Resposta a um leitor protestante

Prezados irmãos e irmãs,
Gostaria de parabenizá-los pela iniciativa deste site em tornar acessível ao público em geral, e católico romano em especial, artigos elaborados por indivíduos que demonstram visão crítica e capacidade de expressão. Isto, infelizmente, não é hábito histórico da igreja romana, que sempre se caracterizou por restringir a quatro paredes a liberdade de pensamento e expressão do cristão comum, aquele mesmo homem comum a quem o Senhor Jesus tantas vezes priorizou em seu ministério terreno.
Não tenho muitas esperanças de ter respondida esta minha intromissão em vosso site, pois percebo nos artigos que publicam contra o protestantismo a mesma agressividade da qual acusam seus “opositores”.
Alguns de vocês têm biografias que demonstram sinceridade na busca da compreensão da Verdade e andaram pelos mais diversos caminhos até definirem seu posicionamento atual. E isto não é nenhum demérito. Creio que nosso Deus se alegra com corações sinceros e, creio mais ainda, que só Ele os conhece. Portanto, pensamentos divergentes são comuns na trajetória de todos nós.
Sou protestante por opção e tenho me levantado no meio protestante para criticar a balbúrdia teológica que toma conta hoje das igrejas cristãs que se originaram do movimento da Reforma. Mas é preciso deixar bem claro que a verdadeira igreja de Cristo não possui CNPJ. Nenhuma instituição está autorizada a falar em nome de Deus nesta terra e a busca pela compreensão do que significa realmente ser cristão deveria, como o próprio Senhor Jesus ensinou, passar pela análise de nosso próprio interior: “Como tirar o cisco do olho de outro se tens uma trave no teu?”. Também caberia aqui lembrar as palavras do apóstolo Paulo: “Quem és tu que julgas o servo alheio?”.
A denominação chamada “protestante” nasceu de um cenário histórico no qual a instituição que se chamava “Igreja” desvirtuara-se totalmente dos parâmetros do verdadeiro cristianismo, mesmo que se considerem as verdadeiras tradições cristãs defendidas pela igreja romana, mas alheias às Escrituras que consideramos sagradas. A Reforma permitiu o retorno da liberdade de pensamento e de expressão ao cristianismo e, graças a ela, vocês e nós podemos nos expressar livremente hoje. O preço é alto, pois a liberdade de expressão é para todos e sempre haverá vozes para ensinar mentiras, e a história nos mostra que estas vozes sempre foram a maioria.
Um erro repetidamente cometido por alguns é associar a igreja romana à Igreja primitiva, como se estas estivessem de alguma forma ligadas historicamente. Até a igreja oriental teria mais direito a esta pretensão, se esta não fosse inconcebível. A igreja romana é uma vertente do cristianismo primitivo tanto quanto qualquer outra igreja cristã, ou vocês imaginam que santo Agostinho concordaria com aquilo em que a igreja romana se transformou tantos e tantos séculos depois de sua partida. Agostinho foi um teólogo cristão, e não um teólogo romano. E o mesmo se deu a tantos homens piedosos que buscaram com sinceridade, ao longo da história, priorizar a Cristo e não ao seu próprio ego na busca pela compreensão das razões da nossa fé.
Sugiro que abandonemos nossas posições de confronto e busquemos realmente compreender as intenções de Jesus Cristo, do qual tomamos o nome. Isto feito, com sinceridade de coração, chegaremos à compreensão de quem são os verdadeiros inimigos da fé cristã.
Estou cansado de uma intelectualidade posta a serviço da vaidade, do egoísmo e da política. Cansado de ver homens e mulheres, daqui e de lá, que se proclamam apóstolos e detentores da verdade absoluta. Se Jesus quisesse, ele teria declarado seu direito canônico e fundado sua própria instituição. Mas Ele não o fez. Ao contrário, ensinou valores que não temos vivido. Nem católicos protestantes, nem católicos romanos. Afinal, gostemos ou não, somos todos universais, mas poucos de nós somos verdadeiramente cristãos. Jesus disse que muitos têm ouvido, mas não ouvem. Nada mais atual. Aliás, todas as Suas palavras continuam atuais. Basta acessá-las.
Que a verdadeira Paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo seja com todos nós e seja ela o árbitro de nossos corações. (Carlos)

Prezado Carlos,

A paz de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Permita-me começar esta resposta com duas citações de Santo Agostinho, teólogo que você mencionou em sua mensagem:

