Se Deus é Pai, por que tirou a vida de Cristo e de outros no Antigo Testamento?

Alguns dias atrás, tive um debate com um colega que não acredita em DEUS. Ele me disse algo que me deixou um pouco confuso. Ele disse que se DEUS É PAI, qual pai teria coragem de tirar a vida de um filho? pois como se explicaria as pessoas mortas no díluvio, mar vermelho, Sodoma e gomorra , enfim há inumeros casos como estes no AT? se DEUS é amor por que tais coisas aconteceram? como entender a justiça de Deus e seu amor nestes casos?

Olá caro sr. Eder Lovo. Que grande alegria é tê-lo conosco neste humilde apostolado a serviço do Reino de Deus. Vos desejamos a paz e a graça da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo e pedimos vossas piedosas orações por este trabalho e pela conversão dos pecadores.

Seu amigo que não acredita em Deus é para nós todos mais uma grande prova da existência divina, pois o que não existe não precisa ser defendido, o óbvio não precisa de militantes, ele se afirma e se confirma sem precisar dizer uma palavra. Se Deus não existisse realmente, seu amigo nem precisaria se incomodar em ter essas conversas contigo pois a verdade se impõe, assim como eu não preciso lhe convencer e lhe provar que um cavalo não pode digitar já que esta obviedade fala por sí, também os ateus não precisariam defender a inexistência de Deus se esta afirmação fosse um fato notório.

O pensamento de seu amigo ateu infelizmente demonstra muito mais uma adesão ao ceticismo por indiferença e preguiça intelectual do que por real convicção; suas afirmações são de uma superficialidade e de uma ignorância tão grande acerca dos assuntos sagrados, que em nada ameaçam a fé em que professamos.

Quando pensamos em um Deus em que não podemos ver, mas que sabemos por revelação que é Pai, que é Filho e que é Espírito Santo, nossa mente humana tende a criar uma imagem deste invisível projetado em seu imaginário através de inúmeros signos e códigos que melhor ativam sua capacidade imaginativa. É uma maneira involuntária de quem deseja compreender mais de perto o que se lhe apresenta. Sendo assim é muito natural que nos apossemos da imagem que temos da paternidade em geral, com singular ênfase em nossa própria filiação, para associarmos e entendermos melhor a este Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.

Mas o grande problema é que por mais próximo que cheguemos da verdadeira imagem de Deus, sempre estaremos infinitamente distantes da real natureza divina. Somos como que cegos tateando no escuro, sentimos, mas não vemos, cheiramos, provamos, mas jamais chegamos a contemplar. Me explico: como bem sabemos pelas informações e experiências que temos disponíveis, existe entre pais e filhos uma relação de autoridade bem delineada. O pai manda e o filho obedece, o pai vem primeiro e depois nasce o filho, o pai é mais forte e o filho mais fraco etc. O fato é que tendemos a crer que a relação entre Deus Pai e Deus Filho seja também pautada por esses valores humanos temporais que podemos conhecer. Mas se a natureza divina pudesse ser totalmente compreendida a partir de nossas experiências humanas, quão pequeno seria Deus!

Na verdade a natureza trinitária não suporta esta associação específica, está pois fora do tempo e do espaço: todas as três pessoas da Santíssima Trindade são a mesma natureza divina, nenhuma está subordinada a outra, nenhuma pessoa é mais forte do que a outra, nem mais antiga, nem mais nova, nem mais ou menos perfeita. Com efeito, onde Um está, alí estão os Três, a diversidade na unidade perfeita: “Porquanto é por Jesus Cristo que uns e outros temos acesso ao Pai mediante um mesmo Espírito” (Ef. 2,18) e “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo. 17, 21).

Eis porque Jesus Cristo afirma categóricamente que ninguém pode lhe tirar a vida, mas que Ele próprio a entrega por amor dos homens: “Ninguém me tira a vida; sou Eu que a dou por mim mesmo” (Jo 10, 18). Se ninguém pode lher tirar, isto inclui também a Deus Pai. Se ele entrega, o faz pelo seu próprio desejo e por sua própria determinação, e apenas faz obedecer, enquanto ser humano, uma vontade que lhe é própria enquanto Deus. Em um momento de aparente fraqueza humana, antes de sua morte dolorosa, Jesus Cristo nos demonstra claramente que a finalidade de sua encarnação fora precisamente esta, dar a vida pelos homens, e que esta decisão fora feita desde toda a eternidade antes de vir até nós: “Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão” (Mt. 20, 28).

