Armas e Democracia

Diz o ditado americano que Deus criou os homens, mas o coronel Colt tornou-os iguais. O milagre realizado por esse coronel foi simples: a invenção do revólver de repetição, uma arma simples, barata e eficaz, que não demanda muito de seu usuário. Não era o caso das armas que ele sucedeu, como a espada, que demandava enorme tempo de treino e força física considerável, ou mesmo as primeiras armas de fogo, capazes de disparar uma única vez, e depois demandando um complicadíssimo processo de recarga. O revólver torna iguais a moça fraquinha e o homem forte. O revólver e sua continuação, a pistola, são, fundamentalmente, ferramentas que servem para tornar, com o diz o ditado, as pessoas iguais. Uma sociedade armada com revólveres é uma sociedade essencialmente democrática.

Sem essa ferramenta, só o que impede que uma moça seja estuprada é a civilidade dos homens que ela encontre no caminho. Civilidade esta que está, lamentavelmente, em falta. Parece-me também evidente que não é andando de peitos de fora, com “vadia” escrito em tinta vermelha, que essa civilidade será aumentada.

Do mesmo modo, uma pessoa de idade, quando desarmada, está nas mãos de qualquer jovem. Se ambos estiverem armados, tornam-se ambos iguais. Se a população inteira estiver armada – como a população de Israel ou da Suíça –, a criminalidade violenta praticamente desaparece, por ser o criminoso, por definição, uma exceção. A imensa maioria da população é ordeira e obedece às leis.

Já os criminosos não seriam jamais desarmados por uma lei; por definição, afinal, eles não obedecem às leis!

E, como ninguém é mais poderoso que a única pessoa armada em meio a pessoas desarmadas, desarmar as vítimas aumenta enormemente o poder dos criminosos. Alguém que puxe uma arma num bar suíço vai se ver diante de tantas outras quantos forem os fregueses e trabalhadores do estabelecimento. Já num país como o nosso – em que aqueles que nos anos 70 pegaram em armas contra o governo desarmaram a população honesta assim que chegaram ao poder – qualquer bandidinho com um 32 enferrujado vira rei ao sacá-lo. Como cantava Bezerra da Silva, “você com um revólver na mão é um bicho feroz; sem ele, anda rebolando e até muda de voz”…

A população brasileira tem consciência disso, e dois em cada três brasileiros expressaram no plebiscito sua reprovação ao desarmamento. O governo, como sempre, ignorou tanto a voz da maioria quanto o bom senso. Mas, afinal, não é como se estivéssemos em uma democracia, não é mesmo?

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