“Claves Regni”: resposta a ataque ao dogma da infalibilidade

O site anti-católico Eclesia Reformata publicou um texto cujo título é A INFALIBILIDADE PAPAL FOI ENSINADA NA BÍBLIA?, uma “adaptação” de Franck Lenzi ao texto da Bíblia anti-católica – O Catolicismo Romano – livro do escritor calvinista Loraine Boettner.

O texto peca em muito aspectos, tanto teológicos quanto históricos. Infelizmente, diante de um texto desse tipo, a deficiência doutrinária dos católicos no Brasil é a causa de muitos acharem-no verídico, sem antes buscar uma contra-resposta, que na verdade é muito simples, porém trabalhosa. O texto comete os mesmos erros que há décadas os protestantes vêm repetindo contra o entendimento do dogma da infalibilidade papal e seu devido fundamento Bíblico e histórico. São repetições ad nauseum de antigas heresias contra a fé cristã. Vejamos os fundamentos deste precioso dom de Deus ao apóstolo Pedro.

O que é infalibilidade?

A infalibilidade é a garantia de preservação de todo erro doutrinal pela assistência do Espírito Santo. Entretanto estamos reproduzindo um conceito que se não for bem esclarecido e estipulados os seus limites, proliferarão as confusões sobre em quê sentido falamos sobre Infalibilidade Papal. Não há dúvida que muitos católicos, mesmo grandes teólogos, criticam a Igreja devido esta definição, o que demonstra que não é um assunto tão simples que seja entendido facilmente, mas também não é tão complicado para ser eternamente mal compreendido, como fazem os protestantes.

Para isso, vamos discorrer primeiro sobre o que for do meu alcance sobre este assunto, de forma condensada, e depois demonstraremos que os argumentos protestantes são dirigido a um espantalho, uma criação de sua própria ira, e não contra a doutrina da Igreja Apostólica.

O Múnus de Ensinar

O Novo Catecismo da Igreja Católica, nos parágrafos 889-892, ensina-nos sobre a doutrina oficial da Igreja. Segue abaixo:

889: Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos apóstolos, Cristo quis conferir à sua Igreja uma participação na sua própria infalibilidade, ele que é a Verdade. Pelo “sentido sobrenatural da fé”, o Povo de Deus “se atém indefectivelmente à fé”, sob a guia do Magistério vivo da Igreja.

 

890: A missão do Magistério está ligada ao caráter definitivo da Aliança instaurada por Deus em Cristo com seu Povo; deve protegê-lo dos desvios e dos desfalecimentos e garantir-lhe a possibilidade objetiva de professar sem erro a fé autêntica. O ofício pastoral do Magistério está assim ordenado ao cuidado para que o Povo de Deus permaneça na verdade que liberta. Para executar este serviço, Cristo dotou os pastores do carisma de infalibilidade em matéria de fé e de costumes. O exercício deste carisma pode assumir várias modalidades.

 

891: “Goza desta infalibilidade o Pontífice Romano, chefe do colégio dos Bispo, por força do seu cargo quando, na qualidade de pastor e doutor supremo de todos os fiéis, e encarregado de confirmar seus irmãos na fé, proclama, por um ato definitivo, um ponto de doutrina que concerne à fé e aos costumes…A infalibilidade prometida à Igreja reside também no corpo episcopal quando este exerce seu magistério supremo em união com o sucessor de Pedro”, sobretudo em um Concílio Ecumênico (LG 25; cf. Vaticano I: DS 3074). Quando, pelo seu Magistério supremo, a Igreja propõe alguma coisa “a crer como sendo revelado por Deus” (DV 10) e como ensinamento de Cristo, “é preciso aderir na obediência da fé a tais definições” (LG 25). Esta infalibilidade tem a mesma extensão que o próprio depósito da Revelação divina (cf. LG 25).

 

892: A assistência divina é também dada aos sucessores dos apóstolos, ao ensinamento em comunhão com o sucessor de Pedro e, de modo particular, ao Bispo de Roma, Pastor de toda a Igreja, quando, mesmo sem chegarem a uma definição infalível e sem se pronunciam de uma “forma definitiva”, propõem no exercício do magistério ordinário um ensinamento que leva a uma compreensão melhor da Revelação em matéria de fé e de costumes. A este ensinamento ordinário os fiéis devem “ater-se com religioso obséquio do espírito” [eique religioso obsequio adhaerere debent] (LG 25), o qual, embora se distinga do assentimento da fé, todavia o prolonga.

 

O Catecismo diz claramente que o dom da infalibilidade objetiva proteger a Igreja dos desvios e desfalecimentos dentro da sã doutrina, proporcionando uma segurança real de seus fiéis, ao estarem professando uma fé autêntica. Faz isso na tentativa incessante de cumprir o que São Paulo diz: “Irmãos, em nome do  Senhor nosso Jesus Cristo, rogo que estejais de acordo e que não haja divisões entre vós, mas uma perfeita concórdia de pensamento e de opinião” (1 Cor 1,10). O mesmo Paulo, sabendo que sempre existirão aqueles que deturpam a verdadeira fé, alerta que “é inevitável que haja divisões entre vós, a fim de que se mostre quais os que entre vós são autênticos” (1 Cor 11,19). É na escuridão que se enxerga a luz com todo o seu brilho. É na escuridão das heresias que a verdadeira luz da verdade aparece clara aos nossos olhos. Paulo não está dando permissão para que hajam divisões na Igreja, como querem defender os protestantes, mas antes diz que a sua serventia é que elas farão com que elas mesmas desapareçam. Os “autênticos” são os que fazem de tudo para manter a unidade da Igreja, do corpo de Cristo, numa mesma fé, “como a uma lâmpada que brilha em um lugar tenebroso até que desponte o dia e a estrela da manhã se levante em vossos corações” (2 Pd 1,19).

Vemos em quê aspectos podemos falar sobre pronunciamentos infalíveis de um Papa: em matéria de fé e costumes (moral). Atentem ao seguinte: Quem é infalível por natureza é a Trindade Santa, mas o chefe da Igreja na terra é infalível por carisma, “por força de seu cargo“. Nisto observamos que quem é infalível não é João Paulo II, mas o ofício (Magistério) do Papa, portanto tal dom não é pessoal. A infalibilidade não proporciona uma nova revelação, mas a garantia de que determinada doutrina está livre de erro.

Mas como é que a Igreja exerce essa autoridade? 

 

O Dogma da Infalibilidade Papal foi definida no ano de 1870, no Concílio Vaticano I:

 

“Aderindo fielmente à tradição recebida desde o princípio da fé cristã…, declaramos e definimos, como dogma de fé divinamente revelado, que o Pontífice Romano, quando fala ex-cáthedra, isto é quando, no desempenho do seu múnus de pastor e doutor de todos os cristãos, define, com a sua suprema autoridade Apostólica, doutrina respeitante à fé e à moral, que deva ser crida pela Igreja universal, pois possui, em virtude da assistência divina, que lhe foi prometida na pessoa do Bem-aventurado Pedro, a infalibilidade de que o Divino Redentor revestiu a sua Igreja, ao definir doutrina atinente à fé e à moral; e que, portanto, as definições do Romano Pontífice são irrefragáveis por si mesmas, e não em virtude do consenso da Igreja”( De Ecclesia Christi, c.IV).