“Eu não creria no Evangelho, se a isto não me levasse a autoridade da Igreja católica.” [1]

“Roma falou, causa encerrada.” [2]

O sentido dessas citações é tão profundo e tão evidente que dispensaria qualquer comentário. Você afirma em sua mensagem que “Agostinho foi um teólogo cristão, e não um teólogo romano”, mas o fato é que a Igreja à qual S. Agostinho se referia era a Igreja Católica, a única fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, a única que existia à época de S. Agostinho — e que existe até hoje — em total fidelidade a Cristo, aos Apóstolos e à fé “confiada de uma vez para sempre aos santos” (Jd 3). A tese segundo a qual S. Agostinho não “concordaria com aquilo em que a igreja romana se transformou tantos e tantos séculos depois de sua partida”, como você sugere, não passa de uma conjectura, uma hipótese que se torna altamente improvável (para não dizer impossível) quando confrontada com as palavras acima, do próprio S. Agostinho. As citações aludidas deixam claro que, para o Bispo de Hipona, a autoridade da Igreja era (é) indispensável. Sendo assim, é inimaginável que S. Agostinho rompesse com a Igreja, como fizeram os “reformadores”. A trajetória de Igreja é marcada por episódios lamentáveis cometidos por seus filhos, e o próprio Senhor Jesus Cristo predisse isso, quando se referiu à coexistência do joio e do trigo (cf. Mt 13,24-30). Não obstante, grandes santos e santas entraram para a história precisamente por terem permanecido fiéis à Igreja e ao sucessor de S. Pedro, isto é, ao Papa, em meio às tribulações e provações. Em vez de seguirem aquilo que lhes parecia ser o correto e de tentarem resolver as coisas por eles mesmos, como os “reformadores” de ontem e de hoje, foram fiéis e obedientes, e jamais duvidaram das promessas de Cristo de que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja (Mt 16,18), de que Ele jamais a abandonaria (Mt 28,19-20). Com Santo Agostinho certamente não seria diferente.

Dito isto, passo a comentar mais pormenorizadamente a sua missiva.

1) “(…) Isto, infelizmente, não é hábito histórico da igreja romana, que sempre se caracterizou por restringir a quatro paredes a liberdade de pensamento e expressão do cristão comum (…)”.

Considerando o objetivo com o qual foi constituída, a saber, ensinar e conservar incólume a doutrina revelada, a Igreja não só tem o direito como também o dever de dizer a verdade e de corrigir o erro. Se qualquer homem, dentro ou fora da Igreja, levantar-se para, de acordo com o seu próprio entendimento, propagar o erro e a mentira, a Igreja não poderá jamais se calar, deverá sempre ensinar o certo e condenar o errado, pois foi essa a missão que lhe foi confiada por seu Fundador, missão essa plasmada na pessoa de S. Pedro e dos seus legítimos sucessores, conforme narrado no Evangelho Segundo S. João (grifos meus):

“15. Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. 16. Perguntou-lhe outra vez: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. 17. Perguntou-lhe pela terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.” (Jo 21,15-17)

Ademais, a afirmação de que a Igreja sempre restringiu a liberdade de pensamento e de expressão não corresponde à verdade. Algumas das mais antigas e prestigiosas universidades européias têm a Igreja em suas origens. O sistema universitário e a própria ciência, tal como os conhecemos hoje, têm uma dívida com a Igreja:

“O que foi que tornou possível à civilização ocidental desenvolver a ciência e as ciências sociais de um modo que nenhuma outra civilização havia conseguido até então? Estou convencido de que a resposta está no penetrante e profundamente arraigado espírito de pesquisa que teve início na Idade Média como conseqüência natural da ênfase posta na razão. Com exceção das verdades reveladas, a razão era entronizada nas universidades medievais como árbitro decisivo pra a maior parte dos debates e controvérsias intelectuais. Os estudantes, imersos em um ambiente universitário, consideravam muito natural empregar a razão para pesquisar as áreas do conhecimento que não haviam sido exploradas anteriormente, assim como discutir as possibilidades que antes não haviam sido consideradas seriamente.” [3]

Além disso, a história registra que os Papas intervieram diversas vezes em defesa da universidade, como nos relata o professor Thomas E. Woods Jr.:

