Parte ii

 

PARTE II

ALEGAÇÕES CATÓLICAS


Os católicos quando são pressionados pelos argumentos bíblicos esposados pelos evangélicos contra o primado do papa, não conseguindo dar uma resposta bíblica satisfatória, vão se socorrer na chamada “Tradição”. É preciso lembrar que a “Tradição” para o católico é a junção das obras patrísticas e o moderno “Magistério Eclesiástico” que é uma decorrência da infalibilidade da igreja, estabilizada na pessoa do romano pontífice através do Concílio Vaticano I. Desde já, rejeitamos totalmente o “Magistério Eclesiástico” por ser este muito posterior aos pais da igreja, produto do catolicismo estruturado e organizado. Ficamos entretanto, com a “Patrística”, todavia, somente com os escritos dos pais pré-nicenos, pois ainda a igreja de Roma não havia ainda se tornado Igreja estatal, tendo sua riqueza e autoridade multiplicada pelas concessões de Constantino o que a tornou mais corrupta ainda. Os ditos pais pós-nicenos não possui a mínima autoridade em matéria de fé pois muitos deles já estavam contaminados com as heresias romanas.

É bastante curioso até onde pode chegar a incoerência protestante. Em meio às bobagens tradiocionais (a Igreja corrompeu-se após a Pax Constantiniana) e outras bobagens um bocado originais (“a Tradição para o católico é a junção das obras aptrísticas e do moderno ‘Magistério Eclesiástico’), ressoa a inconsistência do pensamento protestante. Afinal, se a Igreja “pós-nicena” não é confiável, então a própria Bíblia não o é, visto que o seu Cânon foi definido somente em 394 d. C., mais de setenta anos após o Concílio de Nicéia.

Ou seja, se o ponto de vista do CACP devesse ser levado à sério, a o cânon bíblico foi definido por uma Igreja corrompida. Portanto, este cânon não é digno de fé.

Portanto, a Bíblia não é digna de fé.

Portanto, o sola scriptura não é digno de fé.

Portanto, o CACP não deve ser levado a sério.

Eis o paradoxo. Se levarmos o CACP a sério, chegaremos à inexorável conclusão de que o CACP… não deve ser levado a sério.

Mas é óbvio que os autores protestantes em questão necessitam de uma desculpa (disfarsada em argumento) para não tomarem em consideração as considerações dos pais “pós-Nicenos”, uma vez que, a partir de então, a documentação em favor do primado de Pedro e do papado é absolutamente farta. Tal documentação leva à falência do protestantismo e deve, aprioristicamente, ser posta de lado.

Ainda que sob a desculpa tosca da corrupção “pós-nicena” (que, conforme demonstrado, leva à negação da Bíblia, do protestantismo e, portanto, do próprio CACP).



A primeira alegação é a que aponta a suposta autoridade do bispo de Roma nos escritos dos pais da igreja, querendo dar uma certa autoridade à tese do primado do bispo de Roma. Dizem nossos antagonistas:

“As citações seguintes testemunham o que os primeiros cristãos pensavam sobre a primazia da Igreja de Roma (e, conseqüentemente, a primazia do papa, sucessor direto de São Pedro) sobre as demais.” (Fonte: Agnus Dei)

 

Esta secção é bastante interessante. Nela, os protestantes tentarão provar que os textos patrísticos usados em suporte do papado na verdade não cumpririam tal papel. Como se verá, fracassarão totalmente.



Clemente de Roma



“Se, porém, alguns não obedecerem ao que foi dito por nós, saibam que se envolverão em pecado e perigo não pequeno” (Clemente de Roma, +100, Carta aos Coríntios 59,1).



Eles pretendem que a frase acima é alguma imposição de Clemente aos Coríntios. Nada mais longe da verdade! O teor da carta não deixa tal conclusão. O que Clemente fez foi ajudar aquela igreja que estava sem líderes, já que a igreja de Roma, era nesta época, bem estruturada e podia auxiliar a sua co-irmã na fé. Tanto é que ele prossegue dizendo: 2″Contudo, nós seremos inocentes deste pecado e pediremos em súplica e oração constante para que o Criador de tudo conserve intacto o número dos que foram contados entre Seus escolhidos em todo o mundo, por seu Filho mui amado, Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual nos chamou das trevas para a luz, da ignorância para o conhecimento da glória de seu nome.” Não há nenhuma imposição ou supremacia papal ! Teoricamente, nesta época, o apóstolo João ainda estava vivo e se Clemente estivesse impondo algo sobre a igreja, certamente João o teria repreendido como fez com certo Diótrefes, que gostava de exercer a primazia na igreja (III João 9).

Bem, se os protestantes já são capazes dos maiores contorsionismos mentais para negar algumas verdades bíblicas absolutamente evidentes (entre as quais, a primazia de São Pedro), imagine-se do que não serão capazes para negarem estas mesmas verdades na Tradição.

Afinal, ao menos em teoria (pois na prática a situação é muitíssimo diferente), eles têm um compromisso intelectual com a Bíblia que dizem seguir. Tal compromisso, eles já não o têm com a Tradição.

O exemplo acima é muito claro. São Clemente era bispo de Roma. No entanto, ele achou-se no direito de se intrometer nos assuntos da Igreja de Corinto. E suas palavras são muito (aliás, muitíssimo) claras: “se vocês não OBEDECEREM ao que foi dito por nós, saibam que incorrerão em pecado e em perigo não pequeno”.

Não há espaço para dúvidas. Os da Igreja de Corinto deveriam OBEDECER a São Clemente (bispo de Roma), sob pena de incorrerem em pecado.

Não há, rigorosamente falando, qualquer coisa no texto que permnita a quem quer que seja concluir que a Igreja de Roma estava “ajudando” a de Corinto.

Perceba o leitor o equívoco dos autores do CACP. Há um período absolutamente clara e inquívoca da autoridade do bispo de Roma sobre a Igreja de Corinto. No entanto, e não podendo contradizê-la, os autores deixam de comentar o período e focam a atenção do leitor no período seguinte.

É uma estratégia muito astuta, mas pouco honesta.


Inácio de Antioquia


“Inácio… à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada ‘feliz’, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a lei de Cristo, que porta o nome do Pai, eu a saúdo em nome de Jesus Cristo, o Filho do Pai” (Inácio de Antioquia, +107, Carta aos Romanos [Prólogo]).

“Nunca tiveste inveja de ninguém; ensinastes a outros. Quanto a mim, desejo guardar aquilo que ensinais e preceituais” (Inácio de Antioquia, +107, Carta aos Romanos 3,1).

“Em vossa oração, lembrai-vos da Igreja da Síria que, em meu lugar, tem Deus por pastor. Somente Jesus Cristo e o vosso amor serão nela o bispo” (Inácio de Antioquia, +107, Carta aos Romanos 9,1).

Novamente perguntamos: onde está a supremacia do papa nesta carta?

Simples. Na primeira parte, Santo Inácio deixa claro que a Igreja de Roma “preside ao amor”, destacando, assim, a sua supremacia. Afirma, ainda, que ela “porta a lei de Cristo”, e que “porta o nome do Pai”.

Na segunda parte, Santo Inácio afirma que a Igreja de Roma ensinou aos outros, afirmando, claramente, que ele mesmo (natural de Antioquia) desejava “guardar os seus ensinamentos”.

Na terceira parte, afirma a autoridade da Igreja de Roma mesmo sobre a Igreja da Síria.

Precisaria de mais?

Ora, o prólogo é um elogio ardoroso de Inácio. Ele também usou estes mesmos elogios aos Magnésios: “Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja abençoada na graça de Deus Pai, em Jesus Cristo nosso Salvador, com quem eu saúdo a Igreja que está na Magnésia, próxima ao [rio] Meandro, e desejo a ela grande alegria em Deus Pai e em Jesus Cristo, nosso Senhor, em quem vocês poderão encontrar grande alegria.”

Veja, o leitor, a enorme diferença da forma que Santo Inácio se dirige à Igreja de Roma, daquela pela qual ele se dirige aos magnésios. Relativamente à Roma, ele afirma que ela:

a) é digna de Deus,

b) é digna de honra,

c) é digna de ser chamada ‘feliz’,

d) é digna de louvor,

e) é digna de sucesso,

f) é digna de pureza,

g) preside ao amor,

h) porta a lei de Cristo,

i) que porta o nome do Pai,

j) ensina aos demais,

l) deseja guardar os seus ensinamentos.