Eis porque não há crueldade alguma entre o fato de Deus Filho ter morrido numa cruz por obediência a Deus Pai, pois ambas as vontades são uma mesmíssima coisa: “Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu” (Jo. 17, 10) .Crueldade sim existe quando o ser humano, tomado pela corrupção e pela mentira, decide colocar este Senhor justo e bondoso num madeiro e condená-lo a uma humilhação pública sem precedentes. Cristo não precisava ter morrido na cruz para redimir a humanidade, mas o fez graças ao uso do livre-arbítrio humano, faculdade que confere a nós plena liberdade para escolher o bem ou mal, a vida ou a morte.

Que isso fique bem claro, Cristo não foi pregado numa cruz por Deus Pai, mas pelas mãos pervertidas do homem. Mesmo sabendo o que iria passar, Deus manteve sua decisão irrevogável de resgatar o homem, e como recompensa pela injustiça que recebeu, ainda nos deu o seu perdão abrindo-nos o céu. E ainda perguntam se Deus é mesmo Amor!

Mas ainda que não soubéssemos da unidade perfeita entre as três pessoas da Trindade, ainda que não soubéssemos que a vontade de Cristo era exatamente a mesma do Pai e que Cristo deu a sua vida por livre iniciativa e amor apaixonado ao homem, ainda assim seria irracional dizer que Deus não existe porque é difícil compreender tais atitudes. Seria o mesmo que afirmar que a teoria da relatividade de Einstein e o próprio Einstein não existiram porque é difícil compreender seu pensamento.

Só será compreensível compreender as mortes do Antigo Testamento se tivermos em perspectiva o que significa a malícia de um único pecado diante da santidade e da bondade infinita de Deus para com o homem. Sendo Deus todo bondade e todo perfeição, que criou a natureza e trouxe o homem à vida do nada para a felicidade, o menor ato de ofensa ganha dimensões infinitas de injustiça e de maldade. Sob esta luz, a leitura das narrações citadas ganham uma nova ótica e um caráter de suprema justiça de Deus para com suas criaturas.

Especialmente porque em todas essas situações veremos um Deus que dá chances e oportunidades sem fim para que o homem converta seu coração para o bem, que envia profetas (muitos que são inclusive assassinados) em seu nome para clamar a mudança de vida e para diminuir o mal sobre a terra. Lendo a passagem que narra o dilúvio, por exemplo, vemos um Deus que sangra ao perceber a que ponto de corrupção chegou o homem, aquele criado a sua imagem e semelhança, mas que ao ver um único justo decide poupar toda a terra da destruição total. Neste sentido Deus decide por um fim no homem corrupto, após toda a sua paciência, para que sua maldade não seja causa de escândalo e para que não corrompa o bom. Deus deu tantas chances de conversão para Sodoma e Gomorra quanto para Nínive, sendo que as primeiras cidades decidiram por sí mesmas e a segunda pelo seu Deus. Houve justiça sim.

No caso do mar vermelho, Deus não tirou a vida dos soldados egípcios, antes Ele salvou os hebreus. A morte foi o preço escolhido pelo faraó e pelo império na ânsia desmedida em escravizar aquele povo. O plano do Senhor foi libertar o povo hebreu da tirânia egípcia e mais nada, todas as mortes aconteceram pela dureza daqueles corações em não ceder a esta intenção mesmo após as inúmeras tentativas diplomáticas feitas por Moisés através de sinais prodigiosos. Quando se lê a narração do Exôdo, lê-se um tratado teológico de profunda justiça divina. Ou o vosso amigo ateu acredita que a verdadeira justiça seria Deus abandonar aquele povo e depois manter o mar vermelho aberto para que os soldados egípcios degolassem um a um os hebreus que alí transitavam? Isto não seria próprio de um Deus Amor, mas de um Deus Ódio.

Leia você mesmo nas Sagradas Escrituras os trechos referidos por seu amigo e verás como seus comentários não resistem a menor análise. Esperamos ter sido úteis em Cristo Jesus.

 

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