Em 1220, o papa Honório III (1216-1227) pôs do lado dos professores de Bolonha, que protestavam contra as violações das suas liberdades. Quando o chanceler de Paris insistiu em que se jurasse lealdade à sua pessoa, o papa Inocêncio III (1198-1216) interveio. Em 1231, perante a intromissão das autoridades diocesanas locais na autonomia institucional da universidade, o papa Gregório IX lançou a bula Parens scientiarum, em favor dos mestres de Paris. Nesse documento, concedeu efetivamente à Universidade de Paris o direito à autonomia de governo, com a qual podia elaborar as suas próprias regras a respeito dos cursos e pesquisas; e submeteu-a diretamente à jurisdição pontifícia, emancipando-a da interferência diocesana. ‘Com esse documento — escreve um historiador — a Universidade de Paris atingiu a maioridade e entrou na história do direito como uma corporação intelectual plenamente formada, destinada ao preparo e aperfeiçoamento acadêmicos’.” [4]

A associação entre Igreja Católica e “repressão”, “obscurantismo” etc. não passa de puro preconceito, fruto de desconhecimento histórico.

Caso tenha interesse, em nosso Índice Temático você encontrará uma série de artigos sobre a Inquisição, assunto que se relaciona com esse tema.

2) “(…) percebo nos artigos que publicam contra o protestantismo a mesma agressividade da qual acusam seus ‘opositores’.”

Mesmo que admitamos algum eventual excesso no uso de determinados adjetivos, o fato é que não podemos jamais nos furtar a denunciar o erro e apresentar a verdade. Se tal postura é vista como “agressividade”, nós só podemos lamentar.

3) “Sou protestante por opção e tenho me levantado no meio protestante para criticar a balbúrdia teológica que toma conta hoje das igrejas cristãs que se originaram do movimento da Reforma.”

Não sei se você exerce algum cargo em sua denominação, seja diácono, presbítero ou pastor. Não sei se é professor universitário, se é um teólogo/escritor de renome ou se ocupa algum lugar de destaque em seu contexto social. Agora, espero que minha franqueza não o ofenda, mas gostaria de saber com que autoridade você “se levanta” no meio protestante para criticar a “balbúrdia teológica” que grassa hoje no protestantismo. Quem o constituiu essa espécie de “atalaia”? Essas perguntas não têm o intuito de ofendê-lo, muito menos de ridicularizá-lo, mas sim o de levá-lo a refletir. Com efeito, que garantia você pode ter de que a sua visão das coisas é mais correta ou verdadeira que a dos seus demais companheiros protestantes? Afinal, se não há autoridade além da Bíblia (como estabelece o princípio Sola Scriptura), e se cada um pode estudar a Escritura Sagrada e tirar as suas próprias conclusões à luz do Espírito Santo (?), quem está certo, afinal? Os evangélicos pentecostais, os neopentecostais ou os tradicionais? Os protestantes conservadores ou os progressistas? Os adeptos da neortodoxia, da teologia liberal ou do open theism? Os luteranos, os calvinistas ou os batistas (para citar apenas três das maiores denominações protestantes)? Quem, dentro do protestantismo, pode dizer quem está certo e quem está errado? Percebe como a “balbúrdia teológica” (a expressão é sua!) dentro do protestantismo é algo inevitável e insanável?

4) “Mas é preciso deixar bem claro que a verdadeira igreja de Cristo não possui CNPJ. Nenhuma instituição está autorizada a falar em nome de Deus nesta terra e a busca pela compreensão do que significa realmente ser cristão deveria, como o próprio Senhor Jesus ensinou, passar pela análise de nosso próprio interior (…)”.

De fato, a veracidade da Igreja de Cristo vai muito além de um CNPJ. É de algo muito sério que estamos falando. É o nosso destino eterno que está em jogo. A verdadeira Igreja de Cristo não pode ser outra senão aquela que Ele mesmo fundou. Ora, não só a Bíblia, mas também a história nos dão prova de que Cristo fundou uma Igreja há dois mil anos. O relato do Evangelho Segundo S. Mateus é claríssimo (grifo meu):

“E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16,18)

A passagem acima contém duas verdades insofismáveis: a) que Cristo fundou uma Igreja, a Sua Igreja; e b) que as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela, ou seja, que a Igreja que Cristo fundou não fracassará jamais, é invencível e indestrutível, pois foi o próprio Cristo quem no-lo prometeu. Aliás, essa passagem contém ainda uma terceira verdade que também não podemos deixar de ressaltar: que o Apóstolo São Pedro foi constituído por Cristo a pedra (fundamento) visível da Igreja, ou seja, aquele incumbido da missão de conduzir, como os trilhos de um trem, todo o povo cristão, o que é claramente confirmado pela já citada passagem de Jo 21,15-17 e também em Lc 22,31-32 (grifo meu):

“31. Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como o trigo; 32. mas eu roguei por ti, para que a tua confiança não desfaleça; e tu, por tua vez, confirma os teus irmãos.”

