias.

Nossa Resposta:

Realmente alguns católicos tem dito que pelo fato dos deuterocanônicos estarem na Septuaginta eles são canônicos. Isso não é verdade, já que na Septuaginta há livros que jamais foram considerados canônicos pela Igreja. Porém isto mostra que estes livros possuíam grande estima entre os Judeus. Também é verdade que os mais antigos manuscritos da Septuaginta remontam ao IV ou V século, porém isso não pode ser argumento para dizer que eles não refletem a Fé dos Judeus de Alexandria. Isto porque os manuscritos hebraicos mais antigos do AT, são da mesma época e nem por isso se pretende dizer que não refletem a fé dos antigos judeus. As descobertas do Mar Morto e Massada têm mostrado que os manuscritos da Septuaginta são mais fiéis do que os manuscritos massoréticos, pois revelaram textos hebraicos do séc. I A.C. Também já mostramos anteriormente que tanto Orígines quanto S. Atanásio não disseram o que o Sr. Webster diz que eles disseram. Além disto S. Clemente de Alexandria, considerava dos deuterocanônicos canônicos (10, pg. 298-299).

Artigo do CACP:

Hipona e Cartago foram concílios locais que não tiveram autoridade ecumênica. Em adição, podemos dizer que mesmo aqueles dois Concílios contradizem o Concílio de Trento em um ponto importante. Primeiramente, Hipona e Cartago declara que 1 Esdras e 2 Esdras são canônicos. Eles estão referindo aqui à versão Septuaginta de 1 e 2 Esdras. Nesta versão 1 Esdras é uma adição apócrifa a Esdras enquanto 2 Esdras é a versão Judaica de Esdras-Neemias do cânon Judaico. O Concílio de Trento, entretanto declara que 1 Esdras é realmente o Esdras do cânon Judaico e 2 Esdras é Neemias do cânon Judaico. Trento omite a versão da Septuaginta de 1 Esdras.
Contraditoriamente, Hipona e Cartago declara que Salomão escreveu 5 livros do Antigo Testamento quando na realidade ele escreveu unicamente 3.

Nossa Resposta:

Ainda que os Concílios de Cartago e Hipona tivessem sido ecumênicos, esta gente não os aceitaria. O Concílio Ecumênico de Éfeso declarou a Maternidade Divina da Mãe de Jesus, verdade que eles negam, isto só para citar um exemplo.

De onde o Sr. Webster tirou a informação de que os Concílios Regionais de Hipona e Cartago consideraram canônicos I Esdras (Ezra) e II Esdras (Esdras e Neemias)? Nas atas de Hipona lê-se: “dois livros de Esdras” (16, p. 55). Cartago só fez repetir as palavras de Hipona. Na Septuaginta (LXX) constava I Esdras (apócrifo) e II Esdras (Esdras e Neemias). A Igreja Católica sempre reconheceu II Esdras como dois livros distintos: Esdras e Neemias. O Concílio de Trento nada mais fez do que repetir este mesmo reconhecimento, pois lá lemos que se deve reconhecer como canônicos “o primeiro e o segundo de Esdras (este segundo também dito de Neemias)” (Ibidem, p. 60).  Aqui fica claro que para a Igreja desde Hipona, I e II Esdras são  Esdras e Neemias  respectivamente, e  não  I  e II  Esdras conforme a LXX, como pretende o Sr. Webster. Isso pode se comprovar ainda pela própria organização da Vulgata onde I Esdras = 1o. Livro em II Esdras da LXX, isto é Esdras. II Esdras = 2o. Livro em II Esdras da LXX, isto é Neemias.

Artigo do CACP:

Outro ponto que prova ser as alegações católicas infundadas é o fato de que a prática universal da Igreja como um todo até o tempo da Reforma foi seguir o julgamento de Jerônimo que havia rejeitado os apócrifos. Aqueles livros tiveram a permissão de serem lidos na Igreja para fins de edificação, mas nunca foram considerados autorizados para estabelecer doutrinas.
Parece que a igreja dava dois significados para o termo “canônico” em relação aos livros da Bíblia: um mais lato no sentido de incluir todos os livros que foram permitidos serem lidos nas igrejas e outro mais restrito que incluía unicamente aqueles livros que foram considerados como autoridade para estabelecer doutrina.

