“Ave, Cheia de Graça” (Lc 1,28)
A Imaculada Conceição de Nossa Senhora é um verdade de fé, que consiste na Graça que Deus a concedeu para ser a mãe do Salvador.
Mas, que Graça é esta? Deus no momento da conceição da Virgem Maria, isto é, no momento quem a alma inocente se une ao corpo escravo do pecado, preservou-a da mácula, da mancha do Pecado Original. Nosso Senhor concedeu à Maria Santíssima este favor, não por seu merecimento, mas pelos privilégios de Nosso Senhor Jesus Cristo, dando então a ela uma Imaculada Conceição.
A Objeção Protestante
Os protestantes negam esta verdade de fé professada desde o início do Cristianismo. Geralmente costumam citar a Lei Geral “Todos pecaram” (cf. Rm 5,12), como argumento contra a Imaculada Conceição.
Tal Lei é certa, e a ela está subordinada toda a humanidade. Mas, não será Deus capaz de antes que a alma e o corpo se unam, suspender um de seus efeitos, que é a mácula da alma, a transmissão do Pecado Original?
Um exemplo destas intervenções Divinas às Leis Gerais, foi quando Deus atrasou a descida do Sol por quase um dia, para que os filhos de Israel vencessem a batalha contra os reis amorreus (cf. Jos 10,12-13).
Outro exemplo foi quando “Moisés extendeu a mão” e o mar deixou livre seu leito, partindo as águas pelo meio. (Ex. 14,21-22)
Também é uma Lei Geral, que os mortos aguardem à ressurreição geral, entretanto, Nosso Senhor Jesus Cristo, ressuscitou a Lázaro, estando seu cadáver já em putrefação (cf. Jo 11,41-43).
Outro argumento protestante contra o dogma, são dos seguintes versos do cântico de Nossa Senhora: “A minha alma engrandece ao Senhor e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1,46-47). Segundo eles, Maria reconhece que é pecadora, pois, somente um pecador é que precisa de salvador.
Seria formidável se soubessem o que é pecar em adão e pecar pessoalmente. Nossa Senhora pertence a uma raça pecadora, pois é humana e filha de Adão e Eva, como todos nós, isto é pecar em Adão. No entanto, sua alma foi preservada da mácula do Pecado Original, não tendo então desejo pelo pecado, sendo incapaz de pecar, isto é, não pecou pessoalmente.
É claro que Deus é o Salvador da Virgem, pois foi Ele que a livrou do poder da morte. Como diz meu amigo e irmão em Cristo, Professor Carlos Ramalhete: “uma coisa é Deus salvar alguém que caiu em um buraco, outra coisa é Ele impedir que alguém caia no buraco. Nas duas proposições o Senhor é o Salvador, sendo que a segunda se aplica ao caso de Nossa Senhora.”
Nem mesmo o Pai da Reforma, Martinho Lutero, negou a imaculada conceição da Virgem: “Era justo e conveniente, diz ele, fosse a pessoa de Maria preservada do Pecado Original, visto o filho de Deus tomar dela a carne que devia vencer todo o pecado” (Lut in postil. maj.).
Provas da Sagrada Tradição
“Fazemos memória de nossa Santíssima, Imaculada, e gloriosíssima Senhora Maria, Mãe de Deus e sempre Virgem” (São Tiago Menor, S.jacob in Liturgia sua).
“Prestemos homenagem, principalmente, a Nossa Senhora, a Santíssima, Imaculda, e abençoada acima de todas as criaturas, a gloriosíssima Mãe de Deus, sempre Virgem Maria” (São Tiago Menor, S.jacob in Liturgia sua).
“Tendo sido o primeiro homem formado de uma terra imaculada, era necessário que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente imaculada, para que o Filho de Deus, que antes formara o homem, reparasse a vida eterna que os homens tinham perdido” (Santo André, Cartas dos Padres de Acaia).
“O Cristo foi concebido e tomou o seu crescimento de Maria, a Mãe de Deus toda pura […] Como o Salvador do mundo tinha decretado salvar o gênero humano, nasceu da Imaculada Virgem Maria” (Santo Hipólito +220).
Provas da Sagrada Escritura
“Ave, cheia de Graça” (Lc 1,28) – a saudação angélica mostra muito bem a Graça que Deus concedeu á Maria Santíssima. “Cheia de Graça” significa que a Virgem obtivera a graça que não existia, a graça perdida, a graça original, isto é, a Imaculada Conceição. A expressão “Cheia de Graça” em grego “Kecharitoménê”, é empregada para designar a graça em seu sentido pleno. A tradução em latim “Gratia Plena”, isto é, “Graça Plena” é mais perfeita do que a portuguesa “Cheia de Graça”. O Arcanjo falando à Virgem que ela achara graça diante de Deus diz: Maria, sois imaculada, e por isto serás a mãe do Salvador.