Ao se dirigir à Igreja dos Magnésios, ele limita-se a afirmar que a mesma é “abençoada por Deus Pai.

A diferença de tratamento é tão gritante, que somente a imensa necessidade de se evitar, a qualquer custo, o reconhecimento do papado é que pode explicar a afirmação do CACP segundo a qual Santo Inácio dirigiu-se a esta segunda Igreja nos mesmos termos usados ao se dirigir à Igreja Romana.

E mais, “Que eu possa alegrar-me convosco em todas as coisas, se o merecer! Mesmo acorrentado, não sou digno de ser comparado a qualquer de vós que estais em liberdade.”

Neste trecho, Santo Inácio está fazendo uma comparação entre a sua própria pessoa e a dos fiéis da igreja, seguindo o conselho paulino de a todos considerar como superiores.

ou aos efésios : “Inácio, também chamado Teóforo, àquela que é bendita em grandeza na plenitude de Deus Pai, predestinada antes dos séculos a existir em todo o tempo, unida para uma glória imperecível e imutável, e eleita na Paixão verdadeira, pela vontade do Pai e de Jesus Cristo nosso Deus à Igreja digna de bem-aventurança, que vive em Éfeso da Ásia, todos os bens em Jesus Cristo e os cumprimentos numa alegria impoluta.”

Neste ponto, Santo Inácio afirma grandes coisas da Igreja de Éfeso. Era uma Igreja importante, fundada por São Paulo e agraciada por uma epístola canônica.

Portanto, digna de louvores. Não há qualquer problema com isto. No entanto, basta olharem-se os dois casos para se certificar de que os elogios à Éfeso nem de longe se comparam com os dirigidos à Roma.

 

Se seguirmos esta linha de pensamento, não é justo também colocarmos os Magnésios e os efésios em pé de igualdade aos Romanos ?

Muito pelo contrário. Qualquer um com um mínimo de honestidade intelectual pode perceber, sem quaisquer esforços, que, muito ao contrário da tese protestante, as Igrejas não eram, nunca foram, e nunca serão iguais. Há as mais importantes, e as menso importantes. Roma era mais importante do que Éfeso; esta, mais importante do que a dos magnésios. Há, portanto, uma hierarquia entre as mesmas e, se assim o é, o corolário lógico desta percepção é o fato de que, uma das igrejas, deve imperiosamente ser superior às demais, ocupando o topo desta hierarquia (pois toda hierarquia tem um topo).

Esta Igreja, ineludivelmente, é a Igreja de Roma.

Demais disso, Inácio diz algo que vai ao encontro do argumento da primazia jurisdicional, pois no início de suas saudações ele põe a igreja de Roma em sua devida jurisdição quando diz: “à Igreja que preside na região dos romanos” (ênfase acrescentada) mostrando que esta igreja tinha sua própria jurisdição territorial e não possuía nenhum poder sobre as demais igrejas como querem os romanistas.

Uai! O Papa é bispo de Roma até hoje. Ele preside na região dos romanos até o presente momento. O fato de ele exercer a jurisdição particular em Roma (tal como qualquer bispo exerce uma jurisdição particular em sua diocese) não excluí sua jurisdição universal.

A lógica dos protestantes acime, como se vê, faz água à primeira vista.

IRENEU

. “Já que seria demasiado longo enumerar os sucessores dos Apóstolos em todas as comunidades, nos ocuparemos somente com uma destas: a maior e a mais antiga, conhecida por todos, fundada e constituída pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo. Mostraremos que a tradição apostólica que ela guarda e a fé que ela comunicou aos homens chegaram até nós através da sucessão regular dos bispos, confundindo assim todos aqueles que querem procurar a verdade onde ela não pode ser encontrada. Com esta comunidade, de fato, dada a sua autoridade superior, é necessário que esteja de acordo toda comunidade, isto é, os fiéis do mundo inteiro; nela sempre foi conservada a tradição dos apóstolos” (Ireneu de Lião, +202, Contra as Heresias III,3,2).

O trecho de Santo Ireneu deixa claro o quão inglória é a tarefa à qual se lançaram os protestantes em questão. O texto é tão inequívoco que os malabarismos mentais para a negação do óbvio (já bastante exercitados com os comentários anteriores) irão tornar-se ainda mais espetaculares.

Sigamos com atenção o que escreveram os membros do CACP.

Este trecho de Ireneu é muito usado pelos católicos como prova de que a igreja de Roma tinha a primazia entre as outras. Entretanto é preciso escoimar tal alegação. Alarmado pelo pulular de heresias e de interpretações absurdas da Bíblia propaladas pelos seitários da época como Valentino, Marcião, Menander, Cerinto, Basílio e outros, procurava ele pôr um dique a tamanha calamidade, propondo uma Igreja que pudesse tornar-se como que o padrão, seguindo meticulosamente, a sucessão apostólica das mais importantes dioceses então existentes, pesquisando ao mesmo tempo a conservação da Doutrina e das tradições apostólicas, em cada uma delas. E conclui propondo como exemplar a Igreja de Roma, por ser de maior autoridade, isto é, por ser a da Capital do Império.

Começou a sucessão de tolices…

Em primeiro lugar, é necessário (ainda que sob o risco de nos tornarmos pedantes) salientar a incoerência protestante. A tese central do CACP é a de que, tendo em vista a enormidade de heresias reinantes, Santo Ireneu propôs uma Igreja como padrão (imagina-se, para que as demais imitassem).

Pergunta-se: por que razão Santo Ireneu, no afã de combater as heresias, simplesmente não propôs que todos os cristãos lessem as Escrituras e rogassem o auxílio do Espírito Santo para descobrirem a verdadeira fé cristã?

Por que razão Santo Ireneu não se saiu com uma solução baseada no sola scriptura tão a gosto dos protestantes?

Por que ele não invocou o exemplo do “nobres de Beréia”, como, cotidiana e pedantemente, invocam-nos os protestantes?

Simples: porque Santo Ireneu não era protestante, não acreditava no “sola scriptura”, nem imaginava que todos os crentes eram livres para suporem-se inspirados doutrinadores.

Em suma: Santo Ireneu era católico.

Novamente, a tese do CACP é a negação de outras teses por ele desposada. É o que, em seu livro 1984, Orson Welles chamaria de doublethink.

Deixemos a incoerência e passemos a apontar os equívocos. Afirma-se que Santo Ireneu “propôs” a Igreja de Roma como exemplar.

Perguntamos: de onde os membros do CACP tiraram idéia tão tola? Ele não está propondo coisa nenhuma. Ele está afirmando, com todas as letras, que a Igreja de Roma é superior às demais e que, portanto, todos devem concordar com ela.

Ele está argumentando, e não elencando propostas. E, para argumentar, ele o afirma. É o seu ponto de partida, e não o de chegada.

 

É necessário salientar que esta questão de sucessões apostólica juntamente com a tradição foi um arranjo levantado como alternativa para combater os Gnósticos de então.

Novamente, pergunta-se: por que razão os cristãos tiveram que lançar mão deste “arranjo” tão, digamos, católico? Por que não se saíram, protestantemente, com o sola scriptura? Abaixo, há alguns indicadores bastante interessantes acerca disto.

Como diz Ireneu “Quando estes são argüidos a partir das Escrituras, põem-se a acusar as próprias escrituras…”. Os gnósticos com o fito de defenderam suas heresias em relação a Deus e a Cristo como Demiurgo (criador), apelavam para as escrituras. Todavia quando eram refutados pelos apologistas através das próprias escrituras, apelavam para a chamada “tradição”.

Ora, se esta e era o problema, então, bastaria Santo Ireneu afirmar que a “tradição” para a qual apelavam os gnósticos não era autorizada. Bastaria, novamente, ele insistir no sola scriptura.

Afinal de contas, não é isto o que fazem os protestantes hoje em dia? Quando deparados com uma doutrina católica, e quando deparados com a Tradição que a confirma, eles simplesmente afirmam que não devem obediência à Tradição e que manter-se-ão fiéis à interpretação bíblica da sua denominação.

Isto, portanto, resolveria o problema. Se Santo Ireneu não o fez é porque tal solução não se enquadrava no cristianismo de então. E outras palavras: o cristianismo primitivo já era crido e praticado tal qual a Igreja Católica Apostólica Romana o crê e pratica até os dias atuais.

