Catolicismo “iluminado”

– Há tantos neo-agnósticos universitários quanto católicos “iluminados”. O ponto comum destes dois fenômenos é um só: a crise de fé. Não da fé pessoal, mas da fé apostólica. O Credo Apostólico é o remédio contra a doença que toma parte de nossos contemporâneos

Assim como o neo-agnóstico, que na maioria dos casos é um crente cagão, um outro fenômeno tem acontecido em torno das igrejas, com pessoas com as quais lidamos e amamos. Dessa vez, porém, o fenômeno parece predominar entre os católicos, muito embora nada obsta que ocorra também em outros credos. Trata-se do fenômeno que ocorre a certo grupo de católicos, que tem “a experiência derradeira”, encontram “a verdade da religião”. Por isso, denominam-se católicos “iluminados” ou “esclarecidos”.

Para o cristão “iluminado”, as Cruzadas são um absurdo. Afinal, o que vai se pregar senão mais um perspectiva em meio a outras? Nada mais falso.

Os cristãos “esclarecidos” geralmente são pessoas que foram educadas (desde o berço ou já na adolescência e idade adulta) no cristianismo, mas especialmente no catolicismo, aprenderam algo da doutrina católica sobre metafísica, antropologia, cosmologia, além de – obviamente – eclesiologia, soteriologia, cristologia e todos esses tratados importantes da filosofia e da teologia. Mas então, como que por um milagre – se eles ainda acreditassem nesse conceito “medieval” -, algo novo aconteceu. Eles “descobriram” que toda religião é “do Espírito”. Assim, com “E” maiúsculo mesmo. O católico iluminado percebe que toda a organização cristã é empulhação, é um jeito de um grupo (o clero) dominar o resto do povo (os leigos). Então, esse indivíduo mui refinado, que estudou filosofia, teologia e línguas graças à Igreja, tem visão esclarecedora: seguir Cristo, mas sem a Igreja; cristianismo, sim, mas em “Espírito”. Ele nem desconfia que o pressuposto de seu original entendimento (clero versus leigo) é já premissa cripto marxista, premissa essa que necessita ser demonstrada e não aceita sem explicação, pois a mera aceitação cega desta distinção denuncia justamente que o “iluminismo” desses católicos dura muito pouco.

O Católico “Iluminado” olha de cima para o povo nas paróquias, olha de cima para a piedade dos mais velhos, olha de cima para a fé do homem simples. No seu coração ele diz: “se soubessem o que eu sei, não seguiriam esse pilantra aí na frente”. Será que o católico iluminado acha mesmo que não sabemos que todo sacerdote tem pés de barro? Será que “o esclarecido” acredita tanto na sua autoproclamada sabedoria que pensa que não sabemos dos males que afligem a Igreja? O que ele terá visto em Roma, no Vaticano, na Terra Santa ou em qualquer outro lugar que não se possa encontrar, em menor escala, em qualquer paróquia do interior do país? A única informação realmente relevante, que justificaria seu olhar desdenhoso para com a fé do povo simples, era visitar o Santo Sepulcro e não encontrar o túmulo vazio. Afora esse dado simplesmente inovador, todo saber e conhecimento alcançados pelo “esclarecido” católico sem fé são apenas conteúdos sem forma, são testemunho da cisão entre razão e fé.

Há tantos neo-agnósticos universitários quanto católicos “iluminados”. O ponto comum destes dois fenômenos é um só: a crise de fé. Não da fé pessoal, mas da fé apostólica. O Credo Apostólico é o remédio contra a doença que toma parte de nossos contemporâneos. O dogmatismo dos “iluminados” e o ceticismo dos neo-agnósticos têm no Absoluto um limite e um porto seguro para a reflexão humana.

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