Católico com tendência homossexual pede auxílio

[Leitor NÃO autorizou a publicação de seu nome no site] Nome do leitor: C.
Cidade/UF: São Luís/MA
Religião: Católica

A Paz de Cristo,

minha pergunta é sobre homo afetividade, mas antes vou falar rapidamente sobre mim.

Sou homossexual e amo a Igreja Católica, mas apesar de ter uma vida de oração e uma vida sacramental há vários anos continuo sendo homossexual e sinto hoje, depois de muita reflexão inclusive com psicólogos, que esta é minha sexualidade como condição definitiva, e que até a Igreja reconhece que algumas pessoas apresentam esta condição. Durante muito tempo lutei para tentar mudar, até entrei em depressão, pois não conseguia entender como estando na Igreja tendo uma vida de oração, sacramental e desejando de todo o meu coração mudar ainda assim continuava sendo gay. Cheguei até a questionar Deus em porque Ele não ouvia as minhas preces.

Reconheço a autoridade do Papa e do Magistério da Igreja, principalmente quando falam com relação à castidade e a santidade, pois não é apenas uma imposição, mas sei que a Igreja se preocupa em mostrar o real sentido da sexualidade segundo a Vontade Divina na obra da criação.

Agora tem sido um motivo de questionamento sobre o que devo fazer, pois não me sinto chamado ao celibato, mas também não posso me casar. Então começou a surgir um questionamento, se eu conhecesse outra pessoa católica praticante e gay, que estivesse disposta a viver a castidade poderíamos cultivar um sentimento um pelo outro já que a Igreja sempre diz que o pecado está no ato? Como, relacionamento entre duas pessoas não se baseia apenas em sexo, mas em compartilhar alegrias e tristezas, passar momentos felizes, em demonstração de carinho, poderia viver um relacionamento assim? E se não, o que vocês me aconselham com relação à afetividade?

Obrigado pela atenção.

Que o Espírito Santo esteja sempre com todos.

Caríssimo leitor, a paz e a graça da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Agradecemos vosso contato enquanto pedimos as vossas sinceras e piedosas orações por esse humilde apostolado, formado por outros inúmeros miseros servos da vinha do Senhor.

Preciso começar esse comentário pedindo desculpas pela demora excessiva. Normalmente não é assim, mas dada a delicadeza de vosso caso, somado a necessidade ir buscar informação precisa para vos auxiliar, somado ao meu sentimento de incapacidade face a responsabilidade de vos redigir uma resposta moralmente correta, acabei por não conseguir circunstâncias favoráveis para sentar, concentrar e redigir com a concentração que vossa colocação exigiu.

Primeiramente gostaria de afirmar a grande alegria que é receber o vosso contato. Reconhece-se em vossa alma facilmente uma série de virtudes próprias de verdadeiros cristãos, como a docilidade (abertura para receber instrução e formação), a humildade, a perseverança entre outros componentes de uma vida interior real. É motivo de louvor a Deus o fato de se colocar em situação de crescimento espiritual e de buscar viver a vontade do Criador. Que Ele vos conserve sempre assim.

Muito bem. Nascestes homem, e como homem fostes registrado. Porque és homem recebestes um nome masculino. Com efeito, se reparares bem, só nascem dois tipos de pessoas: homens e mulheres. Eis porque não “és” homossexual, pois a homossexualidade não é um terceiro sexo, mas sim uma tendência sexual. Tens a tendência homossexual, mas continua sendo sempre homem. É preciso ter isso em mente para que não se sinta nunca num tipo de “limbo” da humanidade, nem numa nova categoria humana como defendem alguns equivocadamente, para termos base para prosseguirmos.

Apresentastes vossa tendência homossexual como companheira de longos anos em vossa caminhada, sendo que atualmente tens a convicção de ser esta a vossa condição definitiva após acompanhamento psicológico. Eu preciso admitir: não sou psicólogo. Mas a moral entende de ser humano. E esta moral humana entende que ninguém está encerrado em suas próprias tendências e inclinações. Entende que ninguém se reduz as suas dificuldades. Somos sempre homens, e sempre mais do que imaginamos. Não somos nossas tendências.