Nossa Resposta:

Não é interessante que os apologistas protestantes pretendem saber mais da História e da Doutrina da Igreja do que a própria Igreja? Este artigo do Sr. Webster, com quem o CACP aprendeu sua apologética, é uma colcha de retalhos muito mal costurada.

Como o Sr. Webster pode afirmar que a Igreja até a Reforma seguiu o parecer de S. Jerônimo se ele mesmo mostrou que os Concílios Africanos tomaram decisão diversa? Sr. Webster é tão contraditório que é capaz de contradizer a si mesmo… Fantástico!

Os protestantes dizem que os deuterocanônicos contêm heresias. Como então livros que contém heresias podem ser úteis à edificação (crescimento) da Fé? Ora, só podem servir para a edificação da Fé livros que são conforme a Fé, isto é, não contrários à Fé. O parecer de alguns Pais da Igreja que não reconheceram os deuterocanônicos como canônicos, mas eclesiásticos confronta a tese protestante, que tenta utilizar o parecer deles (que eram menoria) para repudiar livros verdadeiramente sagrados.

Também é falsa a tese do Sr. Webster de que na Igreja os termos canônicos e eclesiásticos se confundiam. Qualquer pessoa que ler o que os Pais da Igreja escreveram sobre isso e que os Concílios disseram atestará isso sem qualquer dificuldade. Felizmente transcrevi tudo isto em meu livro sobre o Cânon Bíblico (17).

Artigo do CACP:

O caso da Glossa Ordinária – Esta Glosa foi um comentário bíblico autorizado para a Igreja Ocidental como um todo. Seu prefácio declara que a Igreja permite a leitura dos livros apócrifos somente para a devoção e instruções e costumes, mas que eles não possuem nenhuma autoridade para decidir controvérsias em matérias de Fé. Ele ainda declara que há 22 livros do AT e apela para os testemunhos de Orígenes, Jerônimo e Rufino.

Nossa Resposta:

A Glossa Ordinaria ou Glosa Ordinária foi uma coleção de comentários e notas à Escritura com base na Vulgata, foi desenvolvida pelo alemão Walafrid Strabo no séc X. Pelo menos alguma coisa o Sr. Webster acertou, este trabalho segue a opinião de S. Jerônimo em seu prólogo da Vulgata, onde o caráter canônico dos deuterocanônicos é negada.

É importante dizer que a Glosa Ordinário jamais foi documento oficial da Igreja Católica, embora tenha influenciado grande parte dos teólogos e bispos da Idade Média. Aliás, cabe lembrar que neste período surgiram os hereges Cátaros, Valdenses, e a própria Reforma, logo não foi um período em que os homens da Igreja estavam lá muito fiéis às origens da Igreja.

Também é importante lembrar que os deuterocanônicos jamais foram tidos pelos Pais da Igreja, ou pela própria Igreja como livros contrários à Fé, caso contrário não poderiam ser usados para a edificação da Fé das Pessoas. Inclusive, os Santos Padres, até mesmo S. Jerônimo fez várias citações deles em seus escritos em pé de igualdade com outros livros da Escritura Sagrada. Nunca é bastante lembrar que o próprio S. Jerônimo reviu algumas de suas posições, como já comentamos.

Artigo do CACP:

Conclusão

As reivindicações que a igreja romana faz sobre o cânon são historicamente insustentáveis. Ela sugere que nós deveríamos receber seus ensinos como autoridade suprema por causa desta questão do cânon, pressupondo que foi ela quem nos deu a lista correta dos livros canônicos. Mas isto equivale aos fariseus exigirem que Jesus recebesse seus ensinos como autoridade suprema simplesmente porque como Judeus eles tinham determinado que livros faziam parte do cânon. Mesmo que as reclamações da Igreja Romana estivessem corretas com respeito ao cânon, isto não prova de maneira alguma que ela está automaticamente correta em todas as áreas pertinentes à sã doutrina, e que nós deveríamos obedecê-la e receber como autenticas suas doutrinas extrabíblicas, não mais do que Jesus deveria receber as doutrinas ou seguir os fariseus hipócritas. As principais doutrinas romanas contradiz as sagradas escrituras tais como a Tradição Oral, o Papado, Maria, os sacramentos, o purgatório, além do que o seu cânon é diferente do cânon da igreja primitiva.

