Católicos Exageram ao falar de Maria?

Por Danilo Ribeiro

Há um livro de Santo Afonso, chamado “Glórias de Maria” que gera discussões até hoje, principalmente quando um protestante que está se aproximando da fé católica tem contato com ele.

O que provoca isso são os títulos e adjetivos que Santo Afonso dá à Virgem Maria, dentre eles, o de onipotente.

Para entender como o santo faz isso sem cair no pecado de idolatria, precisamos entender duas coisas importantes que se aprendem em filosofia:

O princípio de não contradição e a analogia.

O princípio de não contradição:

Tal princípio nos ensina que uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e no mesmo sentido:

Ex: Não posso dizer que um lápis é todo azul e todo vermelho ao mesmo tempo, pois ou é azul ou é vermelho.

Mas também há de se considerar o sentido. Por exemplo:

Quando um garoto apaixonado diz que uma moça é “gata”, ele não quer dizer que ela seja um felino, mas que ela seja muito bonita.

Portanto, ela pode ser gata sem ser felina ou felina sem ser gata, dependendo do sentido com que se toma a palavra.

Só isso já nos ajuda a entender que se chamarmos Maria de onipotente com um sentido diferente, já não se cai em erro algum.

Outro exemplo:

Alguém pode dizer que adora sorvete, mas com isso não se quer dizer que se presta culto de adoração ao sorvete. Certo?

Prossigamos, para a analogia!

A analogia é o que está entre o conceito de univocidade e equivocidade. Vejam:

Univocidade:

Quando digo que minha filha é bonita e que meu filho também é bonito, eu estou usando a palavra “bonita” de forma unívoca, porque em ambos os casos a palavra quer dizer a mesma coisa.

Equivocidade:

Quando eu digo que algo parece uma manga, me referindo a fruta manga e que outra coisa parece uma manga me referindo a manga de uma camiseta, eu estou usando a palavra de forma equívoca, porque com a mesma palavra eu quero dizer coisas completamente distintas.

Analogia:

Quando digo que Deus é onipotente e que a Virgem Maria é onipotente — assim como a chamou Santo Afonso Maria de Ligório e vários outros santos, segundo ele mesmo¹ — eu estou usando o termo de forma análoga, porque não é completamente diferente o sentido e ao mesmo tempo não é completamente idêntico.

A característica predicada de Deus é a primeira analogada, mas Deus é onipotente por si mesmo, já a Virgem Maria porque tudo que ela pede a Deus, por estar em perfeitíssima harmonia com a vontade de Deus, Ele no-la concede.

Semelhantemente, e não do mesmo modo, todo o que suplica somente o que está em perfeitíssima harmonia com a vontade de Deus, poderia receber tal atribuição, por analogia de atribuição extrínseca.

“…e tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.”

(Evangelho de São João, 14.13)

Por fim, todos os entes são, mas não do mesmo modo que Deus, pois são todos por participação no ser de Deus, que é o primeiro analogado.

Sendo assim, aplicamos à Virgem Maria o conceito de onipotência suplicante, que é bem distinta da onipotência de Deus, sendo ela um atributo incomunicável da Divindade.

Por fim, assim como todos os entes são, mas não do mesmo modo que Deus, pois são todos por participação no ser de Deus, que é o primeiro analogado, também a Virgem Santa e os santos são grandiosos por participarem da grandeza de Deus.

Nota:

¹”Glórias de Maria” por Santo Afonso de Ligório:

“Chamando a Maria onipotente – como lhe chamaram também S. João Damasceno, S. Pedro Damião, S. Boaventura, Cosme Jerosolomitano e outros – tive a intenção de a chamar assim, enquanto ela, como Mãe de Deus, obtém dele com seus rogos quanto pede em favor dos seus devotos; pois que nem deste nem do outro atributo divino pode jamais ser capaz uma criatura, qual é Maria.”

Salve Maria Santíssima e Viva Cristo Rei!

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