São Paulo recomenda e ordena a manutenção da Tradição Oral. Em 1 Cor 11,2, por exemplo, lemos: Eu vos felicito por vos lembrardes de mim em toda ocasião e conservardes as tradições tais como eu vo-las transmiti [4]. São Paulo está claramente recomendando que mantenham a tradição oral, e deve ser notado em particular que ele congratula os fiéis por fazê-lo (Eu vos felicito…). Também é explícito no texto o fato de que a integridade desta Tradição oral apostólica era claramente mantida, da mesma forma como Nosso Senhor havia prometido, sob o auxílio do Espírito Santo (cf. Jo 16,13).
Talvez o mais claro apoio bíblico para a Tradição oral seja 2 Ts 2,15, onde os cristãos são enfaticamente advertidos: Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos, de viva voz ou por carta. Esta passagem é significante porque: a) mostra uma tradição oral apostólica vivente, b) diz que os cristãos estarão firmemente fundamentados na fé se aderirem a estas tradições e c) claramente afirma que estas tradições eram tanto escritas como orais. A Bíblia distintamente mostra aqui que as tradições orais – autênticas e apostólicas em sua origem – deveriam ser seguidas como componente válido do Depósito da Fé, então por quais razões ou desculpas os protestantes a rejeitam? Com qual autoridade podem rejeitar uma exortação clara de Paulo?
Além do mais, devemos considerar o texto desta passagem. A palavra grega krateite, traduzida aqui como guardar, significa estar firme, forte, prevalecer [5]. Esta linguagem é enfática, e demonstra a importância da manutenção destas tradições. Obviamente, devemos diferenciar o que seja Tradição (com T maiúsculo), que é parte da revelação divina, das tradições da Igreja (com t minúsculo) que, mesmo que sejam boas, desenvolveram-se tardiamente na Igreja e não fazem parte do Depósito da Fé. Um exemplo de algo que seja parte da Tradição seria o batismo infantil; um exemplo de tradições da Igreja seria o calendário das festas dos santos. Tudo que venha da Sagrada Tradição é de origem divina e são imutáveis, enquanto que as tradições da Igreja são cambiáveis pela Igreja. A Sagrada Tradição serve-nos como regra de fé por mostrar no quê a Igreja tem consistentemente crido através dos séculos e como ela sempre entendeu uma determinada parte Bíblica. Uma das principais formas pelo qual a Sagrada Tradição foi transmitida a nós está nas doutrinas dos textos litúrgicos antigos, o serviço divino da Igreja.
Todos já notaram que os protestantes acusam os católicos de promoverem doutrinas novas e anti-bíblicas baseadas na Tradição, por afirmarem que tal Tradição contém doutrinas que são estranhas à Bíblia. Entretanto, esta acusação é profundamente falsa. A Igreja Católica ensina que a Tradição Oral não contém nada que seja contrário à Tradição Escrita. Alguns pensadores católicos afirmam, inclusive, que não há nada na Tradição Oral que não seja encontrado na Bíblia, mesmo que implicitamente ou em formas seminais. Certamente as duas estão em perfeita harmonia e complementam uma à outra. Para algumas doutrinas, a Igreja faz uso da Tradição mais que pelas Escrituras para seu entendimento, mas mesmo estas doutrinas estão incluídas nas Sagradas Escrituras. Por exemplo, as doutrinas seguintes são preferencialmente baseadas na Sagrada Tradição: batismo infantil, o cânon das Escrituras, o domingo como Dia do Senhor, a virgindade perpétua de Maria e a assunção de Maria.
A Sagrada Tradição complementa nossa compreensão da Bíblia ao mesmo tempo que não constitui uma fonte extra-bíblica de revelação, com doutrinas novas ou estranhas a ela. Muito pelo contrário: a Sagrada Tradição age como a memória viva da Igreja, relembrando-a constantemente o que criam os cristãos antigos, como entendiam e interpretavam as passagens bíblicas [6]. De certa forma, é a Sagrada Tradição que diz ao leitor da Bíblia: Você está lendo um livro muito importante, que contém a revelação de Deus aos homens. Agora deixe-me explicá-lo como ela sempre foi entendida e praticada pelos cristãos desde o início dos tempos.