A Reencarnação de Bridey Murphy

– “O famoso caso de Bridey Murphy constitui um dos indícios mais verossímeis de que há reencarnação: em transe a paciente terá narrado os fatos ocorridos em sua vida anterior, fatos devidamente comprovados por uma comissão de peritos” (RAIMUNDO – Teresina-PI; F. CH. – Promissão-SP).

Que dizer a propósito?

O caso de Bridey Murphy tornou-se famoso no mundo inteiro, sendo que no Brasil um livro do mesmo nome se encarregou de o divulgar. Foi, durante algum tempo, tido como uma das provas mais retumbantes do «fato» da reencarnação. Acontece, porém, que os cientistas, estudando o episódio após a sua divulgação, se viram obrigados a dar ao relato um sentido bem diverso do que se lhe atribuía… Ora esse ulterior pronunciamento da ciência não é devidamente conhecido, ficando em consequência muitas pessoas mal informadas sobre o assunto. É o que torna oportuno um esclarecimento sobre o caso.

Procuraremos primeiramente reconstituir a trama do episódio; depois, passaremos à sua autêntica interpretação.

1. O relato do caso

Aos 29 de novembro de 1952, Morey Bernstein, honrado homem de negócios de Pueblo (Colorado) nos Estados Unidos, deu início a uma série de experiências de hipnotismo que o haviam de levar a resultados totalmente imprevistos. Serviu-lhe de paciente a Sra. Virgínia Tighe (que no livro citado recebeu o pseudônimo de «Ruth Simmons»), pessoa muito sensível às influências do hipnotismo.

Que se terá dado propriamente?

Depois de haver colocado a Sra. Ruth Simmons em estado de profundo sono hipnótico, Bernstein ligou o seu gravador a fim de fixar fielmente a trama do diálogo que ele estava para empreender com a paciente. A seguir, começou a sugerir-lhe regressão no tempo, levando-a a descrever episódios ocorridos aos seus sete anos de idade, aos cinco, aos três… Depois de haver feito Ruth atingir a idade de um ano, pediu-lhe retrocedesse para tempos ainda mais remotos, desse «o grande salto», e se esforçasse por descrever os locais e as cenas correspondentes a uma vida anteriormente passada aqui na terra (destarte Bernstein queria tentar uma experiência que ele mesmo nunca fizera, mas que ele sabia já ter sido realizada por médicos, psiquiatras, engenheiros e outros técnicos do hipnotismo).

Ruth, de fato, rendeu-se à intimação e pôs-se a contar uma história nova, que ela foi desenvolvendo em sucessivas sessões de hipnotismo, até completá-la; entrementes, Bernstein e os demais observadores se admiravam grandemente: Bridey Murphy (assim se teria ela chamado nessa vida anterior) haveria nascido em Cork, na Irlanda, aos 20 de dezembro de 1798, como filha do casal Duncan Murphy, advogado, e Kathleen Murphy. Habitavam em uma casa de madeira. Aos 17 anos de idade, conheceu o filho do advogado John MacCarthy, o jovem Brian MacCarthy, com o qual se casou mais tarde, indo ambos residir em Belfast; moravam perto de Dooley Road, numa pequena mansão frequentemente visitada pelo Pe. John Goran, da igreja de Santa Teresa. Bridey comprazia-se então em tocar lira, dançar o bailado irlandês chamado «jiga matinal» e jogar cartas (o jogo dito «da fantasia»). Seu marido lecionava Direito na «Queen’s University» de Belfast e escrevia para o periódico «News-Letter» dessa cidade; Bridey lembrava-se muito bem de que comprava sua roupa na loja «Cadenns House». Enquanto falava, a paciente tomava sotaque genuinamente irlandês, usava de expressões raras e típicas da Irlanda, de modo a não deixar dúvida de que realmente estava revivendo episódios históricos. Finalmente narrou a sua morte, ocasionada por um tombo; descreveu outrossim os seus funerais e a sua existência subsequente no «astral», após a qual se teria de novo encarnado no ano de 1923 nos Estados Unidos da América.

