8. A Igreja Católica

MANUAL DO CATÓLICO DE HOJE
8. A Igreja Católica

A Igreja: Fundada por Jesus Cristo

Todo o período da vida de Jesus, Verbo feito carne, foi para a Igreja o tempo da sua fundação.

Jesus reuniu ao seu redor seguidores que se entregaram completamente a Ele. Antes de escolher seu grupo íntimo – os Doze – Jesus rezou. Aos Doze revelou o conhecimento pessoal dele prórpio, falou da sua futura Paixão e morte, e deu profunda instrução sobre o que acarretava seguir tal caminho. Só os Doze tiveram permissão de celebrar a sua Última Ceia com Ele.

Os Doze eram chamados apóstolos, isto é, emissários, cuja missão era serem os representantes pessoais de Jesus. Deu a esses apóstolos o pleno poder de autoridade que Ele tinho do Pai. A plenitude dessa autoridade vem indicada nas palavras do Evangelho:

  • “Em verdade, Eu vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 18,18).

O clímax da formação da Igreja por Jesus foi a Última Ceia. Nesta refeição Ele tomou pão e vinho e disse: “Tomai e comei, isto é meu corpo; tomai e bebei, isto é meu sangue”. Com essas palavras Ele realmente se deu a eles. Recebendo-o desta forma, os Doze entraram numa intimidade tão completa com Ele e com os outros, que jamais havia sucedido algo semelhante. Nessa refeição tornaram-se um só corpo em Jesus. A Igreja primitiva estendeu a profundidade desta comunhão: é o que nos mostra a mais antiga narração da Eucaristia, onde São Paulo diz:

  • “Porque há um pão, nós que somos muitos, formamos um só corpo, porque todos nós participamos de um só pão” (1Cor 10,17).

Na Ceia, Jesus também falou do “novo testamento”. Deus estava estabelecendo um novo pacto com a humanidade, uma aliança selada com o sangue sacrificial por uma nova lei: o mandamento do amor.

A mais antiga narração Eucarística, contida na primeira Carta aos Coríntios, revela o que a Última Ceia significou para o futuro da Igreja. Lá se recorda que Jesus disse: “Fazei isto em memória de mim” (1Cor 11,24). Jesus previu um longo período no qual sua presença não seria visível para seus seguidores. Seu desejo foi que a Igreja repetisse esta Ceia sempre de novo durante este período. Nestas celebrações, Ele estaria intimamente presente, como Senhor da história, Ressuscitado, conduzindo Seu povo para aquele dia vindouro, no qual Ele fará “novas todas as coisas”, no qual haverá “um novo céu e uma nova terra” (Apoc 21, 1-5).

A Última Ceia foi a etapa final de Jesus, antes de sua morte, na preparação dos Doze. Esta celebração revelou como eles e seus sucessores, através dos tempos, deveriam exercer sua missão de ensinar, santificar e governar.

Segundo os Evangelhos (Mt 16, 13-19; Lc 22,31ss; Jo 21, 15-17), a responsabilidade conferida aos apóstolos, foi conferida de modo especial a São Pedro. No Evangelho de Mateus encontram-se estas palavras de Jesus: “E eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela”. Pedro deve ser a rocha, o representante visível de Jesus que é o alicerce da Igreja. Pedro fornecerá à igreja a liderança inabalável contra “os poderes da morte”, contra quaisquer forças que queiram destruir o que Jesus trouxe ao seu povo.

A fundação da Igreja por Jesus foi completada pelo envio do Espírito Santo. O nascimento efetivo da Igreja teve lugar no dia de pentecostes. Este envio do Espírito realizou-se publicamente como também se tinha realizado à vista de todos a crucifixão de Jesus. Desde aquele dia, a Igreja se tem mostrado como uma realidade humano-divina, como a soma da obra do Espírito e do esforço dos homens, à maneira humana, para cooperar com o dom da sua presença e do Evangelho de Cristo.

