Sobre a estrutura hierárquica da Igreja

  • “Nossos apóstolos também sabiam do ofício do episcopado através de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois houve uma discussão a respeito. Por essa razão, portanto, como obtiveram um conhecimento antecipado disso, eles indicaram aqueles [ministros] já mencionados, e posteriormente lhes deram instruções, para que quando algum deles falecesse, os outros aprovassem homens que os pudesse suceder no ministério” (São Clemente de Roma, 1ª Epístola aos Coríntios 44,1-2; ~96 dC).

  • “De comum acordo, elejam para vós mesmos bispos e diáconos, homens que são do agrado do Senhor, de cordial disposição, desapegados do dinheiro, honestos e bem treinados, pois eles, também, vos prestarão o serviço sagrado dos profetas e pregadores” (Didaqué 6,24; ~100 dC).

  • “Cuidado para que todos obedeçam ao bispo, como Jesus Cristo ao Pai, e o presbiterato como aos apóstolos, e prestem reverência aos diáconos como sendo instituição de Deus. Que os homens não façam nada relacionado à Igreja sem o bispo. Que seja considerada uma apropriada Eucaristia aquela que é (celebrada) seja pelo bispo, seja por alguém a quem ele a confiou. Onde o bispo estiver, ali esteja também a comunidade (dos fiéis); assim como onde Jesus Cristo está, ali está a Igreja Católica. Não é legal sem o bispo batizar ou celebrar festa de casamento; mas tudo o que ele aprovar, isso será aprovado por Deus, de modo que qualquer coisa que seja feita, seja segura e válida” (Inácio de Antioquia, Epístola aos Esmirnenses 8; ~110 d.C).

  • “Hegésipo e os acontecimentos que ele relata – em seu quarto livro de Memórias que chegou até nós – nos deixou um registro completíssimo de sua constatação. Neles, conta que numa viagem para Roma, encontrou um grande número de bispos e que recebeu a mesma doutrina deles. É apropriado ouvir o que ele diz depois de fazer algumas observações sobre a Epístola de Clemente aos Coríntios. Suas palavras são as seguintes: ‘E a Igreja de Corinto continuou em sua fé verdadeira até que Primo se tornasse bispo de Corinto. Eu conversei com eles em minha viagem para Roma e permaneci com os Coríntios vários dias, durante os quais nós estivemos mutuamente recordando a verdadeira doutrina. E quando cheguei a Roma permaneci ali até o tempo de Aniceto, cujo diácono era Eleutério. E Aniceto foi sucedido por Sótero, e esse por Eleutério. Em cada sucessão, e em cada cidade se confirmou que foi pregado de acordo com a lei, os profetas e o Senhor'” (Hegesipo, em fragmento na História Eclesiástica de Eusébio 4,22; ~180 dC).

  • “Então, segundo minha opinião, os graus dos bispos, presbíteros, diáconos aqui na Igreja, são imitações da glória angélica, e daquela providência que – as Escrituras dizem – espera aqueles que, seguindo as pegadas dos apóstolos, viveram na perfeição da retidão de acordo com o Evangelho” (Clemente de Alexandria, Stromata 6,13; 202 dC).

  • “Nosso Senhor, cujos preceitos e recomendações devemos observar, descrevendo a honra de um bispo e a ordem de Sua Igreja, falou no Evangelho, dizendo a Pedro: ‘Eu te digo que tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja; e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.’ Daí, através do passar dos tempos e sucessões, a ordem dos bispos e a hierarquia da Igreja permaneceu, de modo que a Igreja está fundamentada sobre os bispos, e cada ato da Igreja está controlado por aqueles mesmos administradores. Desde então, está fundamentada na lei divina. Eu me admiro de que alguns, com atrevida temeridade, preferiram me escrever como se escrevessem em nome da Igreja; isso quando a Igreja foi estabelecida sobre os bispos e o clero, e todos os que permaneceram firmes na fé” (Cipriano, Epístola 26,33 [aos proscritos]; 250 dC).

  • “E antes de receberdes a graça do episcopado, ninguém vos conhece; mas após vos tornardes um deles, os leigos esperam que lhes leveis o alimento, ou seja, as instruções das Escrituras… Porque se todos pensassem que são vossos atuais conselheiros, como vos tornaríeis um cristão, se não houvesse bispos? Ou se nossos sucessores herdassem o modo de pensar, como os cristãos estariam aptos a se manterem unidos?” (Atanásio, Epístola 49,2.4 [a Dracôncio]; ~366 dC).

