O número de grutas na Palestina é muito grande. Nelas, muita gente ainda reside. Não é apenas o aspecto econômico que leva tanta gente a procurar as grutas, mas também o aspecto climático. Sendo aquela terra, em grande parte, constituída de deserto quente, seco, árido, sem água, o clima não favorece a vida humana. De dia, o calor é abrasador, enquanto durante a noite, a temperatura cai a graus próximos do zero. A vida humana procura durante o dia a frescura das grutas, já que a terra conserva o calor do dia; permite, assim, que o frio da noite não afete tanto os seus ocupantes.
Hoje, o peregrino vê grutas ou cavernas em Jerusalém, na encosta do Monte das Oliveiras; em Betânia; em Qumram, à margem do Mar Morto; em Belém etc.
Do tempo de Cristo, as mais famosas, além das de Belém, são as de Nazaré onde residiu a Sagrada Família durante a meninice e a juventude de Jesus, e onde Maria foi visitada pelo Anjo do Senhor; ainda esta lá, guardada debaixo de uma igreja, a Basílica da Anunciação, em piso interior ao normal; também a existente em Ein Karin, povoação próxima a Jerusalém, que é tida como o lugar do nascimento de João Batista, o Precursor; a do Monte das Oliveiras, no sopé, conhecida pelo nome de “Gruta dos Pastores”, lugar onde Cristo se recolhia com os Apóstolos quando vinha à Cidade Santa e onde foi preso pelos soldados judeus, capitaneados por Judas, o Iscariotes.
A atual cidade de Belém, situada no deserto da Judeia, distante 9 km de Jerusalém, está localizada em encosta de montanhas. Hoje, é cidade relativamente grande. Provavelmente, conforme os Evangelhos e o Antigo Testamento, ela é citada nesses vários séculos antes do sublime acontecimento de que seria palco; seria um aglomerado de casas, distantes umas das outras, pertencentes aos endinheirados da época, que sobressaiam das montanhas, onde morava a população mais pobre, talvez até em maior número do que aqueles. É certo que Belém era uma povoação que ficava à beira de uma estrada e, por certo, também as grutas da encosta eram usadas como residência. Assim, era também ponto de parada de viajantes que demandavam Jerusalém.
José e Maria foram a Belém para atender ao recenseamento; como não encontraram acomodação em hospedaria – supõe-se, em casa de cômodos ou de aluguel – tiveram de procurar outro lugar que lhes fosse propício. Daí terem procurado uma gruta. Escolheram, dentre aquela que lhes pareceu mais escondida, mais longe das vistas humanas, já que Maria sabia do próximo nascimento de seu Filho. E encontraram uma, quase no topo da encosta, à qual só se poderia chegar procurando-a com objetivo certo.
Trata-se de uma caverna aberta na montanha, como tantas outras. Mede, mais ou menos 6 metros de comprimento e menos de 4 de largura. É chamada também de “gruta estábulo”, porque na região costuma-se aí guardar animais – especialmente ovelhas – no tempo de inverno, quando o frio é mais intenso nas cavernas.
Em destaque, na gruta, há dois pontos:
1) O lugar do nascimento de Jesus, da manjedoura, onde está colocada uma estrela que mostra, gravada no centro, em círculo, à volta de um orifício redondo, a seguinte expressão em língua latina: “HIC DE VIRGINE MARIA, JESUS CHRISTUS NATUS EST”, que significa: “Aqui nasceu Jesus Cristo da Virgem Maria”. É uma estrela de prata. Num plano inferior, em uma parede lateral, um altar marcando o lugar de onde os pastores, em primeiro lugar, se prostraram para adorar o Deus-Menino.
2) O lugar da manjedoura tem sobre si um altar coberto de turíbulos, cada um pertencendo a um ramo da religião cristã: ortodoxo-grego, armênio, copta, sírio, latino, etc. Ainda se veem muitos tapetes e outros ornamentos.
