Unidade e relativismo

Hoje em dia o mundo se encontra submerso no mais radical relativismo. O modernismo dentro da Igreja pretende impor um paradigma obtuso, falacioso e essencialmente paradoxal. Quando falamos que há o reino dos relativistas não só nos referimos ao Catolicismo, mas também aos mais diversos credos, até mesmos às heresias. No passado, ao menos, os grandes heresiarcas projetavam reformas estruturais, dogmáticas e doutrinárias profundas; se opunham à Igreja mas, em compensação, queriam uma nova Igreja. Podemos dizer que, até certo ponto, eram honestos, afinal não tentavam relativizar a Verdade crida pelo Catolicismo; ou Cristo era Deus ou Cristo era criatura, ou a Missa era banquete ou a Missa era Sacrifício, ou Cristo tinha uma natureza ou Cristo tinha duas naturezas etc. O relativismo que tentava resumir, de algum jeito, pontos divergentes dentro de uma única fé ainda não imperava.

O relativismo conseguiu destruir as básicas noções da realidade. Hoje você encontra um relativista que defende os mais absurdos paradoxos mas nem de longe pretende uma “reforma” interna dentro da Igreja ou acha que sua doutrina pessoal é incongruente com a fé católica. Vejamos! Um católico acredita – ou deveria acreditar – que a Igreja Católica é, realmente, a Igreja de Cristo, que nela se encontra “a plenitude do mistério salvífico” [1], pois “só pela Igreja católica de Cristo, que é o meio geral de salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios salutares.” [2]. Sabemos que “A única Igreja de Cristo (…) constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, embora fora de sua visível estrutura se encontrem vários elementos de santificação e verdade. Estes elementos, como dons próprios da Igreja de Cristo, impelem à unidade católica” [3] e devemos crer “firmemente como verdade de fé católica [n]a unicidade da Igreja por Ele fundada” [4]. Ou seja, se a Igreja Católica foi, de fato, fundada pelo próprio Cristo, logicamente segui-la é seguir a Nosso Senhor, afinal seria impossível amar Jesus renegando a Sua instituição. Concluímos, desde já, que aqueles que, de algum modo, rechaçam e se opõem aos ensinamentos da Igreja renegam ou desacreditam na origem divina da Mater Ecclesia.

Nesse ponto entra, justamente, a nossa reflexão. Dentro desse contexto qual a atitude esperada de alguém que não acata um ponto basilar do Catolicismo? Ou o indivíduo, através de um cisma, criará a sua própria confissão, com crenças e doutrinas próprias ou, então, reconhecendo a radical diferença entre a sua fé e a fé professada pela Igreja procurará, de algum modo, reformar internamente a instituição, crendo que o seu paradigma é o verdadeiro. Não obstante, estes não são os cenários mais frequentes, simplesmente os modernistas se acomodam e continuam, dentro da Igreja, acreditando nas suas heresias e não enxergando nenhuma incompatibilidade com os reais ensinamentos da Esposa de Cristo. No máximo apelam para o protestante-catolicismo, ou seja, uma livre interpretação dos documentos magisteriais – principalmente do Concílio Vaticano II – que deforma o correto sentido, a essência dos ensinamentos, e, além disso, renega a própria compreensão da Igreja em relação à Sagrada Escritura e à Sagrada Tradição. Tudo se submete a uma ótica protestantizada, onde reina, de forma pujante, uma hermenêutica pessoal, subjetiva, sentimentalista. Essa “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura” [5] leva consigo o gérmen da revolta, do relativismo e do protestantismo, pretende um radical rompimento da Igreja com a sua identidade que, por sua vez, remonta aos mais fundamentais preceitos deixados por Cristo. A grande diferença entre o modernismo, com o seu relativismo, e outras heterodoxias é que a “síntese de todas as heresias”, como disse São Pio X, não ataca um ponto doutrinal, não se opõe à certas facetas do arcabouço magisterial; o perigo vai além. O modernismo mira a destruição da idéia de doutrina, seu objetivo é a instabilidade institucional e a promoção da desordem espiritual, por isso que existe uma diversidade de posturas adotadas pelos adeptos desta heterodoxia. Claro que há um certo padrão entre os seguidores do modernismo – repúdio ao papado, às normas litúrgicas, ao Magistério, deformação do correto sentido do ecumenismo etc – entretanto, por conta do essencial relativismo que faz parte de sua constituição, a variedade herética é infinita. A luta do modernismo é uma luta travada individualmente e coletivamente; os seus soldados guerreiam corpo-a-corpo, tentando disseminar em cada fiel o espírito modernista, e, do mesmo modo, batalham contra o todo, visando a Igreja e seu equilíbrio. De forma sucinta, podemos dizer que o modernismo é exatamente como um vírus que destrói a membrana plasmática – a compreensão doutrinal – de cada célula – cada crente – para assim tomar o corpo – místico de Cristo, a Igreja.

