Refutando as razões pelas quais não sou católico romano (Parte 1/3)

Um leitor pediu, há algumas semanas, que algum membro do VS elaborasse uma resposta para um texto em que protestantes apontavam 27 razões pelas quais eles não eram católicos. Resolvi aceitar o pedido e apresento o resultado deste esforço.

O texto refutando foi elaborado pela equipe “Em Espírito”, e revisado por um certo Pr. Eleutério Marques.

O que primeiro me saltou aos olhos ao ler o texto foi a imensa (aliás gigantesca) quantidade de textos bíblicos citados pelos autores a cada linha. Aquilo pareceu-me um desafio, pois, confesso, imaginei que os mesmos teriam encontrado passagens bíblicas mais contundentes do que as citadas pela maioria.

Enganei-me.

Este engano, ao princípio, fez-se em forma de decepção; depois, da mais pura indignação. A imensa maioria dos textos citados ou não guarda qualquer relação com o tema discutidos, ou são sacados fora de contextos, ou, quando muito, apoiam tão indiretamente as teses levantadas que é extremamente difícil atinar o porquê de estarem sendo citados.

Ao final das contas, tudo resumia-se às mesmas e velhas citações de sempre. Ao final das contas, o texto não apresentava qualquer novidade motivante.

Enfim… Penso que a leitura desta refutação tem, quando nada, a virtude de apresentar ao leitor uma visão geral a respeito das discussões entre católicos e protestantes. Assim, quem ainda não está acostumado às mesmas, encontrará aqui um resumo de tudo.

Por outro lado, esforcei-me, nos limites da minha ignorância, em explorar argumentos novos ou pouco usados, no intuito de fazer com que a leitura destas Refutações seja de algum interesse para aqueles que já se acostumaram com a apologética católica. Também estes podem encontrar, aqui, alguns argumentos que venham a enriquecer seus conhecimentos.

Gostaria, finalmente, de fazer alguns avisos:

a) Não analisei, em minha resposta, todas as citações bíblicas levantadas pelos autores. Isto seria rigorosamente impossível, dada a, repito, gigantesca quantidade de textos bíblicos que os mesmos citavam a cada linha.

b) Evitei, tanto quanto possível, fazer citações dos pais da Igreja, uma vez que, sem as mesmas, o texto final já ficou longo por demais.

c) Evitei, da mesma forma e pelos mesmos motivos, ir além do estritamente necessário para refutar os argumentos apresentados pelos autores. Ou seja, há muito mais coisas a serem ditas e que não constam da réplica.

A tantos quanto resolverem ler estas linhas, desejo que as mesmas lhes sejam proveitosas.

1.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, primeiramente porque Jesus Cristo salvou-me de meus pecados (Mt 1.21), garantido-me a remissão por Sua graça (Ef 1.7), ao arrepender-me (Lc 13:3; At 3.19; 11.18) e crer em seu sacrificio na Cruz do Calvario (At 20:21; Rm 3.26). Assim o Senhor me fez uma nova criatura (Jo 3:3-6; 2 Co 5:17; Ez 36.26) e seu filho (Jo 1:12; Rm 8.14-17; 1 Jo 3.1), para que hoje eu pudesse glorificá-lo através da minha vida e testemunhar aos outros acerca da grande salvação que me foi concedida pelo Filho de Deus (v. Gl 2.20; Ef 2.10; Hb 13.15-16; 1 Pd 2.5,9-10; Rm 10.13-15).

Este primeiro ítem é como que um resumo de tudo aquilo que os autores destas Razões irão desenvolver abaixo. A crença no sola gratia (“garantindo-me a remissão por Sua graça”), na certeza da salvação (“salvou-me dos meus pecados”), no sola fide (“crer em Seu sacrifício na cruz”). Todos estes são temas chaves (embora não sejam os únicos) dos ítens seguintes.

Assim, para não cansar o leitor, à medida em que os autores forem desenvolvendo o tema, todos estes pontos serão detalhadamente analizados.

2.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque creio na Suprema Autoridade das Escrituras. Creio na Santa Bíblia como única regra infalível para fé e prática (Is 8.20; Mt 22.29; Lc 16.29; Jo 5.39; 10.35; Jo 17.17; At 15.15; 17.11; 24.14; 2 Tm 2.15; 3.15-17; 2 Pd 1.19-21; cf. Sl 19.7-8; 119.105). Esta autoridade das Escrituras deriva de sua divina inspiração (2 Tm 3.16) e de sua revelação que “não foi dada por vontade humana” (2 Pd 1.21), o que lhe garante evidente proeminência.

Como não existe, rigorosamente, nenhum texto bíblico que sustente o sola scriptura, os autores do texto, como bons protestantes que são, resolveram citar uma profusão de textos que:

a) ou louvam as Escrituras;

b) ou louvam a Palavra de Deus.

Ora, louvar as Escrituras não é afirmar o sola scriptura. Afinal, há numerosos textos bíblicos que louvam a Tradição (confiram-se, à guisa de exemplos, 2 Ts, 2, 15; 2 Ts 3, 6). As Escrituras são dignas de louvor, pois, nelas, ressoam o testemunho dos Profetas e da Igreja. Nelas, foi depositada a Revelação de Deus.

Mas, igualmente, a Bíblia louva a Tradição. E os motivos não poderiam ser diversos: na Tradição, ressoa o testemunho dos Apóstolos; na Tradição, foi depositada a Revelação de Deus.

Com relação aos textos que louvam a Palavra de Deus, os autores protestantes cometeram um erro tão lamentável quanto comum nas fileiras protestantes: confundiram Palavra de Deus com Escrituras, dois conceitos distintos. A Palavra de Deus (que, em essência, é o próprio Cristo) é anterior às Escrituras, perpassa as Escrituras e vai além da Escrituras.

A Palavra de Deus é a Revelação total, presente nas Escrituras e na Tradição, transmitida através do Magistério da Igreja.

As Escrituras formam a única fonte de fé que roga para si características únicas de Deus – isto ocorre porque as Escrituras procedem d’Ele. Visto que apenas a Bíblia consegue – como fonte de revelação da verdade – ser firme (Mt 24.35), viva e eficaz (Hb 4.12), verdadeira (Jo 17.17), perfeita (Sl 19.7), infalível (Jo 10.35), suficiente (v. 2 Tm 3.16-17) e eterna (1 Pd 1.25), ela sempre providenciará a palavra mais segura.  Sendo, portanto, incomparável como padrão de fé e conduta.