Prosseguindo Ireneu diz: “…é impossível achar neles (nos textos bíblicos) a verdade se se ignora a tradição. Porque – (prosseguem dizendo) – essa verdade não foi transmitida por escrito e sim de viva voz…”,

Bingo! Rigorosamente falando, não precisaríamos de mais nada para provarmos o quão distante a fé de Santo Ireneu estava da fé dos protestantes. O texto acima é da maior catolicidade que se pode supor. Tanto que, agora o repetimos enfatizando aquilo que os protestantes não enfatizaram (embora o devessem): “…é impossível achar neles (nos textos bíblicos) a verdade se se ignora a tradição”

o principal texto dos gnósticos era o de ICo. 2.6. Ireneu deixou-se levar pelo mesmo raciocínio inventando uma defesa de modo inverso, “Quando”, afirma ele, “…então passamos a apelar para a tradição que vem dos apóstolos e se conserva nas igrejas pelas sucessões dos presbíteros, opõem-se à tradição.”

Santo Ireneu, novamente, está demonstrando a catolicidade da sua fé. À suposta “tradição” dos gnósticos, ele opõe a Tradição Apostólica, o depósito da fé, transmitido pelos apóstolos e do qual a guardiã suprema é a Igreja de Roma (“mostraremos que a tradição apostólica que ela guarda e a fé que ela comunicou aos homens chegaram até nós através da sucessão regular dos bispos”) razão pela qual todas as demais igrejas devem estar em comunhão com esta.


Os gnósticos diziam que sua doutrina era muito antiga e que havia recebido do próprio Jesus Cristo. Ireneu por sua vez repele tal asseveração dizendo que se havia uma doutrina pura e perfeita, esta forçosamente tinha que estar com as igrejas fundadas pelos apóstolos as quais (pelo menos em teoria) foram transmitidas aos seus sucessores.

Em outras palavras: os gnósticos afirmavam que sua fé era parte da Tradição Apostólica. Santo Ireneu retruca demonstrando que, uma vez que tal fé não era ensinada pela Igreja de Roma, de Tradição Apostólica não se tratava, pois esta Igreja a conservava, por sua própria natureza, a totalidade desta Tradição.

Os membros do CACP leram e não entenderam. Ou, mais possivelmente, não quiseram entender : (

Desta maneira Roma entrou de contra golpe por vários motivos que nem de longe tem a ver com a tal primazia do papa. Vejamos:

1. Ireneu apela para o elo de sucessão de TODAS as igrejas e não somente de Roma. A razão ele mesmo da ao dizer que “…seria demasiadamente longo, num volume como este, enumerar as sucessões de todas as igrejas…” , tanto é que mais adiante ele cita como exemplo Policarpo, bispo de Esmirna, e seus sucessores.

Novamente, equivocaram-se os membros do CACP. Eles afirmam que o trecho “seria demasiadamente longo, num volume como este, enumerar as sucessões de todas as igrejas” foi o motivo pelo qual Santo Ireneu escolheu a Igreja de Roma apenas.

Ledo engano. O trecho em questão apenas justifica o porquê dele não ter estabelecido a sucessão em todas as Igrejas. Mas os motivos pelos quais, na necessidade de fazê-lo apenas com uma, ele escolheu Roma são muito diversos. A escolha recaiu sobre ela porque, como ele mesmo afirma, “a maior e a mais antiga, conhecida por todos, fundada e constituída pelos dois gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo” e porque “nela sempre foi conservada a tradição dos apóstolos

É, pura e simplesmente, uma questão de interpretação de texto…

2. Irineu escolheu Roma justamente, por que como já dissemos, era a principal Igreja do Império, a mais rica e por isso a mais conhecida.

Já respondido acima.

3. Outra razão era que muitos apócrifos petrinos (principalmente de origem gnóstica) circulavam em sua época, haja vista que os líderes hereges mencionados acima espalharam suas heresias em Roma no ministério de bispos como Higino, Pio e Aniceto; Ireneu apela (mesmo contra o depoimento das escrituras) para tais tradições e arbitrariamente atribui a fundação desta Igreja a Pedro e Paulo, lançando o prestígio que Pedro possuía entre eles contra os mesmos, tentando assim, um contra golpe nos argumentos gnósticos.

O parágrafo acima é desprovido de qualquer senso crítico e, portanto, não merece considerações mais sérias. Para usar um linguajar bem popular, os membros do CACP “chutaram” um argumento na tentativa de fortalecer sua tese. Não há qualquer base histórica para se afirmar que Santo Ireneu atribuiu a fundação da Igreja de Roma a São Pedro apenas para usar o prestígio do Príncipe dos Apóstolos contra os gnósticos.

Até porque a simples leitura do texto demonstra, mais uma vez, o desacerto dos membros do CACP. Santo Ireneu não está invocando a autoridade de São Pedro contra os gnósticos. Ele está invocando a autoridade da Igreja de Roma, autoridade esta que, dentre outros motivos, lhe advém do fato da mesma ter sido fundada por São Pedro e por São Paulo.

Grosso modo, o raciocínio inverso é o único historicamente verossímel: os gnósticos escreveram apócrifos e, na tentativa de conferir-lhes autoridade doutrinária, atribuiram-nos a São Pedro, Príncipe e Chefe dos Apóstolos. Até porque este era o costume entre os hereges dos primeiros séculos: escreviam qualquer bobagem e a atribuiam a algum apóstolos para dar-lhes credibilidade.


Vale a pena ressaltar que a frase do trecho acima recolhido no site católico é deveras tendenciosa quando traduz, “Com esta comunidade, de fato, dada a sua autoridade superior, é necessário que esteja de acordo toda comunidade…” No livro “Antologia dos Santos Padres” de Cirilo Folch Gomes, OSB – ed. Paulinas, traduz ” Porque é com esta igreja (de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade de fundação, que deve…” (ênfase acrescentada).

A acusação gratuita (pois é disto que se trata esta acusação) de que a tradução utilizada por um dos sites predecessores do VS é tendenciosa poderia, facilmente, ser revertida contra o CACP. Afinal, eles preferem a outra tradução simplesmente pelo fato de que a mesma não atribui uma “autoridade superior” à Igreja de Roma, afirmando que esta gozava, meramente, de “autoridade de fundação”.

Afinal de contas, eles não elencam quaisquer motivos para preferir esta tradução à outra. E, para piorar mais um fiasco intelectual da parte dos mesmos, omitem a previsível seqüência do texto: todos devem estar em comunhão com a Igreja de Roma.

 

Não há nenhum indício de superioridade devido a um suposto papa nela residente. Outrossim, Ireneu apela não para a igreja de Roma como autoridade final, mas para a igreja “Católica”, ou seja, UNIVERSAL espalhada pelo mundo todo, a comunidade de cristãos.

Com todo o respeito, só não vê quem não quer. E os protestantes, infelizmente, não querem ver. Basta ler o texto. Santo Ireneu começa afirmando que não elencará a sucessão apostólica em todas as igrejas, mas somente na de Roma. Um pouco mais adiante, afirma que com esta Igreja de Roma, em virtude de sua autoridade superior, devem estar concordes todas as demais comunidades cristãs.

Quem não quer ver, que não veja…

Se de fato o apologista reconhecesse alguma superioridade, primazia jurisdicional, temporal ou espiritual no bispo de Roma; e neste como o sucessor de São Pedro com todas as regalias e autoridade que os papas modernos se auto intitulam, teria no livro III 24:1 de “Contra as Heresias”, a preciosa oportunidade de afirmar que eles (os gnósticos) estavam separados da ROCHA que é Pedro. Entretanto, observe o que ele diz: “Porque não estão fundados sobre a única rocha, mas sobre a areia, a areia dos muitos saibros”, com certeza uma referencia à passagem de Mateus 7:24-26.

Infelizmente todo o silogismo de Ireneu acabou numa apagogia!

Uai! Que falta faz saber interpretar textos! Santo Ireneu não precisaria afirmar que os gnósticos estão separados da Rocha que é Pedro. Até porque a eclesiologia católica (que, às escâncaras, Santo Ireneu defende) não permitiria uma afirmação tola como esta. Quem não está em comunhão com Roma não está em comunhão com Cristo, não faz parte do Seu Corpo Místico e não pode se salvar. A eclesiologia católica é cristocêntrica, e não (o leitor perdoe-me pelo neologismo) “petrocêntrica”.