O relativismo protestantizado é essencial para aqueles que não almejam fundar suas próprias seitas ou “reformar” a Igreja. Partindo da crença básica de qualquer católico, ou seja, que a Ecclesia foi fundada de forma visível e invisível por Jesus e que apenas transmite os ensinamentos autenticados pelo Senhor, a posição dos modernistas não passa de um eterno paradoxo; eles se opõem a um ponto fundamental da fé romana, mas não só se negam a crer em toda a sã doutrina como insistem em se manter dentro das fileiras eclesiásticas. Vale lembrar que “enganar-se-iam gravemente aqueles que procurassem separar uma Igreja carismática – que seria a verdadeiramente fundada por Cristo – de outra jurídica ou institucional, que seria obra dos homens e simples efeitos de contingências históricas. Só há uma Igreja. Cristo fundou uma única Igreja: visível e invisível, com um corpo hierárquico e organizado, com uma estrutura fundamental de direito divino e uma íntima vida sobrenatural que a anima, sustenta e vivifica” [6]

Se não houvesse uma instituição solidamente presente e divinamente abençoada alguém, por acaso, iriar crer nos poderes sacerdotais de alguém que se auto-intitulasse Presbítero? Todo o mundo, por acaso, louvaria a santidade de algum “santo” canonizado por um qualquer? Alguém adoraria a Eucaristia, reconhecendo que ali se faz presente o Sangue e o Corpo, a completa divindade, se não fosse a Igreja de Cristo, protetora e zeladora dos ensinamentos de Jesus, que garantisse? Muito provavelmente não, entretanto, ao mesmo tempo em que os relativistas renegam a Esposa de Nosso Senhor em certos pontos, precisam dela para legitimar toda a crença e, do mesmo modo, para assegurar a dignidade daqueles que só são religiosos – Padres, Bispos, Monges, Freiras etc – por conta da confirmação eclesiástica.

Ora, se um fiel acredita que “Deus manifestou ao gênero humano o caminho pelo qual os homens, servindo a Ele, pudessem salvar-se e tornar-se felizes em Cristo (…) que esta única verdadeira Religião se encontra (subsistere) na Igreja Católica e Apostólica” [7], ou seja, que a Igreja Católica foi fundada por Cristo para servir como meio de salvação, transmitindo aos homens a plenitude do conteúdo salvífico, como seria possível se opor a ela alegando obedecer a Cristo? Quem ama obedece ao Amado, mas vive este amor renegando Seus ensinamentos? Assim, “qualquer ofensa à Igreja – à sua doutrina, aos seus sacramentos e instituições, aos seus Pastores, especialmente à sua Cabeça visível, o Romano Pontífice – constitui um menosprezo pelo próprio Jesus Cristo. Pois a Igreja que contemplamos na Terra, apesar das fraquezas e erros que nós, seus membros arrastamos, sempre é a Igreja de Deus” [8]. Ademais, não poucas vezes tentam usar o Concílio Vaticano II como o promotor desse generalizado relativismo. S.S Paulo VI comentando sobre o “aggiornamento” pensado pelo Beato João XXIII disse que “ele não queria certamente dar a esta palavra o significado que alguns tentaram dar-lhe, como se fosse lícito considerar tudo na Igreja segundo os princípios do relativismo e o espírito do mundo: dogmas, leis, instituições, tradições; ele, com efeito, de temperamento austero e firme, tinha diante dos olhos a estabilidade doutrinal e estrutural da Igreja, a ponto de nela basear o seu pensamento e a sua actividade” [9]. A “hermenêutica da ruptura”, como S.S Bento XVI a chama, incentiva um paradigma de descontinuidade, como se o Vaticano II tivesse rompido com todo o passado da Igreja, com a própria Tradição e a Escritura da forma como são entendidas pelo Magistério. Nesse contexto, “Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar “aqui e além por qualquer vento de doutrina”, aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos.” [10] O triunfo da “ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo” é tão acentuado em certos ambientes que aqueles que apenas buscam uma sincera fidelidade à Igreja, ou seja, ao Cristo Crucificado, são automaticamente identificados como artífices do mal – do demônio não, já que relativistas conseguem acreditar numa fé totalmente tresloucada, baseada em contradições crassas, mas negam a crença da ação diabólica.

