Trata-se de uma refutação ao artigo de Paulo Cristiano da Silva, destinado a convencer seus leitores de que a unidade católica é uma falácia. Pela presente refutação, demonstramos que tal artigo está absolutamente equivocado. Nossas palavras seguem em vermelho.
"Não refutarei apenas as acusações levantadas contra nós; farei com que elas se voltem contra seus próprios autores" (Tertuliano, 220 d.C)
Tertuliano foi um grande Cristão quando era membro da Igreja Católica Apostólica Romana. Posteriormente quando adere ao Montanismo, que batizava em nome do Pai, do Filho e de Montano ou Priscila, seu própio comportamento o refuta.
"para que sejam um, como nós somos um…" (João 17.22)
Quando Jesus proferiu estas palavras, ele contava com apenas algumas dezenas de seguidores. Jesus deixou bem claro que uma das características pelas quais seus seguidores seriam conhecidos seria a unidade.
Passados quase dois mil anos empós estas palavras serem ditas, o cristianismo conta com cerca de 2,1 bilhões de adeptos, sendo que destes, 1 bilhão pertencem à comunhão Católica Romana.
Diante desta enorme grei de fiéis, o catolicismo se ufana em ser a única igreja verdadeira e um dos motivos invocados para sustentar tal alegação é sua suposta unidade.
Por vezes as igrejas evangélicas são estereotipadas como instáveis, dividindo-se, constantemente, em novas denominações, cada qual com suas doutrinas, disciplinas e costumes. Eles mostram o contraste com a igreja católica, a qual é retratada como sendo sólida e unificada.
Apontam ainda o credo Niceno que reza "Creio na Igreja, Una…", para daí tirarem a conclusão de que as igrejas evangélicas não fazem parte da verdadeira Igreja de Cristo. Somente a Igreja Católica é Una!
O problema do Protestantismo reside essencialmente na tese das Igrejas particulares e independentes. Para que todos sejam um e a Igreja seja una deve haver uma relação de interdependência entre as Igrejas, é esta a idéia sugerida de corpo (1Cor 12). Desta maneira, não se pode esperar que corpos independentes sejam órgãos e venham formas um só corpo, ou seja, não se pode esperar que Igrejas independentes sejam uma só Igreja.
A conclusão de que as Igrejas Protestantes não fazem parte da verdadeira Igreja de Cristo, como vemos acima, não parte somente do Credo Niceno-Constantinopolitano, mas do que acima foi dito, das respostas que daremos a este artigo e principalmente das palavras do autor, pois as Igrejas evangélicas não podem ser membros da Igreja de Cristo, pois constituem si em Igrejas a exemplo da Igreja de Cristo, um corpo não pode ser membro de outro Corpo. Também o plural usado pelo autor quando diz "Igrejas Evangélicas" só vem a reforçar o argumento Católico, pois a Igreja Una, é Igreja e não Igrejas. No sentido de manterem relação de interdependência convivendo umas com as outras em comunidade e fraternidade, não se afirmando como uma Igreja Particular e Independente, porque se a Igreja é de Cristo, como pode ser considerada particular?
Entretanto, cabe aqui algumas perguntas oportunas, qual seja: a suposta unidade do catolicismo é sinal de ortodoxia? Existe base lógica para condenar a diversidade nas igrejas evangélicas como sinal de heresia? Até que ponto essa unidade alegada pelo catolicismo é verdadeira? É realmente tão grave esta diversidade no protestantismo a ponto de não nos enquadrarmos na perícope de João 17.22? E a igreja cristã, sempre teve essa unidade que reivindica o catolicismo?
Estas e outras questões serão claramente respondidas no desenrolar deste artigo. Veremos que a falsa imagem das divisões protestante e a descrição da unidade católica apontada pelo romanismo não passam de exageros.
Respondendo as perguntas:
A suposta unidade do catolicismo é sinal de ortodoxia?
A unidade católica, é uma unidade de fato, não é uma "suposta" unidade. A unidade é sinal de ortodoxia, pois Cristo deseja que todos sejam um (Jo 17,22) e somos batizados para formar um só corpo 1Cor 12,23:
13. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo , judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito. 1Cor 12,13
Existe base lógica para condenar a diversidade nas igrejas evangélicas como sinal de heresia?
