Contra-réplica ao pregador da “Igreja de Cristo”

Devido a um artigo que compartilhei demonstrando que a seita “Igrejas de Cristo” não foi fundada pelo Senhor Jesus mas, como toda seita, por simples mortais (os Campbell), um pregador do referido grupo preparou uma réplica tentando refutar o artigo, para demonstrar que a sua seita foi fundada pelo Senhor Jesus Cristo e que a Igreja Católica é que é seita. Segue abaixo a minha contra-réplica aos argumentos dele.

Nosso amigo pregador das “Igrejas de Cristo” afirma:

  • “A premissa de remontar século a século é uma farsa que os católicos querem fazer crer, já que não conseguem demonstrá-lo segundo a verdade (da Bíblia)”.

A realidade é que não é assim: apelei para a via histórica porque é o ponto mais frágil que as seitas possuem e não porque não poderia comprovar biblicamente que a Igreja Cristã Católica é a Igreja do Senhor Jesus Cristo. De fato, é possível comprová-lo por muitas vias: biblicamente, historicamente, arqueologicamente, pela via da sucessão apostólica, pela via da Patrística etc.

Pelo contrário, as seita não podem fazê-lo nem mesmo tentando se sustentar nas suas interpretações equivocadas da Sagrada Escritura.

Em sua réplica, o nosso amigo prossegue:

  • “Diga-me: onde a Bíblia diz ‘Igreja’ Católica?”

Aqui, nosso amigo comete uma falácia de petição de princípio, visto que o princípio da “Sola Scriptura” dos reformadores protestantes não foi provado, e muito menos a deformação deste princípio, que é a “Solo Scriptura”. O próprio Senhor Jesus jamais ensinou ou se limitou a esse princípio: vemos que Mateus 23,1-3 Ele faz menção à “cátedra de Moisés”, a qual não se encontra em nenhuma parte do Antigo Testamento, mas faz parte da tradição oral judaica (cf. Midrash, Exodus Rabba 43,4).

Tal petição é tão absurda quanto dizer: onde a Sagrada Escritura menciona “Bíblia” ou “Trindade”?

Não é possível recorrer a esta espécie de petições literalistas, a mesmo que se mostre literalmente onde se encontra a palavra “Bíblia” ou, se for trinitário, que mostre a palavra “Trindade” e não sua fundamentação. Só assim poderá fazer petições como “Onde a Bíblia diz ‘Igreja’ Católica?”.

Ainda em sua réplica, nosso amigo “pregador” diz:

  • “Não há como demonstrar, segundo a Bíblia, que a seita católica foi fundada pelo Senhor”.

Primeiramente devo esclarecer que a Igreja Cristã Católica não é uma seita porque a Igreja Católica não é divisão de outra Igreja – o que não ocorre com a seita “Igrejas de Cristo”, que são uma cisão dos “Discípulos de Cristo” e das “Igrejas Cristãs”, todas originadas do mesmo Movimento Campbellita, como confirma a Enciclopédia do Movimento Campbell-Stone, que possui 700 artigos escritos por 300 acadêmicos do Movimento Campbell-Stone. Se o pregador deseja refutar esta fonte [bibliográfica], deve refutar os 300 acadêmicos do seu Movimento.

O “pregador” também me acusa falsamente de “parcial e estudar a história apenas por fontes católicas”.

A acusação não é nova, já que os apologetas de maior níver costumam a dizer que devemos estudar os nossos oponentes a partir das suas próprias fontes, suas doutrinas, exposiões etc., para conhecermos a sua posição e rebatê-los de uma forma mais contundentes. Observa-se então facilmente que o nosso amigo não viu as notas de rodapé que pus ao final do artigo, onde aponto as referências de onde extraí a história da seita campbellita. A primeira referência foi deste Site: https://disciples.org/our-identity/history-of-the-disciples/ ; a segunda referência foi da “The Encyclopedia of the Stone-Campbell Movement” (https://books.google.com.mx/books?id=-3UtqrX56rgC&printsec=frontcover&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false). Consequentemente, a acusação do nosso amigo é falsa e põe de manifesto que ele mesmo ignora a história da origem da sua “igreja” (seita).