Novamente, os autores cometemos erros acima descritos. Não há, rigorossamente nada, nos textos citados, que afirme, ainda que remotamente, o sola scriptura.

Afirmação de que as Escrituras (entendidas como sendo a Bíblia) é a “única fonte de fé que roga para si características únicas de Deus” é de uma ingenuidade incomparável, e de uma falácia odiosa.

O que não falta, neste mundo, é revelação afirmando ser divina, infalível, eterna, imutável, etc.. O Alcorão roga para si estas características; o Livro de Mórmon, também; a série “O Universo em Desencanto”, idem.

Portanto, e sem querer negar a autoridade das Escrituras, ninguém pode se fiar em uma revelação pelo simples fato da mesma se proclamar divina. Os católicos, por exemplo, crêem na Bíblia não porque ela afirma ser divina, mas porque a Igreja o afirma.

Por óbvio, a Tradição Católica também se pretende divina, eterna, imutável, infalível, etc.. É importante este ponto, pois, naquilo que ambas as fontes da Revelação cristão rogam para si, elas são iguais e de mesma hierarquia.

Desta forma, entendo que toda e qualquer oralidade deve estar em pleno acordo com a mensagem bíblica (At 17.11; Gl 1.8; Is 8.20), nem ultrapassando-a e nem suprimindo-a (v. Dt  4.2; 12.32; 1 Co 4.6), mas falando exatamente a mesma mensagem da Bíblia (v. 1 Tm 1.3; 2 Tm 4.2; Fp 3.1), pois apenas as Escrituras são infalíveis. Toda tradição, por mais nobre título que lhe seja atribuído pelos homens, deve passar pelo crivo desta regra suprema estabelecida por Deus.

É óbvio que Bíblia e Tradição devem, necessariamente, serem concordes. Não porque a Tradição deva concordar com a Bíblia, mas porque a Bíblia é que deve estar de acordo com a Tradição da Igreja, visto que é nesta Tradição que as Escrituras encontram sua fonte imediata.

Este ponto é difícil de passar goela abaixo dos protestantes.

A Tradição é anterior à Bíblia. E isto é fato histórico.

Antes que se escrevessem as primeiras letras do Novo Testamento, uma geração de cristãos já havia passado. Antes que o Apocalipse fosse escrito, quase todos os apóstolos já haviam morrido; as testemunhas oculares dos acontecimentos já haviam, quase todas perecido; milhares de mártires já haviam vertido o seu sangue em nome de Jesus Cristo.

A prevalecer a tese espúria do sola scriptura, uma vez que cristãos seriam apenas os que seguem a Bíblia, os apóstolos e os mártires gloriosos do primeiro século não seriam cristãos, visto que não tinham uma Bíblia para seguir…

É difícil defender o óbvio…

Para sair desta enrascada, outros “gênios apologistas protestantes” já me afirmram com a tese de que o cristianismo possuiu dois sistemas de revelação. O primeiro, vigorou até que São João escrevesse o Apocalipse, e compunha-se de duas bases: uma Tradição oral (sustentada pelos Apóstolos) e uma escrita (ainda incipiente e disforme). Escrito o Apocalipse, passou a vigorar o “novo sistema”, exclusivamente escriturístico.

Quero ver os protestantes citarem um único versículo bíblico que apóie esta heresia.

Mas, como desgraça pouca é bobagem, escrito o Apocalipse, tendo-se em vista que a Bíblia não define um cânon bíblico, passariam alguns séculos antes que os cristãos definissem, exatamente, quais os livros que compunham, e quais os que não compunham a Bíblia. Tal se deu, apenas, no final do quarto século, quando a era dos mártires já se havia encerrado.

Como definiram os cristãos os textos que compunham e os que não compunham a Bíblia? Simples: valendo-se da TRADIÇÃO. Foi a Tradição da Igreja (esta mesmo que os autores deste texto tentam desacreditar) que definiu o Cânon bíblico. Portanto, a Bíblia é filha da Tradição.

Se a Tradição não é confiável, a Bíblia também não o é, pois retira sua validade daquela. A Tradição existe por si mesmo. A Bíblia, existe através da Tradição.

Se alguma suposta oralidade não preenche tais requisitos, mesmo que alguns afirmem ser uma tradição antiga, podemos sem receio classificá-la  como “tradição humana” e devemos rejeitá-la (v. Mt 15.9; Mc 7.7-9,13; Cl 2.8; Gl 1.7; Ef 4.14; I Pd 1.18; Hb 13.9; 2 Jo 10; Rm 3.4). Porque o Deus que inspirou as Escrituras não pode contradizer-se produzindo um ensino diferente de Sua Palavra (Nm 23.19; Sl 145.13; Ml 3.6; Hb 13.8), a Bíblia Sagrada, e da verdade nela revelada (Sl 119.89; Jo 17.17), uma vez que Ele “de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo” (cf. 2 Tm 2.13) e não pode mentir (Tt 1.2). 

De fato, Deus não se contradiz, e é por isto que não existe um único ponto da Tradição Católica que afronta a Bíblia. Os protestantes sempre tomam por provadas as teses que eles desejariam estar provando.

Repito: não há um único ponto da fé católica que contradiga as Escrituras. Não há um único ponto em que Tradição e Bíblia não anddem juntas.

Aliás, se uma das características de Deus é a não-contradição, que se rendam os protestantes ao Magistério Católico que, em dois mil anos de peregrinações, jamais se contradisse.

É patente que Deus atua no Magistério da Igreja.

Com relação ao protestantismo, a situação é lamentável. Lutero não havia ainda cerrado definitivamente os olhos e os protestantes já se engalfinhavam num emaranhado de doutrinas contraditórias e mutuamente excludentes, sendo que, desde então, estas contradições só fizeram aumentar.

É patente a ausência do Espírito Santo no protestantismo…

Realmente, não poderia haver autoridade divina na Bíblia e, ao mesmo tempo, em outras fontes de suposta revelação, se estas negam aquela. Uma vez reconhecendo esta verdade, eu jamais poderia crer na Tradição romanista – um conjunto de falsas tradições humanas que nada têm de sagradas, divinas ou apostólicas – a qual se mostra em vários aspectos contraditória à Palavra de Deus inerrante, em sua forma final e escrita. E, entre aceitar a Suprema Autoridade das Escrituras e sua inerrância ou supor que Deus tenha se contradito inspirando uma tradição extra-bíblica que anula parte de Sua revelação especial (i.e., os escritos inspirados), permaneço com a primeira opção, estando convencido de que devo me ater Somente às Escrituras. Ainda mais quando sei que elas contém todo o evangelho da graça (v. 1 Co 15.3-4; Gl 1.7-8; 2 Tm 3.15), sendo inclusive capazes de fazer com que “o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra“(2 Tm 3.17). 

