Sobre o lugar do sacrário e a imagem do Ressuscitado na Missa

Parabéns pelo conteúdo do site, porém não consegui esta informação: Qual a norma ou orientação que motivou a mudança do sacrário, do fundo do altar, para sua lateral ou mesmo para uma capela lateral ?
Na mesma linha: Qual a norma ou orientação para trocar a imagem do Cristo crucificado para o Cristo Glorificado?

Obrigado pela atençâo e aguardo sua resposta.

Um abraço
Ricardo.


Caríssimo sr. Ricardo, estimado em Jesus Cristo,

Muito agradeço suas palavras caridosas para com nosso humilde apostolado. Deus o recompense por tão grande gentileza.

Vamos às respostas de suas indagações.

1. O sacrário ou tabernáculo não mudou de lugar. Pode continuar sendo conservado no meio do altar-mor (o altar antigo, versus Deum, de algumas igrejas e oratórios), ou mesmo no fundo do presbitério, quando não há altar no estilo antigo. O que houve foi uma permissão para se mudar de local, quer continuando o sacrário no presbitério, mas ao lado, para facilitar a visualização do Senhor sem que os atos desenvolvidos na Santa Missa o “tapem”, quer movendo-o para uma capela anexa, para adoração contínua das reservas.

“De acordo com a estrutura de cada igreja e os legítimos costumes locais, o Santíssimo Sacramento seja conservado num tabernáculo, colocado em lugar de honra da igreja, suficientemente amplo, visível, devidamente decorado e que favoreça a oração.

(…)

Em razão do sinal é mais conveniente que no altar em que se celebra a Missa não haja tabernáculo onde se conserva a Santíssima Eucaristia.” (Instrução Geral do Missal Romano , nn. 314-315)

Veja o senhor: no altar em que se celebra a Eucaristia é preferível, pelas normas atuais, que não se celebre Missa no rito romano reformado por Paulo VI. Todavia, nos demais ritos e mesmo na forma tradicional do rito romano (segundo o uso previsto no Missal denominado “de São Pio V”, ou tridentino), o tabernáculo está no próprio altar onde se celebra a Missa. Aliás, mesmo na forma nova do rito romano, de Paulo VI, pós-conciliar, regulada por essa Instrução Geral citada, a não-celebração do Santo Sacrifício em um altar onde esteja o sacrário é apenas uma recomendação, que pode, por razoáveis motivos, ser ignorada sem prejuízo algum da legítima obediência. Assim, ainda que no rito novo, é possível celebrar a Missa versus Deum e no mesmo altar com o tabernáculo.

“É preferível, pois, a juízo do Bispo diocesano, colocar o tabernáculo:

a) no presbitério, fora do altar da celebração, na forma e no lugar mais convenientes, não estando excluído o altar antigo que não mais é usado para a celebração (n. 306);
b) ou também numa capela apropriada para a adoração e oração privada dos fiéis, que esteja organicamente ligada com a igreja e visível aos fiéis.” (op. cit., n. 315)

O uso atual, nas igrejas construídas após a reforma litúrgica é um dos modos citados: a) no presbitério, mas fora do altar onde se celebra a Missa, por exemplo, junto à parede, ou numa lateral; b) no presbitério e igualmente fora do altar onde se celebra a Missa, mas no altar antigo, onde se celebrava versus Deum (caso de muitas igrejas históricas); c) em uma capela própria para a adoração, mas que seja visível aos fiéis e de fácil acesso durante a celebração do Santo Sacrifício.

Em seu último documento, o Santo Padre Bento XVI recomenda especial atenção a esse tema:

“Ainda relacionado com a importância da reserva eucarística e da adoração e reverência diante do sacramento do sacrifício de Cristo, o Sínodo dos Bispos interrogou-se sobre a devida colocação do sacrário dentro das nossas igrejas. Com efeito, uma correta localização do mesmo ajuda a reconhecer a presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento; por isso, é necessário que o lugar onde são conservadas as espécies eucarísticas seja fácil de individuar por qualquer pessoa que entre na igreja, graças nomeadamente à lâmpada do Santíssimo perenemente acesa. Tendo em vista tal objetivo, é preciso considerar a disposição arquitetônica do edifício sagrado: nas igrejas, onde não existe a capela do Santíssimo Sacramento mas perdura o altar-mor com o sacrário, convém continuar a valer-se de tal estrutura para a conservação e adoração da Eucaristia, evitando porém colocar a cadeira do celebrante na sua frente. Nas novas igrejas, bom seria predispor a capela do Santíssimo nas proximidades do presbitério; onde isso não for possível, é preferível colocar o sacrário no presbitério, em lugar suficientemente elevado, no centro do fecho absidal ou então noutro ponto onde fique de igual modo bem visível. Estas precauções concorrem para conferir dignidade ao sacrário que deve ser cuidado sempre também sob o perfil artístico.” (Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis , 69)

2. Quanto à substituído do Crucifixo por uma imagem do Cristo Ressuscitado, não há norma alguma a esse respeito. É mesmo um costume estranho à mentalidade católica, de vez que a Missa, renovação incruenta do sacrifício da Cruz, deve ter, durante a sua celebração, a presença de uma cruz com o Crucificado, quer no altar, quer em uma parte visível do presbitério.

Evidentemente, se as circunstâncias o aconselham, pode-se colocar uma imagem, seja em escultura, seja em estampa, na nave ou no presbitério, representando o Cristo Ressuscitado, principalmente no Tempo Pascal, sem, todavia, omitir-se o Crucifixo: a Missa, embora lembre a Ressurreição, torna presente a Cruz, o símbolo desta não se deve omitir sob nenhum motivo!

Em Cristo,

 

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