Resposta a texto protestante sobre o primado de Pedro

Um leitor enviou-nos um texto de protestantes que visa solapar a doutrina do primado petrino e pediu-nos uma resposta. Como de costume, escrevemos em azul.

Não disponho de meios para verificar a VERACIDADE do que consta na mensagem seguinte a mim dirigida:

“…Santo Agostinho defendeu que esta passagem “não se referia à pessoa humana do apóstolo, mas sim, à confissão que Pedro fizera da divindade de Jesus: “Tu és o Cristo, filho do Deus Vivo”, declarou Pedro. A confissão da divindade do Cristo, diz Agostinho, é a pedra fundamental da Igreja. O próprio Agostinho diz ainda que a pessoa de Pedro, chamada por Jesus de carne e sangue, não podia ser a pedra fundamental da igreja.

 

Não há maiores problemas acerca disto. O próprio Catecismo da Igreja Católica, em um determinado momento, afirma que Jesus construiu a Igreja sobre a confissão de São Pedro, muito embora re-afirme, inúmeras vezes, que Simão Barjonas é a Pedra a que se referia Jesus.

 

Como entender isto?

 

Simples. São Pedro, naquele episódio, fez uma profissão de fé acerca da messianidade de Jesus Cristo. Em virtude desta profissão de fé, o Senhor o elegeu príncipe dentre os apóstolos e coluna visível da unidade da Igreja. Em outras palavras, em virtude de profissão de fé de Pedro, Jesus o escolheu para ser a Pedra da Igreja.

 

Portanto, sintaticamente, a Pedra a que Jesus se referia é São Pedro (não há qualquer elemento sintático que permita ao exegeta mais tresloucado uma conclusão diferente). Por metonímia, contudo, pode-se afirmar que o Senhor construiu a Sua Igreja sobre a profissão de fé de São Pedro (uma vez que tal profissão de fé foi o motivo que levou à escolha do pescador para ser o Chefe dos Apóstolos).

 

Portanto, o fato de ter Santo Agostinho feito a afirmação acima em nada altera a verdade de que o Grande Doutor de Hipona foi um dos maiores defensores do primado de Roma, e, nesta esteira, do primado do próprio São Pedro.

 

E não há quem o possa contradizer, uma vez que Santo Agostinho é o autor da célebre frase: Roma locuta, causa finita esta. Nada mais petrino, nada mais revelador do que esta doutrina elaborada pelo mesmo.

 

Analisemos mais detalhadamente, o Sermão no qual Santo Agostinho afirma que é sobre a profissão de fé de São Pedro que Jesus construiria Sua Igreja. Trata-se do Sermão 295. Nele é que está a famosa frase usada pelos prostestantes na tentativa de fazer crer que o grande doutor de Hipona negava o primado petrino: “Sobre a afirmação que (tu, Simão) fizeste:?tu és o filho do deus vivo?, construirei minha Igreja”.

 

No entanto, vejamos outros trechos deste mesmo Sermão (todos os grifos foram acrescentados): São Pedro, o primeiro dos Apóstolos, que amava Cristo ardentemente, mereceu escutar: Por isto eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. (…). Dentre os apóstolos, somente Pedro mereceu representar em toda parte a personalidade da Igreja toda. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras: Eu te darei as chaves do Reino dos Céus. Na verdade, quem recebeu estas chaves não foi um único homem, mas a Igreja uma. Assim, manifesta-se a superioridade de Pedro, que representava a universalidade e a unidade da Igreja (…). A ele era atribuído pessoalmente o que a todos foi dado. (…) No mesmo sentido, também depois da Ressurreição, o Senhor entregou a Pedro a responsabilidade de apascentar Suas ovelhas. (…) E dirigiu-se a Pedro, de preferência aos outros, porque, dentre os apóstolos, Pedro é o primeiro.”

 

Pergunto, há alguma dúvida ainda de que Santo Agostinho cria no primado petrino e pregava tal verdade de fé?

 

Caso haja, veja-se o seguinte trecho (fonte: http://www.catholic.com/library/Origins_of_Peter_as_Pope.asp): “uma vez que devemos considerar a sucessão dos bispos, com maior razão, mais verdadeiramente e com maior segurança nós enumeramos os bispos de Roma a partir do próprio Pedro, a quem, como que representando a toda a Igreja, o Senhor disse: ?Sobre esta Pedra construirei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela?

