A congregação de nossa senhora de sion e o amor de cristo aos judeus

“A Congregação foi fundada “para ser, na Igreja e no mundo, testemunha da fidelidade de Deus ao seu amor pelo povo judeu e para apressar o cumprimento das promessas referentes aos judeus e aos gentios”.  (Constituições art.2)

Podemos dizer que esse artigo é o cerne do carisma da Congregação de Nossa Senhora de Sion, um carisma mariológico e essencialmente sustentado no Amor, exatamente, no Amor. Afinal o que mais pode ser a busca fraterna pela conversão dos judeus ao único “Caminho”, “Verdade” e “Vida”? Orar pela conversão dos israelitas, “apressar o cumprimento das promessas referentes aos judeus”, é orar para que conheçam a glória da vida eterna, o Cristo que, em Sua Encarnação, Se doou para a salvação dos homens. Rezar pela conversão dos judeus é levá-los a Jesus, e o que é Nosso Senhor senão o Amor?  “Os diversos sentimentos de Jesus Cristo estão sempre vivos na Igreja. Dentre eles, há um do qual sois depositárias, quero falar do Amor de Jesus Cristo pelo Povo de Israel”  (Père Theodore)

A história da Congregação se encontra, em sua raiz, baseada na Virgem Maria! Quem por acaso não se assusta ao descobrir a história de Père Alphonse Ratisbonne? Um judeu libertino nos seus costumes e ferrenhamente anti-católico – sentimento que aumentou depois da conversão do seu irmão Theodore – que carregando no peito a Medalha Milagrosa e rezando o Memorare, sem qualquer aparente devoção, obteve a graça que nem mesmo os mais piedosos dos católicos conseguiram; viu a Virgem Maria em toda a sua beleza e formosura! Quando mostraram a ele o quadro pintado da Madonna del Miracolo disse que apenas vagamente descrevia a maravilha da Aparição – Père Alphonse chegou a chorar ao descrever a Virgem para suas filhas. Após ver a Santíssima Maria na Igreja de Sant’Andrea delle Frate o judeu, em prantos, clamou o batismo! Depois de convertido foi estudar com os jesuítas, ordenou-se Sacerdote e, posteriormente, juntamente com seu irmão, fundou a Congregação de Nossa Senhora de Sion, com todo o apreço de S.S Pio IX. Disse Père Alphonse; “Ela não me disse nada, mas eu compreendi tudo.” Desse modo Sion foi pensado, saiu do âmago dos desejos mariológicos! Graças a ação da Virgem Maria, com as bençãos de Cristo, um rico judeu, imoral e anti-clerical, tornou-se meio para que Deus, através da Sua Igreja, pregasse o Seu amor ao povo israelita, amor que de tão forte se concretizava nessa Congregação.

Sem dúvida alguma a Aparição em Roma representou um grande benefício para a alma de Alphonse Ratisbonne, entretanto foi muito além, os seus bons frutos se estenderam na mesma proporção em que os raios que emanavam da Virgem abençoavam o mundo. Todo o orbe foi agraciado com a fundação da Congregação de Sion, com sua especial, mariológica e filial, missão de trabalhar para a conversão dos judeus. O clamor pela conversão não vinha de um grito de ódio ao povo israelita, ao contrário, era uma atitude de puro amor. Ademais, Sion teve um papel importante já que, desde o séc. XIX, a Igreja vinha sendo alvo comum de ataques de judeus liberais. Quem melhor para proteger a Esposa de Cristo do que dois judeus convertidos? Além disso Sion sempre orou para que aquele povo escolhido, que sempre gozou, junto a Deus, de um apreço todo especial, continuasse na Verdade por meio da Igreja Católica, a continuação natural e divinamente pensada da religião hebraica.

Père Alphonse Ratisbonne era um homem de ação. Em 1855 se mudou para a Palestina onde passou o resto da sua vida. Na Terra Santa comprou terrenos e imóveis; em 1858 estabeleceu o Convento do Ecce Homo, na Antiga Cidade de Jerusalém, para as Irmãs de Sion, que servia de escola e orfanato. Em 1860 eregiu o Convento de São João nas montanhas de Ein Karem, junto com uma Igreja e outro orfanato. Para os meninos Alphonse construiu o orfanato de São Pedro, perto de Jaffa, fora de Jerusalém. Todo esse seu zelo a juventude, digno de um cristão, era reflexo da sua incessante busca de fazer triunfar a Verdade!

