– [Li seu testemunho de conversão no site do Veritatis Splendor.] Interessante o seu texto e a sua conversão. A pergunta é: após o seu retorno ao catolicismo, você reafirma que as imagens dos santos que se cultuam de fato podem ser intermediários de Deus, sem precisar orar diretamente para o filho Jesus? (Carlos Alberto)
Caríssimo Carlos Alberto,
Pax Domini!
Reli com toda a atenção o meu testemunho de conversão contido no site do Apostolado Veritatis Splendor e nele não encontrei nada igual ou semelhante a essa “afirmação” que você imputa a mim, isto é, de “que as imagens dos santos que se cultuam de fato podem ser intermediários de Deus, sem precisar orar diretamente para o filho Jesus”. Infelizmente, simplificações como essa – muito comuns na sociedade moderna e também entre protestantes – tendem a desprezar realidades cristãs legítimas e a valorizar mitos anticristãos (ou mais precisamente anticatólicos). É mais ou menos como aquela história de “jogar fora a água suja da banheira juntamente com o bebê”…
O que posso então, como católico, dizer em resumo para você?
1) Jesus Cristo é, de fato, o ***único*** Mediador entre Deus e os homens pois, se não o fosse, também jamais poderia se operar a redenção do gênero humano mediante o seu Sacrifício cruento na Cruz (cf. 1Timóteo 2,5; Hebreus 9,15; 12,24).
2) Apesar de somente Deus ser “o Santo” por excelência, dada a sua perfeição infinita, Ele mesmo nos chama à santidade, dizendo, no Antigo Testamento: “Sede santos como Eu sou Santo”; o que é reafirmado por seu Filho Jesus, já no Novo Testamento: “Sede santos como o vosso Pai é Santo” (cf. Levítico 19,2; 20,7; Mateus 5,48; 1Pedro 1,15-16).
3) Todos os santos (no céu ou na terra) só podem ser assim considerados porque ***sempre*** apontam para Jesus, não apenas em suas obras, mas também por sua fé. Maria, aliás, foi quem melhor expressou essa verdade ao dizer: “Fazei tudo o que Ele (=Jesus) vos disser” (cf. João 2,5; 1Coríntios 3,5-6.22).
4) Já que os santos (inclusive Maria) apontam para Cristo, são então ***Cristocêntricos*** e, consequentemente, amigos íntimos do Senhor. Isto quer dizer que:
a) Suas vidas são (nesta terra, enquanto vivem) e estarão (inclusive no céu, onde continuam a viver, já que Deus não é Deus de mortos mas de vivos) ***sempre*** a serviço do Senhor e dos irmãos (cf. Mateus 22,32; Lucas 20,38; Apocalipse 7,13-16).
b) Suas virtudes, heroísmos, sofrimentos, ensinamentos, etc. servem de exemplo e exortação de coragem para todos nós que aqui estamos como peregrinos nesta terra e possuímos a mesmíssima natureza que eles, sofrendo dos mesmíssimos problemas, males e tentações (cf. 2Coríntios 9,2c; Filipenses 3,17; 2Tessalonicenses 3,9; 1Timóteo 1,16).
c) Suas orações de intercessão por aqueles que pedem o auxílio deles (pois obviamente são irmãos de Fé e também estiveram nesta terra sob o jugo do pecado), podem ser ouvidas por Deus, a Quem cabe de fato apreciar e conceder ou não a graça a quem originariamente pediu. Se a oração do justo na terra é eficaz, o que se pode dizer das orações dos justos que já vivem face a face com o Senhor? (cf. Efésios 6,18; 1Tessalonicenses 5,25; Tiago 5,16; Apocalipse 5,9-11; 7,13-16)
4) As imagens dos santos – quer em desenhos (2D), quer em esculturas (3D) – representam plasticamente não apenas a aparência física dos respectivos protótipos, mas chamam especialmente a atenção para outras realidades materiais ou espirituais de suas vidas cristãs, de modo que apontam, em última análise, para o próprio Cristo e o seu Reino (cf. Números 21,8-9; João 3,14-15).
5) Por tudo, a veneração (=respeito, homenagem, estima) que os católicos prestam aos santos e às suas imagens em nada ofende a Deus (a quem prestamos a devida ***adoração***, em especial através da Santa Missa) e nem diminui o poder, a honra e a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, para quem – como vimos – todos os santos com grande alegria e segurança apontam. Como disse, são reconhecidamente exemplos para todos nós, cristãos (cf. 2Coríntios 9,2c; Filipenses 3,17; 2Tessalonicenses 3,9; 1Timóteo 1,16).
6) É mandamento do Senhor “amar a Deus e ao próximo como a si mesmo”, de modo que não é possível realmente amarmos a Deus desprezando, afastando ou desvalorizando os seus santos, que O amaram em todos os sentidos e em grau perfeitíssimo, tendo muitos dado a própria vida pelo Reino e por amor a Ele. Logo, amamos o Deus Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, em grau infinito e apenas Ele, mediante adoração (=latria); e amamos também os santos, as mais belas criaturas de Deus, seus servos, mediante veneração (=dulia). Cf. Mateus 22,36-40; 25,21.23; Marcos 12,30-31; Lucas 10,27; Romanos 13,9b; Gálatas 5,14; Tiago 2,8; 1João 4,20; Apocalipse 12,11.
Para terminar, gostaria de observar que Deus – ainda que de fato não precisasse – em sua infinita bondade e misericórdia ***sempre*** quis “precisar” dos homens, até mesmo para nos dar… a Bíblia!!! Ora, como Deus quer oferecer a salvação para todos os homens, em todas as épocas Ele suscitou homens santos, separando-os do mundano (conforme nos aponta as Escrituras e toda a História da Igreja), para que preparassem a vinda do Senhor (no AT) e, após isso (já no NT e na Igreja), para que sempre nos apontassem Jesus, nosso único Salvador.
Espero tê-lo esclarecido.
Que o Senhor te abençoe!
Carlos Nabeto