A paz não é meio, é fim. E, por ser fim, requer, para que a alcancemos, que nos utilizemos de um meio. Por sua vez, é necessário efetuar uma escolha de qual meio utilizar, é preciso fazer um juízo de valor dos meios disponíveis, elegendo o reputado mais adequado e conveniente.
Como substituímos, nos últimos 70 ou 80 anos, a faculdade de pensar pela incrível e idiotizante capacidade de assimilar e repetir bordões sem sentido, politicamente corretos, e permeados de sofismas, é cada vez mais comum que, com os dados da realidade não raciocinemos. Ao invés de lançarmos mão dessa ferramenta (desconhecida de tantos) chamada intelecto, contentamo-nos com as frases feitas, com os chavões vomitados pelos “formadores de opinião” – geralmente pessoas sem o menor conhecimento do que falam, o que os faz detentores de um formidável poder de proferir imbecilidades.
Nessa esteira, a paz muda-se, na prática, em meio, não mais considerada uma meta. Como é meio, torna-se recurso a ser observado – para fins, às vezes, escusos. Exemplifico. Um assassino investe contra uma adolescente desarmada. A pretexto de ser pacífico, o pai da jovem não a defenderá, inclusive com (proibidas pela burocracia hipócrita) armas de fogo? Se a paz é fim, pode ser alcançada, às vezes, com comportamentos ordenadamente violentos. Note, leitor: ordenadamente! Quando a paz se converte de fim em meio, até o recurso à justa e ordenada violência (legítima defesa) torna-se condenável…
Igual sentido teve a omissão de Chamberlein frente a Hitler. Viu inerte o monstro totalitário avançar sobre a Europa, invocando a paz como desculpa. Melhor fez Churchill: para alcançar a paz – fim -, entendeu a necessidade de eliminar o nazismo pelo conflito bélico.
A conciliação pode ser um bem, um ótimo meio de alcançar a paz. Não obstante, se o pacífico se transforma em pacifista, os maiores crimes e os mais grotescos absurdos viram “toleráveis” para manter um conceito esquisito de paz. Esta, em verdade, é a justiça, é a tranqüilidade na ordem, não a conciliação a qualquer preço. O amor à paz não pode ser sinônimo de covardia.