São Thomas More escolheu bem o nome de sua ilha paradisíaca quando escreveu sua [obra] “Utopia”, dando início a uma era em que o Paraíso encontra-se em algum lugar do futuro: utopia significa lugar nenhum.
Aqui, no planeta Terra, a utopia não existe. Todas as tentativas fracassaram; afinal, a natureza humana não muda. Estamos assistindo de camarote à derrocada da tentativa venezuelana de uma utopia bolivariana (novo nome para o mesmo velho comunismo). E esta tinha as aparentemente infindáveis reservas de petróleo de nosso riquíssimo vizinho para bancá-la! Carregada com o peso do fracasso da utopia cubana (que aparentemente está sendo colocado no pescoço do contribuinte brasileiro), assolada pelos inevitáveis fracassos econômicos oriundos de uma política que não percebe as realidades do mercado, a ditadura de Maduro parece destinada à lata de lixo da história.
O que não entendem os utopistas é que a economia não é uma tropa ou uma máquina monolítica que possa ser controlada de cima para baixo. A União Soviética sobreviveu por décadas apenas por não conseguir coibir o mercado negro, que assegurava a subsistência de seus cidadãos, exatamente como ocorre hoje em Cuba.
A economia consiste nos atos individuais de cada pessoa, nas escolhas que cada um de nós faz, movidos por incentivos de que muitas vezes não temos sequer consciência. Tomar ou não um cafezinho de manhã é participar na economia. Fazer um favor de graça ou cobrar por um serviço também.
Tentar planificar toda a economia implica gastos crescentes para conter o que não pode ser contido; é como tentar segurar uma cachoeira com as mãos nuas. Os custos da fiscalização e a diminuição da produção caminham de mãos dadas, aumentando a cada dia o déficit e tornando impossível a manutenção do sistema. Quanto mais se tenta, mais a entropia aumenta.
Como a história fartamente comprova, o caminho para a prosperidade material é o oposto; o enriquecimento da sociedade é uma consequência da liberdade econômica, da plena liberdade de iniciativa privada. O sucesso deste mecanismo é tão claro que os países em que a economia é mais livre têm em geral problemas sérios causados pelo excesso, não falta, de riqueza: obesidade, apego excessivo às futilidades, dissolução da unidade familiar etc.
Para cuidar dos corpos, mais vale a economia livre. Para cuidar da alma da sociedade, todavia, é necessário proteger e fortalecer as estruturas que a geram e mantêm, especialmente a família. Sem utopias: a natureza humana não as tolera.
- Fonte: Gazeta do Povo, de 27.02.2014.