Pontos de meditação sobre a relação Bíblia-Igreja
A Bíblia não pode ser compreendida corretamente se for separada da Igreja, onde nasceu.
1. A Igreja não nasceu da Bíblia, porque a Igreja é anterior à Bíblia. Ou seja, primeiro veio a Igreja e dela nasceu a Bíblia. O mesmo se deu acerca de Israel, se nos referirmos ao Antigo Testamento (o que se deu também com a Igreja cristã, se nos referirmos ao Novo Testamento).
Quando os livros do Novo Testamento foram escritos, a Igreja já tinha sido fundada por Cristo, pois -recordemos – que Cristo morreu e ressuscitou por volta do ano 30, enquanto que os livros do Novo Testamento foram escritos muito tempo depois. Por exemplo, o Evangelho de São Marcos foi escrito por volta do ano 64; São Lucas escreveu o seu Evangelho entre os anos 65 e 80; dessas datas, mais ou menos, provém o atual Evangelho de São Mateus. Os primeiros livros do Novo Testamento são as cartas de São Paulo, escritas entre os anos 51 e 67. O último foi o Apocalipse, escrito entre os anos 70 e 95.
2. Quando a Bíblia foi escrita (em concreto, o Novo Testamento), a Igreja já era uma comunidade viva, governada pelos apóstolos e por seus sucessores, que transmitiam de viva voz a Palavra de Deus. Nem tudo o que ocorreu foi posto por escrito, nem sequer da vida e da pregação de Jesus (João 21,25; 2Tessalonicenses 2,15; 2Timóteo 1,13; 2,2; 2João 12).
3. A Bíblia é verdadeira Palavra de Deus, e devemos crer e obedecer tudo o que ela nos ensina e manda. Porém, Jesus Cristo não veio para escrever uma Bíblia. Ele veio para inaugurar o Reino de Deus e para isso fundou uma comunidade (a sua Igreja) que fosse no mundo o anúncio e o início permanente desse Reino. Aos seus apóstolos, Jesus não mandou que compartilhassem Bíblias, mas que pregassem e dirigissem a Igreja em seu Nome (Mateus 28,19; Lucas 10,16; Romanos 10,17). Aos seus discípulos, Jesus não mandou que lessem a Bíblia para que conhecessem a sua vontade, mas que seguissem a sua Igreja e as autoridades que constituiu nela (Atos 9,6-17; Mateus 18,15-17). Isto mesmo fez YHWH no Antigo Testamento (Deuteronômio 17,8-13).
Encontramos na Bíblia partes difíceis de ser entendidas e que muitos corrompem o seu sentido, razão pela qual é necessário que alguém, inserido plenamente na Igreja, ajude a compreendê-las (2Pedro 3,16; Atos 8,29-31).
4. A Igreja cristã do século I era guiada pela Palavra de Deus. Porém, esta não estava apenas nos poucos livros escritos por alguns dos apóstolos, mas também era encontrada nas palavras e atos de Jesus, na pregação dos apóstolos, na orientação que davam continuamente à pregação dos apóstolos e na orientação que davam continuamente à Igreja e que ela recolhia, conservava e vivia com fidelidade. A este conjunto de orientações vivas de Cristo e dos apóstolos (que não foram escritas) é que a Igreja chama de “Tradição”, a qual se formou na própria vida da Igreja, em suas instituições, em seu cultos e – sobretudo – na sua maneira de compreender as questões estabelecidas na Bíblia.
5. A Tradição é a atmosfera e o ambiente em que esta (a Bíblia) foi escrita e é a chave para interpretá-la corretamente. A Tradição é a vida e a fé da Igreja do século I que, juntamente com a Bíblia escrita, foi conservada e transmitida fielmente.
Traduzido pelo Veritatis Splendor por Carlos Martins Nabeto, diretamente do site http://www.apologetica.org.