A seguir, o pregador das “Igrejas de Cristo” comete uma falácia indemonstrável ao afirmar:

  • “Na verdade, a história mostra que a realidade católica é: esta seita é resultado do desvio de homens que apostataram da fé, seguindo e inventando suas próprias doutrinas”.

É fácil demonstrar que esta teoria é totalmente sem sentido, produto somente das conclusões equivocadas do referido “pregador”, já que nenhum historiador sério se atreveria a afirmar tamanho absurdo, de que a Igreja Católica surgiu no século II ou III. Se não for assim, que o pregador apresente a prova, isto é, um historiador que faça uma afirmação dessas e não apenas suas conclusões equivocadas. A afirmação que esse pregador faz é tão indemonstrável quanto aquela de Joseph Atwil, que afirma que o Cristianismo foi uma invenção do Império Romano, ou a afirmação dos ateus, de que o Cristianismo é uma cópía das religiões pagãs.

Um erro de compreensão que o amigo pregador comete é o que conclui que eu, ao afirmar que uma das características da verdadeira Igreja é basear os ensinamentos na Palavra de Deus, estou aceitando que nós [católicos] não baseamos os nossos ensinamentos apenas na Bíblia.

Isto é errado! A Igreja Cristã Católica ensina e crê na suficiência material das Escrituras, ou seja, que tudo o que é necessário para a fé está explícita ou implicitamente contido na Sagrada Escritura. Isto também responde a sua falsa afirmação que diz que não aceitamos apenas a Bíblia. Como para demonstrar que o princípio da Sola Scriptura e da Solo Scriptura são inconsistentes, esta parte também mostra que se as seitas usam somente a Bíblia, estas no entanto possuem doutrinas contraditórias entre si. E o mesmo se dá com as 3 correntes do Movimento de Restauração: usam somente a Bíblia, mas estão divididas! Por isso que tal princípio mostra-se inviável!

A seguir nosso amigo quer abordar temas como a infalibilidade papal, Maria Mãe de Deus, intercessão dos Santos, imagens etc. Tais temas não dizem respeito a este tópico; então, se o nosso amigo pregador quer debater sobre tudo isso, que o faça após concluir este tópico – e debateremos com todo prazer!

Nosso amigo pregador continua, afirmando:

  • “As igrejas de Cristo não possuem uma sede ou grupo oficial que dite regras gerais, doutrinas ou dogmas; não possui uma hierarquia humana, tal como possui a seita católica. O fato de as igrejas de Cristo não possuírem isso se deve, precisamente, ao padrão bíblico que todas as igrejas de Cristo mantiveram desde o século I, como foi registrado na Escritura: as igrejas de Cristo não tinham uma organização central em lugar nenhum”.

As igrejas de Cristo se gabam muito – sem sucesso – em se parecerem com a Igreja do Novo Testamento, porém sua concepção equivocada sobre como era a Igreja do Novo Testamento os faz cometerem diversos erros: a Igreja do Novo Testamento possuía hierarquia, tinha “o primeiro” (πρῶτος, prótos), isto é, o líder principal, “Simão, chamado Pedro (cf. Mateus 10,2), que é antecessor do Papa; e tinha ainda os Bispos (cf. 1Timóteo 3,1), os Presbíteros (cf. Atos 14,23) e os Diáconos (cf. 1Timóteo 3,8).

Ao contrário, nosso amigo pregador não é capaz de demonstrar que a Igreja do Novo Testamento era composta apenas por um Pregador e as ovelhas, e nada mais.

