Biografia de Atenágoras de Atenas

1.Vida

Deste apologista cristão sabe-se tão – somente que era de Atenas e filósofo. Nem Eusébio de Cesaréia, nem s. Jerônimo o menciona. Dele se encontra uma menção no tratado Sobre a ressurreição 1,37,1, de Metódio de Olimpo (sécs. III-IV). Traços de sua vida e de suas obras desapareceram completamente da literatura cristã até que o bispo Aretas de Cesaréia manda copiar, em 914, para o seu Corpus apologetarum, a Apologia e o tratado Sobre a ressurreição dos mortos de Atenágoras. Sua identificação com o Atenágoras ao qual o filósofo grego Boeto dedicou um escrito Sobre algumas expressões difíceis em Platão, carece de fundamentos.

Dessa forma, local de seu nascimento, sua formação intelectual, suas origens, local e data de sua morte nos escapam. Suas obras, contudo, revelam uma pessoa de boa cultura, alguém que freqüentou cursos de retórica. Seu estilo é moderado, bem mais sóbrio que o de Taciano, mais ordenado que o de Justino. Como Justino, é simpático à filosofia e à cultura gregas. É hábil em ordenar o material, mais preciso na linguagem que seus predecessores. J. Lebreton e J. Zeiller escrevem dele: “É uma alegria para quem acaba de ler as invectivas de Taciano encontrar-se aqui em contato com uma alma verdadeiramente cristã, pacífica e pura”. O salto, em termos de qualidade, que se dá de Taciano para Atenágoras é enorme. Ele “compreende o valor da sobriedade, da claridade e da ordem; desdenha os efeitos demasiadamente ruidosos ou as cores demasiado vivas, as maneiras vulgares. (…) Se a tradição que faz de Atenágoras um ateniense é verdade, sem dúvida há uma relação entre sua origem e o meio em que se formou, e sua cultura mais afinada que a dos escritores cristãos anteriores”.

2. Obras

Atenágoras escreveu, ao que se sabe, uma Petição em favor dos cristãos e um tratado Sobre a ressurreição dos mortos.

Petição em favor dos cristãos

O objetivo desta obra é refutar as acusações dirigidas contra os cristãos. De maneira metódica, o autor distribui a matéria de sua apologia a partir das três acusações básicas. Depois de uma Introdução na qual se dirige aos imperadores Marco Aurélio e Lúcio Aurélio Cômodo, expondo as razões de sua “petição” (caps.1-3), responde à acusação de ateísmo (caps. 4-30); de incesto (caps.31-34); e de antropofagia (caps. 35-36).

O que realmente preocupa o apologista é que estas acusações são levadas a sério pelas autoridades. Com isso, o nome cristão é difamado e digno de morte sem nenhum exame mais acurado sobre a vida real dos acusados. Na introdução, Atenágoras deixa claro esta intenção: “Quanto a nós, que somos chamados cristãos, (…) comportando- nos de modo mais piedoso e justo do que ninguém, não só diante da divindade, mas também em relação ao vosso império, permitis que sejamos acusados, maltratados e perseguidos, sem outro motivo para que o vulgo nos combata, a não ser apenas o nosso nome. (…) vos suplica- mos que também a nós deis alguma atenção, para que cesse, finalmente, a degolação a que nos submetem os caluniadores” (cap. 1). No capítulo 2, chama a atenção dos imperadores para que apliquem as regras do julgamento sobre os cristãos acusados e não se deixem levar pelos preconceitos. Se agirem com justiça e rigor no julgamento, saberão que os cristãos são inocentes. Portanto, “se alguém é capaz de nos convencer de termos cometido uma injustiça, pequena ou grande, não fugiremos do castigo. (…) Mas se a nossa acusação é tão-somente o nome (…) e não foi provado que algum cristão tenha cometido um crime -a vossa questão é, como imperadores máximos, humaníssimos e amicíssimos do saber, rejeitar por lei a calúnia feita contra nós, (…). Com efeito, vossa justiça não diz que, quando se acusa a outros, não se pode condená-las antes de tê-los interrogado? Quanto a nós, porém, vale mais o nome do que as provas do julgamento, pois os juízes não buscam averiguar se o acusado cometeu algum crime, mas tratam-no com insolência por causa do nome, como se fosse crime”.

Estão aí as razões que levaram Atenágoras a compor e endereçar uma “súplica” em favor dos cristãos aos imperadores Marco Aurélio e a seu filho Cômodo, por volta, provavelmente, do ano 177.

Sobre a ressurreição dos mortos

A autenticidade desta obra é posta em dúvida por alguns estudiosos. Assim, por exemplo R.M. Grant e W.R. Schoedel opinam que este tratado sobre a ressurreição não é de autoria de Atenágoras. Pertenceria a um autor do ciclo originista, composta por volta de 310 e que um copista teria ajuntado à Petição em favor dos cristãos, de Atenágoras. Contudo, o códice do bispo de Aretas do ano 914 diz expressamente que a Ressurreição é de Atenágoras. No capo 36 da Petição, o próprio Atenágoras defendendo os cristãos da acusação de antropofagia fala da ressurreição. Mas sentindo que esta é um tema fundamental para a fé cristã, propõe compor uma obra especial para abordá-lo: “Reservemos, porém, para outra ocasião o discurso sobre a ressurreição” (cap. 37). Parece-nos que podemos admitir a legitimidade da autoria de Atenágoras sobre esta obra, sem prejuízo para sua compreensão.

BIBLIOGRAFIA

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Fonte: Padres Apostólicos, Volume I, Coleção Patrística. Ed. Paulus.

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