À guisa de ilustração, transcrevemos aqui um dos trechos finais do diálogo de Bernstein com Bridey Murphy:

«— Prossigamos até o tempo de sua morte… Você disse que assistiu aos seus próprios funerais. Viu como a enterravam. Não é?
— É.
— Bem. Se se lembra disso, deve lembrar-se também do ano em que morreu. Talvez o tivessem marcado na cova ou numa lápide ou onde se costuma fazer. Provavelmente presenciou isso. Em que ano foi?
— Foi… em mil oitocentos… uhmmm… mil… um-oito-seis…quatro.
— Um-oito-seis-quatro?
— Estava na lápide… um-oito… creio… Vi um-oito-seis-quatro (1864).
— Está vendo a lápide agora?
— Estou.
— Que diz ela? Leia tudo o que está escrito, além dos números. Que está escrito?
— Ah… Bridget… Kathleen.. uhmmm… M… MacCarthy…
— Talvez os primeiros números lhe possam dizer quando nasceu.
— Um… sete… nove… oito.
— Bem. Agora, que dizem os outros números?
(Nesse ponto ela fez um movimento com a mão, ao dizer «Há um traço»).
— Um… Há um traço… um traço e depois… um-oito-seis e quatro.
— Está certo. Esqueçamos isso. Descanse e relaxe o corpo.»

Tão minuciosas e verossímeis eram as informações fornecidas por Bridey Murphy a respeito da sua «pré-vida» que os observadores se impressionaram. Resolveram então enviar à Irlanda uma comissão de repórteres e peritos encarregados de examinar até que ponto tais notícias podiam corresponder à realidade; os resultados do inquérito deram a ver que, ao lado de elementos imprecisos ou incoerentes, Bridey havia referido muitos dados que, de fato, eram fiéis à realidade.

À guisa de espécimes, citamos aqui os seguintes tópicos:

– Bridey: Teria nascido em Cork no dia 20 de dezembro de 1798, e morrido em Belfast num domingo do ano de 1864.
– Realidade: Os registros irlandeses de nascimentos não são anteriores ao ano de 1864; nenhum deles refere nascimento ou morto de nome Bridey Murphy. Também não se encontrou diretório da cidade de Cork que mencionasse a sua família. Poder-se-ia supor que, como esposa de um advogado, tivesse deixado um testamento, coisa da qual não foi encontrado vestígio. Nem a imprensa de Belfast noticiou a morte de Mrs. Bridey MacCarthy em 1864.

– Bridey: Raspei toda a pintura de minha cama… de metal, quando tinha 4 anos [1802].
– Realidade: Antes de 1850 não se usavam camas de metal na Irlanda.

– Bridey: Como criança, teria feito uma excursão a Antrim. «Aí há alcantis. A água corre, as águas dos riachos correm rápidas e formam redemoinhos… quando chegam ao mar… Os alcantis são realmente brancos».
– Realidade: Descrição notavelmente exata.

– Bridey: Ter-se-ia casado com Sean Brian MacCarthy.
– Realidade: Brian é o segundo nome do esposo atual de Virgínia Tighe (ou «Ruth Simmons»).

– Bridey: Brian teria sido professor de Direito na «Queen’s University» de Belfast e haveria escrito alguns artigos para o «News-Letter» dessa cidade.
– Realidade: A «Queen’s University» só foi fundada em 1908; desde 1849 havia, sim, um «Queen’s College» em Belfast, mas nenhuma Faculdade de Direito. Quanto ao «News-Letter» de Belfast, existiu, mas em seus arquivos não se encontra artigo algum de Brian.

– Bridey: Muitas vezes preparava para Brian «um bom prato irlandês»: um cozido de carne de vaca e cebolas.
– Realidade: Tal prato só nos últimos cinquenta anos é comum na Irlanda; anteriormente, a alimentação típica se preparava com toucinho e couve.

– Bridey: Teria morado perto de Dooley Road. «Eu frequentava a igreja de Santa Teresa… na rua principal… quase na esquina de Dooley Road».
– Realidade: Segundo John Bebbington, bibliotecário de Belfast, nunca existiu nessa cidade uma dita «Dooley Road»; quanto à igreja de Santa Teresa, data de 1911.

– Bridey: Haveria comprado sua roupa no «Caddens House»; recordava-se até de ter pago certa vez uma libra e seis pences por uma camisola.
– Realidade: Não se descobriu vestígio do «Caddens House»; na época pressuposta seria acontecimento muito estranho vender-se uma camisola por preço tão elevado.

– Bridey: Referindo-se aos seus conhecimentos musicais, declarou que tocava a lira.
– Realidade: Richard Hayward, conceituado harpista irlandês, assegura que a lira nunca foi conhecida na Irlanda.

– Bridey: Interrogada acerca dos nomes de algumas companhias de Belfast, declarou: «Havia uma grande companhia de tecelagem. Sim, uma tabacaria…».
– Realidade: Com efeito, uma das mais importantes fábricas de cigarros de Belfast, Murray Sons and Company, foi fundada em 1805; a «Belfast Ropework Company», constituída em 1876, formou-se de pequenas empresas que já tinham muitos anos de existência.

Depois de feitas as pesquisas na Irlanda, Bernstein houve por bem publicar o relato de suas experiências com o enredo completo narrado por Bridey Murphy. Para o operador e para a grande maioria de seus leitores, o caso parecia constituir um dos mais lúcidos argumentos em favor da doutrina da reencarnação. O livro de Bernstein («The Search for Bridey Murphy» [«Em busca de Bridey Murphy»]) propagou-se extraordinariamente: 170.500 exemplares foram vendidos em poucas semanas, dando ampla margem a comentários em jornais, revistas, rádio e televisão.

Em bom número de cidadãos norte-americanos acendeu-se então o desejo febril de devassar os limites do tempo presente e tomar conhecimento da respectiva vida anterior. A revista «Life», em sua edição espanhola de 9 de abril de 1956, noticiava que eram cada vez mais frequentes e populares as sessões de hipnotismo destinadas a revelar as encarnações anteriores dos pacientes. Os hipnotizadores, em anúncios de jornais, prometiam a cada cliente manifestar as respectivas existências anteriores à atual, mediante o pagamento de 25 dólares por cada encarnação desvendada.

Consta que por essa época em Shreveport (Luisiânia) um rapaz de 17 anos hipnotizou uma jovem, a qual conseguiu regressar dez mil anos de Sua existência!

Em Shawnee (Oklahoma) um mancebo de 19 anos, Richard Swirik, resolveu suicidar-se com um tiro, deixando a seguinte justificativa: «Sinto muita curiosidade acerca do relato Bridey Murphy; por conseguinte quero ir investigá-lo pessoalmente».

(Notícias colhidas na obra de Boaventura Kloppenburg, “O Reencarnacionismo no Brasil”. Petrópolis: Vozes, 1961, pp.152s).

Todavia, ao lado de tão entusiastas adeptos, havia também observadores e cientistas que mantinham suas reservas em torno do caso «Bridey Murphy». Sabiam que o hipnotismo, no decorrer da história, já apresentara semelhantes fenômenos de regresso à «encarnação anterior», fenômenos que podiam, sem dúvida alguma, ser explicados por impressões colhidas pelo paciente dentro dos trâmites mesmos da vida corrente. Sendo assim, puseram-se a pesquisar atentamente o currículo de vida juvenil de Virgínia Tighe e chegaram finalmente a uma explicação do caso bem diferente da preconizada (veja-se a respeito o pronunciamento de abalizada comissão de médicos e psicólogos que estudaram o caso na obra «A Scientific Report on ‘The Search for Bridey Murphy’», edited by Milton V. Kline — The Julian Press, Inc. New York, N. Y. 1956).

Mais precisamente, pergunta-se: que descobriram os estudiosos?

2. A genuína interpretação

Em Chicago o Rev. Wally White, pastor de um templo que Virgínia Tighe outrora frequentava, aplicou-se à análise cuidadosa das circunstâncias da juventude dessa paciente, conseguindo finalmente atingir as fontes de suas «revelações»…

Verificou, sim, que Virgínia, por muito tempo a partir dos seus sete anos de idade, habitara em Chicago, do outro lado da mesma rua em que residia uma senhora irlandesa denominada Bridie (não Bridey) Murphy Corkell; a jovem frequentava assiduamente a casa dessa pessoa, que oferecia ambiente tipicamente irlandês, onde Virgínia dançava a «jiga» e declamava poesias regionais da Irlanda, reproduzindo até mesmo a pronúncia e as expressões linguísticas dos habitantes desse país; Virgínia aos poucos tornou-se mais e mais interessada por quanto via e ouvia nesse meio irlandês, já que entrou em namoro com o filho de Bridie Murphy Corkell, chamado João (Sean, em irlandês regional); no seu pretenso enredo de encarnação anterior, «Bridey Murphy» chegava a dizer que se casara com Sean MacCarthy! … Ficou outrossim averiguado que aos sete anos de idade Virgínia raspara realmente a pintura de sua cama, e em consequência fora severamente punida (o que lhe causara, por certo, profunda impressão). Os peritos reconheceram igualmente que muitos nomes de pessoas e lugares da Irlanda, assim como certos episódios da vida na Irlanda descritos por Bridey Murphy no seu enredo, haviam sido manifestados a Virgínia pelo contato assíduo que a jovem tinha com a colônia irlandesa frequentadora da casa de Bridie Murphy Corkell. Assim puderam os estudiosos chegar à conclusão de que os pormenores, por vezes tão vivos e realistas, da «pré-vida» de Virgínia Tighe nada mais eram do que noções adquiridas pela paciente no decorrer mesmo da vida atual, tornando-se então inútil e arbitrária a explicação reencarnacionista.

A revista «Life» (edição inglesa) de 06/08/1956 encarregou-se da divulgação dos resultados dessas novas pesquisas sobre o caso de «Bridey Murphy», esclarecendo assim a opinião pública; o mesmo foi feito pelas «Seleções» no Brasil.

Em consequência, a comissão de médicos e psicólogos norte-americanos mencionados atrás exortava seriamente o público a não empreender nem tolerar a prática da hipnose a mero título de divertimento. Os hipnotizadores autodidatas ou amadores, ignorando o alcance da sua técnica, assim como a responsabilidade moral que sobre eles pesa, podem facilmente deformar a personalidade de alguém, incutindo-lhe atitudes mais ou menos permanentes de dupla personalidade, de devassidão moral, de desequilíbrio mental, etc.

Assim se desfez o sensacionalismo em torno do caso de Bridey Murphy. Resta agora acrescentar algumas palavras acerca dos…

3. Efeitos psicológicos da hipnose

É oportuno lembrar que habitualmente a pessoa humana só utiliza uma oitava parte (1/8) dos conhecimentos que ela adquiriu desde os seus primeiros anos de vida, ficando sete oitavas partes (7/8) das noções que ela de fato possui, latentes na sub-consciência. Ora a hipnose, tendo por efeito ligar as faculdades superiores (principalmente as regiões do cérebro) responsáveis pelo controle habitual da pessoa sobre si mesma, possibilita e provoca mesmo o emprego de conceitos habitualmente encerrados na subconsciência do paciente; tais conceitos, por não serem ordinariamente utilizados, uma vez trazidos à tona da consciência, fazem que o paciente se comporte de maneira nova, imprevista, dando por vezes a impressão de ser outra personalidade a desempenhar enredo dependente de épocas históricas e circunstâncias geográficas bem diferentes das habituais.

Acontece que todo indivíduo em estado hipnótico se torna particularmente dócil às sugestões explicitas ou implícitas do operador. Comporta-se como criança hiper-sugestionável, restaurando em si o funcionamento psicológico que lhe era normal em sua primeira infância. Em consequência, o paciente tende a associar entre si as figuras e representações (colhidas nesta vida mesma e guardadas na subconsciência) que correspondam às insinuações do hipnotizador, desde que tais insinuações não contrariem as convicções profundas da pessoa hipnotizada (em caso de contrariedade ou choque, ela seria de tal modo abalada que sairia do seu estado hipnótico). Em uma palavra, o paciente passa a aplicar todas as suas aptidões naturais ao desempenho do rol que o operador lhe proponha: a memória evoca recordações do passado, e a fantasia supre aquilo que a memória já não recorda.

Tal pessoa poderá então falar alguma língua estrangeira, língua que ela nunca aprendeu nem falou, mas que ela ouviu em seus anos de infância ou juventude (embora disto nem se lembre); subir-lhe-ão assim à consciência as impressões auditivas recebidas em remota época e encerradas na subconsciência até tal momento. Da mesma forma, a pessoa, caso seja pelo hipnotizador persuadida de ser poeta, poderá declamar poesias, apesar de não ter veia poética própria (estará reproduzindo ou combinando entre si versos percebidos anos atrás). Poderá outrossim fazer o papel de criança, com sua voz e seu comportamento característicos;… as vezes de ancião, a falar com pigarro, voz cansada e ritmo pausado, como se antecipasse sua própria velhice.