Os requerimentos para um pronunciamento dogmático infalível são:

1) O pronunciamento deve ser feito pelo sucessor legal de Pedro;

 

2) O assunto abordado deve se referir à fé e moral cristã;

 

3) O Papa deve falar da cadeira de Pedro – ex cathedra.

Muitas “refutações” protestantes à credibilidade da infalibilidade papal são realizadas mediante atitudes de Papas do passado que não preenchem estes requisitos. 

 

Quando faz tais pronunciamentos, o Papa não fala como um teólogo, mas como supremo mestre da Igreja na terra. Relembrando, este carisma não é atributo da pessoa, mas do cargo. 

 

Existem três aspectos de suma importância para que possamos entender melhor a infalibilidade papal antes de irmos para as bases bíblicas e históricas. Acompanhem: Algumas controvérsias surgiram na Igreja desde a definição deste dogma (sempre foi assim…). Um dos mais famosos católicos que se opõem a este dogma é Hans Küng, que o questionou mesmo mediante uma explicação do real significado do exposto. Em 11 de julho de 1870, o bispo Vicent Gasser, em um discurso de mais de quatro horas, em nome da Delegação para a Fé, explicou e refutou os maus entendidos sobre este ensinamento da Igreja. Resumidamente, ele explicou que a infalibilidade papal, sob hipótese alguma, é:

  • Absoluta;

  • Privada; 

  • Isolada.

Ou seja:

 

A Infalibilidade Papal não é ABSOLUTA:

Pois a infalibilidade absoluta pertence unicamente a Deus, a verdade primeira e essencial, que nunca e em nenhum lugar é capaz de enganar e se deixar enganar. Qualquer outra infalibilidade, porquanto seja comunicada para certo propósito, possui seus limites e condições, sob o qual este ensinamento se faz presente“.

Os limites são exatamente os pronunciamentos que cerquem somente ensinamentos a respeito de fé e moral. Nenhum outro campo, social, científico, etc., jamais gozará do carisma de um pronunciamento infalível. Os protestantes pensam que basta o Papa abrir a boca, e falar o que quer que seja, estará sendo infalível. O texto que abordarei logo-logo mostra um exemplo desta falácia.

A Infalibilidade Papal não é PRIVADA:

O arcebispo de Bologna, o cardeal Guidi, professor de Antigo Testamento e Teologia sistemática, exaltou que: o que goza de infalibilidade não é o Papa em si, mas sim as suas definições dogmáticas. Por causa da explicação deste teólogo, um dos títulos da constituição número quatro do Concílio foi alterada de “Da Infalibilidade do Romano Pontífice” para “Da Infalibilidade do Magistério do Romano Pontífice“. 

#2034: O Romano Pontífice e os bispos “são doutores autênticos dotados da autoridade de Cristo, que pregam ao povo a eles confiado a fé que deve ser crida e praticada” (LG 25). O Magistério Ordinário e universal do Papa e dos bispos em comunhão com ele ensina aos fiéis a verdade que se deve crer, a caridade que se deve praticar, a felicidade que se pode esperar.

 

#2035: O grau supremo da participação na autoridade de Cristo é assegurado pelo carisma da infalibilidade. Esta tem a mesma extensão que o depósito da revelação divina (LG 25); estende-se ainda a todos os elementos de doutrina, incluindo a moral, sem os quais as verdades salutares da fé não podem ser preservadas, expostas ou observadas (CDF, decl Mysterium Ecclesiae, 3: AAS 65 (1973), 396-408)

Este carisma não provém do homem, mas de Deus, por meio do Espírito Santo. Porém não consta de uma nova revelação, mas de uma segurança na preservação da correta doutrina apostólica.

A Infalibilidade do Papa não é ISOLADA

O Vaticano I propôs que a infalibilidade papal é “relacional”. Ou seja, não existem “duas infalibilidades”, uma de Cristo, outra da Igreja. O Concílio ensina que a infalibilidade do Papa “é a mesma na qual o Divino Redentor determinou que fosse dotada a Sua Igreja para as definições de fé e moral“. Além do mais, em suas definições, o papa deve buscar todos os meios possíveis para descobrir qual a verdade real entre todas as suas aparências misteriosas que se apresentam. A fé da Igreja limita o magistério Papal. O Papa, antes de declarações oficiais, busca a Sagrada Escritura, lida à luz da Tradição viva da Igreja. Pode consultar todos os líderes da Igreja (mas não é obrigatório), para ter certeza no consenso universal, porém sem a obrigação de atrelar-se juridicamente na consulta dos bispos para conhecer a fé da Igreja, pois o consenso da Igreja pode ser determinado pelas Escrituras, pelos Padres da Igreja, pelos teólogos, enfim, por todos os meios que necessitem ser consultados para obter-se determinada informação. O Concílio Vaticano I disse “as definições do Romano Pontífice são irrefragáveis por si mesmas, e não em virtude do consenso da Igreja“, o que não significa que o Papa não busque suas fontes, o que na verdade sempre fez. Como dito logo acima, o consenso da Igreja é buscado mediante o conteúdo maciço da fé da Igreja, mas as declarações não são feitas somente em virtude delas.

A Constituição Dogmática Dei Verbum, sobre o Magistério da Igreja diz: “Tal Magistério não está acima da Palavra de Deus, mas a seu serviço, não ensinando senão o que foi transmitido, no sentido de que, por mandato divino e com a assistência do Espírito Santo religiosamente ausculta aquelas palavras, santamente a guarda e fielmente a expõe. E deste único depósito da fé o Magistério tira tudo aquilo que nos propõe como verdade de fé divinamente revelada” (DV 16)

Devemos lembrar que o fato das declarações ex cathedra serem infalíveis (quando ligadas às demais prescrições), não significa que o que não for ex cathedra, por não ter a forma de infalibilidade, não tenha valor. Portanto, quando o papa não faz definições dogmáticas, mas apenas ensina qualquer verdade da Igreja, os seus ensinamentos devem ser recebidos com submissão religiosa da vontade e da inteligência, como destacou o Concílio Vaticano II, tendo em conta que quando o papa fala, existe uma manifesta intenção de enunciar, recordar e reforçar a doutrina da Fé :

Esta religiosa submissão da vontade e do entendimento é por essencial razão devida ao magistério autêntico do Romano Pontífice, mesmo quanto não fala ex cathedra (LG 25).

Isto sem dúvida esclarece 80% do dogma da infalibilidade Papal. Mas resta uma dúvida: A infalibilidade papal foi ensinada na Bíblia? 

 

Foi. Mas já que só isto não basta, vejamos as bases Bíblias para a necessidade de um Magistério infalível para a Igreja Cristã, as contradições dos protestantes e a supremacia de Pedro, o primeiro Papa, pois todos estes temas são abordados no texto original. Além da definição de justificação e sua interpretação (errada) pelos protestantes.

O prof. Felipe Aquino, em seu livro A Minha Igreja, conta uma história interessante:

Certa vez São João Bosco teve um sonho profético. Viu o mar agitado pelos ventos e uma batalha acontecendo. No meio da tormenta ele viu uma grande nau dirigida pelo Papa, atravessando o oceano agitado. Duas correntes saiam de cada lado da barca e a prendiam em duas fortes colunas de alturas diferentes. Sobre a mais alta ele viu a Sagrada Hóstia num ostensório, estando escrito na sua base as palavras ´Salus credentium´ (Salvação do que crêem). Sobre a outra coluna ele viu a imagem de Nossa Senhora Auxiliadora e na base as palavras: ´Auxilium Christianorum´ (Auxiliadora dos Cristãos). Deus mostrou a D. Bosco, e a nós, que essas são as três salvaguardas principais da Igreja, que não permitirão jamais as portas do inferno a vencerem: a Eucaristia, Maria e o Papa. Devemos observar que Pedro sempre foi o líder do Colégio dos Apóstolos e seu porta-voz. Muitas são as passagens onde ele aparece como o líder, antes e depois da morte e ressurreição de Jesus, evidenciando o primado de Pedro no Colégio dos Doze.