No tocante a Igreja não ter sede, esta é outra afirmação baseada no desconhecimento bíblico. Atos 15 relata que Paulo e Barnabé, por causa da questão em que os judaizantes afirmavam que os gentios deveriam se circuncidar ao ingressarem na Igreja, subiram até Jerusalém e aí se reuniram [com os Apóstolos] para tratar do assunto. Ora, se a Igreja não tinha sede, Paulo e Barnabé teriam resolvido o problema ali mesmo, onde se encontravam [e não teriam subido até Jerusalém]! Isto lança por terra a afirmação do pregador da “Igreja de Cristo”, de que a Igreja não tinha sede e não era organizada.

Nosso amigo também afirma:

  • “As igrejas de Cristo não possuem uma posição oficial; se algum pregador afirma algo, é sua mera opinião pessoal”.

Realmente isto é tão problemático quanto debater com um monstro de 1000 cabeça, já que são autocéfalos como os “neopentecostais”; não há uma posição oficial já que cada pastor ou pregador, neste caso, ensina segundo suas opiniões equivocadas sobre o que lê na Escritura, conforme seu bel prazer. Isto confirma o que já dizia Lutero: “Há tantos credos quanto cabeças”. Isso demonstra também que não são a Igreja do Novo Testamento, já que a Igreja do Novo Testamento possuía “uma só fé” (cf. Efésios 4,4-6). Assim como há um só Deus, assim também deve haver uma só Igreja e esta é a Igreja Cristã Católica, que possui uma só fé incólume desde a Era Apostólica.

Entretanto, a Igreja tinha uma posição oficial nos tempos do Novo Testamento? Voltemos à passagem de Atos 15, versículos 22-31, que relata que a Igreja tomou uma decisão em relação ao tema propostos e remeteu uma Carta com sua posição oficial às comunidade de Antioquia, Síria e Cilícia. Como podemos ver, esta Carta era vinculante para todas as comunidades mencionadas e em nenhum momento diz para alguma comunidade: “Esta é a opinião [pessoal] dos Apóstolos e presbíteros de Jerusalém, mas não vincula ninguém”. Como vemos, a Igreja do Novo Testamento possuía posições oficiais e vinculantes para toda a Igreja ou, ao menos, neste caso, para a comunidade que tinha o mesmo problema descrito na Carta.

As características apresentadas pelo pregador, refutadas no artigo anterior, de maneira nenhuma faz concluir que se trate da sua opinião pessoal, mas baseada na autoridade bíblica. Contudo, isto não resta paradoxo? Também seria possível desprezar tudo o que o referido pregador está apresentando, como se fosse mera opinião pessoal sobre a Escritura.

Novamente, o pregador volta a empregar a alegação usada pelo seu irmão [de fé], a que fizemos alusão no artigo anterior, cometendo falácia “ad nauseam”, isto é: não é porque repete mil e uma vezes o argumento que este será tido como procedente. No artigo anterior, “Igrejas de Cristo ou igrejas de Campbell?”, refutamos a afirmação do “silêncio bíblico proibitivo” tocando no ponto medular!

A seguir, afirma que não há autorização de Deus para colocar um nome na Igreja, já que a Bíblia não o autoriza. O erro da seita “igrejas de Cristo” é seguir o princípio protestante da “Sola Scriptura”, ainda que com um conceito deformado, tendo a Bíblia como a única autoridade; no entanto, tal princípio é antibíblico visto que, ainda que seja verdade que a Bíblia detém autoridade, ela não é a única, visto que o Senhor Jesus também tinha autoridade (cf. Mateus 7,29; 21,24), assim também como Ele concedeu autoridade à sua Igreja na pessoa de Pedro, ao conferir-lhe as chaves e o poder para atar e desatar (cf. Mateus 16,18-19), bem como os seus outros Apóstolos também receberam autoridade, ao dar-lhe o poder de atar e desatar (cf. Mateus 18,18). E vemos claramente este poder ser exercido em Atos 15 para resolver a problemática com os judaizantes. Consequentemente, o princípio de que a Bíblia é a única autoridade cai por terra. A Igreja de Cristo – a Igreja Cristã Católica – possui autoridade para conferir o epíteto “católica” à Igreja, da mesma forma como a Igreja Católica teve autoridade para definir como inspirados, com o poder dado por Deus, dos 27 livros do Novo Testamento. Então, para responder à pergunta do pregador, “por que deveríamos aceitar que se coloque um nome à Igreja após a morte dos Apóstolos?”: pelo mesmo motivo já dito acima: pela autoridade dada à sua única Igreja!