  • “O Santo Apóstolo Paulo dando a forma de indicar um bispo e estabelecendo por suas instruções uma inteiramente nova qualidade de membro da Igreja, ensinou com as seguintes palavras o somatório de todas as virtudes que leva alguém à perfeição: ‘manter firme a palavra de acordo com a doutrina da fé, ser apto a ensinar a sã doutrina e a preparar mantenedores. Porque há muitos homens desregrados, faladores vãos e enganadores’. Assim ele destaca que as virtudes essenciais de uma boa disposição e de moralidade são as únicas proveitosas para um bom serviço do sacerdócio se, ao mesmo tempo, não faltam as qualidades necessárias para saber como pregar e preservar a fé, porque alguém não é corretamente feito um bom e proveitoso sacerdote simplesmente por uma vida inocente ou por um mero conhecimento da pregação” (Hilário de Poitiers, Sobre a Trindade 8,137; 359 dC).

  • “O objeto imediato de minha solicitação é a seguinte: fique dispensado pelo velho censo o clero de Deus, presbítero e diáconos” (Basílio, Epístola 104 [a Modesto]; 372 dC).

  • “Deveis saber que esse Fausto veio a mim com cartas do Papa, referindo que ele pode ordenar bispo” (Basílio, Epístola 121, [a Teódoto]; 373 dC).

  • “Não há, contudo, tal estreiteza na excelência moral da Igreja Católica de modo que devesse limitar meu apreço à vida daqueles aqui mencionados. Pois que quantos bispos conheço mais excelentes e santos, quantos presbíteros, quantos diáconos e ministros dos divinos sacramentos, de todas os tipos, cujas virtudes me parecem mais admiráveis e mais dignas de recomendação em virtude da dificuldade maior de preservá-las em meio das múltiplas variedades de homens e nesta vida de distúrbios!” (Agostinho, Sobre a Moral da Igreja Católica, 69; 388 dC).

  • “Quem pode testar a si mesmo pelas regras e padrões que Paulo estabeleceu para bispos e presbíteros, de que devem ser temperados, serenos, não dados ao vinho, não violentos, aptos a ensinar, irrepreensíveis em todas as coisas, e além do alcance dos maus, sem encontrar considerável desvio da linha reta das regras?” (Gregório de Nazianzeno, Em Defesa do sua Exaltação, 69; 389 dC).

  • “Você encontrará ali o diácono, encontrará o sacerdote, encontrará o sacerdote principal [i.é, o bispo]” (Ambrósio, Dos Mistérios, 2; 391 dC).

  • “Para finalizar, é bom – penso – examinar as altas qualificações em vossa eleição, para que aquele que for indicado para a Presidência possa ser adequado para o posto. Agora as injunções apostólicas não nos direcionam a procurar por um elevado nascimento, saúde e distinção aos olhos do mundo, entre as virtudes de um bispo” (Gregório de Nissa, Epístola 13 [à Igreja de Nicomédia] ~390 dC).

  • “Martinho, [bispo de Tours,] então, vestido com seus paramentos, entrou para oferecer o sacrifício a Deus. E eis que, à luz do dia – estou para narrar algo maravilhoso – quando estava ocupado em abençoar o altar, como é usual, nós vimos um globo de fogo arremessado de sua cabeça, de forma como se projetado para o alto, a chama produzindo uma cabeleira de extraordinário tamanho. E, embora tenhamos visto isso acontecer num dia memorável, no meio de uma grande multidão de gente, somente uma das virgens, um dos presbíteros, e apenas três dos monges, testemunharam a visão: mas por que os outros não viram isso é assunto que não cabe a nós julgar… Tenho às vezes dito, Sulpício, que Martinho costumava vos contar que tal abundância de poder não lhe fora concedido só quando era bispo, mas como contou tê-lo possuído antes que tivesse alcançado o cargo. Agora, se isto é verdade, ou melhor, já que isto é verdade, podemos imaginar quão grandes coisas realizou, sendo apenas um monge, sem nenhuma testemunha, e guardou consigo; pois vimos que, quando bispo, realizou tão grande maravilha ante os olhos de todos. Muitos, não há dúvidas, desses anteriores acontecimentos foram conhecidos pelo mundo, e não puderam ser escondidos, mas – dizem – foram inumeráveis os que evitava ostentar, guardando em segredo e não permitindo chegar ao conhecimento dos homens, porque como ele transcendia as capacidades de um simples homem, numa consciência de sua própria eminência, e se desviando da glória do mundo, ficava contente simplesmente em ter os céus como uma testemunha de sua obra” (Sulpício Severo, Diálogos 2,4; 400 dC).

  • “Aos bispos companheiros e diáconos: ‘O que está acontecendo? Há vários bispos numa única cidade? Certamente não. Mas chamam os presbíteros de bispos. Pois eles, no entanto, intercambiam os títulos, e o bispo era um diácono. Por essa razão escrevendo a Timóteo, ele ( São Paulo) disse a um que era bispo: ‘Exercei vosso ministério’; pois aquele que é bispo demonstra por seus sermões: ‘a ninguém imponhais as mãos inconsideradamente’, e de novo: ‘o carisma que vos foi concedido com a imposição das mãos dos anciãos’. Contudo, os presbíteros não devem impor as mãos sobre um bispo'” (João Crisóstomo, Homilia aos Filadélfos 1,1; ~404 dC).