Apenas para começar, é necessário que se diga que nenhum dos texto citados afirma que a Bíblia contém todo o Evangelho. Aliás, nem mesmo uma exegese absolutamente enviezada dos mesmos poderia conduzir a tal conclusão (o que duvidar, que leia os textos). Afinal, a Bíblia mesma, como Revelação divina, nos ensina que a totalidadde dos ensinamentos divinos, simplesmente, não caberiam em um livro ( Jo 21, 25).

Só mesmo um deus muito pequeno poderia estar contido num único livro…

Além disto, sempre é bom lembrar os “solascripturistas” de plantão, que a Bíblia não é inerrante nem errante. A Bíblia não erra nem deixa de errar (uma vez que um objeto não age); erram ou acertam os homens ao interpretá-la.

Como eu já disse acima, o Magistério da Igreja (este sim, inerrante e infalível) interpreta-a corretamente; os protestantes, aviltam o seu texto.

Se as Tradições católicas não são nem sagradas, nem divinas, nem apostólicas, igualmente não o é a Bíblia, pois, como já foi dito, É FATO HISTÓRICO QUE A BÍBLIA DERIVA DA TRADIÇÃO.

Mas tudo o que foi dito acima nada mais é do que o básico em matéria de apologética católica. E, para que não fiquemos apenas no básico, vamos dar um pequeno passo além e explorar argumentos muito pouco usados.

Suponhamos que houvesse algum versículo bíblico (saliente-se, novamente, que não há) que afirmasse serem as Escrituras a única fonte de fé dos cristãos. Vamos supor, igualmente (apenas para começarmos) que este versículo estivesse contido num dos capítulos de Isaias. Algo do tipo:

“As Escrituras ? oráculo do Senhor ? são a única fonte de fé do Povo de Deus” (Is X, Y).

Ainda assim, haveria sérios problemas para que a doutrina do sola scriptura fosse minimamente sustentável. Afinal, com a mais absoluta certeza, as “Escrituras” de que falaria Isaias seriam profundamente diferentes das desejadas pelos protestantes. Estas Escrituras não conteriam a maior parte dos livros proféticos e sapienciais, não contendo igualmente nenhum dos livros neo-testamentários.

Igualmente, quando Jesus louva as Escrituras (supondo-se que quisesse dar a entender que apenas elas são confiáveis) o problema seria o mesmo. As Escrituras às quais Jesus se refere são profundamente diferentes, seja das referidas por Isaias, seja daquelas que os protestantes trazem sob o braço. As “Escrituras de Jesus”, uma vez que, às escâncaras, Ele adotava a Versão dos LXX, conteriam todos os livros deuterocanônicos e alguns apócrifos (não constantes do cânon protestantes), e deixariam de lado todos os livros neo-testamentários.

Quando São Paulo louvou as Escrituras em 2 Tm 3, 16-17, que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar e para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem seja perfeito, qualificado para toda boa obra (que os protestantes são useiros e vezeiros em citar para aopiar o sola scriptura, sem se darem conta que os mesmos rejeitam tanto o sola fide quanto a doutrina da imputação de justiça) é a estas Escrituras que se referia.

Daí se percebe a inocência (para se dizer o mínimo) das citações bíblicas de Isaías, dos Evangelhos, dos Atos dos Apóstolos ou da Epístolas Sagradas. O conceito do que sejam Escrituras foi fluidio até que, no final do século IV de nossa era, o cânon se fechou de uma vez por todas.

Vamos, por fim, supor que, em um outro livro qualquer (por exemplo, o Evangelho de São João), houvesse algum versículo (e, adianto aos menos avisados, tal versículo não existe) dizendo algo do tipo:

“São considerados inspirados os seguintes livros: Gênesis, Êxodo, (…), este Evangelho, (…) Apocalipse”. Jo, X, Y

Talvez, com isto, se demonstrasse o sola scriptura.

Ledo engano. Como se verá no parágrafo seguinte, nem a existência de tal versículo sustentaria a sola scriptura. Imagine-se, então, qual é a sustentabilidade da mesma na ausência de tal versículo…

No exemplo acima, o sola scriptura não se sustentaria, pois, afinal, restaria o problema de se demonstrar que o Evangelho segundo São João é inspirado. Afinal, qualquer Zé Mané pode, ao escrever qualquer livrinho de banca de jornal, fazer uma lista de livros inspirados na qual se incluísse a si mesmo.

Assim, para que este versículo tivesse qualquer validade, seria necessário de uma outra fonte, externa ao mesmo, que lhe validasse. Necessitaria de uma autoridade extra-bíblica para tanto.

Como se percebe, com toda a clareza, a doutrina do sola scriptura não apenas apresenta um insuperável vício material (a mesma não aparece em qualquer lugar das Escrituras), como também apresenta um defeito lógico incorrigível: simplesmente é impossível que o sola scriptura se sustentasse “Somente com a Bíblia”.

3.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque eu creio na plena consumação do Sacrifício de Cristo. Isto significa dizer que eu creio que Cristo morreu pelos nossos pecados de uma vez por todas (1 Co 15.3; 1 Pd 2.24; Hb 10.10; cf. 9.11-12); não sendo necessário (Hb 7.27; 9.26; 10.14,18) e nem mesmo possível (Hb 9.27-28) renovar ou perpetuar este sacrifício irrepetível, segundo a pretensão a que se realizam as missas católicas. 

O apóstolo Paulo em sua Epístola aos Romanos diz: “Sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado“(Rm 6.9,10a). Assim também nos ensina o apóstolo Pedro, quando em sua Primeira Epístola podemos ler que “Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus“(1 Pd 3.18a).  

Tais verdades ficam ainda mais evidentes quando comparamos com a Epístola aos Hebreus. Onde está escrito:

“Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu.” (Hb 7.26-27).

“Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus; nem ainda para se oferecer a si mesmo muitas vezes, como o sumo sacerdote cada ano entra no Santo dos Santos com sangue alheio. Ora, neste caso, seria necessário que ele tivesse sofrido muitas vezes desde a fundação do mundo; agora, porém, ao se cumprirem os tempos, se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado.E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos…” (Hb 9.24-28a)

“Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus,”(Hb 10.10-12). Nesta escritura fica expressa de uma forma evidente a impossibilidade do sacrifício de Cristo ser renovado,  porque após o Senhor Jesus oferecer um único sacrifício pelos pecados, Ele assentou-se à destra de Deus (cf. Mc 16.19; At 2.33; Cl 3.1; Hb 8.1; 12.2; 1 Pd 3.22). Assim também podemos ler as palavras divinas que: 

“Ele, que é a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as cousas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hebreus 1.3)

Perceba-se que o fato de Jesus ter “assentado-se” dá-nos a certeza da terminalidade de um sacrifício consumado, de uma obra finalizada (Is 53.11), exatamente como o Senhor nos garantiu em João 19.30: “Está Consumado!“. O que se harmoniza perfeitamente com a Sua afirmação no livro da Revelação, ” …fui morto, mas eis que aqui estou vivo pelos séculos dos séculos” (Ap 1.18). Em tempo, ressalte-se aqui o fato de que a palavra utilizada em Romanos 6.10 para descrever a morte de Jesus como uma obra finalizada – ephapax – é justamente a mesma palavra utilizada para descrever o seu sacrifício e a oferta de seu corpo (Hb 7.27; 10.10; cf. 9.25-26). De modo que assim como Cristo não pode morrer outra vez, também não pode o seu corpo ser oferecido outra vez ou seu sacrifício pelo pecado ser perpetuado. Diante de uma verdade bíblica tão evidente que até os cegos podem ver, eu jamais poderia aceitar a blasfêmia católica do Sacrifício da missa, o qual nada mais é que a própria antítese do ensino bíblico! 

Na verdade, a Santa Ceia não foi estabelecida para oferecer Cristo ao Pai novamente (cf. Hb 9.25-28; At 3.21), expondo-O a vitupério (Hb 6.6), mas para memorarmos de seu sacrifício até que Ele volte (1 Co 11.26). Por isso Jesus nos disse: “Fazei isto em memória de mim“(cf. Mt 26.26-27; Lc 22.19-20; 1 Co 11.24-25). 

Certas coisas são muito difíceis de serem rebatidas. Não pela força do argumento que as sustenta, mas porque é difícil (extremamente difícil) provar o óbvio. Pois, para quem o vê, todo argumento é desnecessário; para quem não o vê, todo argumento será inútil.

Há séculos que os protestantes sabem, muito bem, que, na teologia católica da Missa, não existe uma repetição do sacrifício único, irrepetível e perfeito, realizado uma vez por todas pelo Salvador para a remissão de todos os pecados.

Na teologia católica, a Missa faz o Memorial da Morte e da Ressurreição de Jesus Cristo. Seu sacrifício não se repete, mas renova-se. Aquele mesmo sacrifício, único e eterno, faz-se presente, apenas que, agora, de maneira incruenta. Portanto, todas as críticas realizadas contra a Missa baseadas no argumento de que o sacrifício de Cristo não se repete são incongruentes e desprovidas de qualquer sentido.

Os autores do texto parecem saber disso. Afinal, começam este tópico de suas Razões afirmando que não se pode “renovar ou perpetuar” o sacrifício da Missa. Isto chamou-me a atenção. Pensei que, depois de anos de apologética e de debates com protestantes, finalmente eu teria achado alguns que pudessem levantar algum argumento contra a verdadeira doutrina católica da Missa. Pensei que os autores destas Razões sairiam do ramerrãozinho protestante que insiste, ad nauseam, em afirmar que o sacrifício da Cruz é irrepetível, como se a Doutrina Católica dissesse o contrário.

Ledo engano da minha parte.

Os textos bíblicos apontados são os mesmos de sempre, que refutariam apenas a tese de repetição do sacrifício de Cristo. A verdadeira teologia católica não foi, sequer, arranhada.

Aliás, é interessante como os protestantes, desesperadamente, tentam denegrir o sacramento da Eucaristia. Mesmo quando sabem (como, insisto, parece ser o caso dos autores destas Razões) que suas críticas são infundadas.

Há um motivo nisto.

Aceita a doutrina do Sacríficio Incruento (como, aliás, é historicamente certo que a mesma foi aceita desde os primórdios do cristianismo), chega-se à conclusão de que sacerdotes ordenados são essenciais. A conseqüência deste fato, por sua vez, é a necessidade de uma hierarquia instituída, o que, por sua vez, joga por terra todo o arcabouço protestante.

Um protestante não pode, aprioristicamente, aceitar a doutrina da Missa, pois isto equivale a aceitar ser o protestantismo fruto do Demônio.

Também devemos lembrar que a negação do cálice ao povo é anti-bíblica (cf; Mt 26.25; 1 Co 11.26) e cerimônias, como procissões Eucarísticas, além de não serem escriturísticas (Dt 4.2; 12.32; 1 Co 4.6; Gl 1.8), fogem totalmente ao propósito e à natureza da ordenação instituída por Jesus (Mt 15.9; Mc 7.7-9; 1 Tm 1.3-4).

A Igreja não nega o cálice ao povo. A comunhão sob duas espécies é possível e recomendada. Apenas que, comungando-se seja somente do Pão eucarístico, seja somente do Vinho, seja, por fim, de ambos, comunga-se sempre do Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo.

Portanto, um católico sempre comunga do cálice, ainda que não o comungue sob a espécie do Vinho.

Com relação às procissões eucarísticas, o tema é ligado à transubstanciação, e não à teologia da Missa. Se há transubstanciação, então as “procissões eucarísticas” não somente são permitidas, mas até necessárias.

Aliás, a própria Bíblia deixa, muito claro, que Deus aprova as procissões. Tanto aprova, que mandou o Seu povo realizá-las diversas vezes no Antigo Testamento. Vejam-se estes dois exemplos:

“Partiram da montanha do senhor e caminharam três dias. Durante esses três dias de marcha, a arca da aliança do senhor os precedia, para lhes escolher um lugar de repouso. A nuvem do senhor estava sobre eles de dia, quando partiam do acampamento”. (Números 10,33-34)

“Sete sacerdotes, tocando sete trombetas, irão adiante da arca. No sétimo dia dareis sete vezes volta à cidade, tocando os sacerdotes a trombeta”. (Josué 6,4)

Isto é tanto mais significativo quando sabemos que a Arca da Aliança trazia, dentro de si, o Verbo de Deus, mero símbolo de Jesus Cristo. Ela é, portanto, símbolo de Maria (que trouxe o verdadeiro Verbo de Deus dentro de si) e, de outro, da própria eucaristia (pois Cristo está escondido sob as espécies do Pão e do Vinho).