A Infalibilidade Papal foi ensinada na Bíblia.

Nosso Senhor diz: “Pois eu te digo que tu és Pedro e sobre esta Pedra construirei a minha Igreja, e o império da morte não a vencerá. A ti darei as chaves do reino dos céus: o que atares na terra ficará atado no céu; o que desatares na terra ficará desatado no céu” (Mt 16,18-19). O que significa “vencido pelo império da morte”? Sabemos que a terra é o reino de satanás (cf. Lc 45-7; Jo 12,31) e que o jugo de satanás em nós é o pecado que leva à morte (cf. Rm 6,23), e que Jesus é o príncipe da vida (At 3,15). Portanto ser vencido pelo império da morte (a portas do Hades) é estar aliado a satanás e pecar contra o reino de Deus. E a Igreja faz isso deixando a verdadeira fé pelo “artifício de homens enganadores” (Ef 4,14). Mas o Hades não conseguirá manter os membros da Igreja afastados de Deus. Jesus tinha de deixar a Sua Igreja garantida do mal, revestida de forças opostas ao que os poderia afastar do grande mal, o erro. Por isso Ele, estabelecendo Pedro como chefe da Igreja, munindo-o com o poder das chaves (claves regni caelorum), pôde dizer que “O império da morte não vencerá a Igreja” (et portae inferi non praevalebunt adversum eam)

Não falaremos de heresias antigas, como o simonismo, nicolaísmo, judaizantes, montanismo, arianismo, nestorianismo, catarismo. Falaremos do amálgama de todas: o protestantismo. A rejeição da figura e autoridade de Pedro pelas igrejas protestantes causou, logo depois de sua formação e organização (palavra pouco própria), a sua derrota para o império do mal. Possuíam a espada (a Bíblia), mas falta a habilidade para manejá-la (O Sagrado Magistério). As divisões protestantes realizaram um verdadeiro feito diabólico contra a Palavra que pretendem seguir: anulam a vontade de Jesus. Diabólico, seria uma palavra correta? Sim, diabolos em grego significa adversário, e as igrejas protestantes cindiram a unidade da Igreja (cf. Jo 17,21-22), o que é o extremo adverso de Sua divina vontade.

Isaías 22,19-22 diz o seguinte: “Depor-te-ei de teu cargo e arrancar-te-ei do teu posto. Naquele dia chamarei meu servo Eliaquim, filho de Hilqiáhu. Revesti-lo-ei com a tua túnica, cingi-lo-ei com o teu cinto, e lhe transferirei os teus poderes; ele será um pai para os habitantes de Jerusalém e para a casa de Judá. Porei sobre seus ombros a chave da casa de Davi; se ele abrir, ninguém fechará, se fechar, ninguém abrirá“. O oráculo é dirigido a Shebná, o administrador do palácio e um artífice da política greco-egípcia. A Eliaquim Deus dará a chave da casa de Davi. O que isso significa? Eliaquim é chamado de meu servo, um título também dado a Abraão, Moisés e Davi, e a todos os que Deus encarrega uma missão determinada, como Nabucodonosor, por exemplo (cf. Jr 25,9). Para essa missão, Deus dá poder a Eliaquim, que está representado exatamente pelas chaves de Davi (maphteah). Por sobre os ombros reflete aquela imagem do cavaleiro se ajoelhando e recebendo o título de cavaleiro junto à sua espada. Em Is 9,5 lemos que “A soberania repousa nos seus ombros“, e que Eliaquim receberá “sobre seus ombros a chave da casa de Davi; se ele abrir, ninguém fechará, se fechar, ninguém abrirá“. A figura das chaves exalta o poder. É esta mesma figura que Jesus utiliza para munir Pedro do poder pelo qual fará com que a mentira jamais prevaleça contra a verdade: “Naquele dia chamarei meu servo Eliaquim…Porei sobre seus ombros a chave da casa de Davi; se ele abrir, ninguém fechará, se fechar, ninguém abrirá. Pois eu te digo que tu és Pedro e sobre esta Pedra construirei a minha Igreja…A ti darei as chaves do reino do céu: o que atares na terra ficará atado no céu; o que desatares na terra ficará desatado no céu“. Não há dúvida de que Pedro recebeu um imenso poder, fruto de uma missão da mesma intensidade: “Apascenta os meus cordeiros” (Jo 21,15). Lembremos também que na tradição rabínica o poder das chaves é visto como uma possibilidade de fixar ou remover um dever através da autoridade de sua interpretação das Escrituras [J. Michael Miller, The Shepherd and the Rock: Origins, Development, and Mission of the Papacy, Huntington: Our Sunday Visitor Publishing Division, p. 19; Stanley L. Jaki, The Keys of the Kingdom, Chicago: Franciscan Herald Press, p. 43; e Michael Schmaus, The Church: Its Origin and Structure, New York: Sheed and Ward, p. 36] 

 

Muitos questionam a direção das palavras de Jesus. Será mesmo Pedro a tal Pedra? Temos suficientes textos no nosso site que apresentam as devidas evidências exegéticas e históricas para que esta interpretação seja a correta, mas vejamos:

Os protestantes dizem que Jesus quis evidenciar a enorme diferença de tamanho entre os sentido de petrus e petra, pois um significa pequena pedra, de arremesso, o outro significa rocha maciça. Ora, mas porque, então, já que o entendimento é este, porque o termo usado por Jesus, que aliás não falava grego, pelo menos na maioria das vezes, mas aramaico, um dialeto hebraico, não foi lithós, termo usado no episódio dos judeus que queriam arremessar pedras em Jesus (Jo 10,31)? O Dictionary of New Testament Theology, Vol. III, pp. 384-386 afirma que o fato da palavra cephas (uma tradução grega da palavra kepha, que não tem gênero) ser utilizada por João (1,42) e por Paulo como nome de Pedro (1 Cor 1,12; 3,22; 9,5; 15,5; Gl 1,18, 2,9, 11, 14), evidencia a fraqueza da distinção entre petrus e petra.

Muitos entendem que as palavras petrus e petra são na verdade intercambiáveis, sem distinção de significado. E seria fácil dizer que somente nós católicos assim entendemos. Mas não é assim. Joseph H. Thayer, autor protestante, aceita esta mesma conclusão (Thayer’s Greek-English Lexicon of the New Testament; and the Dictionary of Dogmatic Theology, Vol. III, pp. 384-386). O imensamente renomado escritor protestante, Oscar Cullmann, fala convincentemente em seu livro Peter, Disciple, Apostle, Martyr que Jesus construiu a Sua Igreja sobre Pedro como chefe dos apóstolos, e não sobre sua fé ou profissão. Afirmações similares podem ser encontradas em outros comentários protestantes: D. A. Carson The Expositor’s Bible Commentary sobre Mateus; Craig L Blomberg, New American Commentary; R. T. Franc, Tyndale New Testament Commentaries, W.F. Albright e C. S. Man, Howard Clark Kee, Interpreter’s One Volume Commentary on the Bible e em H. N. Ribberbos, Bible Student’s Commentary. Um dos livros mais conceituados sobre este assunto é: Jesus, Peter & the Keys: A Scriptural Handbook on the Papacy escrito por Scott Butler, Norman Dahlgren e David Hess, publicado pela Queenship Publishing Company. Aqui o autor apresenta listas consideráveis de teólogos protestantes que atualmente aceitam a interpretação que a Igreja Católica entendeu há dois mil anos atrás.