Como foi apresentado acima, não existe somente base, mas um edifício inteiro que comprova ser a diversidade de Igrejas Evangélicas, heresia. Conforme diz o Apóstolo:
14. Assim o corpo não consiste em um só membro, mas em muitos. 1 Cor 12,14
O protestantismo se apresenta de maneira contrária a do versículo de tal forma que temos:
Assim, o corpo não constitui-se em um só corpo, mas em vários corpos que constituem um só corpo.
E continua o Apóstolo:
15. Se o pé dissesse: Eu não sou a mão; por isso, não sou do corpo, acaso deixaria ele de ser do corpo?
16. E se a orelha dissesse: Eu não sou o olho; por isso, não sou do corpo, deixaria ela de ser do corpo?
17. Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se fosse todo ouvido, onde estaria o olfato?
18. Mas Deus dispôs no corpo cada um dos membros como lhe aprouve.
19. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? 1Cor 12, 15-19
A mão não tem independência em relação ao corpo, ela é membro do corpo;
A orelha não tem independência em relação ao corpo, ela é membro do corpo.
O corpo todo não constitui-se em um só membro para que este seja independente dos demais membros e faça se corpo, mas sim em um conjunto de membros que formam um corpo. Porém a mentalidade dos Protestantes de "Igrejas Particulares e Independentes", coloca o olho e todas as partes do corpo como corpos.
Ora, se existe diversidade e independência particular das varias Igrejas que formam essa diversidade, como pode haver unidade, sendo que rejeitam a relação de interdependência entre as Igrejas ?
Até que ponto essa unidade alegada pelo catolicismo é verdadeira?
A resposta para esta pergunta daremos na seqüência, respondendo as acusações do autor.
É realmente tão grave esta diversidade no protestantismo a ponto de não nos enquadrarmos na perícope de João 17.22?
A diversidade dentro do Protestantismo não seria tão grave se pudéssemos afirmar no plural Igreja Protestante, como afirmamos Igreja Católica. O pluralismo Protestante pressupõe que a unidade Protestante possa existir somente em cada Igreja particular, mas não no protestantismo como um todo. E isso não se enquadra em Jo 17,22, pelo simples constatação de que se todos são um, existe apenas uma Igreja.
E a igreja cristã, sempre teve essa unidade que reivindica o catolicismo?
A resposta para esta pergunta daremos na seqüência, respondendo as acusações do autor.
DIVERSIDADE NA UNIDADE
Diversidade Eclesiástica
O padre Alberto Luiz Gambarini (criticando as igrejas protestantes), afirma que Pedro é o sinal visível da unidade da igreja. Conseqüentemente, a garantia para a unidade da igreja repousa na sucessão apostólica chegando ao papa atual. [1] O papa, portanto, é o sinal da unidade no catolicismo. Isso também aparece de forma explícita no Catecismo Romano. [2]
Contudo, convém esclarecer que ao contrário do que afirma a Igreja Católica, o cristianismo primitivo não estava dividido hierarquicamente. Ademais, é um fato incontestável que não houve episcopado monárquico no primeiro século. As igrejas eram governadas por colegiados de bispos ou presbíteros que eram termos usados de modo intercambiável (ver Atos 20.17 e 28; Tito 1.5 e 7). O teólogo católico José Comblin, é concorde em dizer que: "No meio deles, Pedro tem um papel de porta-voz.", entretanto, alerta: "Mas ele não é como o superior. São todos iguais. (ênfase acrescentada). Afirma ainda que nas primeiras comunidades cristãs não havia hierarquia, pois todos estavam unidos no colegiado apostólico e "cada igreja agia de modo independente" [3]
O esclarecimento que o autor do artigo da, na verdade oculta a verdade que ele pretende esclarecer. A hierarquia pressupõe um corpo, justamente por isso no reino dos céus existe uma hierarquia entre os anjos e um só corpo angelical. Onde todos são anjos, mas não o são em igualdade.