Infelizmente, os relativistas são aqueles que mais tomam o controle de muitas pastorais ecumênicas, deformando completamente o real sentido do diálogo pretendido pela Igreja. Vale frisar, antes de qualquer coisa, que “É absolutamente necessário que a doutrina inteira seja lucidamente exposta. Nada é tão alheio ao ecumenismo quanto aquele falso irenismo, pelo qual a pureza da doutrina católica sofre detrimento e seu sentido genuíno e certo é obscurecido” [11] Ora, é justamente isso que não acontece. Os católicos relativistas que estão dirigindo a relação com as diversas confissões já chegam nos encontros negociando a doutrina e diminuindo a própria crença na busca desvairada por uma “união” que, na forma como é por eles idealizada, não passa de um monstro hibrido.. Assim, “O ecumenismo seria conformar-se com uma dialética relativista porque o Jesus histórico pertence ao passado e, de qualquer modo, a verdade permanece oculta.” [12] O ecumenismo católico, que tem como fim a conversão, é fundamentado numa discussão séria e honesta que lança sobre a mesa os tópicos de debate doutrinário entre a Igreja e as seitas e denominações, é um ecumenismo intelectual e espiritual e não um ecumenismo emocional; “Os princípios católicos do ecumenismo, enunciados pelo Concílio Vaticano II e mais tarde pelo Papa João Paulo II, são clara e inequivocadamente opostos a um irenismo e a um relativismo que tendem a banalizar tudo (cf. Unitatis redintegratio, 5, 11 e 24; Ut unum sint, 18, 36 e 79). O movimento ecuménico não renuncia a nada daquilo que até agora foi precioso e importante para a Igreja e na sua história; ele permanece fiel à verdade que na história é reconhecida e definida como tal, e nada lhe acrescenta de novo. O movimento ecuménico e a finalidade que ele mesmo se propõe, ou seja, a plena unidade dos discípulos de Cristo, permanecem inscritos no sulco da Tradição.” [13] O Santo Padre João Paulo II ainda comentou que “Um alterado respeito pelo pluralismo conduz a um relativismo, que põe em dúvida as verdades ensinadas pela fé e acessíveis à razão humana” [14] Se devemos crer que a Ecclesia foi edificada por Cristo e que apenas transmite os Seus ensinamentos “seria obviamente contrário à fé católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões” [15]

Os relativistas, além de tudo isso, apelam para um discurso sentimentalista embebido em ignorância que tenta, ao máximo, desmerecer a doutrina da Igreja dizendo que a Misericórdia de Deus estaria na contramão desse “triunfalismo” católico. Primeiro que qualquer fiel honesto que acreditasse, realmente, que a Igreja foi erigida por Cristo jamais apelaria para esse tipo de raciocínio que tem uma clara intenção sofística; a Misericórdia Divina iria atuar por debaixo dos panos, em oposição à ordem de Jesus quando da edificação da Sua Igreja? Obviamente que não. Por outro lado, essa argumentação tenta desmerecer o ensinamento levando em conta a exceção ensinada, aproveitando do sentimentalismo como porta de entrada. Vejamos! Se Cristo revela que devemos amar ao próximo mas, por acaso, um homem não só não ama como promove o ódio, vamos falar que o indivíduo está certamente condenado ao inferno? Não, afinal o Amor de Deus é arrebatador, o descrente pode muito bem, no leito de morte, ter uma graça tão grande que conseguirá fazer uma contrição perfeita dos seus pecados. Não obstante, sabemos que esse rapaz, com certeza, se encontra num caminho obscuro, de erros, de perdição, assim, tentaremos, ao máximo, ajudá-lo no conhecimento da mensagem de Cristo. A mesma coisa vale para a Igreja; sabemos que foi construída por Jesus e que faz parte dos Seus ensinamentos mais essenciais. Afirmar que aqueles que se opõem à ela estão absolutamente perdidos é um julgamento que não nos cabe, mas devemos sim procurar fazer com que todos vivam a fé guardada pela Esposa de Cristo, já que é o caminho certo, seguro e abençoado. Assim como dizer que ninguém precisa amar ao próximo para viver a mensagem cristã seria um absurdo, afinal é uma óbvia oposição aos preceitos de Jesus, também seria contrária “à fé católica considerar as várias religiões do mundo como vias complementares à Igreja em ordem à salvação” [16] pois, do mesmo modo, se colocaria na antípoda daquilo que foi transmitido pelo Senhor.