Portanto, nós católicos, apoiados na Bíblia e na Tradição, confortavelmente, fazemos (e continuaremos fazendo) procissões, seja levando adiante imagens (e não ídolos) de Maria Santíssima ou dos santos, seja levando as espécies consagradas.

4.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque as Sagradas Escrituras nos ensinam repetidas vezes que a salvação é pela graça e exclusivamente por meio da fé (Jo 1.12; 3.15-16, 36; 5.24; 6.28-29, 39-40, 47; 11.25-26; 20.31; At 10.43; 13.39; 15.11; 16.31; Rm 1.16-17; 3.22-26, 28, 30; Rm 4.5-8; 5.1-2; 5.15-21; 6.23; 10.10-11; 1 Co 1.21; Gl 2.16; Gl 3.8,11; Fp 3.9; Ef 1.6-7,13-14; 2.8-9; 2 Tm 1.9; 3.15; 1 Pd 2.6; 1 Jo 5.13; Ap 21.6; 22.17) e que as boas obras apenas evidenciam a fé salvífica (Gl 5.6,22-23; Tt 2.14; 3.8; Tg 2.18; Ef 2.10), sendo conseqüência e não causa da salvação.

A melhor forma de se iniciar este trecho destas Respostas é citando 1 Pe 4, 8: “A prática da caridade cobre uma multidão de pecados”. É vivamente impressionante que, diante de um texto tão cristalinamente óbvio, os protestantes afirmem que a Bíblia ensina o sola fide.

Mas, como se verá abaixo, textos óbvios refutanto o sola fide é o que não falta na Bíblia, seja no Antigo, seja no Novo Testamento.

Há uma série de textos bíblicos falando da importância da fé para a salvação. No entanto, na contramão, há tantos outros falando da necessidade de obras para que o cristão se salve.

E agora? OS autores destas Razões lêem, da Bíblia, apenas o que lhes interessa? O somente a Bíblia, como eu sempre digo, acaba, inexoravelmente por se deteriorar num somente algumas partes da Bíblia. Tal é, exatamente, o que ocorre neste texto que ora se refuta.

O fato é que, diante de textos que, aparentemente dizem coisas contraditórias, o intérprete deve conciliá-los. Uma única conciliação é possível: a fé e as obras, cada qual em seu papel, contribuem e são essenciais à salvação.

Aliás, é justamente isto que, magistralmente, diz São Tiago : O homem é justificado pelas obras e não somente pela fé. (Tg, 2, 26)

Dá para ser mais explícito do que isto?

Dificilmente…

E, no entanto, os protestantes seguirão, gerações afora, afirmando que, biblicamente, o homem só se justifica pela fé. Ninguém os removerá desta heresia.

É importante que se frise que, em Rm 4, 3, é dito que Abraão creu e isto lhe foi imputado como justiça. Deste fato, os protestantes concluem duas coisas:

a) Que a justificação ocorre somente pela fé;

b) Que para tanto basta um único ato de fé.

No entanto, em Sl 105, 31, lemos que Finéias foi obediente ao Senhor, zeloso com Sua casa, e que isto lhe foi imputado como justiça. As palavras usadas são as mesmas, e, se é lícito aos protestantes retirarem de Rm 4, 3 as conclusões acima, ser-me-á lícito, de Sl 105, 31 retirar as seguintes conclusões:

a) A justificação ocorre pela obediência;

b) Um único ato de obediência é suficiente para que alguém se justifique de uma vez por todas.

É óbvio que nenhuma das duas conclusões é válida, pois ambas se baseiam, apenas, em textos descontextualizados e ignoram o conjunto da Revelação escrita e da Tradição.

Além disso, as Sagradas Escrituras encerram dentro de uma impossibilidade a hipótese estapafúrdia de que a salvação poderia vir em parte pela graça e em parte pelas obras – como desejaria o Romanismo-, pois o apóstolo Paulo afirma que “Se é pela graça, já não é pelas obras, do contrário, a graça já não é graça“(Rm 11.6; compare com Ef 2.9; Tt 3.5-7). Isto ocorre porque o dom gratuito de Deus, que é a vida eterna por Jesus Cristo nosso Senhor (Rm 6.23), não depende de qualquer justiça humana (Rm 3.10,23; 7.18; Is 64.6; Fp 3.9), mas apenas da perfeita, eterna e imutável justiça de Cristo, que é nossa mediante a fé (Jr 23.6; Rm 3.26; 5.17-21; 1 Co 1.30; 2 Co 5.21). Por isso a salvação é só pela graça!

Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.

 Não vem de obras para que ninguém se glorie” (Epístola de Paulo aos Efésios 2.8-9)

A citação destes trechos de São Paulo para justificar o demoníaco sola gratia revela ou bem uma ignorância completa da Bíblia, ou bem uma total falta de comprometimento com a verdade. Quando São Paulo afirma que as obras não influem em nossa salvação, é comezinho, e de conhecimento de todos, que ele se referia às obras da lei judaica, e não às obras de caridade cristã.

As obras da lei, de fato, nada valem. Nada podem. São Paulo opõe a doutrina da salvação pelas obras da lei mosaica (defendida pelos judaizantes) pela doutrina da salvação pela fides formata, adotada pela Igreja desde o princípio.

Salva-nos a fé formada pela caridade; a fé frutuosa; e não a simples crença subjetiva de que Jesus é Deus e Salvador dos homens.

Pois, como diz a Bíblia, até os demônios crêem nisto.

Pois, como diz a Bíblia, nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor”, entrará no Reino dos Céus.