“O Senhor é Convosco” (Luc 1,28) – estas palavras angélicas, foram ditas antes da concepção pelo Espírito Santo, o que mostra que Deus está com a Nossa Senhora antes da encarnação do Verbo. E, onde está Deus não há pecado, ou seja, Maria não tinha o Pecado Original.
“Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação” (Hb 9,11) – aqui São Paulo se expressa sobre o ventre que concebeu o menino-Deus, e o compara com um tabernáculo perfeito. Lembremos que no Antigo Testamento, no tabernáculo existia o lugar chamado “Santo dos Santos” ou “Santíssimo Lugar”, que tinha a presença de Deus. Este lugar era visitado pelo sacerdote um vez por ano, e se entrasse lá em pecado, morria fulminado pela presença santa do Senhor. Era comum que o sacerdote entrasse amarrado a uma corda, que era usada para que o povo o puxasse se tivesse morrido. Pois onde Deus está, pecado não há.
A Necessidade da Imaculada Conceição
Se Deus pode preservar Nossa Senhora do pecado original em um ventre escravo deste pecado, por que que Deus não pode também preservar seu Filho nas mesmas condições? Isto leva a crer que não era necessário que a Virgem fosse Imaculada.
O Professor Carlos Ramalhete esclarece o caso: “É necessário para isso perceber como funciona a transmissão do Pecado Original.
O Pecado Original é transmitido do corpo dos pais ao dos filhos (em termos modernos poderíamos dizer que geneticamente, com óvulo e espermatozóide sendo portadores), e infecta a alma no instante de sua infusão no corpo (ou seja, no instante da concepção). Assim, a Imaculada Concepção foi um ato divino em que Ele impediu que houvesse esta contaminação; São Joaquim e Sant’Ana tinham o Pecado Original, e normalmente o teriam transmitido a sua filha. Deus, no entanto, impediu que a alma que Ele criou fosse contaminada pelo pecado original que normalmente a contaminaria. Este ato divino ocorreu no instante da concepção.
Assim, ela foi preservada das conseqüência do Pecado Original, e sua vontade era submissa a sua razão. Seu corpo e sua alma estavam livres desta inimizade com Deus, logo preparados para ceder seu material genético para a Encarnação do Verbo.
Já o caso de seu Filho é bastante diferente. Ele foi concebido pelo Espírito Santo, usando apenas material genético de Nossa Senhora. Como o material genético dela foi preservado por Deus do Pecado, esta concepção foi possível. Depois dessa concepção, em que o próprio Deus uniu-se a um corpo e alma humanos criados especialmente (posto que Nosso Senhor tem corpo humano – herdado da Virgem -, e alma humana – criada imediatamente por Deus, como todas as outras), não houve necessidade de fazer com Ele o que foi feito com Nossa Senhora. Isso aliás seria impossível, pois uma alma imaculada poderia viver em um ventre marcado pelo Pecado Original (o de Sant’Ana), mas a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade não.
Provavelmente a Mãe d’Ele teria morrido em meio a dores horríveis caso fosse marcada pelo Pecado Original e tentasse abrigar em seu ventre – que não seria imaculado – a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.
Há assim, duas respostas que se completam à pergunta:
1 – Deus preservou Nossa Senhora do Pecado Original para que ela pudesse ser aquela que cedeu seu material genético para a Encarnação do Verbo. Seu material genético deveria estar imaculado, ou teríamos o pior caso de incompatibilidade da história da Criação!
2 – Sua preservação, que teve o fim que acabo de expor, foi feita de maneira sumamente diferente do que ocorreu em seu ventre quando da Encarnação do Verbo. Ela não é Deus; ela é simplesmente alguém que não foi contaminado (por interferência divina direta), como por exemplo o filho não-aidético de uma grávida aidética. Não há uma contraposição, uma inimizade completa, mas apenas um corpo sadio abrigado em um corpo doente.
Já Nosso Senhor é o contrário do Pecado por definição. O Pecado é Seu inimigo, o Pecado é a ofensa feita a Ele. Assim, seria como misturar matéria e antimatéria, vírus e anticorpo, se Ele tivesse que ser colocado em um ventre marcado pelo Pecado Original. Ele não poderia ser nutrido por este corpo, Ele não poderia ter o Seu código genético originado deste corpo… a gravidez seria na verdade uma ilusão, pois Sua mãe não seria Sua mãe, sim Sua inimiga. Deus teria que ter criado o corpo dele do nada, e o mantido sem contato real com o corpo de Sua Mãe, ou ela morreria imediatamente.”