A paciência evangélica

O célebre conselho de Jesus “pela vossa paciência salvareis as vossas almas” ( Lc 5,19) significa que o seu verdadeiro seguidor possui uma perseverança tranqüila. Esta atitude do cristão inclui, portanto, vários componentes como a constância, a firmeza, a persistência, a resistência ao mal. Tudo isto tem como fundamento último a esperança, qual, no dizer do Apóstolo Paulo, não decepciona (Rm 5,5).

A carta aos hebreus ensina: ” Porque vos é necessária a paciência, para que fazendo a vontade de Deus alcanceis a promessa”, isto é, a recompensa eterna (Hb 10,36) . São Tiago explica: ” E a paciência faz obras perfeitas, a fim de que sejais perfeitos e completos não faltando em coisa alguma” (Tg 1,4).

Aliás, Jesus na belíssima parábola do semeador afirmou: que a semente que caiu em boa terra, “representa aqueles que, ouvindo a palavra com coração bom e perfeito, a retêm, e dão fruto pela paciência” (Lc 8, 15).

Cumpre ter paciência “nas tribulações, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nos cárceres, nas sedições, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns: (2 Cor 6, 4-5). É esta virtude que leva a suportar os outros por caridade (Ef 4,2).

É pela paciência que a vida de Cristo se manifesta na existência do batizado , dado que Ele foi o mestre paciente, sobretudo, nos momentos de sua Paixão e Morte. Perante aqueles que aborrecem e irritam, o discípulo de Cristo, desejando perseverar no bem, se lembra que “mais vale um homem paciente do que um herói; umvencedor de si próprio mais do que um conquistador de cidades” (Pv 165,32).

Há até aquele que deseja, num instante de arrebatamento, ser mártir, mas se esquece de que é muito maior testemunho suportar com paciência as provações que Deus envia a cada hora. Além disto, somente aquele que souber entre os desgostos e desconsolações cumprir sempre com perfeição o seu dever, será capaz das empresas mais arrojadas.

A paciência é a chave que abre todas as portas do céu e da terra e é o remédio para todos os males. Traz, com efeito, consigo aquela imperturbabilidade que atalha doenças, aborrecimentos e outras distorções psíquicas. O paciente sabe plantar e esperar a colheita. Para ele a tempestade há de ceder sempre lugar à bonança. É que não há caminho excessivamente longo para quem marcha lentamente, sem se apressar. Não há vantagens muito distantes para quem se prepara para as aguardar com paciência.

De fato, tudo chega a seu tempo para quem sabe esperar. O segredo das grandes vitórias está não em começar, mas em perseverar. Todo ser humano acha-se sujeito a mudanças, quer queira, quer não. Ora triste, ora alegre; umas vezes sossegado, outras inquieto; hoje fervoroso, amanhã displicente; já ativo, já indolente; muitas vezes sério, outras tantas leviano.

Acima destas vicissitudes se coloca o paciente. Não considera o que sente, nem o vento que sopra de fora, mas estabelece em Jesus toda sua força e transforma os espinhos da vida em pérolas preciosa, depositando-as no tesouro celeste.

Dificuldades que pareciam intransponíveis ficam superadas facilmente pela constância parturejada pela paciência. É preciso, além do mais, ter consciência de que a paciência de Deus para com os pecadores jamais se confundiu com fraqueza. Trata-se de um chamamento à conversão. Lê-se no profeta Joel: “Retornai a Javé, vosso Deus, pois ele é ternura e piedade, tardo na ira rico em graça …” (Joel 2,13).

A conclusão deve ser esta: enquanto dura o momento da paciência de Deus e de seu apelo, os homens devem escutar a palavra divina, inspirar-se no exemplo do Pai bondoso que está nos céus, se esforçar para entrar no repouso divino (Hb 3,7-4,11) e nunca se apoquentar, se aborrecer com grandes ou pequenas coisas, se impacientando.

Por tudo isto é que ser paciente é ser salvo e é impossível ser salvo sem ser paciente.

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