O cristianismo não é diferente, pois a partir do momento em que Cristo escolhe apenas 12 apóstolos, ele começa a edificar a sua Igreja(Mt 16,18), que é o fundamento dos Apóstolos (Ef 2,20) e a coluna e sustentáculo da verdade (1Tm 3,15). E os Apóstolos por sua vez, sagram Bispos, Presbíteros e Diáconos.
O teólogo José Comblin é um modernista, e o seu dizer é absurdo. São Pedro, foi o único Apóstolo no Novo Testamento a ter uma revelação direta de DEUS, quando confessou ser Cristo o Filho do DEUS vivo. Desta maneira, São Pedro, é o porta-voz de DEUS aos Apóstolos, como se confirma no seu sonho a respeito dos animais impuros. Ademais se são todos iguais, todos deveriam ser porta-vozes para assegurar a igualdade de que fala o "Teólogo". São Paulo quando se converteu procurou São Pedro, se ele eram todos iguais, porque ele não procurou outro apóstolo?
Havia sim hierarquia na Igreja Primitiva que estava em crescimento, justamente por isso a exortação aos Bispos em At 20,28, as Cartas as 7 Igrejas do Apocalipse direcionada aos Bispos e principalmente o fato das questões mais importantes serem levadas aos Apóstolos.
Ora, se as Igrejas agiam de modo independente não haveria sentido São Paulo e Barnabé terem levado a questão da circuncisão a Jerusalém. Se realmente houvesse independência na Igreja de Antioquia, ela teria resolvido a questão sozinha.
Um bom exemplo disso podemos ver na carta que Inácio enviou à Igreja de Roma, no começo do segundo século, onde diz : "Inácio… à Igreja que preside na região dos romanos…" (Inácio de Antioquia, 107 d.C, Carta aos Romanos [Prólogo]). (ênfase nossa)
Deste prólogo se depreende que cada igreja tinha a sua jurisdição limitada ao seu território ou região. Possuía autonomia eclesiástica. Definitivamente o Novo Testamento não apóia o arquétipo eclesiástico de uma única igreja, mas de igrejas distintas e independentes. Por outro lado, todas elas, apesar desta diversidade, formavam a única igreja de Cristo.
Um exemplo citado parcialmente, é um mau e não um bom exemplo, vejamos a citação de Santo Inácio de Antioquia na integra:
Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu Filho único; à Igreja amada e iluminada pela bonbade daquele que quis todas as coisas que existem, segundo fé e amor dela por Jesus Cristo, nosso Deus; à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside o amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai; eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai a. Àqueles que física e espiritualmente estão unidos a todos os seus mandamentos, inabalavelmente repletos da graça de Deus, pufificados de toda coloração estranha, eu lhes desejo alegria pura em Jesus Cristo, nosso Deus.(Prólogo da Carta de Santo Inácio aos Romanos)
Na íntegra deste prólogo, entende-se que a Igreja de Roma, não tinha sua jurisdição apenas na região dos romanos, mas sim no amor, pois porta a lei de Cristo e o nome do Pai, o que confirma a sua jurisdição sobre todas as Igrejas. Santo Inácio na mesma Carta diz:
9. 1Em vossa oração, lembrai-vos da Igreja da Síria que, em meu lugar, tem Deus por pastor. Somente Jesus Cristo e o vosso amor serão nela o bispo. 2De minha parte, sinto-me envergonhado de se contado entre seus fiéis. Não sou digno disso, pois sou o último entre eles, e um abortivo. Contudo, se eu alcançar a Deus, terei recebido a misericórdia de ser alguém. 3Meu espírito vos saúda, bem como o amor das Igrejas que me receberam em nome de Jesus Cristo, e não como simples viajante. Embora não as tenha encontrado fisicamente em meu caminho, elas me precederam de cidade em cidade.
2Eu vos escrevo nove dias antes das calendas de setembro b. Passai bem até o fim, perseverando em Jesus Cristo.
a Forte testemunho do Primado da Igreja de Roma sobre as demais.
b É a única carta de Inácio, datada. Estes "nove dias das Calendas de setembro" correspondem a 24 de agosto.