E, até onde sabemos, os demônios residirão, para sempre, nos infernos. Exatamente o que acontecerá com aqueles que só crêem e nada praticam. Com aqueles que, seguindo a orientação protestante, apenas invocam o nome de Jesus…

Na tentativa de amenizar a contradição existente entre a doutrina bíblica e a teologia papista, os católicos romanos, mediante uma interpretação débil e que despreza a exegese bíblica, normalmente citam Tg 2.18-26 em contraposição à Rm 3-5, como se a verdade das Sagradas Escrituras fosse auto-refutante. Porém, eles é que estão equivocados em sua deturpação (2 Pd 3.16) por omitirem o fato de que o apóstolo Paulo está se referindo unicamente à justificação diante de Deus (ver Gl 3.11), enquanto o apóstolo Tiago está se referindo à justificação diante dos homens (cf. Tg 2.18, “… mostrame a tua féte mostrarei a minha fé pelas minhas obras“), cujo significado é vindicar e na qual as obras testificam diante dos homens a existência da fé verdadeira (cf. Tg 2.14,18), sendo [meramente] frutos da mesma – algo coerente com as demais Escrituras (cf Ef 2.10; Gl 5.6). Assim, embora Paulo e Tiago cressem que a justificação diante de Deus era somente pela fé, conforme lemos em Rm 4.4-7 e em Tg 2.23, os dois estavam abordando a mesma doutrina vista por ângulos opostos, enquanto o primeiro fala da raiz o outro está falando do fruto, “porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o Senhor, o coração“(1 Sm 16.7).

Com todo o respeito pela expressão, esta foi um “soco no estômago”. Impressionante a capacidade protestante de virar e revirar a Bíblia apenas para não enxergar aquilo que a própria Bíblia põe diante de seus olhos.

Comecemos pela citação de Gl 3, 11, na qual, segundo os autores destas Razões, São Paulo está falando na justificação diante de Deus. Ela é muito clara: “É evidente que pela Lei, ninguém se justifica diante de Deus.” Novamente, São Paulo está falando das obras da Lei Mosaica, e não da caridade cristã.

Isto, por si só, já desqualifica o texto como argumento que sustente o sola fide.

Mas a pantomina maior ocorreu no texto de São Tiago. Para os autores, o escritor sagrado está falando da “justificação diante dos homens”, que seria alcançada com as obras. O que, exatamente, seria “justificação diante dos homens” e qual a importância da mesma, ninguém sabe. Parece que se trata de doutrina novíssima, apenas compartilhada por uns poucos iniciados.

O curioso, é que Jesus já nos havia alertado: “Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens para serdes vistos por eles, do contrário, não recebereis a vossa recompensa diante de Deus.”

Estranhamente, para os autores destas Razões, São Tiago, contrariando o ensinamento do Jesus, achava que nós devemos nos justificar diante dos homens…

No entanto, como era de se esperar, esta afirmação é tanto mais esdrúxula quanto equivocada. A própria epístola de São Tiago nos mostra isto: “Não foi pelas obras que nosso pai Abrãao foi justificado ao colocar seu filho sobre o altar?” (Tg, 2, 21).

Ora, Abraão estava sozinho com Isaac ao oferecer-lhe em sacrifício. Portanto, a justificação que as obras de Abraão operaram em seu favor, operaram-na diante de Deus.

Se não bastasse isto, em Tg 1, 27, o mesmo São Tiago afirma: ” A religião pura e sem mácula DIANTE DE DEUS, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas atribulações e guardar-se da livre corrupção do mundo.”

Como se vê, os protestantes não se dão muito bem com a Espístola de São Tiago.

E, para que não haja dúvidas (se é que ainda há alguma!) de que a justificação de que fala São Tiago é a mesma justificação de que fala São Paulo seja em sua Epístola aos Romanos, seja em qualquer outra, repito, aqui, o versículo acima transcrito: “Estais vendo que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé“. Ou seja, São Tiago está falando de uma única justificação, operada tanto pela fé quanto pelas obras.

Por outro lado, é por demais perceptível que a Igreja Católica Romana não consegue formular explicações plausíveis e que não firam a coerência da revelação bíblica para as passagens das Sagradas Escrituras (já citadas no início deste tópico) que ensinam a verdade da salvação gratuita e exclusivamente mediante a fé. Daí o porquê de ser muito mais simples e seguro aceitar as Escrituras como elas de fato são – e a verdade de Deus como de fato ela é – do que enveredar pelo labirinto doutrinário do Romanismo. Quão majestosas e ao mesmo tempo elucidativas são as palavras do apóstolo dos gentios, quando ele nos diz: 

“Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua lhe é imputada como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus imputa justiça, independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniqüidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado… E não somente por causa dele está escrito que lhe foi levado em conta, mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. “(Rm 4.3-8,23-25; cf. Gl 3.6-9,11,22,24; 1 Co 6.11).

Sabendo disto e me comprazendo na verdade das boas-novas que as Escrituras nos comunicam (Jo 3.16; Rm 1.17; Gl 2.16), eu jamais poderia aceitar a perversora soteriologia católica, a qual perverte o Evangelho (Rm 1.16; Gl 1.8) ao condicionar a salvação do crente às suas obras meritórias, falsos sacramentos, submissão ao papa e etc. Acrescentando, também, outros elementos estranhos à soteriologia bíblica como, por exemplo, um estado de purificação dos eleitos denominado de purgatório, sobre o qual trataremos mais abaixo.

Perversa soteriologia católica… Como já se demonstrou, esta “perversa” soterologia não é nada além da verdade cristã revelada, inclusive nas Escrituras.

Basta olharmos as Bem-aventuranças de Mt 5, 3-12. O Senhor fala dos puros, mansos, pacificadores, misericordiosos, aflitos… Em nenhum momento Ele fala “bem-aventurados os que crêem”. Aliás, quem estiver interessado leia todo o Sermão da Montanha (Mt 5-7). Segundo os teólogos, este é o coração do cristianismo. Toda a doutrina de Cristo está contida nele. Pois bem, o Sermão da Montanha é, substancialmente, uma ode às boas obras. Não julgar, não condenar, não manter falsas aparências, não adulterar, não cobiçar, repartir, orar em segredo, não agredir, não juntar tesouros na terra, etc.. Em nenhum momento deste “Estatuto do Cristianismo”, fala-se em salvar-se pela fé somente.

Talvez os protestantes nunca tenham se dado conta disto porque, entre eles, não existem teólogos. Existem apenas aqueles que se apegam às suas pré-concepções, intitulam-se “iluminados do Espírito Santo”, e saem a pregar suas próprias conclusões.

Como desgraça pouca é bobagem, o final do Sermão da Montanha é uma retumbante negação do sola fide. Jesus, como que falando diretamente aos protestantes (e quem pode negar, peremptoriamente, de que o Senhor não os tenha previsto e os tinha em mente ao falar estas palavras?), afirma: “Nem todo aquele que diz ‘senhor, senhor’ entrará no reino dos céus, mas somente aquele que pratica a vontade de meu Pai. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, não foi em teu nome que profetizamos, e em teu nome que expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres?’ Então, eu lhes declararei: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, vós que praticais a Iniqüidade. Quem ouve as minhas palavras e as põe em prática será comparado a um homem sensato (…). Por outro lado, quem ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato.(Mt 7, 21-26)

Pois, é… O coração do Evangelho, que, solenemente elogia as boas obra, solenemente descarta, em seu final, o sola fide.

