A Igreja proibiu a leitura da Bíblia?

Prezado Alexandre,

 

Sou assíduo freqüentador do site veritatis, e inicialmente , gostaria de parabenizá – lo, e aos outros apologistas pelo excelente trabalho. 

 

Gostaria de obter sua ajuda , no seguinte questionamento feito a mim, por um protestante. Este apresentou o fragmento de um documento intitulado “Direções concernentes aos métodos adequados a fortificar a igreja de Roma”, o qual estaria na Biblioteca imperial de Paris, folio B, número 1088, vol. 2, págs 641 a 650. Veja um trecho:

 

“Finalmente de todos os conselhos que bem nos pareceu dar a Vossa Santidade …. deve por todo o cuidado e atenção de permitir o menos que seja possível a leitura do evangelho, especialmente na língua vulgar, em todos os países sob vossa jurisdição. O pouco dele que se costuma ler na Missa , deve ser o suficiente; mais do que isso não devia ser permitido a ninguém. Enquanto os homens estiverem satisfeitos com esse pouco, os interesses de Vossa Santidade prosperarão, mas quando eles desejarem saber mais, tais interesses declinarão. Em suma, aquele livro (bíblia) mais do que qualquer outro tem levantado contra nós esses torvelinhos e tempestades, dos quais meramente escapamos de ser totalmente destruídos.

De fato , se alguém examinar cuidadosamente, logo descobrirá o desacordo, e verá que a nossa doutrina é muitas vezes diferente da doutrina dele, e em outras até o contraria; o que se o povo souber, não deixará de clamar contar nós, e seremos objetos de escárnio e ódio geral. Portanto, é necessário tirar esse livro das vistas do povo, mas com grande cuidado, para não provocar tumultos.”

Bolonie, 20 Octobis 1553

Vicentius De Durtantibus, Egidus Falceta, Gerardus Busdragus (Bispos católicos)

 

Ficaria grato, se me ajudasses a refutar isto.

 

Meu caro amigo,

 

Não se impressione com o texto acima. Há algumas considerações sobre o mesmo que eu gostaria de fazer para tranqüilizá-lo.

 

Em primeiro lugar, é difícil saber se o mesmo é ou não verídico. Em minha curta experiência na apologética católica já me deparei, inúmeras vezes, com textos de protestantes citados fora do contexto, dando a impressão exatamente oposta da verdadeira opinião do autor. Sinceramente, eu não tenho como consultar os livros da Biblioteca Imperial de Paris para verificar a existência e o conteúdo do mesmo. E, mesmo que eu tivesse acesso à citada Biblioteca, dificilmente poderia ler o texto, visto que ele deve ter sido redigido em latim, idioma que, embora eu dele tenha alguns conhecimentos, não tenho um domínio minimamente satisfatório para análise textuais.

 

Mas, para darmos uma resposta à tua indagação, partamos do pior cenário possível. Imaginemos que o texto de fato exista e que, existindo, realmente tenha o conteúdo acima. O que isto significaria? Rigorosamente nada. Tratar-se-ia, apenas, da opinião de alguns bispos, absolutamente divorciada do verdadeiro catolicismo, reveladora da ignorância dos mesmos acerca da fé católica.

 

O fato inconcusso, inexorável e objetivo é que a Igreja jamais proibiu a leitura bíblica por parte dos fiéis, embora ela sempre tenha condenado o livre exame. A Igreja não permite que os leigos leiam a Bíblia e, julgando-se guiados pelo Espírito Santo, dela tirem as doutrinas que julgarem convenientes. E, se o faz, é por um bom motivo. Estas “experiências” de muitos leigos levaram o cristianismo ao descrédito entre as nações, delas surgindo as doutrinas mais absurdas imagináveis, algumas francamente perigosas, resultando em verdadeiras tragédias.

 

No entanto, não há um único ponto da verdadeira doutrina católica que contrarie a Bíblia. A opinião dos bispos acima (supondo-se que seja verídico o texto) é profundamente equivocada e francamente herética. Tanto que é inverossímil imaginarmos que, em pleno Concílio de Trento, bispos redigiriam uma carta ao Papa, imersos no mais profundo espírito protestante, afirmando que o catolicismo é antibíblico. Seria caso de excomunhão.

 

Portanto, não perca seu sono por isto. Ou o texto não existe, ou, existindo, não revela o verdadeiro catolicismo. Tratar-se-ia de bispos protestantizados, tão equivocados acerca do catolicismo quanto a imensa maioria dos protestantes de todos os tempos.

 

Espero ter sido útil.

 

Que a Virgem Santíssimo te abençoe,

 

Alexandre.

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.