O relativismo é contraditório por natureza – se tudo é relativo, “tudo é relativo” é relativo, logo nem tudo é relativo – e sorrateiro por necessidade. Ataca a Tradição, ataca a Escritura, ataca o Concílio Ecumênico Vaticano II, ataca, até mesmo, o “subsistit in” citado pela Lumen Gentium, documento conciliar. A Igreja já frisou que “o Concílio Vaticano II quis harmonizar [ com o “subsiste na”] duas afirmações doutrinais: por um lado, a de que a Igreja de Cristo, não obstante as divisões dos cristãos, continua a existir plenamente só na Igreja Católica e, por outro, a de que « existem numerosos elementos de santificação e de verdade fora da sua composição », isto é, nas Igrejas e Comunidades eclesiais que ainda não vivem em plena comunhão com a Igreja Católica. Acerca destas, porém, deve afirmar-se que « o seu valor deriva da mesma plenitude da graça e da verdade que foi confiada à Igreja Católica ».” [17] Vale explicar, porém, que os meios de santificação contidos fora da Igreja não são, em si, plenos caminhos de salvação e que, na verdade, fazem parte da própria Ecclesia, ou seja, não são oriundos do mérito próprio das seitas e denominações. Assim, “a instituição não é simplesmente um andaime qualquer  desmontável e reorganizável que, como tal, não teria absolutamente nada a ver com a questão da fé. Portanto, essa forma de corporalidade pertence à Igreja mesma. A Igreja de Cristo não pode se ocultar de forma inalcançável  atrás de múltiplas formações humanas, mas que existe realmente como Igreja que se manifesta no Credo, nos sacramentos e na sucessão apostólica. O Vaticano II quis expressar com a fórmula do **subsistit** – fiel à tradição católica – justamente o contrário desse “relativismo eclesiológico”: existe uma Igreja de Jesus Cristo. Ele mesmo a quis e o Espírito Santo a criou contra todo o fracasso humano a partir de Pentecostes e a conserva em sua identidade essencial. A instituição não é uma formalidade inevitável mas teologicamente irrelevante ou prejudicial, mas que pertence a seu núcleo essencial a concreção da encarnação. O Senhor mantém sua palavra: “O poder do abismo não a fará perecer.” [18]

Se o relativismo fosse honesto deixaria de ser relativismo, seria apenas mais uma heresia. Entretanto, o espírito relativista é essencialmente destrutivo, mesquinho, devasso e impudico. Se os relativistas fossem conscienciosos já teriam cismado, criado uma nova denominação ou, então, estruturado algum grande grupo reformista. A Teologia da Libertação até tentou, de certo modo, a segunda iniciativa. Pautados na “hermenêutica da ruptura” os adeptos do “marxismo dentro da teologia”, como disse Boff no Jornal do Brasil, acreditavam numa Igreja que se reinventava, mesmo que tal reinvenção fosse às custas da negação de dogmas e doutrinas fundamentais desde o início da cristandade, que rementem ao próprio Cristo. Vale frisar que crer que a Igreja modifica a doutrina em pontos basilares é crer que o Espírito Santo se modifica, afinal é o Paráclito que rege a Esposa. Ora, se o Espírito Santo muda então Ele não é inerrante, logo não é Deus. Não obstante, a alegria da Teologia da Libertação foi muito fugaz; a Igreja se levantou no combate aos erros e excessos, protegeu a correta hermenêutica conciliar dos ataques modernistas, condenou teólogos heréticos e emitiu documentos que ensinavam a sã doutrina. Os teólogos da libertação alegaram, então, que a Igreja havia traído o espírito do Concílio, o que realmente seria uma proeza; como a Igreja iria trair o Concílio que ela própria convocou e que dentro dela se formou? É muito mais fácil acreditar que os adeptos da Teologia da Libertação, estes sim, corromperam o entendimento do Vaticano II e quiseram impor, no seu término, uma ótica desajustada e incongruente com o Depósito da Fé.