Dessa forma, torna-se evidente que a Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo não poderia — e não poderá jamais — fracassar, e não poderia desviar-se do objetivo para o qual foi erigida, pois se isso acontecesse a promessa de Cristo teria falhado, o que é impensável. E por todas as razões bíblicas, históricas, teológicas, lógicas e filosóficas, essa igreja só pode ser a Igreja Católica Apostólica Romana. Essa Igreja está, sim, “autorizada a falar em nome de Deus nesta terra”, pois foi precisamente para isso que ela foi fundada. E “a compreensão do que significa realmente ser cristão” não é, de modo algum, algo subjetivo, não se limita a uma “análise de nosso próprio interior”. Se fosse assim, isto é, se fosse para cada indivíduo, interiormente (em outras palavras, de modo subjetivo), encontrar aquilo que “significa realmente ser cristão”, Cristo não teria escolhido doze Apóstolos em meio à multidão para conduzir a Sua Igreja. Se Nosso Senhor Jesus Cristo escolheu os doze, confiando a S. Pedro a primazia, foi justamente para que a compreensão do que significa realmente ser cristão não ficasse à mercê das interpretações e opiniões pessoais. Foi para que isso não acontecesse, e para o nosso próprio bem, que a Igreja foi constituída.

5) “A denominação chamada ‘protestante’ nasceu de um cenário histórico no qual a instituição que se chamava ‘Igreja’ desvirtuara-se totalmente dos parâmetros do verdadeiro cristianismo (…)”.

Sei que é desagradável ser repetitivo, mas a questão permanece: qual será, afinal, o “verdadeiro cristianismo”? O que você, Carlos, entende como verdadeiro cristianismo? Será que o seu entendimento do que seja o verdadeiro cristianismo é o suficiente? Ou seria o verdadeiro cristianismo um daqueles preconizados por alguma das centenas ou milhares de denominações cristãs? Como podemos saber, de forma objetiva (e não subjetiva), qual o verdadeiro cristianismo? Fica claro que só existe uma resposta para esse questionamento, e essa resposta só pode ser encontrada na Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo, a saber, a Igreja Católica Apostólica Romana. Mas para se reconhecer essa verdade é preciso despir-se de algo sobre o que falarei ao final deste texto.

6) “A Reforma permitiu o retorno da liberdade de pensamento e de expressão ao cristianismo e, graças a ela, vocês e nós podemos nos expressar livremente hoje.”

Talvez você não saiba, mas houve também a inquisição protestante. Para maiores informações, sugiro a leitura dos artigos abaixo, publicados no site [do Apostolado Veritatis Splendor]:

· A inquisição protestante
· A perseguição dos católicos franceses por calvinistas
· Ainda as inquisições protestantes
· Leitora questiona a inquisição protestante

É claro que um erro não justifica outro. O que estou querendo dizer é que os protestantes não estão, historicamente, em condições de advogarem para si o título de “defensores da liberdade de pensamento e de expressão”, pois a história mostra que não foi bem assim. E se você fizer uma pesquisa rápida, verá que nem Calvino nem Lutero (os dois principais nomes da chamada “Reforma Protestante”) foram exemplos de tolerância e de respeito pela liberdade de pensamento e de expressão, muito pelo contrário…

Ademais, dizer que é graças a Reforma que nós “podemos nos expressar livremente hoje” é uma presunção enorme, além de uma imprecisão histórica (para dizer o mínimo). E aqui vale lembrar o que foi dito no item 1 sobre a relação entre a Igreja e o avanço do conhecimento humano.

7) “O preço é alto, pois a liberdade de expressão é para todos e sempre haverá vozes para ensinar mentiras, e a história nos mostra que estas vozes sempre foram a maioria.”

Realmente, com a liberdade de expressão sempre haverá vozes para ensinar mentiras. Nisso concordamos. Mas, graças a Deus, nós católicos temos como e onde encontrar a verdade em meio a tanta mentira, e em meio às opiniões pessoais e interpretações particulares. Nós temos como conhecer a verdade objetivamente. Já os protestantes, infelizmente, não podem dizer o mesmo, e por isso vemos essa “balbúrdia teológica” que caracteriza o protestantismo desde os seus primórdios até os dias atuais.