Père Theodore Ratisbonne também tem sua importância. Ele se distinguiu por ser um excelente escritor e pregador. Assim como seu irmão, foi criado no luxo, educado no Colégio Real na sua cidade natal. Depois da conversão de Samson Libermann, Theodore foi escolhido para substituí-lo como líder. Com a conversão de mais dois amigos; EmigDreyfus e Alfred Mayer, Ratisbonne resolveu estudar a Sagrada Escritura e a História da Igreja. Após dois anos, em meio a um processo de descoberta e de graça – isso me remete automaticamente a história da conversão de Card. Newman –, Theodore, finalmente, pediu o batismo. Assim foi feito em 1826, para a glória de Deus. Posteriormente entrou no seminário e recebeu as santos ordens em 1830.

Theodore vivia e trabalhava na sua diocese nativa, até que tornou-se subdiretor da Confraria de Nossa Senhora da Vitória, em Paris. Estava na capital francesa quando, em 1842, seu irmão Alphonse, que nutria um tenro ódio ao cristianismo, se converteu ao ver a Virgem Maria, na Aparição em Roma. Como já foi dito acima, posteriormente, depois do batismo, Alphonse tornou-se jesuíta e, em seguida, juntamente com seu irmão, fundou a Congregação de Sion.

Père Theodore Ratisbonne foi condecorado como Cavaleiro de São Silvestre por S.S Gregório XVI, que foi presenteado com a “Vida de São Bernardo”, obra de grande profundidade escrita por Theodore. O Papa ainda aprovou o seu pedido de trabalhar para a conversão dos judeus. A partir daí os irmãos começaram a difundir o carisma da nova Congregação, essa espiritualidade tão mariana. Sion era muito bem quista pelo Beato Pio IX, inclusive Theodore foi nomeado protonotário apostólico por S.S Leão XIII. Antes de sua morte recebeu os últimos sacramentos do Arcebispo de Paris e a última benção de S.S Leão XIII.

Como disse Père Theodore:

Não se deve combater objeções racionais, antes há de se apazigüar as angústias da consciência judaica. Não era eu assaz instruído para compreender a identidade entre judaísmo e cristianismo. Acreditava que eram duas religiões diferentes, o Deus de Abraão não era o Deus dos cristãos. Tinha medo de aprofundar a questão.

Ou seja, até então Theodore não percebia que a religião judaica, a Revelação no Antigo Testamento, naturalmente, por meio dos planos de Deus, desaguava na fé cristã através da plenitude dos tempos, com a Encarnação de Jesus Cristo, que já existia desde sempre junto ao Pai. Mais adiante Theodore diz:

Li com atenção nossa história, e concluí que a cessação do culto e a ruína do templo, a destruição da Cidade Santa, a confusão entre as tribos e diáspora da nação judia – que todos os fatos coincidem com o estabelecimento do cristianismo no mundo. […] Vislumbro a situação, e isso me dói: eu daria a vida para tirar meus irmãos dessa situação… mas não posso mais viver entre eles, nem invocar o Deus de meus pais na mesma casa de oração […].

Depois de compreender os planos do Senhor, o triunfo da Palavra que se fez Homem, a evolução, por meio do fim da Revelação que é Jesus Cristo – afinal depois Dele nada mais precisa ser dito -, do judaísmo pré-cristão na religião católica, pensada pelo Pai, ele percebeu a triste situação em que se encontravam seus irmãos israelitas;  rejeitando ao Seu Deus e Seu Salvador, repetindo aquilo que fizeram quando preferiram Barrabás a Jesus Cristo. Assim, por exemplo, entendeu as profecias do capítulo 28 do Deuteronômio que descrevia os horrores sofridos pelos judeus depois que não quiseram “escutar a voz do Senhor teu Deus”.

Por fim, Theodore disse ao seu pai:

Sou cristão. […] Sou cristão, mas adoro ao mesmo Deus que meus pais, o Deus três vezes santo, o Deus de Abrãao, de Isaque e de Jacó, e reconheço Jesus Cristo como o Messias, o Redentor de Israel.

Desse modo, Père Theodore Ratisbonne, declara seu amor a Cristo, Nosso Senhor, vendo que a fé cristã nada mais é do que a plenitude da Revelação, a última Palavra do Deus de Israel, o mesmo Deus que aos poucos transmitia ao Seu povo a Sua mensagem mas, que no momento oportuno, Se fez homem para viver com os homens e pelos homens morrer para salvá-los!

Por fim, nada melhor do que as palavras de Père Theodore, presentes na sua grande obra Migalhas Evangélicas:

Mas o milagre que ultrapassa todos os outros, milagre permanente, é a cegueira dos próprios judeus, depositários dos livros sacros, que não viram, não compreenderam, não admitiram a realização deslumbrante das profecias. Oremos para que essa cegueira milagrosa seja milagrosamente curada. Oremos para que a nação de onde jorrou a luz saia das trevas do erro e das sombras da morte

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.