O Santo Bispo da Síria, professa obediência a Cristo e a Igreja de Roma, mas o autor do artigo usa como exemplo apenas o Prólogo e a parte que lhe interessa, quando os escritores protestantes serão imparciais? Essa profissão de fé definitivamente prova que a tese de Igrejas Indepentes, é falsa e absurda, como já foi explicado acima. A diversidade de membros forma o corpo que dependem da cabeça e jamais a diversidade de corpos poderá formar um corpo.
As igrejas de Corinto, Éfeso, Roma e as demais eram todas igrejas autônomas governadas pelos líderes locais. A unidade das igrejas apostólicas repousava no amor fraternal entre si e na doutrina dos apóstolos; Jesus era o único cabeça da Igreja. Quando Cristo ordena João escrever às 7 igrejas da Ásia, não as colocam sobre a jurisdição eclesiástica de nenhum apóstolo em particular a não ser dEle mesmo.
Ora, se a Igreja de Corinto, Éfeso e Roma fossem Igrejas autônomas e governadas pelos Bispos locais, não leríamos as Cartas aos Romanos, Coríntios e a Epístola aos Efésios. Se os problemas seriam resolvidos pelos "líderes locais" o que não precisaria da intervenção apostólica, como se observa na Carta as Igrejas do Apocalipse, onde um Apóstolo é usado como intermediário entre os Bispos e Cristo. Se tivessem acesso direto e resolvessem seus problemas sozinhos, Cristo se dirigiria diretamente a eles, porém o faz por intermédio do Apóstolo para provar e aprovar a hierarquia que ele mesmo disse que edificaria.
É válido mencionar que se a Igreja nasceu para não ter hierarquia eclesiástica e todos realmente fossem iguais como se prega, ela não precisaria ser edificada, pois a construção de um edifício sugere justamente as diferenças em harmonia para que exista apenas um edifício.
Observa-se nas Igrejas Protestantes, a ausência de Cartas válidas para todas as Igrejas, ainda que dirigida a uma Igreja específica,. Literalmente o costume Apostólico de se escrever as Igrejas, está morto no Protestantismo. Este costume teve continuidade na Igreja através dos Bispos escolhidos pelos Apóstolos, conforme se lê nas Cartas de Santo Inácio, São Clemente de Roma, São Zeferino, etc. A Carta de São Clemente aos Coríntios ( Séc.I) refutada magistralmente a idéia de Igrejas autônomas e prova a continuidade Apostólica na Igreja, conforme se lê:
59. 1Se alguns desobedecem ao que nós lhe dissemos da parte de Deus, saibam eles que estão incorrendo em falta e não pouco perigos. (ICor, 59)
E também:
a. Subordinação Mútua
37. 1Irmãos, militemos com toda nossa prontidão sob as ordens irrepreensíveis dele. 2Consideremos os soldados que servem sob as ordens de nossos governantes: com que disciplina, docilidade e submissão eles executam as funções que lhes são designadas! 3Nem todos são comandantes, nem chefes de mil, nem chefes de cem, nem chefes de cinqüenta, e assim por diante. Cada um, porém, no seu próprio posto, executa aquilo que lhe é prescrito pelo rei e pelos governantes.
O corpo e os membros
4Os grandes não podem existir sem os pequenos, nem os pequenos sem os grandes; em tudo há certa mistura, e nisso há uma necessidade. 5Tomemos o nosso corpo: a cabeça não é nada sem os pés, nem os pés sem a cabeça; os menores membros do nosso corpo são necessários e úteis ao corpo inteiro, mas todos convivem e têm subordinação mútua para a saúde do corpo inteiro.
38. 1Conservemos, portanto, todo o nosso corpo em Cristo Jesus, e cada um seja submisso a seu próximo, conforme o dom que lhe foi conferido. (I Cor,37-38) São Clemente de Roma
Não pode existir amor fraternal se não houver hierarquia eclesiástica, onde cada um cuida do outro segundo o dom que lhe foi conferido. É o que se entende das palavras de São Clemente de Roma destacadas em azul. Também a exortação a obediência prova incontestavelmente que a Igreja de Corinto era incapaz de resolver seus problemas sozinha, o que já era uma realidade na época dos Apóstolo São Paulo.