A Igreja como o Corpo de Cristo

A imagem da Igreja como o Corpo de Cristo encontra-se no Novo Testamento, nos escritos de São Paulo. No cap. 10 da primeira Carta aos Coríntios, Paulo diz que a nossa comunhão com Cristo provém do “cálice de bênção” que nos une em seu sangue, e do “pão que partimos” que nos une em seu corpo. Já que o pão é um só, todos nós, embora sendo muitos, somos um só corpo. O corpo Eucarístico de Cristo e a Igreja são, juntos, o Corpo (místico) de Cristo.

No capítulo 12 da primeira Carta aos Coríntios (e no capítulo 12 de Romanos), Paulo sublinha a dependência e a relação mútuas que temos como membros uns dos outros. Nas Cartas aos Efésios e aos Colossenses o que se destaca é Cristo como nossa cabeça. Deus deu Cristo à Igreja como sua cabeça. Através de Cristo, Deus está revelando seu plano, “o mistério oculto através dos séculos”, de unir todas as coisas e reconciliar-nos com Ele. Porque esse mistério está sendo manifestado na Igreja, a Carta aos Efésios chama a Igreja de “o mistério de Cristo”.

A Igreja como o sacramento de Cristo

Nos nossos dias, o Papa Paulo VI expressou a mesma verdade com estas palavras:

  • “A Igreja é um mistério. É uma realidade impregnada da presença oculta de Deus”.

Quado São Paulo e Paulo VI chamam a Igreja de “mistério”, a palavra tem o mesmo significado que a palavra “sacramento”, Designa um sinal visível da invisível presença de Deus.

Assim como Cristo é o sacramento de Deus, assim a Igreja é para você o sacramento, o sinal visível de Cristo. Mas a Igreja não é um sacramento “só para seus membros”. Na Constituição Lumen Gentium, sobre a Igreja, o Concílio Vaticano II afirma claramente:

  • “Pela sua relação com Cristo, a Igreja é um sacramento ou sinal da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano. Ela é também um instrumento para a realização desta união e desta unidade” (Lumen Gentium, nº 1).

No plano que Deus tem para a raça humana, a Igreja é o sacramento, o primeiro instrumento visível pelo qual o Espírito Santo vem realizando a unidade total que para todos nós está reservada.

Entretanto, este processo de salvação é uma aventura divino-humana. Nós todos participamos dele. Nossa cooperação com o Espírito Santo consiste em nos tornarmos uma Igreja que de tal modo vê Cristo nos outros, que os outros vejam Cristo em nós.

O Povo Católico de Deus

Falando da igreja, o Concílio Vaticano II destaca a imagem do Povo de Deus mais que qualquer outra.

Estritamente falando, todos os povos são de Deus; nos cap. 8 e 9 dos Gêneses, a Bíblia afirma que Deus tem um relacionamento de aliança com toda a humanidade. Mas a imagem do Povo de Deus aplica-se de modo especial aos seguidores de Cristo no Novo Testamento e esclarece importantes traços da comunidade católica.

Um fato importante com relação aos católicos é este: nós temos o senso de sermos um povo. Muito embora sejamos constituídos de grupos nacionais e étnicos os mais variados, temos a consciência de pertencer à mesma família espalhada por todo o universo.

Outra característica dos católicos é nosso senso de história. Nossa ascendência familiar remonta até à cristandade primitiva. Poucos de nós conhecem o panorama completo de nossa história como Igreja. Mas muitos de nós conhecem histórias de mártires e de santos. Sabemos de grupos, antigos e modernos, que sofreram perseguição por causa da fé. E no fundo nos identificamos com essa gente e sua história. Todas aquelas gerações que existiram antes de nós são gente sua e minha.

Nossa consciência de sermos um povo tem raízes profundas. Pode haver católicos que falham e católicos não-praticantes. Mas bons ou maus, eles são católicos. Quando retornarem, sabem onde é sua casa. E quando, de fato, retornam, são bemvindos. A Igreja tem suas imperfeições; mas no seu coração acha-se a inesgotável torrente da misericórdia e do perdão de Deus.

