AMAR-SE COM O AMOR SOBRENATURAL QUE VEM DE DEUS

O Código de Direito Canônico da Igreja, ao conceituar o matrimônio diz: ´A aliança matrimonial pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão da vida toda, é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à geração e educação da prole, e foi elevada, entre os batizados, à dignidade de sacramento, por Cristo Senhor´ (CDC, cân.1055,1). A História Sagrada é uma contínua procura de Deus pelo homem, para celebrar uma Aliança com ele. Por isso ´aliança´ é uma palavra chave para se compreender as Escrituras, que descrevem as duas Alianças, uma mostrada pelo Antigo Testamento, celebradas com Adão, Noé, Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Josué, os Juizes, os Reis,…e a outra, mostrada no Novo Testamento, celebrada em Jesus Cristo, Nova e Eterna. Não é apenas a Igreja universal que é a Esposa de Cristo; mas também as igrejas particulares; e, de modo especial, a família, como diziam já os Santos Padres, ´igreja doméstica´.

?A própria família é o grande mistério de Deus. Como ?Igreja doméstica?, ela é a ?esposa de Cristo?… Somente se tomam parte em tal amor e nesse ?grande mistério?, é que os esposos podem amar ?até o fim?…?(Carta às Famílias,19). Ora, quando nós casados colocamos uma aliança no dedo, isto quer sinalizar aqui na terra esta eterna Aliança que Deus quer com o homem. Daí vem toda a profundidade teológica do sacramento do matrimônio. Quando ele é celebrado entre batizados, Cristo se insere na vida do casal para ajuda-los a reproduzir em suas vidas a mesma unidade e amor da Sua Aliança com a Igreja.

Assim se expressa o Papa João Paulo II, sobre este grande mistério: ?… o matrimônio dos batizados torna-se assim o símbolo real da Nova e Eterna Aliança, decretada no Sangue de Cristo? (FC, 13). É muito importante notar que a Escritura abre-se com a criação do casal humano, chamados a serem ?uma só carne?, e fecha-se com as núpcias do Cordeiro com a Igreja. ?Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe glória, porque se aproximam as núpcias do Cordeiro. Sua Esposa está preparada. Foi-lhe dado revestir-se de linho puríssimo e resplandecente. (…) Escreve: ?Felizes os convidados para a ceia das núpcias do Cordeiro?? (Ap 19,7´9). Assim será o fim da história da humanidade. Ora, Deus quer que em cada casal este mistério seja representado e vivido através do casamento. ?É grande este mistério?; por isso, cada casal cristão deve viver a sua vida conjugal e familiar nesta altíssima vocação a que foi chamado. Na vida de cada casal se concentra a história do amor de Deus por nós, e o amor de cada casal deve ser testemunho disto ao mundo. O Catecismo da Igreja diz que ?de um extremo ao outro, a Escritura fala do casamento e do seu ?mistério?, de sua instituição e do sentido que lhe foi dado por Deus, da sua origem e do seu fim, das suas diversas realizações ao longo da história da salvação, de suas dificuldades provenientes do pecado e de sua renovação ?no Senhor?, na nova aliança de Cristo e da Igreja? (CIC, 1602).

Por causa do pecado original, o casamento foi afetado na sua harmonia; por isso Cristo o renovou transformando-o em sacramento. Por isso, São Paulo exigia que fosse realizado ?no Senhor?: ?A mulher está ligada ao seu marido enquanto ele viver. Mas se morrer o marido, ela fica livre e poderá casar-se com quem quiser, contanto que seja no Senhor? (1Cor7,39). Este ?casar-se…no Senhor?, a Igreja interpreta como unir-se em casamento somente através do sacramento do matrimônio, a fim de participar das bênçãos do Senhor. Lamentavelmente, mesmo entre católicos, há muitos que se casam apenas diante do juiz, como se o sacramento fosse apenas uma mera tradição vazia dos seus pais. Que engano! Não casar-se na Igreja, é não casar-se no Senhor; isto é, não contar com a sua presença na vida conjugal. As desordens no casamento provêm do pecado, e para vencê-lo é preciso o auxílio da graça de Deus. Ora, o sacramento do matrimônio é uma ?graça especial? para os casais poderem vencer as dificuldades do relacionamento conjugal.

Para curar as feridas do pecado no casamento (egoísmo, dominação, impaciência, orgulho, etc.), e chegar à unidade de vida que Deus deseja, desde ?o princípio? , é preciso a graça de Deus. Jesus veio restabelecer a ordem inicial da criação, que o pecado abalou; por isso, Ele mesmo, pelo Matrimônio, dá ao casal a força e a graça para viver o casamento em nova dimensão, sem que as exigências cristãs se tornem um fardo pesado e impossível de ser carregado. Sem a graça do Sacramento, o que Cristo exige do casal (fidelidade, indissolubilidade, fecundidade, unidade, etc.) acaba se transformando em um peso insuportável para muitos.

O próprio Senhor disse claro: ?Sem Mim nada podeis fazer?(Jo15,5).

O salmista já tinha experimentado o mesmo:
?Se não é Deus que constrói a casa, em vão trabalham os seus construtores? (Sl 126,1).

Sem a graça de Deus, a presença do próprio Senhor, que acontece pelo Sacramento do Matrimônio, o casal não consegue enfrentar as dificuldades que fazem o casamento ruir. Eis porque são tantas as separações. Muitos, ao se casarem, jogaram a graça de Deus pela janela.

A Gaudium et Spes diz bem claro:

?Como outrora Deus tomou a iniciativa do pacto de amor e fidelidade com seu povo, assim agora o Salvador e o Esposo da Igreja vem ao encontro dos cônjuges cristãos pelo sacramento do Matrimônio? (GS,48).

Permanecendo com o casal, Cristo dá-lhe a força de segui-Lo, de levar a cruz de cada dia, de levantar-se após a queda, de perdoarem-se mutuamente, de ajudar o outro a carregar o fardo e, sobretudo, de amarem-se com o amor sobrenatural que vem de Deus. Assim, as alegrias do amor do casal e dos filhos, faz com que a família, por Cristo, sinta já, aqui na terra, um antegozo do festim das núpcias do Cordeiro.

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