A Campanha da Fraternidade de 2008 começou na Quarta-Feira de Cinzas e já alguns setores da nossa sociedade a qualificaram de campanha polêmica.
O objetivo principal dessa Campanha é a defesa da vida humana o que inclui todos os seus momentos: aqueles que naturalmente são muito frágeis, como são os da concepção da pessoa, dos primeiros anos da infância, de doenças, especialmente as que são incuráveis, etc., e também aqueles outros onde as pessoas estão expostas e vulneráveis, tais como, possíveis acidentes de trabalho, as balas perdidas, a violência urbana, etc.
Promover e defender a vida humana e afastar dela tudo que a agrida e a maltrate, até o ponto de usurpar das pessoas este dom incalculável e sagrado, é o mais sensato numa família e numa sociedade sadias. Causa, portanto, perplexidade verificar que há associações e instituições que estão usando a palavra polêmica, talvez considerando-a apenas no sentido de polemizar, de debater um tema dentro de uma sociedade pluralista.
Sempre é útil ir às raízes de uma palavra para poder compreendê-la e poder dialogar com posições diferentes acerca de um tema em debate. Nesse sentido ajuda muito o conhecimento etimológico dos termos, e sobre a polêmica impressiona ler que vindo do grego pólemos tal qualificação acima mencionada fale-nos de guerra.
A quem interessa provocar uma guerra em torno da vida num mundo já tão violento?
Certamente não é a CNBB com a escolha do tema da defesa da vida para se viver a Campanha da Fraternidade durante a Quaresma desse ano. Com o lema extraído da Bíblia, do livro do Deuteronômio -“Escolhe, pois, a Vida”- os Bispos do Brasil vão ao encontro dos brasileiros que estão há vários anos rejeitando a violência, a existência de tantas mortes de crianças e jovens, com um grito bem expressivo: BASTA!
Entretanto há alguns grupos de pessoas, uns vindos do exterior do nosso país, outros presentes dentro das nossas fronteiras, que não só querem silenciar esse grito, como também pretendem abrir campos de batalha para as mortes continuarem. Mas quem são e por que têm esses objetivos?
São tantos e agem por motivos tão diversos que seria exaustiva a relação de todos para responder a esta questão. Querem, porém, polemizar organismos internacionais de crédito, em especial a Agencia Internacional para o Desenvolvimento (USAID), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, que condicionam as suas ajudas econômicas ao cumprimento de metas demográfica pautadas em cada empréstimo. Outros organismos são dependentes das Nações Unidas, principalmente a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para Atividades em População (FNUAP), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), entre outros setores da ONU, que supervisionam os programas financiados destinados à saúde reprodutiva e à implantação do planejamento familiar a partir da distribuição de pílulas e preservativos através do Ministério e das Secretarias de Saúde do Brasil.
Há também grupos de parlamentares internacionais, verdadeiros “lobistas” integrados por legisladores e ex-legisladores dos países que pretendem impor no mundo, especialmente no Terceiro Mundo, políticas de controle populacional e a liberação do aborto. A Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF) com suas 178 filiais espalhadas pelos cinco continentes é uma entidade de utilidade pública que vai abrindo pelos vários países onde atua clínicas onde se realiza todo tipo de atividade contraceptiva, incluindo o aborto e esterilizações se a legislação do país permite, caso contrário lutam -pólemos-, travam verdadeiras guerras para que seja descriminalizado o aborto e se imponha a esterilização nos hospitais públicos.
Os motivos vão desde razões geopolíticas dos países do hemisfério Norte até objetivos puramente econômicos, já que matar gente tornou-se, infelizmente, uma forma lucrativa de ganhar a vida: basta considerar os altos lucros da industria de armamentos e dos grandes laboratórios estrangeiros.
Um advogado argentino, Jorge Scala, corajoso defensor da vida e da família, escreveu um livro onde se aprofunda mais nesses grupos interessados em guerrear contra a vida humana, e o seu título é: “IPPF: a multinacional da morte”, edição 2004.
O que deixa o povo brasileiro muito perplexo e bastante confuso é ver incluída nessa relação de polemistas ou criadores da guerra contra a vida pessoas que se dizem católicas, independentes da hierarquia da Igreja fundada por Jesus Cristo, e que nasceram da organização não governamental americana (CFFD, ou seja, Catholics for a Free Choice).
As Católicas pelo Direito de Decidir tem como finalidade convencer legisladores, meios de comunicação e católicos pouco formados de que pode existir uma chamada filosofia católica em favor da escolha da morte. É bom saber que a primeira sede da CFFD, em Nova York, foi nas dependências da Federação Americana para a Planificação (PPFA), proprietária da maior cadeia de clínicas abortivas da América do Norte.
Esta organização de mulheres instituiu na América Latina o Comitê de coordenação para a promoção do aborto nos países onde a maioria da população é católica e cristã. O financiamento que ela utiliza procede de mais de 95% das entradas das fundações internacionais de controle populacional (por exemplo, a Ford Foundation, a Turner Foundation, a General Service Foundation, entre outras), que lhe renderam mais de 28 milhões de dólares nessas últimas três décadas. A maior parte desse dinheiro foi destinado a atividades em favor do aborto livre, seguro e legal, da distribuição de pílulas anticoncepcionais de todos os tipos, ao favorecimento das tecnologias de reprodução artificial, e outros objetivos que envolvem a vida e a família, em todos os países latino-americanos e caribenhos.
Tudo que a Igreja Católica faz no Brasil e na América Latina em favor da vida e da família, tudo que seja valorização da dignidade humana, do papel da mulher no lar, no campo da educação, nas políticas públicas de saúde, tudo que seja formação da afetividade e da sexualidade humana, partindo das leis da natureza e da doutrina presente na Bíblia, recebe, por parte dessas católicas o rótulo de polêmico, de equivocado e de fundamentalista.
Acontece que para haver uma guerra é preciso ter um adversário e um campo de luta, e nem uma coisa nem outra quer a Igreja Católica, nem a sua hierarquia nem o povo católico do Brasil e das Américas, e o exemplo de Jesus Cristo foi muito claro nesse sentido, quando se apresentou a ocasião de se iniciar uma batalha entre os soldados que vieram prendê-lo e Pedro. “Guarda a espada na bainha”, ordenou Jesus a Pedro quando este decepou a orelha de um soldado, já que Ele não aceitou jamais a defesa do bem e da verdade utilizando-se da violência.
Não se quer defender a vida humana com armas violentas, sejam elas discussões, debates acalorados, ridicularizações, mentiras, “lobbies”, legislações impostas por grupos interesseiros, mas com Amor e com o perdão a quem ataca a Igreja, com o diálogo respeitoso onde se quer chegar à verdade e com a intenção de se criar um país sobre a base da paz e da justiça.
Dom Antonio Augusto Dias Duarte
Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro