Comentários às leituras do 1º domingo do advento – ano c

1º DOMINGO DO ADVENTO
ANO C
Cor: Roxa
“Quem em Ti espera não fica frustrado” (Salmo 24,3)

1ª LEITURA: JEREMIAS 33,14-16

14. “Eis que virão dias – diz o Senhor – em que farei cumprir a promessa de bens futuros para a casa de Israel e para a casa de Judá.
15. Naqueles dias, naquele tempo, farei brotar de Davi a semente da justiça, que fará valer a lei e a justiça na terra.
16. Naqueles dias, Judá será salva e Jerusalém terá uma população confiante; este é o nome que servirá para designá-la: ‘O Senhor é a nossa justiça'”
– Palavra do Senhor.

A leitura é um breve extrato dos “Oráculos de Esperança” de Jeremias (livro de Jeremias, capítulos 30 a 33) e contém palavras de confiança para o futuro. Podemos acreditar que foram pronunciadas até o ano 587 a.C., quando a cidade de Jerusalém estava prestes a cair nas mãos do inimigo.

“Eis que virão dias – diz o Senhor – em que farei cumprir a promessa de bens futuros para a casa de Israel” (versículo 14): Jeremias havia pronunciado palavras de ameaça contra a cidade de Jerusalém infiel, mas agora que o castigo é iminente, proclama que Deus tem em mente “palavras boas”, isto é, a promessa e o projeto de uma cidade nova onde habitará a justiça. Jeremias, a seguir, indica que não se tratam de palavras vazias ou de ideais utópicos ou nebulosos, mas de palavras que exigem consistência na história da cidade e do povo.

Para tornar realidade esta promessa de bem, enviará um descendente de Davi, um Messias “semente da justiça” (versículo 15), expressão que não se reduz ao sentido de um filho legitimamente descendente de Davi, mas como promessa de um rei que terá verdadeiramente a justiça como seu programa.

No decorrer deste programa, se manifestará o rosto de Deus como “justo”. Jerusalém lhe dará então um novo nome ideal: “Senhor nossa justiça”, isto é, será o testemunho vivo da justiça de Deus. O nome talvez faça alusão ao último rei, Sedecias, que não soube estar à altura do projeto que seu o nome manifestava (em hebraico, significa “justiça do Senhor”). Deus, no entanto, se manifestará precisamente no momento em que demonstrar a sua fidelidade à promessa de edificar um povo novo, fundado na justiça.

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SALMO RESPONSORIAL 24 (25)

R.: Senhor meu Deus, a vós elevo a minha alma!

1. Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação! – R.

2. O Senhor é piedade e retidão
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
Ele dirige os humildes na justiça
e aos pobres ele ensina o seu caminho. – R.

3. Verdade e amor são os caminhos do Senhor
para quem guarda sua aliança e seus preceitos.
O Senhor se torna íntimo aos que o temem
e lhes dá a conhecer sua aliança. – R.

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2ª LEITURA: 1TESSALONICENSES 3,12-4,2

Irmãos,
12. o Senhor vos conceda o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós.
13. Que assim Ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos.
1. Enfim, meus irmãos, eis o que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus: aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus e já estais vivendo assim. Fazei progressos ainda maiores.
2. Conheceis, de fato, as instruções que temos dado em nome do Senhor Jesus.
– Palavra do Senhor.

A comunidade espera a parusia, quando “nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos” se manifestará. Todas as exortações de Paulo obtêm sentido sob esta ótica.

A Igreja da Tessalônica não é muito problemática para o Apóstolo; por isso, os conselhos se dirigem ao cotidiano da vida dos fiéis: exorta esses cristãos a continuarem se comportando como já o fazem, mas tentando sempre melhorar suas condutas. A exortação fundamental é a de manter viva a caridade (versículo 12), já que esta constitui o núcleo essencial da santidade e é a autêntica “forma” da tensão do cristão pela vinda de Jesus (versículo 13).

Outro princípio de fundo que, segundo São Paulo, deve configurar toda a vida cristã é o desejo de “agradar a Deus” (4,1). Não devemos ter por norma a aprovação dos homens, mas o que agrada a Deus.

No mesmo versículo encontramos um convite que pode passar despercebido, embora muito raro em Paulo: “Fazei progressos ainda maiores”. O Apóstolo pensa em uma vida cristã em contínuo crescimento e em constante aprofundamento, já que a profundidade do amor de Deus que nos chama é simplesmente inesgotável.

* * *

EVANGELHO: LUCAS 21,25-28.34-36

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
25. “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas.
26. Os homens vão desmaiar de medo só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas.
27. Então eles verão o Filho do homem vindo numa nuvem com grande poder e glória.
28. Quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.
34. Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida e esse dia não caia de repente sobre vós;
35. pois esse dia caiará como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra.
36. Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do homem”.
– Palavra da Salvação

O relato litúgico do Evangelho é composto de dois fragmentos do chamado “Discurso Apocalíptico” de Jesus segundo a versão de São Lucas.

Na primeira parte (versículos 25 a 28), o discurso se centraliza na vinda do Filho do homem: o Filho do homem é aquele que foi humilhado, padeceu por toda a humanidade e que Deus ressuscitou dos mortos, reconhecendo-O como Filho e salvador universal. O cristão aguarda o dia da sua manifestção “com grande poder e glória” (versículo 27): espera sua aparição plenamente visível, sua vitória sobre o mal e seu senhorio universal.

Segundo Lucas, o dia do Filho do homem se anuncia por certos sinais: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas…” (versículo 25). Não se trata de manifestações que nos permitam calcular com antecedência o momento da vinda de Jesus. Trata-se, pelo contrário, de acontecimentos que se darão sempre, em qualquer tempo. De fato, sempre se sucederam catástrofes naturais, desordens e acontecimentos dolorosos, que indicam que o homem deve estar sempre à espera da vinda de Jesus.

Contudo, haverá dois modos de se ler os sinais: o daquele que, com medo, espera o fim de um mundo que caminha para o desaparecimento e para o nada (daí a angústia, a loucura, o medo, cf. versículos 25-26); e o daquele que, crendo, não subestima o mal, mas apesar de tudo “ergue a cabeça” e abre o coração para a esperança, porque está seguro da libertação (versículo 28).

Na segunda parte, o Evangelista ressalta dois imperativos: “Tomai cuidado” (versículo 34) e “ficai atentos e orai” (versículo 36). É necessário ter cuidado com o que torna o coração insensível e mata a esperança. Deve-se vigiar – e aqui surge o acréscimo do precioso convite à oração – para se evitar a perversa fascinação do mal e estar lúcidos para aguardar o único que dá sentido à nossa história: o Filho do homem.

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HOMILIA PATRÍSTICA: “AGUARDAMOS O SALVADOR”

Justo é, irmãos, que celebreis com toda devoção o Advento do Senhor, deleitados por tanta consolação, assombrados por tanta dignidade, inflamados com tanta dileção. Porém, não penseis apenas na Primeira Vinda, quando o Senhor veio buscar e salvar o que estava perdido, mas também na Segunda, quando voltará e nos levará consigo. Oxalá façais objeto de vossas contínuas meditações estas duas Vindas, ruminando em vossos corações tanto o que nos deu na sua Primeira Vinda quanto o que nos prometeu na Segunda!

Chegou o momento, irmãos, de o juízo começar pela casa de Deus. Qual será o fim daqueles que não obedeceram o Evangelho de Deus? Qual será o juízo a que serão submetidos aqueles que neste juízo não ressuscitam? Porque aqueles que se mostram resistentes a deixarem-se julgar pelo juízo atual, no qual o chefe deste mundo é lançado fora, que aguardem, ou melhor, que temam o Juiz que lançará fora também a estes, juntamente com o seu chefe. Nós, ao contrário, se nos submetemos desde já a um juízo justo, aguardemos seguros um Salvador: o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará a nossa condição humilde segundo o modelo da Sua condição gloriosa. Então os justos brilharão, de forma que poderão enxergar tantos os doutos quanto os ignorantes: brilharão como o sol no Reino de seu Pai!