Ora, se Santo Ireneu afirma que todas as Igrejas devem estar em comunhão com a Igreja de Roma, se afirma que nela é que se manteviveram os ensinamentos dos apóstolos, e se, por fim, afirma que os gnósticos não estão em comunhão com esta Igreja, daí deduz-se o fato de que os mesmos não guardaram os ensinamentos dos apóstolos.

Aliás, tal qual os protestantes de hoje.


CIPRIANO



“O Senhor diz a Pedro: “Eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus… O Senhor edifica a sua Igreja sobre um só, embora conceda igual poder a todos os apóstolos depois de sua ressurreição, dizendo: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio. Recebei o Espírito Santo, se perdoardes os pecados de alguém, ser-lhes-ão perdoados, se os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. No entanto, para manifestar a unidade, dispõe por sua autoridade a origem desta mesma unidade partindo de um só. Sem dúvida, os demais apóstolos eram, como Pedro, dotados de igual participação na honra e no poder; mas o princípio parte da unidade para que se demonstre ser única a Igreja de Cristo… Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade da Igreja? Confia estar na Igreja quem se opõe e resiste à Igreja? Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?” (São Cipriano, +258, bispo de Cartago, Sobre a Unidade da Igreja).

À princípio devemos admitir que Cipriano cria que Roma era a cátedra de Pedro e assegurava naquela época a unidade das igrejas, pois havia um vinculo de fraternidade entre todas elas como bem atesta Tertuliano, ” … Foi inicialmente na Judéia que [os apóstolos] estabeleceram a fé em Jesus Cristo e fundaram igrejas, partindo em seguida para o mundo inteiro a fim de anunciarem a mesma doutrina e a mesma fé. Em todas as cidades iam fundando igrejas das quais, desde esse momento, as outras receberam o enxerto da fé, semente da doutrina, e ainda recebem cada dia, para serem igrejas. É por isso mesmo que serão consideradas como apostólicas, na medida em que forem rebentos das igrejas apostólicas. É necessário que tudo se caracterize segundo a sua origem. Assim, essas igrejas, por numerosas e grandes que pareçam, não são outra coisa que a primitiva Igreja apostólica da qual procedem. São todas primitivas, todas apostólicas e todas uma só. Para atestarem a sua unidade, comunicam-se reciprocamente na paz, trocam entre si o nome de irmãs, prestam-se mutuamente os deveres da hospitalidade: direitos todos esses regulados exclusivamente pela tradição de um mesmo sacramento” ( Da Prescrição dos Hereges XIII-XX ).Contudo, cada igreja era autônoma e possuía seus próprios patriarcas, o bispo de Roma não era o cabeça da cristandade como mais tarde veio a ser cada vez mais reivindicado pelos papas. Seja como for, uma coisa é certa, “Ele admitia a seu modo o primado romano” ( A. Hamman, “Os Padres da Igreja” – Ed. Paulinas). Ainda dizia Cipriano que a Sé de Pedro pertence ao Bispo de cada igreja local.

Bem, os próprios membros do CACP, ainda que titubeantes, e, a cada passo, demonstrando o azedume com que o fazem, admitem que São Cipriano cria:

a) que Roma era a Cátedra de São Pedro;

b) que a Roma pertencia a primazia entre todas as Igrejas.

Este é o fato, inconcusso e inexorável. Eles sequer conseguiram, através dos malabarismos mentais anteriormente exercidos, qualquer desculpa para negar este ponto. Isto, por si só, é de altíssima relevância, pois está provado que, anteriormente ao Concílio de Nicena, o primado da sé Romana já era um ponto de fé existente.

Estamos diante de uma verdadeira confissão de fracasso por parte dos protestantes em provar a sua tese de corrupção pós-Constantiniana.

Algo que vem a corroborar para a derrocada romanista é o fato de que este trecho em outras versões não deixa tanto em relevo o primado de Roma. Onde uma traz, “Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?”, a outra se reserva aos dizeres: ” Confia estar na Igreja quem se opõe e resiste à Igreja?” (ibdem)

Este ponto, em princípio, é absolutamente irrelevante, diante da confissão do fato de que, como admitiram nossos contendores, São Cipriano admitia o primado romano.

Deve-se notar ainda que Cipriano escreveu esta carta para combater e rechaçar o cisma promovido por Felicíssimo em Cartago e concomitantemente enviou-a a Roma para combater o cisma que Novato criara na disputa do episcopado com Cornélio. O motivo principal do contraste entre Cornélio e Novato foi a atitude oposta em relação aos “lapsos”, isto é, os cristãos que, por temor das perseguições, tinham renunciado a própria fé e que, passadas as perseguições, pediam para ser
readmitidos na comunhão da Igreja. Norteando-nos por este contexto podemos compreender o “porque” de Cipriano insistir na unidade da Igreja. Ele não estava exaltando o bispo de Roma, mas combatendo os cismas em Roma e em Cartago, onde era bispo.

Novamente, isto é ireelevante diante da confissão supra-mencionada. No entanto, e mais ua vez, revela-se o pouquíssimo espírito crítico e o apriorismo com que nossos contendores encaram o problema. E, por mais que tentem, não conseguiram sequer disfarçar o ponto fulcral: São Cipriano admite expressamente o primado romano, e,o que é mais importante, admite-o anteriormente à Nicéia.

SUJEIÇÃO AO BISPO DE ROMA, ONDE ?


Não obstante a história mostrar muitos bispos de outras igrejas estarem unidos a Roma e considerar de algum modo sua preeminência, no entanto eles não titubeavam em repreende-lo quando necessário. Posto que se trata de questões de primazia, é cabível acreditarmos que o Bispo romano apesar de reivindicar uma posição privilegiada não possuía nenhum poder maior sobre as demais igrejas. Algumas querelas que ficaram nos anais da história mostram isto de forma inequívoca. Na verdade muitos bispos romanos se curvaram perante a posição de alguns pais.

Por tudo o que já foi dito acima, podemos já imaginar o que vem abaixo. Note-se, contudo, e mais uma vez, a capitulação flagrante da tese protestante que consta do início do parágrafo, onde se admite que é fato histórico que muitos bispos sempre admitiram a primazia de Roma.

TERTULIANO


Não se sabe ao certo quando se estabeleceu essa presunçosa aspiração do bispo de Roma. Entretanto, já em 220 A.D, Tertuliano em sua obra De Pudicitia, emprega o termo (papa) de maneira sarcástica – como era seu estilo – ao referir-se a vários bispos da Igreja primitiva, com a qual rompera anos antes. Já nesta época por exemplo, Tertuliano acusava o bispo Calixto de querer ser o bispo dos bispos. Este título ao contrário do que muitos pensam, não era monopólio do bispo romano, muitos como Policarpo, Cipriano, Heraclas, Atanásio de Alexandria foram denominados de ” PAPAS “. Tertuliano acabou rompendo por final com a Igreja de Roma.

Sem que se adentre na discussão do título de “Papa”, estamos diante de mais uma confissão do CACP. No início do terceiro século, os escritos de Tertuliano deixam claro que o bispo de Roma era considerado o “bispo dos bispos”, detendo, entre todos os demais, a primazia.

É certo, inclusive, que Tertuliano revoltou-se contra esta idéia (como, aliás, revoltaram-se Lutero, Calvino & CIA). E, até por isto, seus escritos são fonte insuspeita a provar que, no início do segundo século (novamente, antes de Nicéia) este primado romano já estava estabelecido.

Veja-se o que, a respeito, leciona a Enciclopédia Católica (tradução minha; ênfase acrescentada):

“No primeiro quarto do século (por volta de 220) Tertuliano (De Pud. 21) menciona a afirmação de
Calixto segundo a qual o poder de Pedro de perdoar pecados havia sido passado para si próprio de uma maneira especial. Se a Igreja Romana tivesse sido meramente fundada por Pedro e não tivesse ele sido considerado seu primeiro bispo, não haveria base para tal afirmação. Tertuliano, como Firmiliano, tinha todos os motivos para negar esta afirmação. Além disso, ele tinha residido em Roma, e saberia muito bem se a idéia do episcopado romano de Pedro tivesse sido, tal qual afirmam seus oponentes, uma novidade datada dos primeiros anos do terceiro século, suplantando uma antiga tradição segundo a qual Pedro e Paulo foram seus co-fundadores, e Lino o seu primeiro bispo.”

Tal texto elucida, definitivamente, a questão.