Mas, repita-se, como desgraça pouca é bobagem, leia, quem se interessar, o que está escrito em Mt 25, 31-46, sobre o julgamento dos justos e o dos injustos. Aqueles são os que praticam as boas-obras; estes, os que não as praticam.

Frise-se: os que vão para o inferno não são os que praticam más obras, mas aqueles que não praticam as boas. Ou seja, para que alguém seja condenado, não é imprescindível que faça o mal, basta que não faça o bem. O mal do protestante é que ele lê e não entende. E, apesar disto, ousa afirmar que a soterologia católica é perversa…

Mas, como desgraça pouca é bobagem, leia-se 2 Co 4, 10: Porquanto todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o Tribunal de Cristo, a fim de que cada um receba a retribuição daquilo que houver feito em sua vida neste corpo, seja para o bem, seja para o mal.”

Mas, como desgraça pouca é bobagem, veja-se este outro trecho: “Então, o Filho do Homem há de vir na Glória de Seu Pai e retribuirá a cada um de acordo com o seu comportamento.” (Mt 16, 27)

Por ora, basta. Creio que o doutrina do sola fide já foi posta em seu devido lugar.

5.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque as Sagradas Escrituras também enfatizam que apenas o Soberano e Eterno Senhor deve ser cultuado, porquanto é Ele mesmo quem nos diz, em Sua Palavra, que não divide Sua glória  (cf. Is 42.8; 48.11, “A minha glória não darei a outrem“) e o Senhor Jesus Cristo disse, conforme está registrado nos evangelhos: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto“(Mt 4.10; Lc 4.8; compare com Ap 4.11; 5.12; 14.7;19.10;  22.9; 1 Cr 16.29; Sl 96.9). Este é o ensino bíblico referente ao culto exclusivo a Deus, que os cristãos bíblicos preservam e devem sempre preservar, o qual, com efeito, nos impede de concordar com a Mariolatria (v.  Lc 11.27-28; v. tb. Mt 12.48-50; Mc 3.33-35) e o culto aos santos – tendo sido este, inclusive, recusado até pelos apóstolos (At 3.12ss; 10.25-26; 14.14-15).

Começo a responder citando o Salmo 8, 6: “(Tu, Senhor), fizeste (o homem) pouco menos do que os anjos, coroando-lhe de GLÓRIA e de HONRA.” Sigo citando o Novo Testamento: “Nossas tribulações momentâneas não têm comparação com o peso eternos de GLÓRIA que nos está preparado nos céus.”(2 Co, 4 17)

Os protestantes, no entanto, com a sua sola algumas partes da scriptura, afirmam que Deus não cede a ninguém Sua Glória, continuandocom apenas o que lhes interessa e desprezando tudo o mais. E, depois, acusam a Igreja Católica de desrespeitar a Bíblia.

Para completar a tragédia, além de lerem apenas o que lhes interessam, lêem-no mal. O trecho acima está repleto de interpretações enviezadas e descontextualizadas. Em Is 42, 8, Deus fala, com muita clareza, que não dividiria Sua glória com outros deuses (ou com outros ídolos, dependendo da tradução). O mesmo é o sentido de Is 48, 11.

Por sua vez, em At 10, 25-26 e 14, 14-15, tanto São Pedro (no primeiro tesxto), quanto São Paulo (no segundo) rechaçam, veementemente um culto de adoração que os homens lhes estavam prestando (“e, prostando-se aos seus pés, adorou-o”; “pretendiam oferecer-lhes um sacrifício”). Ou seja, rejeitavam a LATRIA que lhes dirigiam os homens, sendo que não rejeitavam a dulia.

Os outros trechos, em geral, não dizem absolutamente coisa alguma. Limitam-se a dizer que Deus é digno de glória, e que somente o mesmo é digno de LATRIA.

Como se o catolicismo dissesse o contrário…

Por fim, não faltou, é claro, o ataque à mãe de Deus. Como, no entanto este ataque está dentro do ataque dirigido ao culto católicos aos santos, limito-me, por ora, ao que foi dito.

6.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque as Sagradas Escrituras ensinam de uma forma evidente acerca da proibição divina no que tange ao culto prestado às imagens de escultura. A despeito dos idólatras desprezarem a Palavra do Senhor, Isaías 42.8 diz de forma límpida: “Eu sou o Senhor, este é o meu nome, a minha glória, pois, não darei a outrem, nem o meu louvor às imagens de escultura” (Is 42.8). A mesma orientação também se faz presente em centenas de textos, sintetizados em: “Não te encurvarás perante elas (as imagens, vs.4), nem prestarás lhes culto…”(Êx 20.5; Dt 5.8-9). 

E como esqueceríamos de tão severa advertência pronunciada por Aqu’Ele que é digno de toda glória? Ainda mais quando lemos na Escritura: “Não fareis para vós outros ídolos, nem  vos levantareis imagem de escultura nem coluna, nem poreis pedra com figuras na vossa terra,  para  vos inclinardes a ela; porque eu sou o SENHOR, vosso Deus.” (Lv 26.1). Ou ainda quando podemos ler em Deuteronômio a advertência divina “para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher ” (Dt. 4.16; veja também:  Dt 27.15;  Nm 33.52;  Is 41.29). Sendo assim, amando a Palavra de Deus e a respeitando pelo que ela é, eu jamais poderia comungar com a Idolatria Católica Romana, a qual é biblicamente reprovável em todos os seus aspectos (1 Co 6.9-10; 10.7,14; Ap 21.8; 22.15; Gl 5.19-21). Certamente que nunca estarei aos pés dos ídolos mudos do Romanismo em detrimento de cultuar ao Deus vivo!

De forma semelhante, como não desprezar os ídolos que o Catolicismo Romanismo criou? Tomo por minhas as palavras do Salmista quando Ele diz “Os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não vêem; têm ouvidos, mas não ouvem; nariz têm, mas não cheiram. Têm mãos, mas não apalpam; têm pés, mas não andam; nem som algum sai da sua garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e todos os que neles confiam.“(Sl 115.4-8 e Sl 135.15-18). 