Quando o Salvador vier, transformará a nossa condição humilde segundo o modelo da Sua condição gloriosa, desde que o nosso coração esteja previamente transformado e configurado à humildade do Seu coração. Por isso dizia também: “Aprendei comigo, que sou manso e humilde de coração”. Percebei atentamente que nestas palavras existem dois tipos de humildade: a do conhecimento e a da vontade, chamada aqui “humildade de coração”. Pela primeira, conhecemos o pouco que somos e aprendemos isso por nós mesmos, mediante a nossa própria fraqueza; pela segunda, pisoteamos a glória do mundo e aprendemos d’Aquele que se despojou de sua condição [de Senhor] e assumiu a condição de escravo; que procurado para ser proclamado rei, declinou para ser coberto de ultrajes e condenado ao ignominioso suplício da Cruz.

(São Bernardo de Claraval; Sermão 4,1,2-4 do Advento do Senhor).

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MEDITAÇÃO

Sem dúvida, há momentos em que atentamos apenas para os graves problemas que nos afetam diretamente ou à nossa família ou comunidade. A comunidade de fiéis frequentemente precisa receber conselhos mais comuns como os que Paulo dirigiu aos tessalonicenses. Todos nós precisamos fortalecer a nossa fidelidade diária ao estilo que aponta o Evangelho, conscientes de que, embora não passemos por graves problemas, não devemos viver uma fé tímida, nem esmorecer na caridade.

As leituras bíblicas [de hoje] são um convite para aguardarmos a vinda do Senhor com caridade e justiça. O amor a que se refere Paulo é um amor “transbordante”: que “aumenta e transborda sempre mais”. Se colocamos limites ou “secamos” o nosso amor, não existe amor; nossa caridade cristã deve ter como sua melhor imagem um rio cujas águas não podem ser contidas.

Ademais, trata-se de um amor “recíproco”, visível dentro da Igreja, e um amor “para com todos”, expressando assim também um amor que se exterioriza. Não esqueçamos que esta chamada à caridade se dá a uma Igreja onde as típicas relações da cidade não são fáceis. Nossa caridade para com os mais próximos e para com os mais distantes possui uma mesma procedência e hoje, para nós, uma pode ser a medida da autenticidade da outra.

É ainda um amor que se deve manifestar mais quando desempenhamos um ministério na comunidade; Paulo deu exemplo: “como o  amor que temos por vós”.

Finalmente, surge a caridade que nos leva à uma fé sólida e à santidade, uma solidez que resiste até a vinda de Cristo: “Que assim Ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos” (1Tessalonicenses 3,13). Reconheçamos e confessemos que Jesus é o Senhor, sabendo que o seu senhorio se estende desde já sobre o mundo em que nos encontramos vivendo o seu amor.

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ORAÇÃO

“A ti, Senhor, ergo a minha alma”: no começo do Advento renasce em mim a esperança de voltar a caminhar por teus caminhos que com frequência abandonei. Teu convite a erguer a cabeça para ver a libertação que se aproxima é o que move a minha esperança. Por isso, a ti ergo a minha alma. A promessa de tua vinda sustenta novamente o meu compromisso para fazer o bem.

“Senhor, ensina-me os teus caminhos”: ao pedir-te que me guies no meu caminho, compreendo que não posso nada se Tu mesmo não me ensinas os teus caminhos. Não apenas isso: Tu és o Caminho; Tu és a “semente da justiça” capaz de tornar justos os nossos caminhos; Tu és o único por quem eu posso novamente decidir gastar os meus dias na caridade.

“Ensinas o caminho justo aos pecadores”: quero ser sincero, Senhor… Diante da tua promessa, sinto mais forte o desvio das minhas distrações e as insensibilidades que tornam o meu coração tímido; observo a capa opressora dos males que afligem o mundo em que vivo e que me levam frequentemente a me contentar com uma vida comum, sem importância. Abre-nos a todos a esperança para que não deixemos de pensar nobremente e para que definitivamente possamos te agradar!

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