Vejamos estas passagens:

Mt 2,6: Tu Belém, no território de Judá, em nada és o menor dos povoados de Judá, pois de ti sairá um chefe, o pastor do meu povo

Ap 2,27: Ele as apascentará com vara de ferro, as quebrará como vasos de argila

Ap 12,5: Ela deu à luz um filho homem, que apascentará todas as nações com vara de ferro

Qual a semelhança destes versos com estes:

Jo 21,15: Simão…apascenta minhas ovelhas

Jo 21,16: Simão…apascenta minhas ovelhas

Jo 21,17: Apascenta minhas ovelhas

A semelhança é que a mesma palavra utilizada para demonstrar uma autoridade de liderança de Jesus é usada pelo próprio Jesus para revestir a Pedro. A palavra grega paiomanei (poimanei), paiomaine (poimaine) significa exatamente governar, chefiar e é encontrada nestas mesmas passagens que mostrei acima. Pedro, assim como Jesus, tem o ofício de chefiar as “ovelhas” – os cristãos. Ser cristão, ser ovelha de Deus, é estar sob a chefia de Pedro, seu discípulo.

Para isso Jesus promete que não haverá erro neste posto. “Quem vos escuta, escuta a mim; quem vos despreza, despreza a mim” (Lc 10,16). Não há sentido dizer tal coisa se o que os discípulos possam falar seja falso, mentiroso e errado. Enquanto unidos à mesma fé de Pedro, e com Pedro, os discípulos serão a voz de Jesus, não para dar novas revelações, mas para conduzir na verdadeira revelação que já foi dada, para que ninguém a macule. É pelo Espírito da Verdade (cf. Jo 14,17) que os apóstolos podem ensinar na verdade, sem o risco de erros. O Papa e os bispos gozam desta infalibilidade Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos apóstolos (CIC 889).

Podemos notar que nas Cartas pastorais que São Paulo escreveu a Timóteo e a Tito, a quem ordenou bispos, a grande preocupação do Apóstolo é com a doutrina, para que essa não se corrompesse com o passar do tempo e com a transmissão oral ou escrita. Vejamos:


Torno a lembrar-te a recomendação que te dei… para impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes…” (1Tm 1,3).


Recomenda esta doutrina aos irmãos, e serás bom ministro de Jesus Cristo, alimentando com as palavras da fé e da sã doutrina...” (1Tm 4,6).


Quem ensina de outra forma… é um obcecado pelo orgulho, um ignorante…” (1Tm 6,3-4).


Ó Timóteo, guarda o bem que te foi confiado!” (1Tm 6,20).


Guarda o precioso depósito!” (2Tm 1,14).


Porque virá tempo que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação” (2Tm 4,3).


A Tito, vemos as mesmas recomendações de Paulo. Falando das qualidades que deve ter o bispo, ele diz:


…firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem” (Tt 1,9).


O teu ensinamento, porém, seja conforme a sã doutrina…” (Tt 2,1).


…Mostra-te em tudo modelo de bom comportamento: pela integridade da doutrina,…“(Tt 2,7).


Certa é esta doutrina, e quero que a ensines com constância e firmeza…” (Tt 3,8).

Não há dois evangelhos: há pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que alguém – nós, ou um anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado!“(Gl 1,7-10).

Por causa destas convicções apostólicas, o Catecismo Ensina: “Deus quer a salvação pelo conhecimento da verdade. A salvação está na verdade. Os que obedecerem à moção do Espírito de verdade já estão no caminho da salvação; mas a Igreja, a quem esta verdade foi confiada, deve ir ao encontro do seu anseio levando-lhes a mesma verdade” (CIC #851).

O Pe. Antônio Delclós, doutor em teologia, diz que: “O Papa é princípio, fundamento e unidade de todo o povo de Deus. É lógico que seja assim; é de sentido comum. O conhecido professor luterano W. Pannenberg, em um discurso celebrado em uma Faculdade teológica espanhola, contestava assim uma pergunta sobre o papado: ‘A necessidade de um ministério de unidade na Igreja é algo tam evidente que as negativas protestantes não deviam manter-se por mais tempo‘” (P. RODRIGUEZ, Iglesia y Ecumenismo, Madrid 1979 p. 221 in El Papa, “roca” y “luz”, Pe. Dr. Antonio Orozco Delclós)

Lutero era infalível?

E agora? O que dirão os protestantes? “Nããããããoooo”, bem sonoro… Dirão que ninguém é infalível, só Cristo. Ora, mas não é isso que nós dizemos aqui, e o que ensina a Igreja? Mas vejamos algo interessante. Os protestantes afirmam que podem estar errados em sua doutrina, indiretamente, pois afirmam que todos podem errar. Se todos podem errar, são falíveis, portanto suas crenças podem estar erradas, completamente. Se há a potência do erro, pode-se errar ou não, e como os protestantes excluem qualquer infalibilidade, estes convivem com erros debaixo dos seus longos narizes, mas não os querem enxergar, sabem porquê? Exatamente porque não admitem falhar nas suas interpretações…Não é uma contradição lógica? Se formos debater contra qualquer adepto das inovações protestantes, todos, todos adentrarão os debates dizendo – “A verdade bíblica é tal” – logo colocando um ponto final em qualquer disputa, teoricamente. Se há possibilidade de erro, não se defende com unhas e dentes determinadas definições, correto? Nós, católicos, defendemos a Igreja porque sabemos que ela é a coluna e sustentáculo da verdade (1 Tm 3,15), já os protestantes defendem as suas igrejas, pretendendo a infalibilidade que rejeitam nos católicos, aliás, somente a do magistério do seu Papa. 

 

– “Nada disso”, diriam para mim. Mas é claro que sim, diria eu, respondendo. Vemos que a cada época que passa, a cada igreja que surge, novas “verdades” aparecem (ou reaparecem), e nenhuma larga o osso das suas convicções. Para os adventistas, Jesus entrou no santuário celeste, e não se fala mais nisso. Para os calvinistas, Deus predestina pessoas ao paraíso assim como pessoas para o inferno, e veja-se com eles se abrires a boca para dizer que há erro nestas doutrinas. E poderemos discorrer sobre mais exemplos, mas não há necessidade, basta ver na igreja da sua esquina…

Lutero, certa vez, disse (pasmem!):

Não admito que minha doutrina seja julgada por ninguém, nem sequer por um anjo. Quem não receber a minha doutrina, não será salvo.

Esta bela declaração se encontra no livro de Will Durant, The Reformation, New York: Simon & Schuster, 1957, 422, de Werke {Erlangen}, XXVIII, 144, também citado por Jacques Maritain em Three Reformers: Luther-Descartes-Rousseau, London, 1950, 15.