Sabe-se também que a psicologia não é uma ciência exata, pois que existem diversas linhas de tratamento e de pacientes com grandes contradições entre todas elas. Ademais, sabe-se inclusive que atualmente o grande lobby do movimento homossexual tem conseguido fazer forte pressão para atuar ideológicamente dentro das nossas faculdades e conselhos de psicologia. Não sei o que lhe falaram, mas nas pesquisas que fiz com alguns psicólogos, tenho certeza de que esqueceram de lhe falar sobre a lei natural.

A lei natural é aquela lei inscrita no coração de todos os homens e em todas as época que nos exorta interiormente a fazer o bem e a evitar o mal. É a lei que nos configura como seres morais, ou seja, como seres comportamentais, que nos dá critérios para usarmos da nossa liberdade da maneira mais libertadora possível a partir da própria reflexão intelectiva.

Sabemos, mediante a observação da lei natural, que os atos próprios da faculdade sexual existem para duas finalidades: a procriação (primeira função) e a união (segunda função). A natureza desenhou o homem e a mulher complementares um ao outro em todas as suas dimensões, física, psiquica, social, moral e até espiritual. O corpo do homem e da mulher, por exemplo, estão como que formatados para se unirem sexualmente e para perpetuarem a espécie. O pênis e a vagina foram configurados um para o outro, para que o sêmem masculino fecunde o óvulo feminino e para que daí uma nova vida surja. E o prazer foi dado neste ato como prêmio e estímulo para a sobrevivência da espécie, como o prazer do alimento foi dado como estímulo para não morrermos. Há ainda muitos outros aspectos que provam a perfeição complementar heterossexual de modo que poderíamos passar muitas laudas aqui descrevendo-as.

Pois bem, se temos em mente portanto que o caminho natural, normal para o homem e para a mulher, é a entrega mútua mediante uma atração e uma doação recíproca, de corpo e alma, podemos presumir que o que acontece em alguns casos ditos homossexuais é sim um tipo de “anormalidade” (entendendo bem, como algo fora dos padrões próprios da natureza), um tipo de desvio naquilo que a natureza mesmo configurou dentro de seus próprios padrões. A mera consideração de que num ato sexual homossexual não há qualquer abertura a vida por questões inerentes a própria fisiologia (função procriativa) e que estes mesmo aspectos anatômicos não favorecem a união (função unitiva), já nos basta para entendermos que há algo a mais a se considerar nas uniões homossexuais do que aquelas que se dá atualmente.

A psique humana é um grande mistério, mas já sabemos algumas das causas dessa mudança da natural heterossexualidade para a homossexualidade. Gerard van den Aardweg, por exemplo, PhD Em Psicologia pela Universidade de Amsterdam (Holanda), escritor de inúmeros livros (um deles você precisa ler, chamado “A Batalha pela normalidade sexual”) baseados em trinta anos de acompanhamento com homossexuais, afirma convictamente que a tendência homossexual não provém de heranças ou traços genéticos, mas de uma dificuldade na fixação psiquico/afetivo da criança para com seu modelo ideário paternal e maternal:

“Muitos homossexuais, por exemplo, tiveram uma mãe superprotetora, ansiosa, preocupada, ou dominadora, ou que os admirou ou mimou excessivamente. Seu filho era “o bom menino”, “o menino obediente”, “o menino bem-comportado”, e muitas vezes um menino psicologicamente retardado em seu desenvolvimento, sempre visto como “um bebê” por um período excessivamente longo. E o futuro homossexual masculino em parte permaneceu esse filhinho da mamãe. Porém, uma mãe dominadora, que vê em seu filho um “homem de fato” e quer tomá-lo um homem, não há de produzir um “efeminado”. O mesmo se aplica à relação pai-filha. É a mãe dominadora (superprotetora, superansiosa etc_ que não soube como fazer um homem de seu menino, que sem querer contribuiu para a sua malformação psicológica. Muitas vezes, não teve a idéia certa do que significa fazer um homem de um menino, talvez por faltar bons exemplos em sua família. Ficou ansiosa em fazer dele um modelo de menino bem comportado ou em prendê-lo a si ao ficar sozinha e muito insegura (como a mãe que manteve o filho em sua cama até a idade dos doze anos).” (pg. 35)

