A confusão entre “missa em latim” e “rito tridentino”

Os boatos cada vez mais insistentes segundo os quais o Papa Bento XVI está para liberar a celebração da Missa no rito tridentino tem ganho eco na imprensa de maneira distorcida. Os jornais costumam falar não em ?rito tridentino?, mas ?missa em latim? ? talvez conseqüência da expressão ?Latin Mass?, que costuma designar o rito de São Pio V nos países de língua inglesa. Este artigo tem como propósito desfazer a confusão entre ?missa em latim? e ?rito tridentino?.

 

Um erro comum na imprensa é afirmar que ?a missa em latim foi proibida depois do Concílio Vaticano II?. Inclusive, é um erro que são dois…

 

1. O rito novo, promulgado por Paulo VI em 1969 e também conhecido como Novus Ordo, tem como língua original o próprio latim ? os missais nas línguas de cada país são apenas traduções aprovadas pela Santa Sé. Basta ir a Roma nos dias de celebrações importantes: Natal, o tríduo pascal, canonizações, para perceber que as missas solenes papais são celebradas todas em latim, e apenas as leituras, a homilia e as preces da comunidade são feitas em outros idiomas. Nos dias que se seguiram à morte de João Paulo II, o mundo todo acompanhou as cerimônias no Vaticano ? todas em latim e no rito novo, de Paulo VI.

 

2. E o jornalista, quando escreve ?missa em latim? querendo se referir ao rito tridentino, comete outro erro: quando o novo missal foi promulgado, o rito de São Pio V não foi proibido ? ele pode continuar a ser celebrado hoje, com permissão do bispo local. Existem também instituições dentro da Igreja com autorização para celebrar apenas neste rito, como a Fraternidade Sacerdotal São Pedro, a Administração Apostólica São João Maria Vianney, em Campos (RJ), e o recém-criado Instituto do Bom Pastor.

 

Aliás, uma consulta ao documento Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia, revela que os bispos presentes ao Vaticano II nunca pensaram em proibir o latim: pelo contrário, pedem a sua manutenção, pelo menos no cânon, embora outras partes da Missa possam ser ditas nos idiomas locais. Também é bom lembrar o Concílio de Trento, que anatematiza quem afirmar que a Missa deva ser celebrada apenas em vernáculo. Grupos tradicionalistas cismáticos gostam de recordar este cânon de Trento para condenar o rito de Paulo VI, esquecendo-se de que o idioma original do Novus Ordo continua sendo o latim.

 

Diante disso, torna-se necessário repetir as características de cada rito para evitar confusões como as que se vêem cotidianamente nos jornais.

 

A missa como a maioria das pessoas a conhece é celebrada no rito promulgado em 1969 (e não no Concílio Vaticano II) por Paulo VI. Ela pode ser celebrada nas línguas de cada país (desde que os missais sejam aprovados pela Santa Sé), e também em latim.

 

O rito que, segundo os rumores, o Papa Bento XVI pretende liberar universalmente (isto é, qualquer padre poderia celebrá-lo sem autorização do bispo local) é o rito tridentino, promulgado por São Pio V em 1570. É o que a maioria das pessoas conhece como ?missa em latim? ? embora já tenhamos demonstrado que a expressão é inadequada ? e com o padre ?de costas para o povo? (em outro artigo, eu faço um resumo da explicação dada pelo cardeal Ratzinger sobre como também esta expressão é inadequada). Este rito, sim, é celebrado apenas em latim, com leituras e homilia no idioma local.

 

Portanto, ?missa em latim? é uma expressão ambígua. Afinal, tanto uma missa no rito tridentino quanto uma missa no rito de Paulo VI podem ser ?missa em latim? ? basta que sejam celebradas neste idioma.

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.