Dada a atitude de docilidade infantil em que a pessoa hipnotizada se acha, é assaz comum o retrocesso na idade: o paciente tende a identificar o hipnotizador com alguém que ele haja conhecido em sua infância;… descreve alguma festa de aniversário seu, mencionando pormenorizadamente as crianças que tenham comparecido, as brincadeiras e os jogos efetuados, os presentes recebidos, tudo como se o paciente estivesse vendo o que descreve e sentindo as respectivas emoções…

Sabe-se outrossim que os hipnotizados facilmente caem em estados de catalepsia (imobilidade) e insensibilidade. Ora estas duas propriedades caracterizam igualmente o bebê nos seus primeiros tempos; a criança recém-nascida, por exemplo, dorme espontaneamente com os punhos cerrados e os braços estendidos por cima da cabeça durante longo espaço de tempo. Essa imobilidade parece ser consequência remota da catalepsia em que o feto se encontra quando encerrado no seio materno. É a escassa sensibilidade do feto que lhe permite tolerar as compressões, leves contusões e operações cirúrgicas ocasionadas pelo parto e realizadas sem anestesia. Note-se outrossim que, no caso de Bridey Murphy, o Sr. Bernstein, após cada sessão, descrevia a Virgínia a maneira como ela reagira às sugestões hipnóticas e dava-lhe a ouvir suas respostas gravadas na respectiva fita. Isto só fazia excitar a fantasia da paciente, que naturalmente se via estimulada a associar as suas reminiscências, a fim de continuar de maneira interessante o enredo iniciado. Bernstein, por vias diversas, não deixava de sugerir a Virgínia o que ele esperava; assim logo no início das experiências, tendo-a feito regredir até a primeira infância, intimou-lhe: «Quero que sua mente retroceda mais e mais… Há em sua memória outras cenas, de terras distantes e lugares longínquos. Você poderá falar-me delas e responder às minhas perguntas».

A provocação de tal rebordosa no íntimo da personalidade não pode deixar de ser perigosa, como notávamos atrás. Eis, a propósito, o depoimento do Dr. Walter C. Alvarez, da Clinica Mayo Rochester, Minn., dos Estados Unidos:

– «O hipnotismo, sobretudo quando praticado a título de diversão, no palco ou na televisão, pode ter efeitos desastrosos. Já citei o caso de uma jovem que, completamente ’embeiçada’ pelo homem que a hipnotizara, começou a segui-lo por todo o país, dando-lhe quanto dinheiro conseguia apanhar. A família ficou desesperada, mas não conseguiu chamá-la à razão. Em outro caso semelhante, a família de uma jovem hipnotizada num ‘show’ de televisão informa-me que, cinco meses depois, ela continua andando como que em transe. Está completamente mudada. Era alegre, normal, com personalidade maravilhosa, grande vitalidade e muita afeição pela família. Agora parece ter-se voltado contra esta: mostra-se ‘encrenqueira’ e difícil; age como se estivesse sempre temerosa de algo, sem saber de quê. Por sua vez, um jovem, altamente inteligente e dotado, mas sempre um tanto excêntrico, diz-me que, desde que foi hipnotizado — de brincadeira — por um leigo alguns anos atrás, nunca mais se sentiu o mesmo. O hipnotizador meteu-lhe na cabeça umas idéias que desde então o perturbam, forçando-o a proceder de maneira desagradável para si mesmo. Tem passado estes anos em mãos de psiquiatras, que em vão tentaram vencer tais compulsões».

A Moral cristã não ignora os efeitos benéficos ou terapêuticos que a hipnose pode exercer sobre certos pacientes. Por isto reconhece a legitimidade de sua aplicação desde que:

– Haja evidente indicação médica;
– Seja o operador idôneo na sua técnica e dotado de consciência moral íntegra;
– Esteja presente uma ou outra testemunha que garanta a honestidade do tratamento e possa dissipar qualquer dúvida a respeito do mesmo.

  • Fonte: Revista Pergunte e Responderemos nº 049 – Janeiro/1962.
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