Alguém já viu ou ouviu algum protestante criticar Lutero por esta pérola (existem outras, mas deixemos esta)? Não, mas basta a Igreja fazer uso do que é seu de direito, a infalibilidade dada a Pedro por Cristo, para os revoltosos bradarem em revoltas. E escrevem textos como o que se seguirá adiante…

Portanto, o próprio Lutero se admitia infalível. Entretanto não foi ele quem recebeu o poder das chaves, mas Pedro. 

 

Vamos, então, abordar o texto que critica a infalibilidade papal. O texto aparecerá em vermelho, enquanto minhas mal traçadas linhas permanecerão em preto.

É notável o silêncio das Escrituras quanto ao fato de Pedro ser um papa infalível. Um pouco de bom senso já seria por si mesmo suficiente para desacreditar tal idéia. A característica mais notável do papado, aquilo que a destaca de todas as outras igrejas, é a sua reivindicação da supremacia, autoridade e infalibilidade de Pedro, mais tarde estendida aos seus sucessores, os outros bispos de Roma.

É notável o silêncio das Escrituras quanto ao fato de Pedro ser um papa infalível? Sim e não. A doutrina sofre desenvolvimentos. Dentro deste conceito, a infalibilidade papal foi continua e progressivamente compreendida pela Igreja, e seus limites também foram sendo impostos e clarificados. O Concílio Vaticano I organizou estas idéias e definiu o que já se cria desde a Igreja Primitiva, porém agora de forma estruturada e definida. Pedro (o Papa) somente é infalível quando cerca os requisitos básicos para tal. Isto teve de ser melhor compreendido a partir da Tradição Cristã, pois a Pedro foi dado o poder das chaves e a missão de confirmar as ovelhas de Cristo na verdade, porém isso não pode desembocar em infalibilidade absoluta, como vimos exposto acima. Por isso, querer usar um pouco de bom senso é acabar no erro das interpretações literais e, por conseqüência, equivocada das Escrituras. Dificilmente as Escrituras demonstram claramente uma doutrina que se possa deduzir usando apenas um pouco de bom senso. Vemos que não é o Papa quem reivindica infalibilidade, mas Deus por meio de Cristo e do Espírito Santo as concede como segurança de conservação do erro. Dizer que a concessão da infalibilidade provém do Papa é dizer que a possibilidade do erro é permitida por Deus, a verdade primeira e essencial, que nunca e em nenhum lugar é capaz de enganar e se deixar enganar.

Mas perceba que, se houvesse mesmo esta fonte infalível de autoridade na igreja, como ensinam nossos amigos católicos,  seria inconcebível que Pedro, (que sabemos na verdade nunca ter sido bispo de Ro­ma, segundo a Bíblia e a história),  ao escrever as duas epístolas gerais e mencionar a sua partida, que segundo ele estava próxima (II Pedro 1: 13-15), não avisou os membros da igreja sobre que orientação ou autoridade eles deviam seguir depois que ele não estivesse mais entre deles.  Não é incrível que o único homem infalível da Igreja, aquele que carregava o fardo de ser a fonte de autoridade inerrante, não deixou normas nenhuma sobre como o próximo papa deveria ser escolhido?.

Onde a Bíblia, e a história, afirmam que Pedro nunca esteve em Roma o autor não se dá ao trabalho de citar. Apenas é um argumento solto, sem compromisso, e assim procedem os que não possuem solidez. Existe uma máxima da lógica que diz que “a ausência de prova não é uma prova“, ou seja, porque não veio ainda nenhum extraterreste conversar comigo, não posso concluir que não exista vida fora da terra. O argumento que utiliza neste parágrafo para refutar a infalibilidade papal, ou seja, “o papa não é infalível porque…” ele não orientou os membros das igrejas por onde esteve sobre as condutas futuras. Onde o autor conseguiu ver alguma refutação da infalibilidade papal nisto? Pedro dá várias exortações em suas epístolas. “Sede educados para com todos, amai os irmãos, temei a Deus, respeitai o rei” (1 Pd 2,17) é apenas uma entre várias outras orientações de Pedro.

Saúda-vos a comunidade dos escolhidos da Babilônia e também meu filho Marcos” (1 Pd 5,13). Babilônia é o nome codificado da cidade de Roma, que na época era local de paganismo. É tão evidente que a carta foi escrita de Roma que os estudiosos que contestam a autoria de 1 Pedro como sendo do verdadeiro Simão Pedro, atribuem sua redação ao amigo de Pedro, Silvano (1 Pd 5,12), de Roma.

John Norman Davidson Kelly, um dos principais historiadores cristãos de nossa época, protestante, cônego da Chichester Cathedral, diretor da St. Edmund Hall, Oxford, sócio da Academia Britânica, desde 1966 membro da Academic Council of the Ecumenical Theological Institute, Jerusalém, escreve:

Parece certo que Pedro passou seus últimos dias em Roma. Ainda que o NT aparente silêncio quanto a esta estadia, é suportada por 1 Pd 5,13, onde BABILÔNIA é um codinome para ROMA, e por uma forte ligação com o Evangelho de Marcos, que como companheiro de Pedro (1 Pd 5,13), é dito ter recebido seu conteúdo dele, em Roma. Para os primeiros escritores como Clemente de Roma (95), Inácio de Antióquia (107) e Irineu (180), era de conhecimento coletivo que ele trabalhou e morreu em Roma. [The Oxford Dictionary of Popes, Oxford Univ Press, 1988, p. 6]

Como ensina nosso amigo protestante, Pedro esteve em Roma, pregou em Roma, e morreu em Roma.

Mas para não deixar dúvidas de que “só um doutorzinho aceita” que Pedro esteve em Roma, cito um dos maiores anti-católicos que já existiram neste mundo de meu Deus. George Salmon, que no século 19 escreveu sua obra-prima: A Infalibilidade da Igreja. Muitos protestantes se espelham em sua obra para refutar a infalibilidade do Papa (obra já devidamente refutada por vários católicos, diga-se), porém existe no mínimo um argumento no qual não podem dizer Amém, que é o da estadia de Pedro em Roma. Diz Salmon:

Alguns protestantes têm afirmado que Pedro NUNCA esteve em Roma…Creio eu que a probabilidade histórica é que ele realmente ESTEVE; ainda que seja pelo período final de sua vida, não muito antes de sua morte…Mas alguns protestantes têm empreendido a impossível missão de provar o negativo, que Pedro NÃO esteve em Roma…Se Roma, que desde cedo clama ter sido a testemunha de seu martírio, não foi seu cenário, então onde foi? [The Infallibility of the Church, A Refutation by George Salmon, D.D. Baker, 1959, orig 1888, p. 348,349]

Continuando…

A coisa se torna mais espantosa ainda se lembrarmos que a Igreja havia passado por algo semelhante em Atos, logo no capítulo 1 e foi exatamente Pedro que se levantou para resolver a questão. Lemos a partir do verso 15 que  Pedro levantou-se no meio dos irmãos, em uma assembléia de umas cento e vinte pessoas e disse:  ?É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição?. Sabemos o final da história. Foram propostos dois nomes para substituir Judas. José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias. Orando, disseram: ?Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar. E os lançaram em sortes, vindo a sorte recair sobre Matias, sendo-lhe, então, votado lugar com os onze apóstolos.? Não é incrível que o mesmo Pedro que se preocupou em achar um substituto para Judas não se preocupou, nem ele nem ninguém em deixar instruído o modo, ou até mesmo quem seria o próximo ?papa infalível? ,soberano sobre os outros, e em cuja pessoa a igreja encontraria a fonte de autoridade infalível?