(Letters 53:1:2 [A.D. 412]).

 

Ou seja, Santo Agostinho afirmava, sim, que São Pedro era a pedra a que se referia Jesus em Mt 16, 18.

 

 

Até mesmo porque, em outras passagens do evangelho, Jesus chama Pedro de Satanás, por ter pensamentos humanos, e não, divinos. Nesse caso, essa igreja seria uma igreja de Satanás e não do Cristo.

 

Ora, vejam só até a que ponto vai a sanha protestante na tentativa de minar os alicerces da Igreja Católica. Eles, que são useiros e vezeiros em tentar, por todas as formas imagináveis, fazer com que Maria seja reduzida a uma reles mulher comum (até um pouquinho inferior às outras) também tentam, por todas as maneiras convencer os incautos de que São Pedro não somente não foi o Príncipe dos Apóstolos, mas também tinha lá alguma coisa a ver com o próprio Demônio.

 

É uma luta violenta para desmoralizar aquele que São Paulo chamou de Coluna da Igreja…

 

É certo que São Pedro tinha pensamentos humanos, pois era um ser humano. Humanos têm pensamentos humanos, nada mais prosaico do que isto.

 

No entanto, os protestantes também tem pensamentos humanos, pelo que, utilizando-se da lógica tosca do nosso interlocutor, a sua própria mensagem, sendo humana, não é digna de fé.

 

Aliás, a Bíblia também foi escrita por seres humanos (homens de carne e osso, tanto quanto São Pedro), e, no entanto, nosso interlocutor a tem como palavra de Deus. Aliás, o próprio São Pedro escreveu duas epístolas. Pergunto: porque cargas d’água a Igreja construída por Cristo sobre Pedro seria do demônio, e as cartas escritas pelo Espírito Santo através de Pedro seriam palavras de Deuss?

 

Se seguíssemos a lógica do nosso interlocutor, teríamos que concluir que as epístolas petrinas seriam cartas do Demônio insertas na Bíblia…

 

 

Ora, se Jesus Cristo houve por bem construir a Sua Igreja sobre alicerce tão pobre quanto São Pedro, então, a Igreja construída, apesar das falhas do alicerce, é Igreja de Cristo. Se Cristo a Construiu, a Igreja é dEle, apesar de humano o alicerce.

Eis as palavras que aparecem no fim do Evangelho de S. Mateus, tradução da Bíblia do Padre Antônio Pereira de Figueiredo, edição de 1857, de Lisboa, pág. 95: “Santo Agostinho no tratado CXXIV sobre S. João entende por esta pedra não a Pedro, mas a Cristo, em quanto confessado Deus por Pedro, como se Cristo dissera: Tu és Pedro, denominado assim da pedra, que confessaste, que sou eu, sobre a qual edificarei a minha igreja”. Estas palavras do teólogo católico romano por serem muito claras dispensam comentários.

 

Já demonstramos acima o que, verdadeiramente, Santo Agostinho pensava acerca do primado petrino.

Há também diversos tratados na Biblioteca do Vaticano, onde documentos que remontam o século II, passando também por dois dos maiores doutores da História da Igreja, a saber, Agostinho e Jerônimo, que traduzem o “tu és Pedro”, por “tu tens dito”. O codex Vaticanus do séc. IV, na biblioteca do Vaticano traz “SUIPO”, uma contração grega da expressão SU EIPAS (tu tens dito). Os copistas adicionaram posteriormente PETROS fazendo assim SU EI PETROS.

Séculos antes do Codex vaticanus, há referências a SU EIPAS, como já frisei, desde o século II.

Logo terímos: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo… Tu tens dito (su eipas), sobre estra pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16.18), ou seja, sobre a pedra que “tu tens dito”, Pedro.

Note que esta expressão não é incomum a Jesus quando o assunto é Sua divindade. Quando o Sumo Sacerdote o conjura sobre este mesmo assunto, Jesus responde: “Tu tens dito”, su eipas, Mt 26.64.

Esta foi uma das mais interessantes tentativas que eu já vi um, protestante fazer para desqualificar o primado petrino. A lógica por detrás do argumento é a seguinte: “todas as Bíblias do mundo não refletem aquilo que Jesus realmente disse em Mt 16, 18.”

