– Por favor, expliquem o significado do artigo sobre a Bem-aventurada Virgem Maria existente na Nova Enciclopédia Católica (página 337). Parece que ali se diz que os católicos deveriam crer que Maria e José tiveram filhos e que Jesus tinha irmãos e irmãs consanguíneos, [verdadeiros] filhos de Maria. Algumas Testemunhas de Jeová com quem eu estava debatendo citaram esse artigo contrário ao ensinamento da Igreja (Anônimo).
Leia o artigo que você menciona com mais cuidado e convide os seus amigos Testemunhas de Jeová a fazer o mesmo. Ao invés de contradizer a doutrina da Igreja sobre a virgindade perpétua da Bem-aventurada Virgem, o artigo apóia [essa doutrina].
A parte do artigo que os Testemunhas de Jeová gostam de citar se refere ao significado das palavras gregas “adelphoi” e “adelphai” (derivadas de “adelphos”), conforme empregadas em passagens como Marcos 6,3. O artigo diz que essas palavras “possuem o significado de irmão e irmã consanguíneos no vocabulário grego da época do Evangelista e naturalmente seriam tomados nesse sentido pelos leitores gregos”.
Os Testemunhas de Jeová querem dar a impressão que a Nova Enciclopédia Católica afirma que as palavras gregas aqui em questão indicam que Jesus teve irmãos e irmãs – e que, portanto, Maria não foi perpetuamente virgem.
O que os Testemunhas de Jeová esquecem de citar – e que o autor do artigo aponta – é que os Evangelistas, ao empregarem “adelphos”, seguiam o costume da Septuaginta, não do grego clássico.
Aponta a Nova Enciclopédia Católica:
“Na Septuaginta (LXX) ‘adelphos’ é empregada no sentido de ‘parente’. Em Gênesis 13,8; 14,14.16, Ló, sobrinho de Abraão, é chamado de ‘seu irmão’; o mesmo termo é usado para Labão, sobrinho de Jacó, em Gênesis 29,15. Em 1Crônicas 23,22, os filhos de Cis (Kish) são chamados de ‘irmãos’ das filhas de Eleazar, embora fossem seus primos.
Este uso de ‘adelphos’ na LXX deriva do fato de que o hebraico é deficiente na terminologia para expressar relacionamentos consanguíneos (da mesma forma que o aramaico, a língua que está por trás do grego dos Evangelhos). Tanto o hebraico quanto o aramaico foram forçados a usar ‘ahim’, ‘irmãos’, no sentido de ‘parentes’, para suprir a deficiência. Os tradutores que originaram a LXX traduziram este significado amplo de ‘ahim’ para ‘adelphoi’ e, assim, estabeleceram o costume que os Evangelistas seguiram”.
Portanto, conforme a Nova Enciclopédia Católica, quando os Evangelistas se referem aos irmãos e irmãs de Jesus, eles estão empregando os termos “adelphoi” e “adelphai” do mesmo modo que a Septuaginta fez, não como os escritores gregos clássicos faziam.
(Observe-se que o artigo não diz que ‘adelphos’ é usado para significar exatamente “primo”, mas parente ou familiar. Os Testemunhas de Jeová e outros [protestantes] às vezes argumentam que o Novo Testamento usa a palavra grega “anepsios” para “primo” e que isto, portanto, demonstra que os Evangelistas não usaram “adelphos” para significar a mesma coisa [isto é, “primo”]. Porém, os exegetas católicos não afirmam que os Evangelistas usam “adelphos” para significar exatamente que os irmãos de Jesus seriam seus primos – embora isto também pudesse ser o caso).
A conclusão da Nova Enciclopédia Católica sobre os irmãos de Jesus e a virgindade perpétua de Maria deixa bem claro como o artigo entende a matéria: “Portanto, não há necessariamente incompatibilidade entre a doutrina da Igreja sobre a virgindade perpétua de Maria […] e os Evangelhos ao significar que tais ‘irmãos’ e ‘irmãs’ são familiares de Jesus”.