Mais um argumento anulado pelo que propõe refutar. O papa não é infalível porque tem de instruir seus substitutos, para que, não os instruindo, perca a infalibilidade. O que tem a ver? Nada. Santo Irineu diz claramente que Lino recebeu o episcopado das mãos de Pedro e Paulo. ?Os bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo, que fundaram e edificaram a Igreja, transmitiram o governo episcopal a Lino, que Paulo lembra na epístola a Timóteo. Lino teve como sucessor Anacleto. Depois dele, em terceiro lugar depois dos apóstolos, coube o episcopado a Clemente, que tinha visto os próprios apóstolos e estivera em relação com eles, que ainda guardava viva em seus ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a tradição. E não era o único, porque nos seus dias viviam muitos que foram instruídos pelos apóstolos. A este Clemente, sucedeu Evaristo, a Evaristo, Alexandre; em seguida, Hegino. Depois Pio. Depois dele Aniceto. A Aniceto sucedeu Sotero, e atualmente Eleutério, em décimo segundo lugar na sucessão apostólica. Com estas ordem e sucessão, chegou até nós, na Igreja, a tradição apostólica e a pregação da verdade. Esta é a demonstração mais plena de que é uma e se identifica a fé vivificante que fielmente foi conservada e  transmitida na Igreja, desde os apóstolos até agora?. (Santo Irineu de Lião, no ano de 180 d.C. – Adversus Haeresiae, III, 3,3). Como o autor pode provar que Lino não recebeu nenhuma instrução de Pedro? Simplesmente não pode. Espantoso é como se utilizam sofismas neste texto para refutar algo que não pode ser refutado pelos seus próprios contra-argumentos. Como descrito anteriormente, não é o Papa, em si, que é infalível, mas as suas definições dogmáticas, pois são garantidas pelo próprio Cristo na verdade de fé, através do Espírito Santo. Vejam que Pedro diz: “Eu vos escrevo…para vos exortar a assegurar que essa é a verdadeira graça de Deus: conservai-vos nela” (1 Pd 5,12). Da mesma forma atua o Papa, assegurando através do carisma da infalibilidade que esta é a verdadeira doutrina de Cristo e dos apóstolos.

Porque não vemos Pedro dizendo ?Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, e revelou me que estou prestes a deixar este tabernáculo, revela-nos qual destes apóstolos tens escolhido para preencher esta vaga tão importante, essencial neste ministério e apostolado, do qual estou partindo, indo ao Seu encontro??.

Por isso ele não é infalível? Entretanto, Pedro disse: “Irmãos, vós sabeis que já há muito tempo Deus me escolheu dentre vós, para que da minha boca os pagãos ouvissem a palavra do Evangelho e cressem” (At 15,7).

Porque não vemos uma assembléia reunida após a morte de Pedro para escolher quem seria seu sucessor em um lugar vital para a igreja, segundo ensinam nossos amigos católicos?.

O autor fala do Conclave. Falta o conhecimento de que anteriormente os papas eram eleitos pelo povo, assim como os demais bispos. Em outros tempos ele, o papa, e também os bispos passaram a serem eleitos de acordo com a vontade (geralmente política) dos reis – o cesaropapismo – que tanto prejudicou a Igreja. Apenas recentemente o conselho de cardeais é convocado às portas fechadas cum clave (às chaves) para escolherem o novo chefe da Igreja. No caso do sucessor de Pedro, Lino, recebeu o episcopado das suas mãos e de Paulo, em Roma. O termo cesaropapismo indica uma teoria na qual o poder civil e religioso estariam nas mãos de apenas um braço, o secular, na figura do imperador, que exercia ao mesmo tempo as funções de chefe de Estado e de papa. Por exemplo temos a época de imperadores como Constantino, Constâncio e Justiniano. A história dos conclaves se inicia após a morte de Clemente IV quando na cidade de Viterbo, 100km ao norte de Roma, foi eleito Teobaldo Visconti, que se chamou Gregório X, em 1271, e que com a sua constituição Ubi periculum maius, no Concílio de Lyon de 1274, organizou as regras e os métodos para a eleição do Papa. Fez isto porque sua eleição foi o conclave mais longo da história da Igreja. Teve a duração de quase três anos, de 29 de novembro de 1268 a 1º de setembro de 1271, porque os Cardeais não chegavam a um acordo para eleger o novo Papa. O Governador da cidade, encarregado de alimentar os Cardeais, decidiu, por conselho de São Boaventura, oásis do bom senso, encerrar os Cardeais no palácio. Fechou a porta da sala de reuniões, ficou com a chave, destelhou o local e cortou a remessa de mantimentos. Imediatamente chegaram a um consenso, elegendo o Papa Gregório X (1271-1276). A partir de 1455, os conclaves passaram a se realizar no Vaticano, em Roma, exceto o de 1799 que elegeu Pio VII em Veneza. Na Constituição Apostólica Universi Dominici Grecis, João Paulo II reafirmou que a eleição do Papa seria feito somente pelos Cardeais. Atualmente, cerca de 18 dias após a morte ou renúncia do Papa, o cardeal mais idoso convoca os demais cardeais para o conclave. Estes podem estar acompanhados de dois ou três conclavistas (e no caso de um cardeal precisar de supervisão médica) que não podem ser parentes, mas leigos consagrados (ou não) ou padres. Além destes conclavistas, outras pessoas são admitidas na reunião, são eles:

  • O Sacrista dei Sacri Palazzi

  • Um certo número de Coadiutores (padres)

  • Um máximo de 6 Mestres de Cerimônia

  • O secretário do Sacrum Collegium

  • 2 médicos e um cirurgião

  • Um farmacêutico com um ou dois assistentes

  • Um padres para a Confissão

  • Um número bem limitado de serventes

O primeiro sinal de que o novo Papa foi eleito surge quando a fumaça branca (fumata bianca) sobe da Capela Sistina. Os Cardeais prestam-lhe obediência e de seguida, o Cardeal Deão proclama a sua eleição entoando as palavras famosas latinas Habemus Papam, o que significa “Nós temos um Papa” e anuncia o seu novo nome da varanda principal do Vaticano (habemus papam,  eccellentissimus ac reverendissimus cardinal…). O novo Papa faz a sua aparição na varanda para dar a bênção Urbi et Orbi, que significa “Para a cidade e para o mundo”. Após isto, o conclave está encerrado.

Na verdade Pedro sequer menciona o assunto. Por outro lado, Cristo e os apóstolos advertiram contra os falsos Cristos, os falsos profetas, os falsos mestres que se levantariam com tais reivindicações.

Vemos quão desprovida de conteúdo é a falácia deste argumento. A doutrina da infalibilidade papal não reside na necessidade de um Papa ter de orientar o outro na sua sucessão. E de fato Cristo e mesmo Pedro advertiram os cristãos sobre determinados falsos profetas do presente…e do futuro, mas é pena que muitos tenham ouvidos mas não ouçam a verdade, e são apenas folhas secas que são levadas pelo vento das doutrinas protestantes.

