Amazônia: evangelização ou mero diálogo?

  • Autor: Ernesto Juliá
  • Fonte: http://www.infocatolica.com/?t=opinion&cod=35752
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

É cada dia maior o número de vozes que se elevam para indicar os perigos e desvios da boa doutrina católica já em ação nos documentos preparados para canalizar e direcionar as intervenções no próximo Sínodo da Amazônia.

A essas vozes de cardeais, bispos e teólogos se uniu a voz de Thomas Stark, professor de filosofia da Universidade Austríaca de St. Pölten, que enfatiza que faz pouco sentido considerar a Amazônia como “um lugar teológico”, isto é, um lugar onde de alguma forma podemos descobrir a Revelação de Deus para os homens.

É verdade que o Concílio Vaticano II disse que em algumas religiões não-cristãs é possível encontrar “um raio de verdade que ilumina todos os homens”, mas ao mesmo tempo, teólogos bons e sérios, como Marie-Joseph Nicolas, apontam que “não é possível ver nessas religiões uma revelação divina propriamente dita, que teria assumido formas diferentes, irredutíveis umas às outras”.

Podemos descobrir uma revelação do amor de Deus em lugares onde ocorre o infanticídio e a vida da pessoa humana mal é respeitada? Pode-se dizer realmente que na Amazônia são manifestadas as carícias de Deus que se encarna na história?

Em contraste com essa disposição que o “Instrumentum Laboris” deseja transmitir, caíram em minhas mãos os catecismos aprovados no 3° Concílio Provincial de Lima, realizado em 1583, preparados para a evangelização dos índios. O fruto dessa evangelização encontra-se à vista de todos: a palavra de Deus e a verdade de Cristo alcançou os últimos rincões do continente; homens e mulheres de fala hispânica da América já se encontram nos altares; e tantas famílias nestes países dão um testemunho de Cristo em todos os cantos da terra.

Os missionários que seguiram Colombo, Fernão Cortez, Pizarro etc., etc., não aprenderam com as culturas indígenas como tratar melhor a natureza, nem como resolver a dívida ecológica, nem ainda como melhorar seu relacionamento com o meio ambiente. Eles foram anunciar a Verdade e a Luz de Cristo, que dariam a todos a capacidade de descobrir o sentido divino de suas vidas, de seus trabalhos, da alegria de trabalhar pelo bem dos outros e da esperança de desfrutar do Céu, da Vida Eterna, porque os levariam a descobrir o amor de Deus que queria que eles fossem seus filhos em Cristo Jesus.

Copio quase todo o breve catecismo que esse Concílio preparou para “os rudes e ocupados”, na linguagem da época e que me limitei a passar para o espanhol atual:

Diga-me, existe Deus?
– Sim, padre, Deus existe.
Quantos deuses existem?
– Um; não mais.
Onde está esse Deus?
– No céu, na terra e em toda parte.
Quem é Deus?
– É o Pai e o Filho e o Espírito Santo: existem três pessoas e um Deus.
(…)
Mas o sol, a lua, estrelas, luzeiros, raios não são Deus?
– Nada disso é Deus, mas eles são criações de Deus, que criou o céu e a terra e tudo o que neles existe, para o bem do homem.
Qual é o bem do homem?
– Conhecer a Deus e alcançar sua graça e amizade, e desfrutar Dele após a vida, no céu.
Como o homem alcança a graça de Deus nesta vida e depois a vida eterna no céu?
– Crendo em Jesus Cristo e cumprindo a lei.
Quem é Jesus Cristo?
– Ele é Deus e verdadeiro homem; sendo o Filho de Deus, tornou-se homem no ventre da Virgem Maria e nasceu, deixando ela virgem, e morreu na cruz para libertar os homens do pecado.
E como morreu se era Deus?
-Ele morreu como homem; e então no terceiro dia ressuscitou; e então subiu ao céu e vive e reina para sempre eternamente.
Diga-me agora: já que Cristo morreu por todos, todos os homens são salvos?
– Os que não creem em Jesus Cristo e os que, apesar de terem fé, não têm obras, nem guardam a lei, não são salvos: serão condenados às penas eternas do inferno
(…)
Diga-me: os maus que pecaram, têm algum remédio para não serem condenados?
– Se não forem batizados, o único remédio é tornarem-se cristãos, filhos de Deus e da Igreja, pelo batismo.
(…)
E se eles são batizados e pecaram novamente, o que devem fazer para evitar serem condenados?
– Devem confessar os pecados ao sacerdote, arrependendo-se deles.
E fazendo isso, serão salvos?
– Sim, serão se permanecerem no cumprimento dos mandamentos de Deus e da Santa Igreja, que são: amar a Deus acima de todas as coisas e ao seu próximo como a si mesmo”.

Os missionários falaram claramente de Deus, Criador e Pai, da divindade de Cristo, do Céu, do pecado, da salvação, da condenação, do inferno, dos sacramentos, do arrependimento – palavras que mal são encontradas no “Instrumentum Laboris” do próximo Sínodo. Suas palavras e ações alcançaram quase todas as tribos da América. E como sabiam que, sem exceção, todos nós somos pecadores, ensinaram também que se um pecador que não conhece Jesus Cristo se arrepende dos seus pecados – como a voz de Deus o ensina através da sua consciência, que ele descobre exercitando sua boa vontade – ele também pode ser salvo.

Eles evangelizaram em nome do Senhor; não se dedicaram a diálogos inúteis. E Nossa Senhora de Guadalupe moveu o coração e a cabeça de todos os Juan Diego que os ouviram.

* * *

NOTA DE ESCLARECIMENTO DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

O Sínodo dos Bispos é uma assembleia de Bispos que, escolhidos das diversas regiões do mundo, reúnem-se em determinados tempos para promover a estreita união entre o Romano Pontífice e o Episcopado, para auxiliar o Romano Pontífice com seu conselho, na preservação e crescimento da fé e dos costumes, na observância e consolidação da disciplina eclesiástica e, ainda, para examinar questões que se referem à ação da Igreja no mundo (CDC 342).

A Constituição Dogmática “Episcopalis Comunio”, do Santo Padre, o Papa Francisco, no art. 1º define os tipos de assembleia possíveis. Mais precisamente no parágrado 2º, o item 3º diz que o Sínodo pode consistir “em Assembleia Especial, se se tratam de assuntos concernentes principalmente a uma ou mais áreas geográficas concretas” (CDC 345): este é exatamente o caso do Sínodo dos Bispos para a Amazônia.

O Sínodo é antecedido, porém, por um documento preparatório e um Instrumento de Trabalho (Instrumentum Laboris), ambos preparados pela Secretaria do Sínodo dos Bispos, um órgão da Santa Sé. Embora sejam documentos oriundos dos órgãos vaticanos, não fazem parte do Magistério Eclesial, seja Ordinário ou Extratordinário; são apenas documentos que pretendem orientar as Sessões do Sínodo e podem até mesmo ser desprezados total ou parcialmente pelo Romando Pontífice, como ocorreu por ocasião da realização do Concílio Vaticano II.

Desta forma, quando criticamos respeitosamente o conteúdo desses documentos anteriores à realização do Sínodo, não estamos agindo como juízes do Sagrado Magistério e, muito menos, do Santo Padre o Papa; estamos apenas exercendo o nosso DEVER de fiéis em zelar pela Fé Católica, exortando-nos mutualmente para o Bem de toda a Santa Igreja (cf. Hebreus 3,13-15).

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