Nosso amigo pregador prossegue dizendo que muitos irmãos cristãos católicos afirmam que a Igreja Católica não se chama “católica”, mas “é católica”. Isto é um erro, já que a Igreja é ambas as coisas: é católica e chama-se “católica”. As razões no sentido de “ser” baseia-se no texto de Mateus 28,19-20, onde o Senhor manda fazer discípulos de todas as nações, estando o Senhor todos os dias com a sua Igreja; e no sentido denominativo, para distinguir-se das heresias e seitas que também se fazem chamar “cristãs”, tal como se dá ironicamente hoje com as comunidades protestantes e seitas.

A réplica do pregador continua, afirmando que não foram abordados os pontos de que a Igreja não possui nomem e não empregava instrumentos no culto de adoração a Deus, declarando que eu fugi pela tangente.

Isto é falso, já que como mencionei no artigo “Igrejas de Cristo ou igrejas de Campbell?”, tais pontos serão e foram abordados ao refutarmos o “silêncio proibitivo das Escrituras”. Estabeleçamos abaixo as premissas para demonstrar que a referida conclusão não se segue:

  • Premissa 1: O silêncio das Escrituras é proibitivo;
  • Premissa 2: A Bíblia guarda silência sobre dar nome à Igreja;
  • Conclusão: É proibido dar nome à Igreja.

No entanto, a Premissa 1 é falsa! Consequentemente, a conlusão também é falsa e improcedente. Por isso preferi refutar o ponto medular!

Depois o pregador diz:

  • “Os membros da Igreja de Cristo foram chamados ‘cristãos'”.

É verdade, no entanto a Igreja, pela autoridade dada pelo Senhor Jesus, possui autoridade para dar o nome de “católica” à Igreja, ademais empregando o senso comum:

Foi em Antioquia onde os membros da Igreja de Cristo foram pela primeira vez chamados de “cristãos”; mas foi também em Antioquia onde a Igreja foi pela primeira vez chamada de “católica”. Não seria então lógico que se os cristãos daquele tempo pensassem como a seita “igrejas de Cristo” ou se esta seita existisse já naquele tempo, não teriam se oposto energicamente à atribuição de nome à Igreja?

Como podemos notar, a Igreja de Cristo não entendia que a atribuição de um nome à Igreja fosse um problema; com efeito, isto se configura como mais uma prova de que a seita “igrejas de Cristo” não pertencem à Igreja primitiva, nem remontam a ela historicamente e, muito menos, doutrinariamente.

Quando digo aqui “Igreja de Cristo” não estou reconhecendo que a seita “igreja de Cristo” seja a Igreja do Senhor Jesus Cristo, mas fazendo referência à unica Igreja que o Senhor edificou. A seguir, [o pregador] minimiza a característica de que a Igreja lia as Escrituras contidas em rolos, afirmando que não há nada prescrito sobre o material que contém as Escrituras. Enxergamos então a dupla medida empregada pelas “igrejas de Cristo”, visto que nós argumentamos que não há nada prescrito com relação ao nome da Igreja, se podemos ou não dar um nome a ela, e esse grupo se coloca imediatamente na defensiva, mas faz o contrário em relação ao material que deve conter as Escrituras!