A Bíblia diz:  ?Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus? (Rm. 8:14). Mas a Igreja de Roma exige que todos creiam cegamente e com fé implícita à interpretação da Bíblia dada pelo papa e sua hierarquia. Ao fazê-lo, ela usurpa o lugar do Espírito Santo como mestre e líder. Que Pedro, o primeiro papa segundo se alega, não foi infalível como mestre da fé e moral fica evidente de sua conduta inconsistente em Antioquia quando ele recusou-se a comer com os cristãos gen­tios para não ofender certos judeus de Jerusalém (Veja Gl. 2:11-16). Pelo contrário, ele teria acrescentado as exigências ritualísticas do Judaísmo à nova igreja cristã. Isto não teria constituído nenhum problema para ele, se ele tivesse recebido a orientação do Espírito Santo reivindicada pela Igreja de Roma para o papa. Não haveria todos de aceitar suas exigências ritualísticas do Judaísmo? Porque então Paulo não aceitou, indo ainda mais longe, repreendendo Pedro à vista de todos, quando este veio a Antioquia? Se Pedro era infalível, porque Paulo lhe resistiu face a face ? A Bíblia mesmo nos responde, dizendo que Pedro, o infalível, se tornara repreensível ao defender uma doutrina que Paulo entendeu perfeitamente. Não é incrível, o infalível sendo repreendido e corrigido porque antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar -se, temendo os da circuncisão? Como pode Paulo dizer que o ?infalível papa? não procedia corretamente segundo a verdade do evangelho? 

 

Basta olhar a doutrina da infalibilidade papal para vermos que o autor não se preocupou em pesquisar sobre o assunto. A Igreja Católica ensina claramente que: “Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos apóstolos, Cristo quis conferir à sua Igreja uma participação na sua própria infalibilidade, ele que é a Verdade. Pelo ‘sentido sobrenatural da fé’, o Povo de Deus ‘se atém indefectivelmente à fé’, sob a guia do Magistério vivo da Igreja” (#889). Não há usurpação do lugar do Espírito Santo, mas atuação como canal de seu entendimento. O que Pedro quer se fazer entender quando diz: “Com efeito, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós…” (At 15,28) é o que pretende a Igreja com a definição da infalibilidade do seu chefe, subordinada à infalibilidade de Cristo. Aceitar este argumento seria o mesmo de dizer que nenhuma interpretação, já que não existe nenhuma livre de erro, possui assistência do Espírito Santo, ou seja, Ele não é mais o parakletos, o ajudador, que ensina toda a verdade (Jo 16,13). Isto é que seria anular a palavra de Deus com tradições dos homens…

Um dos argumentos que os protestantes mais apostam contra a doutrina do Vaticano I é o caso de Gálatas 2,11-16. Vejamos o que diz:

Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe francamente, porque era censurável. Pois, antes de chegarem alguns homens da parte de Tiago, ele comia com os pagãos convertidos. Mas, quando aqueles vieram, retraiu-se e separou-se destes, temendo os circuncidados. Os demais judeus convertidos seguiram-lhe a atitude equívoca, de maneira que mesmo Barnabé foi levado por eles a essa dissimulação. Quando vi que o seu procedimento não era segundo a verdade do Evangelho, disse a Cefas, em presença de todos: Se tu, que és judeu, vives como os gentios, e não como os judeus, com que direito obrigas os pagãos convertidos a viver como os judeus? Nós, judeus de nascença, e não pecadores dentre os pagãos, sabemos, contudo, que ninguém se justifica pela prática da lei, mas somente pela fé em Jesus Cristo. Também nós cremos em Jesus Cristo, e tiramos assim a nossa justificação da fé em Cristo, e não pela prática da lei. Pois, pela prática da lei, nenhum homem será justificado.

O autor diz, categoricamente, que Pedro não foi mestre infalível de fé e moral por causa de sua conduta inconsistente quando, em Antióquia, recusou-se a comer com os cristãos gentios para não ofender os cristãos judeus. Este argumento possui duas maneiras de ser refutado:

  1. Para isso Pedro deveria estar falando seguindo os critérios da infalibilidade demonstradas no início do texto. Não está, portanto, não há nada de infalível na “conduta inconsistente” de Pedro, visto que infalibilidade não é o mesmo que impecabilidade, sendo assim todos os bispos da Igreja podem pecar, e pecam. Logo Paulo não feriu a “infalibilidade” de Pedro, pois este não estava declarando nada infalível neste episódio;

  2. O que ocorreu entre Paulo e Pedro em Antióquia não atesta uma oposição teológica entre os dois. O que Paulo censura em Pedro é a sua atitude numa circunstância particular, e não na sua teologia.

Vemos, portanto, que o argumento, ainda que à primeira vista convincente, é frágil e sem fundamento.

E aí vem o mais estranho de tudo: Paulo dá um banho de teologia e doutrina na fonte infalível e inerrante de autoridade da igreja, segundo nossos amigos católicos, ao ensinar ao papa infalível que ?que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.?.

Não, errado. Paulo não dá nenhuma “banho de teologia” em Pedro. O autor não percebeu, ou achou melhor não perceber, que Paulo diz: “Nós, judeus de nascença, e não pecadores dentre os pagãos, sabemos, contudo, que ninguém se justifica pela prática da lei, mas somente pela fé em Jesus Cristo. Também nós cremos em Jesus Cristo, e tiramos assim a nossa justificação da fé em Cristo, e não pela prática da lei. Pois, pela prática da lei, nenhum homem será justificado“. Paulo diz nós, e não eu. Pedro, da mesma forma, cria na justificação não pela prática da lei, mas pela fé em Cristo. Portanto como ensinar a alguém algo que este já sabe à semelhança de quem pretende ensinar?

Agora, digamos assim, “banho de teologia” Paulo dá é sobre os protestantes fundamentalistas, que acham que não são necessárias as obras para a justificação. O problema é que não conseguem distinguir obras da lei e obras da caridade. Os protestantes crêem que somente pela fé seremos justificados, como Lutero, erroneamente interpretou (ora, não era ele infalível? – vide acima), entretanto Paulo diz que “O que conta é uma fé ativada pelo amor” (Gl 5,6). Lutero, Calvino, Wesley, Spurgeon, Sproul por São Paulo, fico (os católicos) com o santo apóstolo.

De uma coisa não podemos acusar os católicos: incoerência.  Escolheram Pedro como papa infalível e permanecem firmes até hoje, defendendo o mesmo erro que foi corrigido por Paulo. Insistem em não aceitar que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, e que somos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.

Novamente, quem definiu quem deveria confirmar na verdade suas ovelhas não foi nenhum católico, mas um judeu – Jesus de Nazaré, o filho de Maria. Assim como o autor acha que insistimos nós católicos em crer que a justificação é mediante as obras da lei, o mesmo insiste em não dizer onde a Igreja Católica ensina o que ele declara em suas afirmações. Basta apenas um lida no que diz o CIC, parágrafo 1996, para destruir tal afirmação: “Nossa justificação vem da graça de Deus“, afirma o Catecismo, completamente diferente do que o espantalho criado pelo autor afirma. Na realidade, quem insiste em não aceitar que os católicos acreditamos na justificação pela graça de Deus são os protestantes, nem todos, pois os mais lúcidos já entenderam.

Se nós protestantes tivéssemos que escolher qual­quer um dos apóstolos para ser a cabeça infalível da igreja, esse seria Paulo, e não Pedro, pois tanto como homem quanto como mestre Paulo foi uma personalidade muito maior. Mas o fato é que o Novo Testamento não indica em parte alguma, ainda que ligeiramente, que qualquer homem deveria ser escolhido para essa posição.

Muito maior porquê? Pelo número de cartas escritas? O fato é que não somos nós quem escolhemos os critérios para que alguém seja infalível em matéria de fé e moral, mas somente Deus, e Ele já escolheu, há quase dois mil anos, e não foi Paulo, mas Shimon Kehpa.