POLICARPO E IRENEU



No ano 155 o Bispo Policarpo de Esmirna visitou o Bispo Aniceto de Roma e teve com ele algumas desavenças sobre algumas questões, e também a fim de persuadi-lo a aceitar a tradição estipulada pelo Apóstolo João de observar a Páscoa (Pascha), no dia judaico 14 de Nissan ou Passover, seja qual fosse o dia da semana. O bispo romano havia recebido uma tradição diferente através de Pedro e dos evangelhos sinópticos, de acordo com a qual a Páscoa deve ser sempre celebrada no Domingo, o primeiro (ou oitavo), dia da semana judaica após Nissan 14. Diz Eusébio citando Ireneu em sua História Eclesiástica (Livro V cap. XXIV) que nem Policarpo conseguiu persuadir Aniceto e nem este a Policarpo. No final ele acrescenta que “Aniceto cedeu a Policarpo”.

 

Na verdade, o texto “citado” (melhor seria dizermos: o texto “cortado”), encontra-se no Livro Quarto, Capítulo 24 da HE. Neste capítulo, Eozébio está narrando toda a crise provocada pelas Igrejas da Ásia ao insistirem, sob o papado de São Vítor (ano 179 d. C) em celebrar a Páscoa em 14 de Nizan, e não segundo o costume da Igreja de Roma. Como já foi dito, São Vítor excomungou toda a Ásia (revelando, portanto, ter poder para tanto). Santo Ireneu, pressentindo o perigo de grave cisma, escreveu, então, para São Vítor na tentativa de convencê-lo a levantar a excomunhão.

O argumento do Santo Ireneu diante de São Vítor (se nossos contendores tivessem razão) seria muito simples: bastaria ela afirmar que São Vítor não tinha qualquer primazia entre os bispos e que, sendo todas as igrejas independentes uma da outra, o decreto de excomunhão não tinha qualquer validade.

No entanto, Santo Ireneu não levantou este argumento. E, não o fazendo, deixou um solene testemunho do direito que São Vítor tinha, já em pleno século II, em excomungar quem quer que fossse. Deixou um solene testemunho acerca da jurisdição universal do bispo de Roma.

Os argumentos de Santo Ireneu foram muito interessantes. Ele apela para a antigüidade do costume dos chamados quatrodecimões, e para o fato de que os antecessores de Vítor sempre toleraram tal costume. Neste ensejo, ele narra a visita de São Policarpo a Aniceto, afirmando que este não logrou convencer àquele a abondonar o costume de celebrar a Páscoa em 14 de Nissã. Diz então:

Assim estando a questão, (Aniceto e Policarpo) entraram em comunhão mutuamente, e na Igreja Aniceto cedeu, certamente por deferência, a celebração da Eucaristia a Policarpo.”

Aí está, caro leitor, mais um retumbante exemplo do fiasco do texto ora sob comento. Os seus autores tomaram o texto acima e, descontextualizando-o completamente, afirmaram que “Aniceto cedeu a Policarpo”, na tentativa de se fazer crer que a autoridade deste era superior à daquele.

Na verdade, Aniceto simplesmente permitiu que Policarpo celebrasse a Eucaristia (coisa, aliás, que não existe entre os protestantes) em sua Igreja, quando o normal seria que ele mesmo, Aniceto, . E mais: permitiu-o por simples deferência a Policarpo.

Não é necessário mais para se provar mais este desacerto dos protestantes…

Mais tarde porém, o bispo Victor de Roma sofreu severas criticas por parte de Ireneu e outros bispos quando arbitrariamente quis impor sua autoridade desligando as Igrejas da Ásia por causa da tão chamada controvérsia “Quartodécima”. Prossegue Eusébio relatando que o bispo romano foi, por muitos, duramente repreendido, “Também restam as expressões que empregaram para pressionar com grande severidade a Vitor. Entre eles também estava Ireneu…”(ibdem).

Mais uma deturpação…

O fato: São Vítor excomungou toda a Ásia, e ninguém levantou o argumento de que o mesmo não tinha este direito. Muitos se opuseram e se queixaram, mas ninguém ousou, pura e simplesmente, passar por cima da autoridade petrina encarnada em São Vítor.

A conclusão é simples e devastadora: São Vítor tinha o direito de impor tal excomunhão, sendo, portanto, um Papa tal como hoje o é João Paulo II.

CIPRIANO



Estêvão I (254-357), romano, sucedeu a Lúcio I depois de uma vacância de dois meses. Afirmou insistentemente o primado, sobretudo nos contrastes com Cipriano, o influente bispo de Cartago, por problemas que se relacionavam com a disciplina eclesiástica ou questões teológicas, como a da validade do batismo administrado por heréticos. Estêvão, que representava a tradição de Roma, Alexandria e Palestina, acreditava que esse batismo era válido, contrastado nisso também pelo bispo Cipriano que seguia a mesma linha de Tertuliano e juntamente com os bispos da Ásia Menor, havia convocado dois sínodos para afirmar a não validade do batismo dos heréticos.

Naquela ocasião, Estevão recusou-se até mesmo a receber os enviados de Cipriano. Rebatizar segundo ele era contrário à tradição e isso não podia ser tolerado. Por sua vez Cipriano retrucou com a igreja romana apelando para a tradição de sua igreja. Convocando um novo Sínodo Cipriano pediu aos bispos que manifestassem suas opiniões, dizia ele: “Vamos, cada um por sua vez, declarar nosso sentimento em face deste problema, sem pretender julgar ninguém NEM EXCOMUNGAR os que forem de parecer diferente” (ênfase acrescentada). Duas coisas ficam evidentes nesta questão: A alusão ao autoritarismo de Estevão; e o mesmo direito que o bispo romano possuía para “excomungar”, Cartago o tinha igualmente.

Da mesma forma como os autores deste texto já demonstraram sua propensão a deturpar os textos dos Padres, agora, demonstram igual propensão em tirar conclusões preciptadas. Em nenhum momento o texto de Cipriano acima (supondo-o verdadeiro) afirma que Cartago tinha igual poder de excomungar a Igreja de Roma.

Simplesmente se afirma que o sínodo convocado não queria excomungar ninguém (obviamente, referindo-se aos fiéis sob jurisdição dos bispos reunidos) que tivessem costumes diferentes.

A respeito desta controvérsia entre Estêvão e Cipriano, a Enciclopédia Católica leciona (tradução minha; ênfase acrescentada):

“Firmiliano de Cesaréia informa que Estêvão afirmou poder decidir a controvérsia a respeito do batismo pelo fato de ele deter a sucessão de Pedro (Cyprian, Ep. 75:17). Firmiliano não o negou: e, certamente, se tal negativa fosse possível, ele a teria feito. Assim, em 250 d. C. o episcopado Romano de Pedro era admitido por aqueles que melhor conheciam a verdade, não apenas em Roma, mas nas Igrejas da África e da Ásia Menor

 

 

Também pela mesma época, dois bispos espanhóis depostos por um sínodo espanhol, apelaram para Estevão e foram reintegrados a comunhão. Mas um sínodo, reunido por Cipriano na Metrópole da África, anulou o ato de Estevão, confirmando o sínodo espanhol. Ao que parece a unidade da Igreja Católica (Universal) , tão propalada pelo bispo Africano em sua “De Unitate Catholicae Ecclesiae” estava sendo rompida.

No ano de 418, reuniu-se em Cartago um Concílio de todos os bispos africanos, no qual foi sancionado o seguinte Cânon:

“Igualmente decidimos que os Presbíteros, Diáconos e outros Clérigos inferiores, nas causas que surgirem, se não quiserem se conformar com a sentença dos bispos locais, recorram aos bispos vizinhos, e com eles terminem qualquer questão… E que, se ainda não se julgarem satisfeitos e quiserem apelar, não apelem se não para os Concílios Africanos, ou para os Primazes das próprias Províncias: – e que, se alguém apelar para a Sé Transmarina (de Roma) não seja mais recebido na comunhão…”

Por esta Regra Conciliar se vê que os Bispos Africanos não aceitavam e não admitiam que fosse aceita a jurisdição do bispo de Roma!

Primeiro ponto: o concílio de Cartago de 418 discutiu, apenas e tão-somente, a heresia pelagiana, estabelecendo oito cânons (ou, segundo um texto, nove cânons), todos referentes a tal heresia, condenando-a.