8) “Um erro repetidamente cometido por alguns é associar a igreja romana à Igreja primitiva, como se estas estivessem de alguma forma ligadas historicamente. Até a igreja oriental teria mais direito a esta pretensão, se esta não fosse inconcebível. A igreja romana é uma vertente do cristianismo primitivo tanto quanto qualquer outra igreja cristã (…)”.

Bem, essa é uma questão que a história responde de forma muito clara. Aliás, trata-se não só de uma evidência histórica, mas também de uma evidência lógica. A esse respeito, peço que você leia os artigos abaixo, todos publicados [naquele mesmo] site:

· A fundação da Igreja Católica por Nosso Senhor Jesus Cristo
· A Igreja Católica desapareceu da Terra
· A Igreja Católica foi fundada por Constantino?
· A origem da Igreja e do papado
· A visibilidade da Igreja
· Como e quando surgiu o Catolicismo?
· Cristianismo primitivo = Catolicismo?
· Perguntas sobre a Igreja, Bíblia, escritos patrísticos etc.
· Qual a origem da Igreja Católica?
· Respondendo a um presbítero da 5ª Igreja Presbiteriana
· A Igreja primitiva era católica ou protestante?
· A religião revelada
· A sua Igreja é bíblica?
· A verdadeira e única Igreja
· Igreja Católica, Igreja de Cristo
· Jesus Cristo e a sua Igreja
· Leitora furiosa contesta eclesiologia católica
· Qual é a verdadeira Igreja?
· Razões da pretensão cristã
· Teólogo protestante diz não haver diferenças entre católicos e protestantes
· Transformaram o essencial em supérfluo
· Uma idéia simples

9) “Sugiro que abandonemos nossas posições de confronto e busquemos realmente compreender as intenções de Jesus Cristo, do qual tomamos o nome. Isto feito, com sinceridade de coração, chegaremos à compreensão de quem são os verdadeiros inimigos da fé cristã.”

Nós, católicos, não precisamos mais buscar compreender as intenções de Jesus Cristo, pois tais intenções estão consubstanciadas na Igreja Católica. Na Igreja podemos ter a certeza de encontrar tudo aquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo quis revelar para nós. Não precisamos prosseguir numa busca que, na perspectiva protestante, revela-se de uma busca interminável. Precisamos, sim, conhecer cada vez mais a sã doutrina da Igreja Católica, que nada mais é que a doutrina de Cristo, mas não temos necessidade de procurar aqui e ali por supostas “intenções de Jesus Cristo”, intenções essas que, na ausência de uma autoridade acima das subjetividades, acabam ficando à mercê da interpretação e do gosto de cada um.

10) “Estou cansado de uma intelectualidade posta a serviço da vaidade, do egoísmo e da política. Cansado de ver homens e mulheres, daqui e de lá, que se proclamam apóstolos e detentores da verdade absoluta. Se Jesus quisesse, ele teria declarado seu direito canônico e fundado sua própria instituição. Mas Ele não o fez. Ao contrário, ensinou valores que não temos vivido. Nem católicos protestantes, nem católicos romanos. Afinal, gostemos ou não, somos todos universais, mas poucos de nós somos verdadeiramente cristãos. Jesus disse que muitos têm ouvido, mas não ouvem. Nada mais atual. Aliás, todas as Suas palavras continuam atuais. Basta acessá-las.

Que a verdadeira Paz de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo seja com todos nós e seja ela o árbitro de nossos corações.”

Vaidade e egoísmo são duas mazelas que, infelizmente, caracterizam o protestantismo como um todo (apesar das pessoas sinceras e bem-intencionadas que existem entre os protestantes), na medida em que os protestantes têm a vaidade e o egoísmo extremos de se arvorarem legítimos e autorizados intérpretes da Bíblia e da fé cristã, desprezando a autoridade da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. O que pode ser mais vaidoso e egoísta do que um indivíduo constituir a si próprio a única autoridade, definindo, ele mesmo, o que é certo e o que é errado?