Nossa Resposta:

Aqui o equívoco, contraditório e mesmo mentiroso Sr. Webster, no qual o CACP se apóia, fecha seu artigo com “chave-de-lata”.

Como demonstrei as informações trazidas pelo Sr. Webster são truncadas, equivocadas e até mentirosas. O que a Igreja ensina e afirma continua valendo, pois a História não muda, no passado não pode ser desfeito. Foi a Igreja que nos deu o cânon do AT e do NT. E como é que o Sr. Webster nega esta verdade? Apoiando-se em testemunhos minoritários e isolados que nem sequer concordam com o que ele diz. Essa é a brilhante apologética protestante, esta é a escola do CACP. A mente desta gente é tão funesta que dizem: mesmo que a Igreja tenha definido o Cânon, não lhe devemos obediência. Se a própria história confirma as palavras de S. Paulo de que a “Igreja é a Coluna e o Fundamento da Verdade” (cf. 1Tm 3,15), dizem eles que devemos seguir os ventos de doutrina… que coisa não? Será que o Sr. Webster também não leu 2 Ts 2,15 onde S. Paulo nos manda guardar tanto os ensinamentos orais (Sagrada Tradição) quando os escritos (Sagrada Escritura)?

Jesus, Sr. Webster, não precisa seguir os fariseus, primeiro porque Ele é Deus e segundo, não foram os fariseus que definiram o cânon das Escrituras. E quando pretenderam fazê-lo, Jesus já estava no Céu há muito tempo. Mas, são nestas bobagens que se apóia o Protestantismo.

Notas

(1) “A Igreja Católica Definiu o cânon?”. Disponível em http://www.cacp.org.br/cat-canon-icr.htm

(2) Seção “Quem Somos” no site da própria entidade. Disponível em http://cacp.org.br/quemsomos.aspx.

(3) “O Canon of the Old Testament”. Disponível em http://www.newadvent.org/cathen/03267a.htm.

(4) Nos tempos primitivos as Escrituras eram reunidas em códices, que foram os precursores dos livros. Os códices existentes não reuniam todas as escrituras que só estavam disponíveis em manuscritos e poucos eram os escribas que executavam o árduo trabalho de copiar à mão um livro bíblico.

(5) Pope St. Gregory I (“the Great”). Disponível em http://www.newadvent.org/cathen/06780a.htm.

(6) LIMA, Alessandro. O Cânon Bíblico – A Origem da Lista dos Livros Sagrados. Veritatis Splendor: Brasília, 2007. Pg 39-78.

(7) Ibidem. Pg 63.

(8) Ibidem. Pg 64-65.

(9) Ibidem. Pg 74-75.

(10) EUSÉBIO, de Ceraséia. A História Eclesiástica. São Paulo: Paulus. Coleção Patrística.

(11) ATANASIO, Bispo de Alexandria. New Advent Homepage: Letter 39. Disponível em http://www.newadvent.org/fathers/2806039.htm. Último acesso em 04/06/2007.

(12) CIRILO, de Jerusalém. New Advent Homepage: Catechetical Lecture 4. Disponível em http://www.newadvent.org/fathers/310104.htm. Último acesso em 04/06/2007.

(13) HILÁRIO, de Poiters. The Bible Researcher Homepage: Canon List, Hylary of Poiteires. Disponível em http://www.biblerearcher.com/hilary.htm. Último acesso em 04/06/2007.

(14) BASÍLIO, de Cesaréia. Basílio de Cesaréia, Tratado sobre o Espírito Santo. Tradução de Roque Frangiotti e Monjas Beneditinas. São Paulo: Paulus, 1998. (Patrística; 14).

(15) RUFINO. New Advent Homepage: Commentary on the Apostoles’s Creed. Disponível em http://www.newadvent.org/fathers/2711.htm. Último acesso em 04/06/2007.

(16) BETTENCOURT, Estevão. Revista Pergunte e Responderemos. ANO XLII, No. 465. Fevereiro, 2001.

(17) LIMA, Alessandro. Apostolado Veritatis Splendor: Livro – O Cânon Bíblico. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/4091. Desde 22/12/2006.

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