Deus o procura – e é por isso que Ele quis “manifestar-se e comunicar-se a si mesmo e os decretos eternos de Sua vontade acerca da salvação dos homens” (Dei Verbum, nº 6). Na revelação, Deus não apenas comunicou informações; comunicou-se a si mesmo e você.
Sua resposta pessoal à comunicação que Deus faz de si mesmo e de sua vontade, chama-se fé. “Pela fé o homem livremente se entrega todo a Deus, prestando ‘ao Deus revelador o obséquio pleno do seu intelecto e da sua vontade’, e dando voluntário assentimento à revelação feita por Ele”(Dei Verbum, nº 5).
As doutrinas básicas (os dogmas) da Igreja são a expressão verbal daquilo que Deus nos revelou a respeito da nossa relação com Ele. A característica principal dos dogmas da Igreja é que eles estão em sintonia com a Sagrada Escritura. Estes ensinamentos exprimem o imutável conteúdo da revelação, traduzindo-o para mutáveis formas de pensar e de falar, usadas pelo povo de cada nova época e cultura. Dogma é a afirmação de uma verdade, a formulação de algum aspecto da fé. Finalidade de cada dogma é apresentar à nossa mente a pessoa de Jesus Cristo sob determinado ponto de vista. Sendo um conjunto coerente de doutrinas, o dogma da Igreja é uma interpretação fiel da comunicação que Deus fez de si mesmo à humanidade.
No entanto, as fórmulas dogmáticas da Igreja não são o mesmo que a revelação que Deus fez de si; são os meios pelos quais os católicos situam sua fé em Deus. Deus manifesta e comunica o mistério oculto de si mesmo através do ensino da Igreja. Este ensino é semelhante aos sacramentos, pelos quais você recebe a Deus. Mediante as fórmulas doutrinais você alcança o próprio Deus no ato pessoal de fé.
A vida de fé é extremamente pessoal e delicada, e essencialmente misteriosa. A fé é um dom de Deus e somente Deus sabe quem a possui. Podemos, porém, supor que Deus seja generoso em conceder tal dom, e não devemos pressupor que alguém dele esteja privado.
Alguém pode não ter a genuína fé por sua própria culpa; somos livres, mesmo para rejeitar a Deus. mas quando alguém “duvida”, não tiremos conclusões apressadas. Por exemplo, há pessoas que só se lembram de seu pai como um homem que as fez sofrer. Em consequência, tais pessoas não conseguem chagar a crer em Deus como o seu “bom Pai”. Não se trata de falta de fé. O que falta são imagens da memória, pelas quais elas poderiam sentir Deus como Pai. Imagens mentais negativas podem impedir alguém de acolher a revelação pessoal de Deus numa determinada forma. mas tais imagens não conseguem bloquear todas as formas pelas quais a gente percebe e exprime o mistério de Deus. Deus, que nos procura constantemente, procura-nos até que o encontremos.
Pode suceder que alguém, que esteja à procura de uma visão mais profunda da realidade, tenha dúvidas algumas vezes, mesmo a respeito do próprio Deus. Tais dúvidas não indicam necessariamente uma falta de fé. Podem até mesmo significar o contrário: prova de uma fé em crescimento. A fé é algo vivo e dinâmico. Ela procura, pela graça, penetrar no próprio mistério de Deus. Se uma determinada doutrina de fé “já não tem sentido” para alguém, esta pessoa deve continuar a pesquisar. Saber o que uma doutrina afirma, é uma coisa; conseguir uma compreensão mediante o dom do entendimento é outra coisa. Quando estiver em dúvida, “procure e você encontrará”. Quem procura lendo, debatendo, pensando, rezando chegará um dia a ver a luz. Quem fala com Deus mesmo quando Deus “lá não está” está em dia com sua fé.