Bíblia, Tradição e Igreja

  • Autor: Anônimo
  • Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

“E eu te digo: tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja; e os poderes da morte não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus” (Mateus 16,18-20).

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Alguns cristãos afirmam que não há necessidade de uma Igreja como guardiã da verdade, já que a Bíblia é a única regra de fé. Para provar sua posição, eles costumam citar o seguinte:

  • “Desde a tua meninice sabes as Sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para advertir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito e plenamente instruído para toda boa obra” (2Timóteo 3,15-17).

Em um exame mais detalhado, torna-se evidente que esses versículos realmente não ensinam a suficiência da Bíblia. O versículo 17 (especialmente quando o versículo 14 é ignorado) parece implicar a suficiência das Escrituras “para toda boa obra”, mas nenhuma conexão é feita com a Salvação, uma parte essencial da fé. O versículo 15 liga a importância dos Escritos Sagrados à Salvação, mas esses Escritos são aqueles que Timóteo conhecia desde a infância, ou seja, apenas o Antigo Testamento. Embora o versículo 16 enumere a grande utilidade de “toda a Escritura” para ensinar a Fé, ainda assim não se observa suficiência. Um copo de água é útil para a saúde, mas não é suficiente, pois também são necessários ar e comida para se viver.

É irônico que em 2Timóteo 3,14, é dito a Timóteo: “permanece naquilo que aprendeste (…) sabendo de quem o tens aprendido”. Este versículo sugere fortemente a Tradição Apostólica. Na mesma carta, Timóteo é informado sobre como transmitir os ensinamentos de Cristo:

  • “E o que de mim ouviste diante de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2Timóteo 2,2).

Na verdade, São Paulo ordena aos cristãos tessalonicenses que se apeguem às Tradições ensinadas pelos Apóstolos, tanto orais quanto escritas:

  • “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja oralmente, seja por epístola nossa” (2Tessalonicenses 2,15; v.tb. 1Coríntios 11,2).

Por fim, se tudo o que Jesus e os Apóstolos fizeram e ensinaram foram registradas na Bíblia, por que então São João encerrou o seu Evangelho com este curioso versículo?

  • “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita, cuido que nem ainda o mundo todo poderia conter os livros que se escreveriam” (João 21,25; v.tb. João 20,30).

Ou, ainda, suas duas últimas epístolas com estes versículos: 2João 1,12 e 3João 1,13-14?

Jesus em Marcos 7,5-13 (ou Mateus 15,1-9) não condena todas as tradições, exceto aquelas corrompidas pelos fariseus. Diferentemente das tradições humanas dos fariseus, a Tradição Apostólica é a Palavra de Deus falada através dos Apóstolos, não registrada na Bíblia. A Igreja, conforme prometido por Cristo (cf. Mateus 16,18-19; Mateus 18,17-18), preserva e ensina a Tradição Apostólica. Esta Igreja é a coluna e o fundamento da verdade, conforme está escrito:

– “Para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e o fundamento da verdade” (1Timóteo 3,15; v.tb. Efésios 2,19-21).

Outra função da Igreja é explicar passagens da Bíblia. São Pedro adverte sobre os ensinamentos das Escrituras que são difíceis de se entender:

  • “…assim como em todas as suas epístolas (=de São Paulo), entre as quais há pontos difíceis de se entender, que os indoutos e inconstantes torcem, igualmente como as demais Escrituras, para a sua própria perdição” (2Pedro 3,15-16).

Segundo a Bíblia, os discípulos tiveram que explicar as Escrituras. Um exemplo é São Filipe explicando o livro de Isaías ao eunuco etíope em Atos 8,30-31. Além disso, esta função da Igreja inclui a interpretação da Bíblia:

  • “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem nenhum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pedro 1,20-21).

São Pedro, nesta passagem, nos adverte a não interpretarmos particularmente a mensagem de Deus (profecia) nas Escrituras. A Igreja, tendo “homens inspirados pelo Espírito Santo”, pode servir provendo justamente essa capacidade.

Então, embora a Bíblia seja a inerrante Palavra de Deus, não é a única regra orientadora da fé. Tanto a Bíblia quanto a Tradição Apostólica são Palavra de Deus. Ambas são fontes importantes para a Fé. A Igreja Católica, sendo a Igreja fundada por Cristo, preserva a ambas da corrupção e as emprega para ensinar a Palavra de Deus sob a orientação do Espírito Santo (cf. Mateus 28,16-20; João 16,12-15).

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