Nenhum católico, individualmente, se intitula “apóstolo” ou “detentor da verdade absoluta”. Em primeiro lugar, na Igreja Católica, ninguém se torna apóstolo ao seu bel-prazer (ao contrário de tantos “apóstolos” que vemos pulular no protestantismo de ontem e de hoje). O que temos são legítimos sucessores dos Apóstolos, a saber, os Bispos, os quais recebem o múnus que lhes compete em consonância com a sucessão apostólica. A esse respeito, ver [no mesmo site do Apostolado Veritatis Splendor]:

· O magistério da Igreja Católica [1] [2]
· Tradição, magistério e sucessão apostólica
· Estudando a sucessão apostólica
· Leitor diz que se pode duvidar da sucessão apostólica na Igreja Católica
· Sobre a existência da sucessão apostólica
· Testemunhos patrísticos sobre a sucessão apostólica

Em segundo lugar, na Igreja Católica ninguém se arroga “detentor da verdade absoluta”. A verdade é da Igreja, é de Cristo, e cabe a nós tão-somente mantermo-nos fiéis a essa verdade. É “apenas” isso que a Igreja Católica tem feito desde a sua fundação: manter fidelidade à verdade revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo e legada a nós pelos Apóstolos.

Sobre a afirmação de que, “se Jesus quisesse, ele teria declarado seu direito canônico e fundado sua própria instituição”, já falamos no item 4.

Quanto à parte final da sua mensagem, ela revela, uma vez mais, o traço sobre o qual eu prometi falar no item 5. Refiro-me àquele desejo irrefreável por autonomia, desejo esse que caracteriza o protestantismo desde Lutero, passando por pelos mais destacados pensadores protestantes (ou de origem protestante), incluindo Kant, Hegel, Feuerbach, Nietzsche, Kierkegaard e Marx, dentre outros, além de teólogos heterodoxos como Schleiermacher, Ritschl, Bultmann, Tillich e outros. Todos esses homens, em maior ou menor grau, procuraram “emancipar-se” da Igreja Católica, rechaçando toda e qualquer autoridade espiritual que estivesse além de suas próprias consciências individuais. Para tais pensadores, cabe ao indivíduo, isto é, ao homem, e tão-somente ao homem, descobrir a verdade, e nenhuma instância ou autoridade extrínseca à consciência individual pode determinar o que é a verdade. Por mais bem-intencionados e sinceros que sejam, e por mais que digam buscar e seguir a “orientação do Espírito Santo”, o fato é que o que os protestantes mais prezam é essa “autonomia” (ou essa ilusão de autonomia), o que, aliás, remonta ao relato de Adão e Eva no livro do Gênesis. À semelhança dos nossos pais primevos, o que se deseja é autonomia para definir o que é certo e o que é errado. Não é sem tristeza que digo isso, pois tenho amigos protestantes que são sinceros e tementes a Deus, mas que não querem servi-lO como Ele quer ser servido, e sim de acordo com o entendimento deles. Sabemos que todos iremos comparecer diante do tribunal de Deus (Rm 14,10), e que a Deus, e tão-somente a Ele, caberá o julgamento final. Todavia, nós, católicos, preferimos não seguir aquilo que nos parece ser correto, e sim aquilo que a Igreja de Cristo nos ensina. Não queremos desprezar o amor e a misericórdia com que Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a Sua Igreja para o nosso bem, para nossa salvação. Não queremos essa ilusão de autonomia. Preferimos confiar não em nós mesmos, mas inteiramente em Cristo e nas Suas promessas.

Agradecemos pelo seu contato e pedimos a Deus que lhe conceda, o quanto antes, a graça de encontrar a Verdade acerca da Revelação cristã, a qual só pode ser encontrada, plenamente, na Igreja Católica Apostólica Romana.

À guisa de complemento, recomendo a leitura dos artigos abaixo [naquele mesmo site]:

· Estaria Cristo dividido?
· Leitor protestante acusa-nos de “preconceito” com relação ao protestantismo

Em Cristo,
Marcos M. Grillo

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NOTAS:
[1] “Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas”. Santo Agostinho, Contra Epistulam Manichaei quam vocant fundamenti 5. 6: CSEL 25, 197 (PL 42, 176), apud Catecismo da Igreja Católica, n. 119. * [2] “Roma locuta, causa finita est.” Santo Agostinho, Sermão 131,10. * [3] Edward Grant, God and Reason in the Middle Ages, pág. 356, apud WOODS JR. Thomas E. Como a Igreja construiu a civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008, p. 62. * [4] WOODS JR. Thomas E. Como a Igreja construiu a civilização Ocidental. São Paulo: Quadrante, 2008, p. 49.

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