Qualquer pessoa sensata esperaria, então, que os teólogos da libertação manifestassem sua repulsa à Igreja, que eles consideravam “reacionária” e “retrógrada”, através de um cisma. Isto seria, ao menos, honesto. Entretanto, os religiosos que tanto se preocupavam com a crise do capitalismo – ao invés de se preocuparem com a crise de fé – resolveram persistir dentro do rebanho da Mater et Magistra. Ora, como seguir uma fé que não se crê de forma plena? Apela-se para o relativismo. O pensamento relativista tomou força quando foi requisitado para justificar a posição de muitos religiosos e leigos que, vivendo no seio do Catolicismo, estavam numa situação essencialmente paradoxal; repudiavam a Igreja em muitos pontos mas precisavam da Igreja – mesmo sem saber – na autenticação e garantia de todo o resto que era crido; o mesmo Magistério, com a mesma autoridade, que ensinava sobre a Unidade da Igreja de Cristo e que era contrariado, era o mesmo Magistério, com a mesma autoridade, que legitimava o sacerdócio e o episcopado dos relativistas e que era obedecido.

O relativismo não tem o mínimo sentido, é contraditório por natureza e claramente absurdo para qualquer pessoa de bom senso – nem precisa ser católico para perceber. Aqueles que estão contaminados pelo gérmen do modernismo, mesmo que de maneira indireta, precisam conhecer os ensinamentos da Igreja, já que é junto dela que nós melhor conhecemos a grandeza e perfeição de Cristo e, assim, melhor o adoramos. Os relativistas já conseguiram impor um politicamente correto religioso, onde falar de unidade, salvação, heresia, ortodoxia, é visto como ultrapassado. Ora, os que assim pensam só podem ser desconhecedores do manancial vindo de Roma, a Cidade Eterna. No Brasil existe uma grande distância entre a doutrina da Igreja e os fiéis. Claro que a ação da Teologia da Libertação, exemplificando, foi crucial nesse propósito, mas também falta uma certa pedagogia pastoral por parte de muitos religiosos que não sabem apresentar a riqueza do Depósito da Fé de uma maneira que consiga atingir grandes grupos sem modificar e macular a integridade do ensino. O triste é pensar que aqueles que se levantam na defesa da Igreja muitas vezes são vistos como monstros arqueológicos e imaturos – maturidade seria compactuar com heresias ou ser omisso no combate ao erro? A imposição de paradigmas relativistas conseguiu mitificar a idéia de ortodoxia doutrinária. Ora, ninguém pode ser jovem, assistir Missas bem celebradas e, ao mesmo tempo, participar de festivais de músicas católicas e frequentar encontros carismáticos? Esse é o verdadeiro “aggiornamento” pretendido pela Igreja, uma modernidade sadia que não renega a Tradição nem corrompe os ensinamentos. Esta é a realidade vivida por muitos grupos que crescem com uma força esplendorosa. A luta pelo triunfo da Verdade é eterna; sempre haverá o pecado e o mal, porém, hoje estamos guerreando contra uma sorrateira ação interna, que pretende tomar a própria Igreja, transformado-a em artífice da devassidão e do engano. Entretanto, nada disso nos faz temer, já que é Cristo quem nos protege e guarda, é Cristo quem abençoa a Sua Esposa e ilumina o Seu Vigário, afinal;

Tu es Petrus, et super hanc petram ædificabo Ecclesiam meam, et portæ inferi non prævalebunt adversus eam” (Mt XVI,18)

“Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18)

[1] Dominus Iesus, 2000

[2] Unitatis Redintegratio, Concílio Vaticano II
[3] Lumen Gentium, Concílio Vaticano II
[4] Dominus Iesus, 2000
[5] Papa Bento XVI no seu Discurso à Cúria Romana, 22/12/2005
[6] São Josemaría Escrivá, Homilia Lealdade à Igreja, 4/6/1972
[7] Dignitatis humanae, Concílio Vaticano II
[8] Dom Javier Echevarría Rodríguez, “Cartas do Prelado – Novembro 2008”
[9] Paulo VI, 8ª Sessão Solene do Concílio Vaticano II
[10] Cardeal Ratzinger na Homilia na Santa Missa ‘Pro Eligendo Romano Pontifice’
[11] Unitatis Redintegratio, Concílio Vaticano II
[12] Extrato do capítulo “A Eclesiologia da Lumen Gentium” do livro “Convocados en el camino de la fe”, de Joseph Ratzinger, Ediciones Cristiandad, 2005
[13] Cardeal Kasper, Conferência no 40° aniversário do decreto conciliar Unitatis Redintegratio, 2004
[14] Discurso do Papa João Paulo II, em 1998, aos Bispos da Austrália
[15] Dominus Iesus, 2000
[16] Congregação para a doutrina da fé, 2001
[17] Dominus Iesus, 2000
[18] Extrato do capítulo “A Eclesiologia da Lumen Gentium” do livro “Convocados en el camino de la fe”, de Joseph Ratzinger, Ediciones Cristiandad, 2005

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