Após isso, nosso amigo pregador comete uma falácia “tu quoque”, ao dizer que nós também usamos Bíblias com nomes adicionais como a Septuaginta, Almeida e Jerusalém. Aqui ele escapa pela tangente, já que para refutar isto teria que apresentar os versículos bíblicos que autorizam atribuir um nome às Escrituras. Ora, nós católicos não temos nenhum problema em atribuir nomes às versões e traduções da Bíblia; o problema se dá para as “igrejas de Cristo”, que não possuem autoridade bíblica para fazê-lo ou aceitá-lo, violando assim o seu próprio princípio!

Em seguida, conclui erroneamente que eu, ao mencionar “igrejas de Cristo”, como e onde batizavam, estaria me referindo à sua seita. Na verdade, estou me referindo à única Igreja fundada por Jesus, a cristã católica, em suas origens; e assim também no “etc.”, que está implicando no batismo por infusão e “alguma água” no caso do etíope [Atos 8,26-40].

Continuando, nosso amigo pregador tenta – sem sucesso – salvar o princípio do “silêncio proibitivo das Escrituras”, citando as passagens de Atos 1,6-7, onde os Apóstolos perguntam [a Jesus] se chegou a hora de restaurar o reino de Israel. O pregador deduz, equivocadamente, que ocorre aqui o silêncio das Escrituras. Isto é totalmente improcedente, já que o Senhor Jesus respondeu: “Não cabe a vocês conhecer o tempo e o momento que o Pai estabeleceu com sua própria autoridade”, e não ficou em silêncio. Para que o argumento fosse procedentes, o Senhor Jesus teria que ficar em silêncio, sem dar resposta alguma. Mas não é o que ocorre e o caso de Mateus 24,36 tampouco sustenta o princípio, já que o Senhor não guarda silêncio, mas expõe que ninguém sabe a hora, apenas o Pai. Ambos os casos são inviáveis, visto que tenta sustentar o silêncio das Escrituras com o “silêncio” do Senhor Jesus; com efeito, os argumentos do pregador restam totalmente insalváveis e o princípio do silêncio proibitivo é sepultado juntamento com os fundadores destes grupos.

A seguir, o pregador afirma:

  • “O silêncio nem sempre é proibitivo, quando se refere a coisas secundárias, que não tenham a ver com doutrina, salvação e fé”.

Eis aqui o ponto de divisão entre as 3 correntes do Movimento Campbellita (Discípulos de Cristo, Igrejas Cristãs e Igrejas de Cristo) e até mesmo dentro das próprias “igrejas de Cristo”: o não se colocarem de acordo no essencial para a salvação, visto que a concepção do que é ou não essencial se baseia no subjetivismo de cada pregador, isto é, da interpretação de cada pregador; não é algo objetivo. Se alguém pergunta a um “discípulo de Cristo” se atribuir um nome [à Igreja] é algo secundário, este responderá que sim; mas se se perguntar a mesma coisa para um membro da “igreja de Cristo”, este responderá que é um aspecto essencial. Se alguém perguntar a um membro da “igreja cristã” se usar instrumentos musicais no culto de adoração é um aspecto secundário, este responderá que sim; mas se se perguntar o mesmo para um membro da “igreja de Cristo”, este responderá que usar instrumentos atenta contra a salvação. Se alguém perguntar para uma membro da “igreja de Cristo” de um certo lugar se é lícito citar os Padres da Igreja [primitiva], este poderá responder que sim; mas se se perguntar a mesma coisa para outro membro da “igreja de Cristo”, de um outro lugar, este poderá responder que não; etc., etc., etc.

Com efeito, podemos observar que estes grupos estão formalmente divididos, atentando contra o que São Paulo diz na Bíblia, em 1Coríntios 1,10:

  • “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer”.

A seguir, o pregador afirma que as doutrinas da Igreja Católica demonstram que ela não é a Igreja de Cristo. Ora, é justamente o contrário, já que todas as doutrinas possuem fundamento explícito ou implícito na Bíblia. Entretanto, não impomos a nossa posição, mas a expomos para que todo aquele que deseje estar na Verdade e na única Igreja de Cristo possa conhecer a verdadeira doutrina e as inconsistências das seitas que tentam usurpar o nome de “cristão”.