No Novo Testamento, além das duas cartas escritas por Pedro, temos treze escritas por Paulo. Mas em nenhuma delas ele se refere a Pedro como bispo de Roma, ou qualquer outra igreja. Na mais importante carta de Paulo, à igreja de Roma, também não menciona Pedro. Em sua carta a Timóteo ele menciona o cargo de bispo ou ancião, mas não menciona arcebispo, supremo bispo, tampouco papa. Certamente se um cargo assim tão importante como o de supremo bispo ou papa existisse, Paulo o teria mencionado. Nem na literatura da igreja primitiva, durante o segundo ou terceiro século, houve qualquer referência a um bispo supremo ou papa.

Sabemos que Tiago era bispo de Jerusalém, portanto, porque Paulo não saúda Tiago em sua carta aos Hebreus não foi ele Bispo de Jerusalém? Então porque a necessidade agora de Paulo ter de saudar Pedro, para que ele tenha sido Bispo de Roma, quando escreve aos romanos? Portanto, o sofisma cai por terra. Vimos acima que JND Kelly e George Salmon, protestantes, refutam com autoridade os demais protestantes que pensam que Pedro não esteve e morreu em Roma. Clemente de Roma, aos Coríntios, diz: “Lancemos os olhos sobre os excelentes apóstolos: Pedro foi para a glória que lhe era devida; e foi em razão da inveja e da discórdia que Paulo mostrou o preço da paciência: depois de ter ensinado a justiça ao mundo inteiro e ter atingido os confins do Ocidente, deu testemunho perante aqueles que governavam e, desta forma, deixou o mundo e foi para o lugar santo. A esses homens […] juntou-se grande multidão de eleitos que, em conseqüência da inveja, padeceram muitos ultrajes e torturas, deixando entre nós magnífico exemplo” (5,3-7; 6,1). No século II, Santo Irineu afirmava que todas as Igrejas se devem conformar com a de Roma, pois só ela possui a verdade integral. Dizia também “É realmente verdadeira e firme a pregação da Igreja, onde aparece a única via de salvação em todo o mundo. Com efeito à Igreja foi confiada a luz de Deus, e portanto a “sabedoria” de Deus, pela qual Ele salva os homens…. Por toda a parte a Igreja anuncia a verdade: ela é o candelabro de sete luzes ( Ap 2,1) que transporta a luz de Cristo…convém refugiar-se na Igreja e ser educado em seu grêmio, nutrido com as santas Escrituras do Senhor. Pois a Igreja está plantada neste mundo como o Paraíso” (Adversus Haeresiae, V, 20). São Cipriano dizia que os Romanos estão “garantidos na sua fé pela pregação do Apóstolo e são inacessíveis à perfídia do erro” (o apóstolo dos romanos é Pedro), também escreveu, na primeira metade do século 3: ?É verdade que os demais (apóstolos) eram o mesmo que Pedro, mas o primado é conferido a Pedro para que fosse evidente que há uma só Igreja e uma só cátedra“. São Jerônimo, para acabar com as controvérsias que afligiam o Oriente, escreveu ao Papa Dâmaso nos seguintes termos: “Julguei que devia consultar a este respeito a cadeira de Pedro e a fé apostólica, pois só em vós está ao abrigo da corrupção o legado dos nossos pais“.  Santo Agostinho diz a propósito do pelagianismo: “Os decretos de dois concílios relativos ao assunto foram submetidos à Sé apostólica; já chegou a resposta, a causa está julgada“, “Roma locuta est, causa finita est“. O testemunho de São Pedro Crisólogo não é menos explícito: “Exortamo-vos, veneráveis irmãos, a receber com docilidade os escritos do santo Papa da cidade de Roma, porque São Pedro, sempre presente na sua sede, oferece a fé verdadeira aos que a procuram“. São referências suficientes para demonstrar como durante o segundo e terceiro século, houveram várias referências a um bispo supremo.

Mas e o nome Papa, porque não aparece na Bíblia, não é correto? Porquê não?

Mais uma demonstração de desconhecimento sobre a Igreja Católica, e sua hierarquia. Vejamos.

Arcebispos, cardeais, papas…todos são bispos (episcopos). A hierarquia católica é assim constituída:

  • Bispos (episocpos) – 1 Tm 3,1-2; Tt 1, 7-9

  • Presbíteros (presbyteros) 1 Tm 5,17;

  • Diáconos (diaconos) – At 6,1-4; Fl 1,1.

Não há ordem maior que a de um bispo. A Igreja Católica ensina isto, e todas as demais denominações são honoríficas e organizacionais. A Igreja Católica toma as palavras de Paulo: “sabeis que procedemos com cada um de vós como um pai com seus filhos” (1 Ts 2,11), e assim os fiéis da Igreja sempre trataram seus pastores: pai, palavra que em grego é pappas e em latim, papa. Durante certo tempo todos os bispos da igreja foram assim denominados, este título seria dirigido somente ao bispo de Roma a partir do pontificado de São Sirício no ano 384. Portanto, Paulo citou o título do bispo de Roma, papa, o pai espiritual dos filhos espirituais em Cristo. Claro que não o fez em sentido de hierarquia, e nem este era o contexto do seu discurso, mas devido a relação dos primeiros cristãos com seus pastores, hoje o bispo de Roma é chamado Papa, que na verdade, é um bispo, portanto, hierarquia constante na Bíblia.

Há referências a Cristo como Pastor Supremo, mas nenhuma a qualquer homem com esse ou qualquer outro título semelhante.

Cristo é o pastor por natureza, como descrevemos anteriormente, Pedro é o pastor das ovelhas de Cristo, in persona christi. Com o “Confirma fratres” (confirma os irmãos), Jesus assegurou a Pedro que pedira de modo especial por ele, “para que sua fé não desfaleça” (Lc 22, 32). Com o “Pasce Oves” (apascenta as minhas ovelhas), foi confiada a Pedro a guarda, o governo, de todo o rebanho.

O fato é que nós temos nossa infalível regra de fé e moral nas Escrituras do Novo Testamento. E tendo isso, não se faz necessário conceder infalibilidade a qualquer homem. Para aquele que deseja conhecer a verdade, nós lhe mostramos as Escrituras dizendo: ?Aqui está. Creia e pratique o que está ensinado aqui e você viverá. Aquele que se afasta desta regra não terá vida?.

Não é tão simples assim. Não basta dizer isso, mas saber se o que está escrito é o que se quer que se entenda. O fundamentalismo protestante prega esta mesma forma e está espalhando as maiores heresias pelo mundo. O próprio autor já escutou o mesmo de outros protestantes, mas não aceitou, porquê? Porque o dizer “aqui está” não resolve. O que resolve é um magistério que possa interpretar a Bíblia, o que ela quer dizer, livre de erro. As Escrituras são a fonte principal da fé cristã, mas não é a única, pois em lugar algum da Bíblia está expresso que somente o que estiver escrito é para ser seguido como Palavra de Deus. A Igreja é a coluna e sustentáculo da verdade (1 Tm 3,15), e por isso ela possui as ferramentas para saber qual é a verdade que deve sustentar. Não é nenhum livre-exame que pode garantir uma interpretação livre de erro das letras Sagradas, mas o magistério da Igreja, e principalmente ao seu bispo maior, o Papa.

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