É muito provável que tenha passado por essas dificuldades traumáticas em vossa infância ou adolescência com vossas figuras paternas e tenha tido portanto uma grande dificuldade em seguir o desenvolvimento natural de vossa afetividade. E aqui segue o meu primeiro ponto: há que se buscar o acompanhamento de um bom psicológo cristão/católico, que lhe ajude a desvendar as causas primeiras deste desvio afetivo sem deixar de lado vossa dimensão integral, incluindo a espiritualidade. Se tiver a oportunidade eu lhe indico a terapia ADI, Abordagem Direta ao Inconsciente, da psicóloga Renate Jost de Moraes (http://www.fundasinum.org.br) que narra no seu livro “As chaves do inconsciente” o drama vivido por muitos homens com tendências homossexuais justamente por causas inconscientes, mas muito presentes e tratáveis.

Demos sequências as vossas indagações de cunho espiritual.

Seu amor a Cristo e a Igreja não devem jamais ser abalados por sua tendência homossexual. Isto é muito importante: a tendência homossexual não é pecado. O pecado acontece na prática do ato homossexual. Mas de modo algum a Igreja age com preconceito ou discriminação a pessoa que possui essa tendência; na verdade ela está baseada nas Sagradas Escrituras, na Tradição e no Magistério. Vejamos o que nos diz o Catecismo a esse respeito:

§2357 – “A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante , por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. A sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (Gn 19,1-29; Rm 1,24-27; 1Cor 6,9-10; 1Tm 1,10), a tradição sempre declarou que “os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados” (CDF, decl. Persona humana, 8). São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados”.

Ainda sobre a questão do acolhimento da pessoa com tendência homossexual, prossegue a Igreja:

§2358 – “Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais inatas. Não são eles que escolhem sua condição homossexual; para a maioria, pois, esta constitui uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus na sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa da sua condição”.

Veja que bela oportunidade a Igreja de Cristo vê na pessoa que vivencia essa tendência: a de ser santo. Como? Justamente através de uma continua entrega de suas dificuldades unindo seus sofrimentos a própria Paixão de Jesus, participando ativamente assim da co-redenção do mundo com Cristo. Essa caminhada ascética deverá necessáriamente se encontrar com a vivência das virtudes, em especial a virtude da castidade:

§2359 – “As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadores da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.”

Quer dizer, nada menos do que a perfeição cristã é a meta que a pessoa com tendência homossexual deve ter. Essa perspectiva é muito bela e consoladora na medida em que dá nas mãos de todos as pessoas com tendências homossexuais as condições necessárias para chegarem não só a salvação, mas também a perfeita santidade.

Concluo que agora temos as bases necessárias para refletir precisamente sobre a vossa pergunta específica. A pergunta é sobre a possibilidade de compartilhar sentimentos afetivos com outro homem católico desde que praticando a castidade.

A prudência nos diz que não. Por que?

Porque a convivência próxima de duas pessoas do mesmo sexo com tendências homossexuais é iminente para fazer surgir uma ocasião de prática do ato homossexual. Como diz o ditado popular, a ocasião faz o ladrão, e seria por demais imprudente lhe afirmar que não há perigo algum para vossa alma. Seria como um diabético morando numa doceria, ou talvez, como um adolescente trabalhando numa banca de revistas adultas. A ocasião de cair na falta é próxima demais e colocar a alma numa ocasião dessas, já é pecado. Seria como correr na beira do precipício, ou no topo de um edifício; ainda que não pule, o fato de estar lá já é algo reprovável.