A comunidade católica não é todo o povo de Deus. mas é aquele grupo central, forte e identificável, que sabe perfeitamente para onde todos estamos indo. Como o povo do Antigo Testamento em marcha para a Terra Prometida, estamos profundamente para onde todos estamos indo. Como o povo do Antigo Testamento em marcha para a Terra Prometida, estamos profundamente conscientes de que “não temos aqui morada permanente, mas estamos à procura da cidade que está para vir” (Hb 13,14). Nosso instinto de fé nos diz que Deus está no nosso futuro, e que necessitamos uns dos outros para alcançá-lo. Isto faz parte de nossa força, é uma faceta do nosso mistério.

A Igreja católica: uma instituição única

No século XVI escreveu o Cardeal Roberto Belarmino:

  • “A única e verdadeira Igreja é a comunidade de homens reunidos pela profissão da mesma fé cristã e pela comunhão dos mesmos sacramentos, sob o governo dos legítimos pastores e especialmente do vigário de Cristo na terra, o Romano Pontífice”.

Como definição da Igreja, a frase de Berlarmino é incompleta: fala da Igreja apenas como instituição visível. Uma definição mais completa afirmaria, como o fez Paulo VI, que “a Igreja é um mistério… impregnado da presença oculta de Deus”. Mas a definição de Belarmino acentua um ponto importante: a Igreja é um realidade social visível: possui um aspecto institucional que a compõe. Desde os primeiros anos da sua história, a cristandade sempre teve uma estrutura visível: nomeou chefes, prescreveu formas de culto e aprovou fórmulas de fé. Vista a partir desses elementos, a Igreja católica é uma sociedade visível. Mas porque é também um mistério, a Igreja é diferente de qualquer outro grupo organizado.

Como sociedade visível, a Igreja católica é única. Outras Igrejas cristãs possuem em comum com ela alguns “elementos” bem fundamentais, tais como “um Senhor, uma fé, um batismo, um Deus e Pai de todos nós” (Ef 4,5). Mas, como afirma o Vaticano II, “esses elementos, como dons próprios à Igreja de Cristo, impelem à unidade católica” (Lumen Gentium, nº 8). Esta afirmação fundamental ensina que a plenitude básica da Igreja, a fonte vital da completa unidade cristão no futuro, encontra-se unicamente na Igreja católica visível.

A Infalibilidade na Igreja

Cristo deu à Igreja a tarefa de proclamar sua Boa-Nova (Mt 28, 19-20). Prometeu-nos também seu Espírito, que nos guia “para a verdade” (Jo 16,13). Este mandato e esta promessa garantem que nós, a Igreja, jamais apostaremos do ensinamento de Cristo. Esta incapacidade da Igreja em seu conjunto de extraviar-se no erro com relação aos temas básicos da doutrina de Cristo chama-se infalibilidade.

É responsabilidade do Papa preservar e nutrir a Igreja. Isto significa esforçar-se por realizar o pedido de Cristo a seu Pai na Última Ceia:

  • “Que todos sejam um; como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).

O magistério da Igreja tem um aspecto sacramental: está destinado a ser um sinal e sacramento de unidade. Já que também é responsabilidade do Papa ser uma fonte sacramental de união, tem ele uma função especial com relação à infalibilidade da igreja.

A infalibilidade sacramental da Igreja é preservada pelo seu princiapl instrumento de infalibilidade, o Papa. A infalibilidade que toda a Igreja possui, pertence ao Papa dum modo especial. O Espírito de verdade garante que quando o Papa declara que ele está ensinando infalivelmente como representante de Cristo e cabeça visível da Igreja sobre assuntos fundamentais de fé ou de moral, ele não pode induzir a Igreja a erro. Esse dom do Espírito se chama infalibilidade papal.

Falando da infalibilidade da igreja, do Papa e dos Bispos, o Concílio Vaticano II diz:

  • “Esta infalibilidade, da qual quis o Divino Redentor estivesse sua Igreja dotada… é a infalibilidade de que goza o Romano Pontífice, o Chefe do Colégio dos Bispos, em virtude de seu cargo… A infalibilidade prometida à Igreja reside também no Corpo Episcopal, quando, como o Sucessor de Pedro, exerce o supremo magistério” (Lumen Gentium, nº 25).
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