  • “Pois nos dias primitivos da fé, quando somente uns poucos, aqueles que eram os melhores, foram conhecidos pelo nome de monges, que como tinham acolhido este modo de vida através do evangelista Marcos de santa memória, o primeiro a presidir a Igreja de Alexandria como bispo… Mas muitas vezes isso os levou a um desejo de tomar as santas ordens, e um desejo pelo sacerdócio ou diaconato. Isso significa que se um homem, mesmo contra sua vontade, recebe esse ministério, deve exercê-lo com tal santidade e correção que seja capaz a se pôr como exemplo de santidade mesmo aos outros sacerdotes; e que ele se sobreponha sobre todo o povo, não somente por sua maneira de vida, mas também por seu ensinamento e pregação. Isso leva um homem, mesmo quando fica sozinho e mora numa cela, a percorrer em pensamento e imaginação a habitação e mosteiros dos outros e a fazer muitas conversões sob o incentivo da exultação mental” (João Cassiano, Institutos 2,5; 11,14; 435 dC).

  • “Theotokos [=Mãe de Deus], mas não no sentido imaginado por certa heresia ímpia que sustenta que ela deva ser chamada a Mãe de Deus não por outro motivo, mas apenas porque deu à luz àquele homem que posteriormente se tornou Deus, exatamente como falamos de uma mulher como mãe de um sacerdote, ou mãe de um bispo, querendo dizer que ela era tal não por ter dado à luz a alguém já sacerdote ou bispo, mas dado à luz a alguém que posteriormente se tornou sacerdote ou bispo. Não dessa forma, afirmo, foi a santa Maria Theotokos – a Mãe de Deus – mas, pelo contrário, como disse anteriormente, porque em seu sagrado ventre se operou o mais sagrado dos mistérios pelo qual, por singular e única unidade de Pessoa, como a Palavra na carne é carne, assim o Homem em Deus é Deus” (Vicente de Lerins, Comentários 15; ~445 dC).

  • “Porque embora aqueles que não estão na lista do clero estejam livres para usufruírem o prazer da companhia da esposa e da procriação de filhos, contudo, para demonstração da pureza da completa continência, mesmo aos subdiáconos não é permitido o casamento carnal, porque ‘aqueles que são (casados), ajam como se não fossem’ e aqueles que não são, devem permanecer solteiros. Contudo, se nessa ordem, para aquele que é o quarto na Cabeça (isto é, em Cristo), isso é observância mais digna, quanto mais deve ser observado pelo primeiro ou segundo ou terceiro, para que ninguém que tenha sido listado para exercer, seja os deveres do diaconato ou a honorável posição do presbítero ou a preeminência do bispo, venha a ser descoberto como ainda não tendo refreado os desejos por sua esposa” (Leão Magno, Epístola 14,5 [a Anastácio]; 446 dC).

  • “Através de meu muito amado filho Laurêncio, presbítero, e Pedro, o monge, eu recebi vossa carta fraterna, na qual dizeis que estais ansioso para me interrogar sobre muitos pontos. Mas de vez que meus antes citados filhos me encontraram atacado com problemas de gota, e em sua pressa para que os dispensasse logo, deixaram-me com a mesma dolorosa doença, não tive possibilidade de vos responder, como deveria ter feito, pela grande extensão de cada uma de suas questões.

    [A primeira questão de Agostinho]- Eu pergunto, santo Padre, com relação aos bispos, como eles poderiam viver com seu clero? Com respeito às oferendas dos fiéis que são recebidas no altar, em quantas porções devem ser divididas, e como os bispos devem chegar a um acordo com eles, na Igreja?

    [Resposta de São Gregório, papa]- A Sagrada Escritura, que – não há dúvida – conheceis bem, sobre isso dá testemunho, e especialmente as epístolas do abençoado Paulo a Timóteo, na qual ele se esforça em instruí-lo como devia se comportar na casa de Deus. Agora é costume da Sé Apostólica emitir uma ordem aos bispos, quando ordenados, para que todos os emolumentos recolhidos sejam repartidos em quatro divisões, a saber: uma para o bispo e manutenção de sua casa por causa da hospitalidade e recepção; uma outra para o clero; uma terceira para o pobre; e uma quarta para repartição pelas Igrejas. Mas, de vez que como em vossa congregação tendes sido treinados nas regras do monastério, não deveis viver separados do vosso clero na Igreja dos Anglos, que pela graça de Deus recebeu recentemente a fé, e seria correto instituir aquela forma de vida que havia no começo da Igreja recém-criada, que era a de nossos Pais, entre os quais ninguém se dizia proprietário das coisas como se fossem suas, mas eles tinham todas as coisas em comum” (Gregório Magno, Epístola 64 [a Agostinho]; ~600 dC).

  • Fonte: Agnus Dei. Tradução: José Fernandes Vidal.

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