Entendes como um seria ocasião de pecado para o outro? E ainda há o perigo dos pecados internos, aquelas que provém do simples pensamento, do olhar, ou do desejo desordenado. O mesmo Deus que nos fez por fora, nos fez por dentro, e Seu olhar perscruta-nos por inteiro. Uma amizade de irmãos por sí só não é matéria contrária a dignidade humana, mas pela alteração da ordem natural afetiva graças a tendência já citada, estaríamos nos enganando se afirmássemos que seria lícito tal relacionamento. Alguém que entra numa locomotiva em direção ao abismo buscando conforto e satisfação, ainda que busque pular antes de cair, certamente já está numa situação deveras imprudente e em caminho de queda.

Devemos ter muito cuidado caríssimo irmão, porque nossa consciência pode ser abafada e suprimida sempre que deixamos nossos sentidos falar mais alto do que a razão. Poderás certamente encontrar mil motivos para conviver com outro rapaz, mil justificativas, mas lhe faltará sempre a razão clara e objetiva. O melhor a fazer, neste campo espiritual que está muito tangenciado ao campo moral, é se afastar de uma convivência que lhe traga ocasiões de queda. Como disse o Catecismo, estás sempre chamado a viver uma castidade perfeita, porque primeiro és vocacionado a perfeição cristã.

Não há nenhum problema em não se casar com uma mulher ou em não ser um padre. Podes ser muito feliz sendo celibitário como inúmeras pessoas católicas ao redor do mundo, por exemplo, do Opus Dei, que entregaram sua sexualidade integralmente a Deus e vivem para evangelizar mesmo não sendo nem padres, nem freiras, nem casados. Se Deus os chama a este estado é porque tem a graça necessária para eles e os satisfaz completamente; o mesmo se dará convosco.

Neste sentido coloco aqui algumas palavras de ânimo do Professor Felipe Aquino que creio serem muito apropriadas ao sr.:

“É preciso também  tomar  consciência de que você não é o único a carregar um problema difícil. Todo ser humano tem o seu; pode ser até o extremo oposto ao seu, ou seja, uma excessiva atração pelo outro sexo. – Isto nos proporciona a ocasião de lutar contra tendências desregradas; é precisamente na luta que alguém se faz grande. Não fora a luta, ficaríamos sempre com nossa pequena estatura espiritual. Por conseguinte assuma corajosamente sua tarefa de não ceder aos desvios sexuais.

Convido-o, como amigo e irmão em Cristo, a viver a Sua Lei, e você será feliz, mesmo que isto custe muito; quanto mais for difícil, mais mérito você terá diante de Deus.  Você, tal como é, é chamado por Deus à santidade. Ele tem as graças necessárias para levar você à perfeição cristã. Os Santos não foram de linhagem diferente da nossa, tiveram seus momentos difíceis, mas conseguiram vencer com o auxílio de Deus.

Pode ser que você não deixe de ter a tendência homossexual, como o alcoólatra não deixa de ter a tendência ao alcoolismo, mas você pode, com o auxilio da Graça de Deus, vencer-se-a-si-mesmo sempre. E receberá de Deus a recompensa, pois você vai agradar muito a Deus. E assim você será feliz, mesmo já aqui neste mundo, porque a Palavra de Deus não falha. Não há outro caminho verdadeiro de felicidade para você, esteja certo disso.  Mesmo que você caia não pode desanimar e nem se desesperar; não, deve buscar a Confissão com um padre amigo e que te ajude; e vá
em frente. Mais importante do que vencer para Deus, é lutar sempre sem  nunca desanimar.

Busque ajuda num amigo que você confia, e também procure ajuda nos seus pais e na sua família; abra-se com eles se eles podem te entender e ajudar.

Procure sublimar seus impulsos naturais dedicando-se ao esporte e à arte (poesia, música, pintura…) ou a uma tarefa que lhe interesse ou mesmo ao trabalho profissional. Lembre-se de que sentir tendências homossexuais não é pecaminoso, caso não se lhes dê consentimento. O mal consiste em consentir-lhes.