Nos escritos do Novo Testamento, podemos ler o testemunho apostólico acerca da questão: “E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.”(2 Co 6.16). Sabendo disto e estando diante de mim a escolha de abraçar a idolatria católica ou permanecer fiel às Sagradas Escrituras, perseverando na doutrina dos apóstolos (At 2.42), prefiro a segunda opção e a guarda do conselho do apóstolo João, em Sua Primeira Epístola, quando ele exorta aos cristãos: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.”(1 Jo 5.21).

De todos os impropérios e de todas as maledicências que nos são dirigidos pelos protestantes, a acusação de idolatria é, sem dúvida alguma, mais cansativa de todos. Cansa e esgota a paciência de qualquer um defender-se de acusações tão pueris e mal-intencionadas.

Os próprios textos citados pelos autores destas Razões deixam antever ou bem a completa ignorância do que seja o culto católico aos santos, ou bem a total falta de compromisso com a verdade ao criticá-la.

Para os que ainda não o sabem, a Igreja Católica diferencia, muito bem, dois cultos distintos: o culto de adoração, devido apenas à Deus (a que chama de “latria”), e o culto de veneração, devido aos santos (a que chama de “dulia”, sendo que o culto devido à Maria é, amiúde, chamado de “hiperdulia”).

O fato é que os povos que circundavam Israel somente conheciam o culto de adoração (latria), que dedicavam aos seus deuses. É certo, ainda, que tais deuses, sem exceção, eram, todos eles, representados em esculturas. O perigo de que o povo eleito fosse cair numa “latria” com relação a estes ídolos era muito grande.

Por isto, Deus proibiu o culto (e somente poderia estar proibindo a “latria”, visto que, à época do Antigo Testamento, este era o único culto conhecido) dirigido aos ídolos (ou deuses) pagãos, culto este que se concretizava na adoração de suas imagens.

Em outras palavras, Deus não proibiu todo e qualquer culto, nem proibiu toda e qualquer imagem. Tanto não o proibiu que ordenou, Ele mesmo, a construção de imagens sobre a Arca da Aliança e de imagens que ornassem o Templo, isto sem falar na construção da famosa imagem da serpente de bronze no deserto.

Aliás, basta que se leiam os textos bíblicos citados pelos protestantes para que se tenha, com muita clareza, a exata noção daquilo que eu estou falando. Quase que a totalidade deles fala, expressamente, de ídolos (que são deuses pagãos). Na verdade, apenas um é que não os cita expressamente, mas, sem dúvida nenhuma, este é o seu sentido.

Portanto, não existe rigorosamente nada no culto católico aos santos que ofenda, ainda que remotamente, à doutrina bíblica. Os Santos não são ídolos, e nem devem ser adorados.

7.NÃO SOU UM CATÓLICO ROMANO, porque, sabendo que a Palavra de Deus não nos diz que é necessário se ser um católico romano para se ser salvo (Jo 3.16-18, 36; 10.1-11, 27-30; 14.6; At 16.31; Rm 10.9; 1 Jo 4.9; 5.12), eu jamais poderia aceitar a pretensão romanista expressa na afirmação de que não há salvação fora da Igreja Católica Romana. Na realidade, quem acrescenta este tipo de condição espúria para a salvação do pecador está pregando um outro Evangelho, ao qual devemos rejeitar (Gl 1.8).

É de todo salutar que se inicie a refutação a este ítem relembrando qual é a verdadeira doutrina católica a respeito da necessidade da Igreja para a Salvação. Não existe salvação fora da Igreja, muito embora exista salvação para além dos limites visíveis da mesma. Ou seja, se alguém, por desconhecer a Cristo e a Sua Igreja, sem culpa, esforça-se por seguir a lei natural que Deus colocou em seu coração, é certo que o mesmo pode se salvar.

Salvar-se-á embora não seja católico (está fora dos limites visíveis da Igreja). No entanto, este indivíduo é parte do Corpo de Cristo, e, portanto, de Sua Igreja.

Segundo as Escrituras, a salvação é uma obra exclusiva de Deus (Ap 7.10; Ap 19.1; cf. Is 43.11; 45.22; Jn 2.9) através de seu Filho (At 4.12) que veio “salvar o que se havia perdido“(Mt 18.11 e Lc 19.10; ver 1 Jo 4.14), dando sua vida em resgate de muitos (Mt 20.28; Mc 10.45; 1 Pd 1.18,19), morrendo pelos nossos pecados (Is 53.5-11; Mt 1.21; 1 Co 15.3; Gl 1.4; Tt 2.14; Hb 9.26-28; Hb 10.10-14; 1 Pd 2.24), vivendo para sempre a interceder (Rm 8.34; Hb 7.25) por aqueles que “com uma única oferta aperfeiçoou para sempre“(Hb 10.14)

A afirmação de que a salvação é obra exclusiva de Deus merece, quando menos, severas críticas. A salvação é obra de Deus e da Igreja. E o é da Igreja por dois motivos. Em primeiro lugar, é a Igreja quem leva o conhecimento de Jesus Cristo aos homens de todas as Nações. É ela quem trabalha para a salvação dos homens, seja com o anúncio do Evangelho (e, neste ponto, nem os protestantes o podem negar), seja por meio da dispensação dos sacramentos.

Em segundo lugar, a salvação é obra da Igreja porque ela completa, em sua própria carne (isto é, em seus membros) aquilo que faltou ao sacrifício de Cristo na Cruz. A Igreja, portanto, participa do sacrifício vicário de Jesus, sendo, em certa medida, co-autora da salvação.

O meio instrumental da salvação não está numa Igreja, mas na fé em Jesus Cristo (At 10.43; 13.39; Rm 3.26; 4.5; 10.4). Por isso a pregação apostólica consistia em: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.”(At 16.31). O conceito da salvação está bem delineado em Rm 3.24, onde aprendemos que a causa eficiente da salvação é a graça e o pagamento já realizado é através da redenção que há em Cristo Jesus.

A pertença à Igreja é essencial para a salvação daqueles que a conhecem, pois, nela, encontram-se os meios ordinários de salvação. Jesus fundou, sobre Pedro (como se verá abaixo) apenas uma Igreja. Esta Igreja é o corpo de Cristo. Um membro amputado do Corpo é um membro morto.

Um cristão, que, voluntariamente, se separa da Igreja Católica, separa-se do Corpo de Cristo, entrando na morte.

Muito simples, não?

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