Catequese sobre os livros de Tobias, Judite e Ester

Caríssimos Irmãos,

Dando continuidade ao nosso estudo bíblico, prosseguimos na análise dos livros históricos, examinando os livros de Tobias (Tb), Judite (Jt) e Ester (Est).

Os livros de Tobias, Judite e Ester pertencem a um gênero literário próprio: o midraxe – que propõe uma história realçando os aspectos edificantes e moralizantes da mesma, para formação espiritual dos leitores. Estes livros se referem a episódios concernentes apenas a uma parcela do povo, e não são situadas historicamente com precisão, o que inclusive trouxe dúvidas acerca de sua inspiração divina, posteriormente dirimidas.

O livro de Tobias conta a história de um certo homem da tribo de Neftali, Tobite, que foi exilado para Nínive, na Assíria, com sua família; dedicava-se à caridade para com seus compatriotas, tendo sido acometido por cegueira; a esposa, então, o menospreza. Na mesma época, em Ecbátana, na região Média, uma parente de Tobite, Sara, sofria opressão de um demônio, sendo caluniada de homicídio, mas orava a Deus de forma confiante.

Reduzido à pobreza, Tobite enviou seu filho Tobias à Média, a fim de cobrar uma dívida. Ao sair de casa, o jovem Tobias encontra o anjo Rafael, que se oferece para guiá-lo na estrada. Durante a viagem, o anjo persuadiu Tobias a guardar coração, fel e fígado de um peixe que o atacara; a seguir, passando por Ecbátana, promove o casamento de Tobias com Sara, que é libertada do demônio quando o esposo, na primeira noite, queima o fígado e o coração do peixe na câmara nupcial. Rafael foi buscar o dinheiro e reconduz o jovem casal à casa de Tobite. Tobias, então, mais uma vez por orientação de Rafael, curou com o fel do peixe os olhos do pai.

O livro pretende mostrar a Providência de Deus para com o homem fiel posto em aflição e apresentar aos leitores um modelo de observância da Lei de Deus, com numerosas exortações à piedade e à prática de boas obras. Além disso, destaca-se a figura do anjo Rafael, como guarda, curador (8,3; 12,15) e intercessor (3,16; 12,2).

Judite era uma viúva israelita que vivia na cidade de Betúlia, cidade ameaçada pelo exército de Nabucodonosor, chefiado pelo general Holofernes. O pagão Aquior tenta dissuadi-lo, pois sabia que o Deus de Israel defende o seu povo. Os judeus de Betúlia estavam prestes a render-se quando Judite resolveu intervir para defender seu povo. Após orar fervorosamente, revestiu-se dos seus mais preciosos ornamentos e entrou no acampamento inimigo, encantando todos os guardas por sua formosura.

Holofernes então manda que ela resida perto de sua tenda. Quatro dias depois, o general assírio, apaixonado, deu um banquete e convidou Judite (12, 10-20).

Embriagado, a sós com Judite em sua tenda, cai no sono. Ela então cortou-lhe a cabeça e com ela retornou a Betúlia, o que fez os assírios baterem em retirada e levou à conversão de Aquior.

A finalidade do livro era avivar a fé de Israel no seu Deus, que é capaz de libertar seu povo das calamidades, desde que este se mostre fiel à Aliança. Os meios que salvam Betúlia são espirituais; uma viúva munida somente das forças que a oração e o jejum lhe conferem. A viuvez como estado de consagração a Deus foi sendo estimada em Israel nas proximidades da era Cristã; atualmente a Igreja vê em Judite, mulher fortalecida pela graça de Deus, uma figura de Maria Santíssima.

Nabucodonosor, o “senhor de toda a terra” (Jt 2,5) encarna o adversário de Deus, que resta vencido, como um prenúncio da vitória do bem sobre o mal (16, 2-21). Também se verifica no livro a proposta universalista, através da conversão de Aquior.

O livro de Ester fala de outra judia que, por sua castidade e piedade, se tornou instrumento e libertação para o povo de Deus. O rei Assuero repudiou a rainha Vasti, que foi substituída por Ester, judia, prima órfã de um judeu chamado Mardoqueu, que residia em Susa (pérsia) e servia na corte do rei (2, 1-20).

Mardoqueu pediu a Ester que intercedesse junto a Deus e ao rei pela salvação do povo judeu, que havia sido condenado por um decreto do rei. Após ter jejuado e orado, ela e os judeus de Susa, por três dias, Ester convidou o rei e Amã para um jantar (5, 1-5), ao qual compareceu bem vestida e adornada. Ajudada pela Providência Divina, em um novo jantar consegue um outro decreto, concedendo aos judeus a faculdade de se defenderem de seus opressores no dia previsto para seu extermínio.

Amã foi enforcado por ordem de Assuero (5,6-8, 14). Em consequência, os filhos de Israel causaram muitas baixas entre os persas. Para comemorar o acontecimento, Mardoqueu instituiu a festa anual de Purim (9, 20-32).

Note-se a presença de antíteses por todo o livro: Vasti (repudiada) x Ester (exaltada); Amã (exaltado, depois condenado) x Mardoqueu (desprezado, condenado e por fim, exaltado); dois decretos, um contra e outro a favor dos judeus; dois banquetes oferecidos por Ester, para Amã, significaram humilhação e morte, para Mardoqueu, a passagem da morte para a glória.

O livro a princípio foi escrito para levantar os ânimos dos judeus, que, após o exílio, viveram sempre sob domínio estrangeiro. Seu ensinamento perene é que a Providência rege os acontecimentos e cumpre seus desígnios, mesmo que tudo pareça indicar o contrário (Est 4, 13-17).

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NOTAS: [1] Catequese do Papa: A Oração de Elias e o Fogo de Deus (SS Bento XVI); * Fontes: Bíblia Sagrada Ed. Vozes; Bíblia de Jerusalém; Curso Bíblico – Escola Mater Ecclesiae – Pe. Estêvão Bettencourt OSB; Curso Bíblico catequisar.com.br (Tobias, Judite e Ester).

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