A apologética, uma tarefa ingrata

  • Autor: Pe. Flaviano Amatulli Valente
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto
  • Fonte: Es.Catholic.Net

Complexidade do problema

Ocorre algo bem curioso quando o assunto são as seitas: todos reconhecem a gravidade do problema, porém, poucos se decidem a enfrentá-lo seriamente.

Por quê? “Não sabemos por onde começar” – confessam alguns com toda a franqueza. “Finalmente encontramos alguém que nos apresenta objetivos claros a respeito, com estratégias bem concretas”, dizia-me mons. Castrillón, ex-presidente da CELAM. A complexidade do problema é o primeiro obstáculo, que impede a muitos enfrentar o problema.

Ecumenismo mal-compreendido

Outro obstáculo: um ecumenismo mal-compreendido. Ao querer enfrentar seriamente o problema das seitas, alguns temem opor obstáculos para o processo ecumênico já em andamento e com boas perspectivas para o futuro… É que não se tem entendido que o ecumenismo não tem nada a ver com as seitas, vorazmente proselitistas. Enquanto o ecumenismo busca a unidade, o proselitismo das seitas visa a divisão. Neste contexto, nossa tarefa tem como meta fortalecer a fé dos católicos, para que não se deixem arrastar pelas manhas e artimanhas das seitas; fazendo isto, estamos seguros de que trabalhamos pela unidade, impedindo que haja maiores divisões.

Preguiça

No entanto, esclarecendo isto, aparece a dificuldade da preparação necessária para se trabalhar nesta linha. É preciso conhecer muito a Bíblia, a doutrina católica e as crenças dos mais diversos grupos religiosos. E aí surge a preguiça, que pode até mesmo vir a criar um fenômeno do tipo sectário dentro da própria Igreja: cada um fica no seu grupo, conhece as suas particularidades, vive a fé conforme lhe é ensinado ali e, apenas com isto, sente-se feliz, sem se preocupar com o que ocorre no interior dos demais grupos da mesma Igreja e, muito menos, com o que ocorre nos grupos que estão fora dela. E, para camuflar essa situação de covardia e irracionalidade, passa a falar de “abertura”, “espírito ecumênico” e tantas outras “belas expressões” (que não vêm agora ao caso), até o problema não se tornar “pessoal”, por não poder ajudar a um familiar ou amigo que está aderindo ou já aderiu a uma seita. [Neste caso,] passa, então, a recriminar a hierarquia, por não levar a sério o assunto e não preparar adequadamente os fiéis.

Muitos sacrifícios

Evidentemente, não faltam católicos praticantes, que sentem a curiosidade de se aprofundar no problema das seitas, apenas “para conhecê-las”. Porém, o que ocorre? Uma vez satisfeita a curiosidade pessoal, passam a desprezar o assunto. Não querem se “comprometer” a prestar um serviço para a comunidade eclesial nesta matéria específica. É que se trata de uma tarefa ingrata, que exige muitos sacrifícios e oferece poucas satisfações. Não é como trabalhar em outras áreas.

Na verdade, nos movimentos apostólicos normalmente se trabalha com a finalidade de aumentar os próprios membros e, assim, adquirir maior prestígio e poder na comunidade eclesial, além de muitas vezes obter certas vantagens econômicas. Trabalhar na área da defesa da fé, pelo contrário, é trabalhar pela Igreja como tal, auxiliando no que quer que seja, sem qualquer tipo de vínculo posterior que possa trazer algum benefício.

Poucos comprometidos

É como semear no mar: [o apologista] esclarece dúvidas, aconselha e resolve problemas etc. e, ao final, continua como antes, com a única satisfação de ter feito retornar ao redil alguma ovelha perdida ou ter levado a paz à alguma alma angustiada. É o que se nota na conclusão de um cursinho para seminaristas, religiosas, leigos comprometidos ou o povo em geral: uma palavra de agradecimento, um vago desejo de que “isto continue” etc. Mas, no momento do compromisso concreto, poucos mesmo levantam a mão… É que têm que dar muito e receber muito pouco em troca.

Quase sempre me perguntam: “Quem sustenta essa atividade?”. Ao escutar a resposta: “Ninguém!”, quase todos gelam. Acham a matéria muito difícil e com poucas perspectivas de futuro. Claro que eles gostariam de participar, desde que fosse atendidas algumas condições: uma remuneração, um carro, um escritório com telefone e fax… Porém, assumir a tarefa sem nenhum recurso, gratis et amore Dei (=de graça e por amor a Deus), carregando uma miserável mochila e pedindo hospedagem em qualquer lugar, parece-lhes um exagero, algo próprio da Idade Média, completamente fora dos parâmetros da Era da Informática.

Por isso, somos poucos os que se dedicam a esta tarefa. No entanto, nem por isso desanimamos, “jogamos a toalha”, como dizem por aí. Somos poucos, porém, sempre prontos e convencidos do que fazemos. Assim, nem as chacotas (“Aí vêm os inquisidores…”), nem a pobreza, nem a rejeição por parte de alguns irão nos deter. Sabemos perfeitamente o que ocorre e o que pretendemos.

Por outro lado, não faltam (e são muitos) os que vêem nesta tarefa relacionada com o problema das seitas algo “providencial”, necessário e urgente para o bem da Igreja de hoje. Um sacerdote comentava:

  • “Durante os primeiros séculos da história da Igreja, houve situações difíceis relacionadas com o problema das seitas. No entanto, a Igreja daquele tempo soube enfrentar o problema com audácia e prontidão, o que não ocorre hoje. Por isso, o temos um problema grave. Que bom que alguém se dedicou à tarefa de lutar para preparar os católicos a manterem-se firmes na sua fé e não deixarem-se confundir pelo veneno das seitas”.

Com efeito, dependerá muito de nós se esta atividade terá todo o alcance que precisa para responder realmente às necessidades da Igreja no momento atual. Dependerá de nós saber envolver outras pessoas, formar opinião e despertar o interesse e iniciativas a esse respeito.

Como é fácil perceber, ainda não se entende que para levar adiante esta obra são necessários fundos econômicos. Nem jeito. Usemos mais a inteligência para descobrir métodos sempre mais populares e que impliquem poucos gastos. Talvez a pobreza dos meios que usamos e a pouca capacidade do elemento humano implicado nesta atividade possam ser um sinal a mais para demonstrar que esta obra é realmente uma “obra de Deus”.

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