Carta a um pai

Carta escrita a um amigo, cujo filho estava prestes a entrar para um seminário e me expressara seus temores:

“Ai do homem que confia no homem!”

Meu bom amigo: é seu coração de pai que o apoquenta. Esta é uma das congregações mais ortodoxas que há por aí hoje em dia. Meu único problema com eles é essa história de gel no cabelo, que eu pessoalmente acho estranhíssimo. 🙂

Nunca se esqueça, porém, que homens são homens. Os membros desta congregação, como qualquer um de nós, carregam as conseqüências do Pecado Original. Certamente há maus padres, talvez haja pessoas realmente viciosas, etc. Isso é da nossa natureza, marcada pelo Pecado Original. Seu filho não é nenhuma criancinha pequena, eu suponho, e se chegar um pervertido perto dele ele saberá responder-lhe com a firmeza (nos punhos) e educação (bater, sim, mas sem gritar nem falar palavrões…) necessárias.

No seminário de uma certa diocese há mais sodomitas que pessoas normais, mas conheço padres excelentes que – a duras penas! – sobreviveram àquele ambiente. As aulas são boas, a Missa é melhor que o que se pensaria ao conhecer um padre cantor, mas há pervertidos e pessoas más. O demônio busca com mais afinco aqueles que mais se consagram a Deus. A tentação que o Capeta inflige a padre de uma congregação ortodoxa é com certeza maior que a que ele inflige a nós, leiguinhos rastaqüeras. A graça que Deus dá é proporcional, mas mesmo assim sempre há quem caia.

O que eu diria a seu filho é o que eu diria a qualquer jovem que fosse para um convento: olhos abertos, não ache que ninguém ali é santo canonizado, trate todos com respeito, obedeça aos superiores, e… reze!, reze muito!!! Com certeza lá ele está muito melhor que se fosse para os dominicanos, os franciscanos, ou a imensa maioria dos seminários diocesanos. Certamente o estudo será árduo, mas proveitoso, a disciplina vai fazer um bem enorme a ele, e – se esta for a vontade de Deus, e se ele agüentar o rojão – ele sairá de lá um bom padre. Não o deixe, contudo, jamais esquecer que o diabo faz sua capelinha onde Deus faz sua catedral, e em cada 50 pessoas – mesmo de uma boa congregação, como essa – é quase certo que haja uma que sirva em tempo integral ao Inimigo.

O ataque que a Igreja sofre não é apenas um ataque natural. Para cada idiota anti-clerical ou herético há pelo menos um servidor oculto do Inimigo, freqüentemente de batina e aparência de grande santidade. Nunca se esqueça disso, e nunca se esqueça que é muito maior a glória de quem luta e vence que a de quem se esconde debaixo da cama.

“Por exemplo, não existiria a paciência dos justos sem a malignidade dos perseguidores; nem haveria lugar para a justiça punitiva se não existissem os delitos. E nas coisas naturais não haveria geração de um se não existisse a corrupção de outro. Logo se a divina providência excluísse totalmente o mal do universo criado, seria preciso diminuir a quantidade de bens. Coisa que não deve ser feita, pois mais poderoso é o bem na bondade do que o mal na maldade. Portanto, a Divina Providência não deve suprimir totalmente o mal das coisas.” (S. Tomás, Suma Contra os Gentios, III, c. 71)

A luta dele será uma luta em que ele estará sozinho… com Deus e todos os Santos. Frequentemente seus superiores serão políticos conchaveiros e bajuladores, seus colegas loucos, pervertidos ou gente que só está lá para comer e beber de graça. A ele compete aceitar a graça de Deus de levantar-se acima disso, sem deixar que a soberba o domine, e ser um santo na área da Barca onde as setas do inimigo mais fortemente atingem.

Conte com minhas orações, e confie em Deus e no seu filho.

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