Não existe qualquer cânon deste Concílio que se refira à Sé Romana. Estamos diante, pura e simplesmente, de uma invenção protestante à qual aderiram, novamente por não checar suas fontes, os membros do CACP.

Segundo ponto: ainda que houvesse tal cânon tresloucado (e, repita-se: o mesmo não existe) ele simplesmente não tem qualquer validade, visto que, em toda história do cristianismo, concílios regionais jamais tiveram jurisdição universal.

Terceiro ponto: em 418 d. C. (data do suposto cânon cartaginense) o papado já estava estabelecido e muito bem estabelecido. Toda a cristandade o respeitava e apenas cismáticos (pois, infelizmente, eles sempre existiram) se opunham à primazia romana. Portanto, este cânon apenas revelaria o espírito de cisma dos bispos signatários.

AS CONTRADIÇÕES DAS TRADIÇÕES


Dizia Gregório de Nissa : “Se um problema é desproporcional ao nosso raciocínio, o nosso dever é permanecer bem firmes e irremovíveis na Tradição que recebemos dos Pais” Contudo, Deus não confiou na chamada “tradição oral”, tanto é que mandou seus servos escreverem seu verbum sacrum em livros. A tradição com o passar do tempo corrompe o significado real das coisas. Muitas tradições aceita pelas igrejas entravam em flagrante contradição quando confrontadas umas com as outras, a titulo de ilustração temos o celebre caso da grande controvérsia sobre a páscoa já citada neste estudo. De um lado estava as igrejas da Ásia sustentada por certa tradição recebida segundo eles pelo apostolo João de que a páscoa tinha de ser celebrada no 14 Nisan, já as do Ocidente alegavam que haviam recebido uma tradição diferente dada pelo apostolo Pedro e Paulo de que deveria ser no domingo. Cada qual defendia ardorosamente sua posição. Será que Pedro e João transmitiram “tradições” diferentes a estas igrejas ? Quem estava certo ?

Neste parágrafo, transparece a evidente dificuldade dos protestantes em diferenciarem a Tradição Apostólica (revelação transmitida diretamente por Jesus Cristo aos Apóstolos e que não foram postas por escrito) das tradições, isto é, costumes observados nas diversas igrejas e que surgiram seja já na época apostólica, seja em data posterior. É possível, portanto, que hajam tradições (costumes) diversos, mas não é possível contradição na Tradição Apostólica.

O costume das Igrejas da Ásia em celebrarem a Páscoa em 14 de Nisã era destas “tradições”. Portanto, o fato desta tradição (costume) contrariar a tradição romana não leva à conclusão de corrupção da Tradição Apostólica.

Veja que tais tradições não passam de meras contradições! As interpretações equivocadas e muitas vezes forçadas de alguns dos pais e escritores da igreja primitiva, começaram a ser transformadas em regras de fé pelos Concílios através dos séculos. Estes dogmas que existem hoje em dia na igreja Católica, foi apenas outrora a interpretação particular de alguns dos pais da igreja e não a regra de fé e prática de toda a igreja cristã, prova disso é que não havia unanimidade entre eles sobre vários assuntos.

Curioso… Os protestantes do CACP afirmam que os dogmas católicos são, simplesmente, interpretações particulares de alguns Pais da Igreja. No caso do papado (que, afinal de contas é o que eles estão discutindo), e não obstante reconhecerem que já no séc. II o bispo de Roma se arvorava líder da Igreja, os mesmos não contam com um único escrito patrístico negando tais pretensões.

É um silêncio deveras revelador. Se não existem tais manifestações, isto prova que as aspirações papais já eram reconhecidas como legítimas.

 

Por exemplo, Tertuliano era radicalmente contra o batismo infantil, já Orígenes era a favor, Anselmo afirmava que Maria nasceu com a mancha do pecado original, Jerônimo era ao que parece contra a chamada “tradição oral”, Hegesipo e Ireneu e Tertuliano afirmavam que Maria teve filhos com José, Jerônimo defendia arduamente a virgindade perpétua de Maria, muitos eram a favor de que Pedro era o fundamento da igreja em Mateus 16:18, mas um número maior ainda era contra essa interpretação, como por exemplo, Agostinho, bispo de Hipona, o decreto Gelasiano afirmava que o livro intitulado “o pastor de Hermas” era apócrifo e promulgava que não deveria meramente ser rejeitados mas também “eliminados de toda a Igreja Católica e Apostólica romana, sendo que os autores e seguidores desses autores devem ser amaldiçoados com a corrente inquebrável do anátema eterno.” Já Atanásio admoestava que era útil para a leitura não havendo menção a ele como apócrifo. Muitas posições teológicas defendidas por uns, eram rejeitadas por outros, não havia um consenso geral como querem nos fazer crer os estudiosos católicos!

 

Todos os assuntos acima desviam do tema deste trabalho e já se encontram devidamente elucidados em outros artigos do nosso site. Por isto, e para não alongar ainda mais este artigo, deixaremos, por ora de comentá-los.

A igreja começou a transformar essas incongruências em dogmas somente após o século IV, por isso o Padre Benhard em 1929 escreveu: “…A Bíblia em si mesma, não é mais do que letra morta, esperando por um intérprete divino… Certo número de verdades reveladas têm chegado a nós, somente por meio da tradição divina.”

O padre em questão está com a razão. Todo e qualquer livro requer um intérprete. Se ninguém vier a lê-lo (e ler pressupõe um trabalho de interpretação) ele permanece letra morta. Não há qualquer problema neste ponto.

Ora, Jesus afirmou que a palavra de Deus é que é a verdade! Se há outras verdades que não são reveladas pelas escrituras que é a depositária de toda a verdade, então não são verdades, mas tão somente inverdades!

A Palavra de Deus contém toda a verdade, sem dúvidas. No entanto, somente nas idéias enviezadas dos protestantes é que se pode confundir “Palavra de Deus” com “Bíblia”. A Bíblia é a palavra de Deus transmitida por escrito. A mesmíssima Bíblia afirma que Jesus Cristo (que era Deus) fez a disse muitas coisas não escritas. Todas as Suas palavras (ainda qwue não registradas por escritos) são Palavras de Deus (pelo simples fato de terem sido pronunciadas por Deus em pessoa).

Assim, a Tradição é a Palavra de Deus transmitida oralmente, tanto quanto a Bíblia o é.



MAIS CONTRADIÇÕES



Vejamos ainda o “Decreto Gelasiano” que ao se referir sobre a morte de Pedro e Paulo afirma que os dois foram martirizados ao mesmo tempo: “Acrescente-se também a presença do bem-aventurado apóstolo Paulo, “o vaso escolhido”, que não em oposição – como afirmam as heresias dos tolos – mas na mesma data e no mesmo dia, foi coroado com a morte gloriosa juntamente com Pedro, na cidade de Roma, padecendo sob Nero César; e igualmente eles fizeram a supra mencionada Santa Igreja romana especial para Cristo, o Senhor, e deram preferência de suas presenças e triunfos dignos de veneração perante todas as demais cidades existentes sobre a Terra.” Dionísio é concorde com isto pois afirma: ” Tendo vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina evangélica. A seguir, indo para a Itália, eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio simultaneamente” (Dionísio de Corinto, ano 170, extrato de uma de suas cartas aos Romanos conforme fragmento conservado na “História Eclesiástica” de Eusébio, II,25,8). Entretanto Paulo diz o contrário, “Só Lucas está comigo. Toma a Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.” A tradição diz que Pedro estava com ele mas Paulo desmente afirmando que só Lucas permanecia junto a ele antes de sua morte!

Santo Deus! São Paulo escreveu o trecho em questão (2 Tm 4, 11) em seu primeiro cativeiro (por volta de 60 d. C.). Após isto, ele foi solto, empreendeu uma viagem à Espanha e, muito provavelmente, ao Oriente, de onde voltou a Roma para sofrer o martírio. Portanto, o trecho bíblico citado não contradiz a tradição católica de que São Pedro e São Paulo foram martirizados no mesmo dia sob Nero.

 


PERGUNTAS QUE OS CATÓLICOS PRECISAM RESPONDER



Mostraremos aqui algumas perguntas que são barreiras insuperáveis à tese católica da fundação, estadia, governo e a morte de Pedro em Roma.

Vejamos quais são estas “barreiras insuperáveis”.

1. Se Pedro esteve em Roma, então por que a Bíblia não diz nada sobre isto, já que menciona muitas cidades por onde passou como Jerusalém, Samaria, Lida, Jope, Cesaréia, Coríntios, Antioquia… mas sobre Roma no entanto, não diz nada?!