 

Todas trazem a frase: “tu és Pedro”, mas o Senhor, verdadeiramente teria vaticinado: “tu tens dito”.

 

Seria genial se tal assertiva não mandasse às favas, de uma só vez, as doutrinas protestantes do sola scriptura e do livre exame. Afinal de contas, se este trecho está tão desvirtuado, o que me garantiria que diversos outros não o estão? Se o “tu és Pedro” é uma inserção posterior dos copistas, o que garante que os tais copistas não inseriram e não retiraram diversos outros trechos?

 

Nada me garantiria isto.

 

Nosso interlocutor protestante aderiu a teoria mais flagrantemente anti-bíblica que se pode imaginar.

 

E tratou-se de uma adesão sem comprovação dos motivos. Ele afirmou que o Codex Vaticanus traz “suipo” ao invés de “su ei petrus”. Afirmou, mas não comprovou. Afirmou, igualmente, que desde o século II haveria referências ao “su eipas”. Deixemos, então falar dois cristãos do século II acerca deste ponto:

 

Tatiano, o Sírio: “Simão Cephas respondeu e disse, ‘tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo. Jesus respondeu dizendo-lhe: ‘Bendito és, Simão, filho de Jonas: não foram a carne nem o sangue quem te revelaram, mas o meu Pai que está no céu, E eu também te digo que és Cephas, e sobre esta rocha eu construirei a Minha Igreja; e as portas do Inferno não prevalesserão contra ela”. (Diatsseron 23, 170 d. C)

No texto acima, datado do ano 170 da nossa era, percebe-se claramente que a citação do trecho de São Mateus é rigorosamente idêntica àquela que todas as Bíblias do mundo trazem nos dias de hoje. E, naquele tempo, segundo o nosso interlocutor, os tais copistas ainda não haviam entrado em ação para deturparem a Sagrada Escritura.

 

Vejamos, agora, um trecho de Tertuliano: “Teria algo sido retido ao conhecimento de Pedro, a quem se chamou ‘a rocha sobre a qual a Igreja seria construída’, com o poder de ‘desligar e ligar no céu e na terra’?” (Demurrer Against the Heretics 22, 200 d. C).

Como se vê, Tertuliano, antes de ser enganado pelos copistas da Bíblia, ao citar o mesmo trecho de São Mateus deixa claro que Jesus Cristo construiu Sua Igreja sobre o velho São Pedro.

Por fim, nosso caro interlocutor afirma que tanto Santo Agostinho quanto São Jerônimo igualmente traduziram o trecho em questão como “tu tens dito”, e não com “tu és Pedro”. Novamente, não há qualquer citação ou, pelo menos, qualquer referência bibliográfica. No entanto, é fácil demonstrar a falsidade de tal assertiva.

 

Que Santo Agostinho traduzia o texto como “tu es Pedro”, ficou evidente das citações acima retiradas do Sermão 295. Repita-se: “São Pedro, o primeiro dos Apóstolos, que amava Cristo ardentemente, mereceu escutar: Por isto eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.”

 

Não há qualquer dúvida possível diante de evidência tão flagrante.

 

E quanto a São Jerônimo? Basta recorrermos à Vulgata (que, como é sabido, é a tradução da Bíblia que o mesmo empreendeu para o latim) para que tenhamos exata medida de como ela traduzia Mt 16, 18: “et ego dico tibi quia tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam et portae inferi non praevalebunt adversum eam.”

 

E na neo-Vulgata: Et ego dico tibi: Tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo Ecclesiam meam; et portae inferi non praevalebunt adversum eam.

 

Acho que já basta e não há qualquer necessidade de que nos alonguemos neste ponto…

 

Seria Agostinho um possesso? Não creio. Interpretação particular ou de um bispo autorizado? Anticristo? Nem pensar, caro Oswaldo… “

 

Definitivamente, Santo Agostinho não era um possesso, mas um bom católico, cheio da mesmíssima fé que nós, católicos praticameos hoje em dia. Nem fazia ele qualquer interpretação particular; apenas repetia a fé apóstolica que lhe fora transmitida e que permanece intacta sob a proteção dos sucessores de São Pedro.

 

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