Há certeza absoluta de que esse é, realmente, o lugar do nascimento de Jesus, a própria igreja – a Basílica da Natividade – que está construída sobre ela, tem muitos pontos que são, ainda, do século dois da nossa era, de quando começou sua construção. É como que uma proteção. A gruta mesmo se encontra sob o altar principal dessa igreja. Para se alcançá-la, pode-se utilizar duas portas, uma de cada lado do altar; ultrapassando-se essas portas, descem-se alguns degraus e já se entra na gruta. A respeito, escreve o historiador espanhol J. Peres de Urbel, em seu livro “A Vida de Cristo”, editora Quadrante (São Paulo):
– “Mais tarde, o mundo há de venerar a gruta onde acaba de ocorrer aquele nascimento prodigioso. Mas, volvido um século, já um escritor nascido naquela terra da Palestina, São Justino, nos falará dela com respeito, e algum tempo depois o grande Orígenes, afirmará que até os próprios pagãos conheciam a cova em que tinha nascido um tal Jesus, adorado pelos nazarenos. Depois, os reis da terra hão de adorná-la de ouro, prata e tecidos preciosos; apear-se-ão da sua grandeza para limpar aquele chão que, ainda hoje, milhares e milhares de peregrinos beijam com lágrimas de amor e gratidão. São Jerônimo, mais tarde, haveria de confirmar vendo ali o lugar de fato tão transcendental”.
O acesso à gruta se faz por uma ladeira bem acentuada. Hoje, essa ladeira é uma rua bem larga, que o ônibus urbano sobe rangendo, acompanhando a encosta. Por ai se conclui que José e Maria alcançaram essa gruta não muito facilmente, especialmente devido ao estado avançado de final de gravidez de Maria.
O que o peregrino cristão sente ao chegar ao lugar da manjedoura não dá para descrever. Em primeiro lugar, cai de joelhos; os olhos se fecham, o espírito se volta para os relatos evangélicos e o coração palpita… O espírito vagueia, sentindo a presença de pastores, de José, da mãe, Maria, de todos o homens, da nossa mãe na terra, da nossa família, dos nossos mais próximos, parentes e amigos, formando uma legião enorme que ali adora o Rei-Menino… Uma oração de louvor, de agradecimento, de adoração, começa e vai-se desenrolando continuamente… Nomes são lembrados, todos os que passaram pela nossa vida desde quando dela nós tivemos conhecimento… Quantos pedidos são formulados… Ó Senhor, como Tu és bom! Quantas graças Tu nos concedes… Quanta alegria de estar aqui, no lugar onde começa a salvação do homem! Obrigado, Senhor, por esta peregrinação; por tudo!
A Basílica da Natividade, cuja parede da frente não tem porta de entrada, dá para a praça principal de Belém. No lado oposto da praça existe uma mesquita de alta torre, sobre a qual se vê uma meia-lua no ponto mais alto. As casas de comércio que dão para essa praça têm como objeto principal oferecer artigos de madre-pérola. Com exceção da avenida de chegada, em aclive, todas as ruas que saem desta praça são estreitas, verdadeiras ruelas.
As paredes da igreja são bastante altas, também muito largas, com a parte junto ao solo se destacando. É exatamente a parte mais antiga, do tempo de Constantino. A continuação para o alto é de tempos posteriores, sendo que outra parte é construção do imperador Justiniano, do ano 529. É verdade que tem sofrido várias restaurações. A última se deu em 1824. Ainda existe, no solo, uma parte do antigo piso constituído de mosaicos constantinianos. Tudo está a indicar que as colunas interiores da igreja são da mesma época. Essas colunas redondas contém pinturas coloridas. O peregrino, no interior da igreja, só pisa em assoalho de madeira que foi feito para proteger o piso existente. A fim de permitir a vista dos pisos antigos, em alguns pontos se encontram óculos, aberturas, pelas quais se observa e analisa o piso.
A título de curiosidade, faz-se aqui a transcrição do que vem escrito no livreto “Pequeno Guia da Terra Santa”, Edição 1975, de Jerusalém:
– “A Basílica da Natividade está rodeada por altos muros de três conventos: o franciscano (nordeste), o grego-ortodoxo (sudoeste) e o armênio (noroeste). A entrada é pequenina. A arquitrave da porta justiniana é visível ao alto, sobre o arco agudo dos cruzados. Em 1500 a porta foi diminuída para poder-se verificar que os fiéis pagassem a entrada. O ‘nartex’ está separado da nave central por uma porta de madeira, feita em 1227 pelo rei armênio Haitão”.
Para finalizar, é bom salientar que Belém é citada na Bíblia desde o Antigo Testamento, começando logo pelo livro do Gênesis, como se lê em 35,19; também em Miqueias 5,2 e em muitos outros pontos.