Em primeiro lugar, a Bíblia não é a úncia fonte de fé, doutrina, e, muito menos, de história cristãs. Por exemplo, ela não fala nada acerca da maior parte da vida de Jesus. Narra Seu nascimento, fala um pouco de Sua infância e, a seguir, num salto fenomenal, já começa a narrar Sua vida adulta.

O mesmo de São Paulo. Os Atos teminam com sua chegada em Roma. Nada falam de sua audiência com Nero, nem da sua primeira absolvição, de sua viagem à Espanha, de seu retorno à Roma, e, por fim, nada fala de seu matírio.

No entanto, todos estes fatos são históricos.

Os Atos dos Apóstolos foram escrito por um discípulo de São Paulo, visando demonstrar, principalmente para os seus inimigos, a importância deste homem para o cristianismo nascente. Fala-se muito pouco de diversos apóstolos, mesmo os mais importantes como São João e São Tiago Menor.

Portanto, é natural que, dentro dos objetivos traçados por São Lucas ao escrever os Atos, ele não falasse da fundação da Igreja de Roma, nem do primado de São Pedro, muito menos do seu martírio.

Além disto, temos um testemunho bíblico claríssimo acerca do fato de São Pedro ter estado em Roma. Trata-se de 1 Pe 5, 13, onde se lê: “a igreja escolhida de Babilônia saúda-vos, assim como também Marcos, meu filho.” Ora, sabe-se que o termo “Babilônia”, no Novo Testamento, é usado para se referir à cidade de Roma.

Portanto, São Pedro escrevia de Roma, o que prova que ele lá estava e, de quebra, que esta igreja era “escolhida”.

2. Porque Lucas “o historiador” não se preocupou em registrar nada sobre o “príncipe dos apóstolos” e seu episcopado em Roma, pelo contrário voltando-se quase exclusivamente ao ministério de Paulo?!

Já respondido acima.

3. Paulo escreveu sua epistola aos Romanos (56-58) enviando saudações a 26 pessoas mas o nome do “Papa São Pedro” se quer é mencionado. Porventura deixaria Paulo de mencionar Pedro, caso estivesse ele em Roma e ai fosse bispo? Outrossim, Paulo ao enviar as “cartas do cativeiro”, escritas em Roma envia saudações citando nominalmente 11 irmãos. Se Pedro estivesse em Roma teria Paulo omitido seu nome em todas as quatro cartas ? Creio que não!

Ora, como já foi dito, São Paulo era, por exemplo, o bispo de Corinto, exercendo sua autoridade sobre aquela Igreja e, no entanto, não estava sempre por lá. Os apóstolos, em sua Missão de evangelizar o mundo, viajavam muito, o que não os impedia de exercer sua autoridade.

Com São Pedro também se deu assim. O mesmo foi à Roma, por volta do ano 43 (conforme nos atesta Eozébio de Cesareia) e fundou aquela que viria a ser a rainha de todas as Igrejas. Depois disto, empreendeu viagens missionárias, tanto que, por volta do ano 49 d. C., encontrava-se em Jerusalém para presidir oprimeiro Concílio Ecumênico da história da Igreja (vide At 15)

4. Demais disso, não teria Paulo invadido o território jurisdicional de Pedro ao enviar uma carta de instruções corretivas àquela Igreja ? Onde estava Pedro que não instruía os romanos sobre a justificação pela fé ?

São Paulo não invadiu a jurisdição de São Pedro, visto ter sido co-fundador da Igreja de Roma. Ambos, portanto, exerciam autoridade sobre os fiéis de Roma. Aliás, até hoje em muitas dioceses (na minha inclusive) temos mais de um bispo: o titular e o adjunto. Ambos exercem autoridade sobre os fiéis, mas a última palavra é sempre do titular.

Por fim, São Pedro jamais instruiria os romanos ou quem quer que fosse acerca da “justificação pela fé”, visto que esta doutrina (tão aclamada pelos protestantes) é contrária ao legítimo ensinamento cristão.

5. Entre os anos 60-61 Paulo chega preso em Roma (At. 28:11,31), Lucas registra que os irmãos foram vê-lo (At. 28:15). Mas onde estava Pedro que não foi receber seu colega de ministério?

Já respondido.

6. Suetonius Tranquillus, pagão, na Biografia do Imperador Cláudio, diz: “Judacos, impulsore Cresto, assidue tumultuantes Roma expulit”. Quer dizer: – O Imperador Cláudio expulsou de Roma os Judeus que viviam em contínuas desavenças por causa de um certo Cresto (Cristo). Ora, Cláudio foi Imperador desde o ano de 41 até 54. Logo, durante esses treze anos não era possível que S. Pedro residisse em Roma.

Há um engano histórico (e de lógica) muito evidente neste ponto. O fato de Cláudio ter sido o imperador de Roma entre 41 d. C. usque 54 d. C. não implica que o seu decreto expulsando os judeus tenha vigido durante todo este tempo. Na verdade, este decreto foi expedido por volta do ano 49 d. C. e teve efêmera duração.

Ou seja, este decreto foi expedido vários anos após a provável data da fundação da Igreja Romana por São Pedro (ocorrida por volta do ano 43 d. C.).

Além disto, não deve ser esquecido o fato de que a pregação do Evangelho não obedece a decretos como estes. Em At 4, 18, os sacerdotes e chefes do templo também proibiram os apóstolos de pregar o Evangelho. A tal proibição, o próprio São Pedro respondeu: “Julgai-o vós mesmos se é justo diante de Deus obedecermos a vós mais do que a Deus. Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido.”(At 4, 19-20)

Sim, pois é fé católica (e, portanto, é a fé de São Pedro) que devemos sempre obedecer àsa autoridades constituídas, visto que foram constituídas pelo próprio Deus. Salvo os atos destas autoridades que impuserem obstáculos para a pregação do Eavangelho.

Portanto, São Pedro poderia ter estado em Roma clandestinamente, assim como outros apóstolos. E. de qualquer forma, ainda que o mesmo estivesse ausente, isto não mudaria o fato de que São Pedro fundou a Igreja de Roma e que era o seu bispo por excelência (ainda que fisicamente distante).

No Capítulo 18 dos Atos dos Apóstolos, lemos que Paulo, depois do célebre discurso no Areópago, seguiu para Corinto, onde se encontrou com Áquila e sua esposa Priscila, recentemente chegados de Itália, pelo motivo de Cláudio Imperador ter mandado sair de Roma a todos os judeus. Ora, este encontro do Apóstolo deu-se no correr da sua segunda viagem apostólica, isto é, entre os anos de 52 a 54. Logo, ainda nesses anos Cláudio não permitia a permanência de judeus em Roma. Como ficaria lá São Pedro, que, como Apóstolo, devia necessariamente chamar a atenção geral sobre sua pessoa?

Já respondido acima.

7. Se Pedro estivesse em Roma no ano 60 como se afirma a tradição, como então deve se entender as palavras de Jesus a Paulo em Atos 23:11 que diz: “Importa que dês testemunho de Mim também em Roma.” Ora, onde estava Pedro “o Papa” da cristandade que não tornava conhecido o nome de Jesus nesta cidade?

Ora, fazia parte dos planos de Deus que São Paulo viesse a dar testemunho de Cristo em Roma. Isto em absoluto quer dizer que São Pedro já não o tivesse feito. Jesus Cristo não disse que São Paulo inauguraria o testemunho do Evangelho naquela cidade, simplesmente airmou que a sua presença por lá fazia parte do planos divinos.

E, uma vez que ao chegar em Roma, o Evangelho já se encontrava firmemente estabelecido por lá (tanto que, quatro anos mais tarde, os cristãos seriam queimados vivos aos milhares nos jardins do imperador), resta uma pergunta: qual a razão pela qual seria necessário, dentro dos planos divinos, que São Paulo fosse à Roma?

Seria interessante que os protestantes respondessem a esta pergunta.

A resposta (indiretamente dada pela Tradição) é fulminante: seria necessário que São Paulo, juntamente com São Pedro, sofresse o martírio em Roma justamente para conferir, a esta Igreja, um status absolutamente ímpar em meio a todas as demais igrejas cristãs.

Tal eleição de Roma, conforme se depreende do próprio texto dos Atos citado, é decreto divino. Ao qual, aliás, os protestantes, para o prejuízo de sua alma, insistem em não seguir.

