Bento XVI, d. williamson e a mídia

Ser Papa é carregar uma santa cruz, imagina ter que agüentar um bando de jornalistas que sem um mínimo de conhecimento sobre a Igreja dá pitacos e lança informações mentirosas? O Papa, mesmo sendo Vigário de Cristo, é vítima da mass media, afinal não faltam não-católicos que adoram se preocupar com os ensinamentos da Igreja (nunca vi algo tão contraditório, pregam a liberdade relativizada mas são os primeiros a condenarem quem defende a ortodoxia e a moralidade, ué, cadê a tal liberdade então?) e católicos que parecem que preferem se informar pela grande mídia do que por meio dos pronunciamentos de Sua Santidade.

D. Williamson foi extremamente infeliz no seu comentário. O Holocausto é uma realidade histórica, pouco importa se morreram dois milhões ou seis milhões de judeus, o fato é que a história da humanidade foi maculada, a dignidade humana destruída. O homem até na morte merece respeito! Para piorar a situação do Pastor a Igreja canonizou santos que deram o último suspiro nos campos de concentração nazistas; Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein, filósofa judia, discípula de Husserl, que depois de convertida se tornou monja carmelita, morreu em Auschwitz rezando pelos judeus), São Maximiliano Kolbe (franciscano martirizado em Auschwitz) , Beato Tito Brandsma (carmelita martirizado em Dachau) entre tantos outros. A Shoá foi um punhal enfiado no coração de todos os homens, como lamentou S.S Pio XI, como chorou Venerável Pio XII. A Santa Igreja Romana clamava a paz enquanto judeus, ciganos, inválidos etc, eram massacrados.

Agora entra a má fé da mídia, aliás, a falta de fé da mídia – ela já se tornou pagã a muito tempo. D. Williamson, juntamente com mais três Bispos da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (Dom Fellay, Dom Tissiere Dom Galarreta), foi des-excomungado pelo Santo Padre. O Papa retirou a pena que havia incorrido quando, em 1988, Mons. Lefebvre, juntamento com D. Castro Mayer – Bispo de Campos -, sagrou quatros sacerdotes sem permissão pontifícia. O Direito Canônico atesta a excomunhão latae sententiae, ou seja, automática, tanto ao Bispo sagrante quanto aos neo-Bispos (Can. 1382 Both the Bishop who, without a pontifical mandate, consecrates a person a Bishop, and the one who receives the consecration from him, incur a latae sententiae excommunication reserved to the Apostolic See.) Desse modo, o Servo de Deus João Paulo II apenas ratificou a pena que já havia sido aplicada; a excomunhão.

D. Fellay, superior da FSSPX, que não existe legalmente, já que foi suprimida canonicamente em 1976, em uma atitude de caridade, pediu a retirada da excomunhão. Se eles acreditam na sua nulidade – a nulidade parte da premissa de que nunca existiu a pena, com isso Mons. Lefebvre e D. Mayer teriam uma memória imaculada canonicamente, já a retirada indica que existiu a pena mas que ele foi levantada – é algo que não mais deve ser levado em conta, já que, por meio do seu Superior, toda a Fraternidade jurou obediência ao Santo Padre.

Esse ato é muito importante por vários motivos. Primeiramente podemos pontuar o bem que gera a toda Igreja, afinal estamos falando de um grupo presente em todo o mundo, que congrega muitos fiéis, com igrejas, escolas, universidades e que, agora, inicia um processo de diálogo com a Santa Sé para que assim, no futuro próximo, vivencie integralmente a sua fé católica, com total adesão ao Magistério. Outro motivo, de grande relevância, é que o retorno da Fraternidade a Igreja – vamos relevar algumas loucuras ditas por certos falsos tradicionalistas que acreditam que a Igreja se encontra perdida e deve voltar a…Igreja -, com sua total concordância aos ensinamentos papais e, principalmente, conciliares, engrossa as fileiras de Sua Santidade no seu exército em favor do que ele chama “hermenêutica da continuidade”, combatendo abusos, profanações, o relativismo, o modernismo.

Alguns problemas se colocam como a formação, dentro da FSSPX, de gerações viciadas na crítica destrutiva e banalizada, um costume que de tão encrustado gera em seus membros uma pedância magisterial; se consideram mais Igreja do que a própria Igreja. Sem dúvida alguma esse é um grande problema que deverá ser solucionado pelos Bispos da Fraternidade, principalmente D. Fellay. O Papa já deixou claro que quer iniciar um diálogo com a FSSPX para que haja “verdadeira fidelidade e o verdadeiro reconhecimento do magistério e da autoridade do papa e do Concílio Vaticano II”, indo além ao falar, por meio da Secretaria de Estado, que “é condição indispensável o pleno reconhecimento do Concílio Vaticano II e do Magistério dos Papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e do próprio Bento XVI.” Aí vem a grande questão; como fazer com que uma multidão criada no discurso viciado anti-Vaticano II, um povo que aprendeu que o Concílio foi ambíguo, pastoral e modernista, fiéis que se formaram dentro da Fraternidade, não conhecendo a Igreja viva no mundo, como fazer com que esses católicos compreendam a necessidade de aceitar o Vaticano II, saindo de uma radical oposição a uma aceitação caridosa e piedosa? Com certeza é um dos grandes obstáculos que aparecem. A Fraternidade precisará desenvolver um diálogo tanto com a Santa Sé quanto com seus fiéis e sacerdotes. Até porque, verdade seja dita, os membros e simpatizantes da FSSPX desenvolveram uma grande estrutura de comunicação na internet; se os Bispos não se pronunciam o seu rebanho rapidamente chegará as suas próprias conclusões. Ademais, sem esse zelo apostólico a possibilidade de cisões internas aumenta vertiginosamente.

Como vemos, a atitude do Santo Padre foi de extrema caridade e amor, deu a mão a esses Bispos que se encontravam numa situação dolorosa e de muita pesar. Como filhos escondidos atrás da porta gritavam ofensas ao pai, críticas que mais pareciam a birra da criança que de tanto amar sentia raiva ao se ver punida. Agora, através de um sincero diálogo, Sua Santidade fará o possível para que a Fraternidade, por meio dos seus Bispos, não só preste uma obediência formal, mas integral, para que assim possa rezar, celebrar, comungar com toda a Igreja, vivendo e crendo com toda a Igreja.

Não podemos deixar que esses erros de D. Williamson camuflem ou deturpem a bela iniciativa papal, o belo verão que se abre na Igreja tão atacada pelos inimigos da fé, no inverno formado pelos homens que vilipendiam a Religião.

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