Não se feche em si mesmo ou no isolamento. A solidão, no caso é prejudicial. Se você leva uma vida digna, tenha a cabeça erguida e aborde a sociedade com normalidade. E jamais abandone a sua prática religiosa. Sem Deus todo fardo se torna mais pesado. Não há por que abandonar a prática religiosa se o homossexual se afasta das ocasiões de pecar. A Igreja recomenda aos seus pastores especial atenção aos homossexuais. Eles precisam de sua ajuda.”

Ainda gostaria, como conselho prático, de lhe indicar uma fonte constante de formação moral e espiritual de qualidade na participação (ainda que virtualmente por enquanto) do apostolado Courage. Este apostolado é formado por católicos praticantes e já está presente em vários países no mundo e tem como objetivo principal ajudar à pessoa com tendência homossexual a transcender esse estado de sofrimento afetivo mediante a prática da castidade e da formação de grupos de apoio. O web site deles é <http://www.courage-latino.org> e lá poderá encontrar artigos, livros, material de formação, testemunhos de pessoas que como você desejaram enfrentar a tendência homossexual e tiveram sucesso, além de todos os passos para poder até montar um grupo deste apostolado na sua região. Quem sabe Deus não te chama para ser um pioneiro desta obra no Brasil? Tenho certeza de que vosso contato conosco não foi acidental, mas providencial neste sentido.

Gostaria mais uma vez de reiterar o nosso desejo de que prossiga decididamente dentro da vivência da fé e da moral católica que são as únicas capazes de nos fazer verdadeiramente livres e felizes. Tenha a certeza de que não sofres sozinho e sempre que precisar, escreva-nos, ajudaremos no que for possível.

Encerramos este contato pedindo a proteção da Sempre Virgem e Mãe, a Bem Aventurada Virgem Maria, de seu castíssimo Esposo, São José e de São JoséMaria Escrivá, a quem deixo essa bela meditação sobre a beleza da pureza:

“Contra a vida limpa, a pureza santa, levanta-se uma grande dificuldade a que todos estamos expostos: o perigo do aburguesamento, na vida espiritual ou na vida profissional; o perigo – também para os chamados por Deus ao matrimônio – de nos sentirmos solteirões, egoístas, pessoas sem amor. – Tens de lutar na raiz contra esse risco, sem concessões de nenhum gênero.” (Forja, 89)

“Com o espírito de Deus, a castidade não se torna um peso aborrecido e humilhante. É uma afirmação jubilosa: o querer, o domínio de si, o vencimento próprio, não é a carne que o dá nem procede do instinto; procede da vontade, sobretudo se está unida à Vontade do Senhor. Para sermos castos – e não somente continentes ou honestos -, temos de submeter as paixões à razão, mas por um motivo alto, por um impulso de Amor.

Comparo esta virtude a umas asas que nos permitem propagar os preceitos, a doutrina de Deus, por todos os ambientes da terra, sem temor a ficarmos enlameados. As asas – mesmo as dessas aves majestosas que sobem mais alto que as nuvens – pesam, e muito. Mas, se faltassem, não haveria vôo. Gravai-o na vossa cabeça, decididos a não ceder se notais a mordida da tentação, que se insinua apresentando a pureza como um fardo insuportável. Ânimo! Para o alto! Até o sol, à caça do Amor.

(…) Acabo de vos apontar que, para isso, me serve de ajuda recorrer à Humanidade Santíssima de Nosso Senhor, a essa maravilha inefável de um Deus que se humilha até se fazer homem e que não se sente degradado por ter tomado carne como a nossa, com todas as suas limitações e fraquezas, à exceção do pecado. E isso porque nos ama loucamente! Ele não se rebaixa com o seu aniquilamento; pelo contrário, o que faz é elevar-nos, deificar-nos no corpo e na alma. Responder que sim ao seu Amor, com um carinho claro, ardente e ordenado – isso é a virtude da castidade.” (Amigos de Deus, nn. 177-178)

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