8. Paulo foi a Roma a primeira vez prisioneiro, em virtude de haver apelado para o Tribunal de César, pelos anos de 60 ou 61, lá não encontrando cristãos entre os judeus. Ora, se S. Pedro estivesse em Roma pregando exclusivamente aos judeus como nos garante Eusébio, como se pode explicar a ignorância dos principias judeus de Roma, que disseram a Paulo: “Quereríamos ouvir da tua boca o que pensas, porque o que nós sabemos desta Seita (dos Cristãos) é que em toda parte a combatem”. Então Pedro, durante dezoito anos, poderia permanecer desconhecido dos principais judeus de Roma? Ele, a quem fora confiado o Ministério aos circuncidados no dizer de Paulo (Gal. 3,7-10) e de Eusébio Pámphili?

Há muito o que se comentar acerca do texto acima. Em primeiro lugar, os autores deste desastroso artigo afirmam que Eozébio de Cesaréia “garante” que São Pedro, em Roma, pregou exclusivamente aos judeus. Pergunta-se: onde se encontra esta “garantia” nos escritos de Eozébio de cesaréia? A resposta é óbvia: em lugar nenhum.

Afirma Eozébio:

“(…) ainda no começo do império de Cláudio, a providência universal, boníssima e cheia de amor aos homens, conduziu pela mão a Roma , qual adversário deste destruidor da vida (i.e., Simão, o mago), o valoroso e grande apóstolo Pedro, o primeiro dentre todos pela virtude. Autêntico general de Deus, munido de armas divinas, trazia do Oriente ao Ocidente a preciosa mercadoria da luz inextinguível, e anunciava, como a própria luz, e palavra de salvação para as almas, a boa nova do Reino dos Céus.

Deste modo, a palavra divina se difundira entre os romanos e o poder de Simão (o Mago) se extinguiu e logo com ele desapareceu.

De outro lado, o fulgor da peiedade brilhou de tal modo diante dos ouvintes de Pedro, que eles não se satisfaziam de ouvi-lo uma só vez (…)” (HE, Livro Segundo, Capítulos 14 e 15)

Como o leitor pode facilmente perceber, não há qualquer menção de “pregação exclusiva aos judeus” em Roma. Ao contrário, fala-se apenas em “ouvintes” e em “difusão da palavra de Deus entre os romanos”, deixando claro a eficácia da pregação de Pedro.

Em outro ponto, Eozébio afirma:

Pedro, contudo, parece ter pregado aos judeus da Diáspora, no Ponto, na Galáciam na Bitínia, na Capadócia e na Ásia, e finalmente foi para Roma, onde foi crucificado de cabeça para baixo, conforme ele mesmo desejara sofrer.” (HE, Livro Terceiro, capítulo primeiro).

Portanto, não existe a tal “garantia de Eozébio” de que São Pedro, em Roma, pregou exclusivamente aos judeus. Ao contrário, ele diz ser provável que ele tenha pregado aos judeus da Diáspora (sem qualquer exclusividade), fazendo referência à sua primeira epístola, depois do que voltou a Roma para sofrer o matírio.

Afirmações toscas como esta apenas evidenciam que os membros do CACP falam do que não sabem, sem se preocupar em checar as fontes de suas afirmações.

Comentemos, agora, a frase dos judeus de Roma a São Paulo quando este lá chegou pela primeira vez em 60 d. C. Para fazê-lo, utilizar-se-á de dados levantados pelo próprio CACP.

No questionamento número 6, eles afirmaram que o imperador Cláudio expediu um decreto expulsando os judeus de Roma. Colacionaram, inclusive, um texto de Suetônio em que se afirma que tal decreto deveu-se a contínuas confusões em que tais judeus se envolviam com os seguidores de Cristo.

Ora, este decreto foi expedido por volta do ano 49. Portanto, neste período, os judeus de Roma já conheciam, muito bem, a seita dos cristãos. Conheciam-na tanto que a combatiam. Esta é a conclusão simples, tranqüila e pacífica que se retira dos próprios argumentos do CACP. Portanto, eles deveriam ter o pudor de, agora, levantar o argumento de que no ano 60 d. C os judeus de Roma ainda não tinham ouvido falar de Jesus Cristo.

A leitura de At 28, 17 ss, demonstra que São Paulo, assim que chegou em Roma, quis dirigir-se, primeiramente aos judeus (aqueles mesmos que, segundo o argumento do próprio CACP, não gostavam do cristianismo). Ele, conhecido por ser um fariseu, apresentou-se como amigo dos judeus (os interessados, que leiam os textos), e como alguém que em nada contrariava os costumes de seu povo. Por este motivo, os judeus, então, e previsivelmente, quiseram ouvir suas palavras, para saber a sua opinião acerca da seita cristã.

Neste contexto é que deve ser entendido a afirmação acima mencionada pelos autores do texto ora sob tréplica.

9. Ora, mas se Pedro estivesse preso, não seria esta a razão de sua omissão? Neste caso Paulo seria relapso em não registrar este fato como fez com seus demais companheiros de prisão (cf. Colossenses 4:10 – Filemon 23).

Já respondido. Sâo Pedro não foi omisso, como acima se demonstrou.


10. Diz os estudiosos católicos que Pedro morreu no reinado de Nero em 69 d.c, outros coloca o ano de 67, e ainda outros 64. A tradição diz que ele exerceu o episcopado durante 25 anos. Subtraindo 25 de 69 chegamos ao ano de 44 onde afirma a tradição que Pedro chegou a Roma (Hist. Ecl. II – XIV) Esta tese encontra duas grandes dificuldades: A primeira é que o edito de Nero expulsando os judeus durou de 42 até 54, motivo também da expulsão de Áquila e Priscila. Pedro não seria exceção tampouco! A segunda é que no ano 45, Pedro escreve sua primeira epistola, e que por sinal não era de Roma mas de “Babilônia”, cidade existente naqueles dias (I Pedro 5:13).

A primeira parte deste questionamento já está respondida.

A segunda parte, que afirma que São Pedro escreveu sua carta da Babilônia, é tão estarrecedora que, sinceramente, demonstra que estes senhores são absolutamente intangíveis pelo bom senso.

É fato unânime (exceção feita, é claro, pelos membros do CACP) que “Babilônia”, em Pe 5, 13, representa Roma. É este o título que, por uma série enorme de razões, os cristãos deram à capital do império.

11. Se Roma tem a primazia por ser supostamente considerada a cidade em que Pedro alegadamente exerceu seu ministério, então razão maior deveria ser dada a Antioquia pois diz a mesma tradição que antes de Pedro ir para Roma exerceu primeiro seu episcopado em Antioquia deixando lá seus sucessores: Evódio e Inácio.

É por esta razão que a Igreja de Antioquia foi vista, durante os primeiros séculos, como uma das mais importantes, juntamente com a de Jerusalém e a de Alexandria (todas igrejas capitaneadas, direta ou indiretamente, por São Pedro).

Roma, contudo, ganhou maior relevo. Em primeiro lugar, por ter tido em São Paulo o seu co-fundador. Em segundo lugar, por nela terem sofrido o martírio os dois maiores apóstolos do Cristianismo (São Pedro e São Paulo); em terceiro lugar, por nela terem derramado o seu sangue uma verdadeira multidão de mártires.

Portanto, se é certo que Evódio sucedeu São Pedro no episcopado de Antioquia, é igualmente certo que ele não o sucedeu na primazia entre os apóstolos. Tal primazia coube a Lino.


12. Porque estudiosos católicos como Rivaux, Fank, Hughes e Daniel Rops se contradizeram ao fazer as listas dos bispos de Roma já que usaram a mesma tradição como fonte?

Tal pergunta, apenas estes “estudiosos católicos” é que podem responder (se ainda estiverem vivos). De qualquer forma, este desacordo entre os tais estudiosos não inavalida a Tradição. Da mesma forma, poder-se-ia questionar porque cargas d’água os protestantes, seguindo a mesma Bíblia, e alegando-se inspirados pelo mesmo Espírito Santo, não concordam em pontos tão centrais quanto a divindade de Cristo, a necessidade do Batismo, a possibilidade de aborto, etc..

Assim como as evidentes contradições protestantes não anulam o fato da inspiração bíblica, da mesma forma as possíveis contradições dos “estudiosos” católicos não anulam a inspiração da Tradição.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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