Depois o pregador me acusa de cometer uma falácia do espantalho, ao dizer que Bíblia guarda silência quanto a citar autores não-inspirados, embora o próprio Apóstolo São Paulo o faça. Isto é falso, visto que eu estou empregando o mesmo raciocínio das “igrejas de Cristo”, de que não existe ordem nenhuma na Bíblia para que se citem autores não-inspirados. Ora isto é proibido segundo a concepção desse grupo e aqui vemos novamente a dupla medida e inconsistência do referido princípio. Ademais, não fundamentamos nossas doutrinas sobre esses autores, mas sim no fundamento da Escritura em sua interpretação correta.

A seguir comete um tremendo erro ao afirmar que a palavra “Eucaristia” não se encontra na Bíblia. A palavra “Eucaristia” procede do grego “eucharistéo” (εὐχαριστήσας), que significa “render graças”; quem quiser confirmar o que digo aqui, basta ver a Concordância de Strong (https://www.logosklogos.com/strongcodes/2168). Quanto ao assunto de como celebrar a ceia, isto faz parte de outro tópico.

É interessante o dado apresentado pelo pregador sobre o fato de a Bíblia Latinoamericana omitir a frase “não ir além do que está escrito” em 1Coríntios 1,4. É verdade que ela omite, porém o amigo pregador comete uma falácia de generalização apressada, ao acusar a Igreja Católica de manipular a Bíblia ao omitir tal frase. Porém, a Bíblia Latinoamericana não é uma tradução, mas uma paráfrase! Assim, ela não está traduzindo o referido versículo, mas parafraseando. Se a Igreja Católica quisesse realmente eliminar esse versículo, o teria removido de todas as versões! Mas não é o que se dá, já que a frase se encontra [por exemplo] na Nacar-Colunga, na Bíblia de Jerusalém, na Bíblia da América etc. Logo, a acusação do pregador é falsa!

Depois me desafia a demonstrar um só texto que autorize sair do silêncio das Escrituras. Ora, este desafio é inviável já que parte de uma premissa falsa (o silêncio proibitivo), como demonstrei acima. Portanto, não é possível demonstar o contrário do que não existe na Escritura!

E então nosso amigo apela para uma afirmação gratuita, dizendo que o uso do vinho não era essencial para a celebração da Páscoa. Aqui, nosso amigo elude a questão apelando para os assuntos não essenciais. Este argumento que expus devia ser refutado – como eles tanto se gabam – citando um texto bilico onde Deus diz que se pode usar vinho na celebração da Páscoa. No entanto, não o faz.

A seguir, o nosso amigo pregador diz que não há ordem para se guardar o domingo. Mas se não há ordem para guardar o domingo e você se reúne para o culto de adoração a Deus no domingo, por que o faz assim? E se você não guarda o domingo, por acaso guarda o sábado como os judeus e os adventistas? Mas se, por acaso, o nosso amigo guardasse o sábado como dia de repouso, estaríamos diante de um membro ou de uma congregação da igreja de Cristo versão judaizante? Ele também afirma que não há um só texto [bíblico] que diga que os Apóstolos guardaram o domingo como dia de repouso; aqui, nosso amigo torna a pedir algo que ele mesmo não consegue dar, confirmando que comete falácias de petição de princípio. Os Apóstolos guardavam o domingo, que é o primeiro dia da semana, para a fração do pão, isto é, a Santa Ceia:

  • “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão, Paulo, que havia de partir no dia seguinte, falava com eles” (Atos 20,7).

Nós católicos não precisamos de mandamentos explícitos na Bíblia para guardar o domingo, basta encontrá-lo implicitamente na Escritura, ordenado pela autoridade apostólica, contido na Tradição Apostólica e praticado pela Igreja primitiva.

Novamente, o pregador torna a mal-interpretar e a não entender o ponto central. Ao afirmar que a Bíblia guarda silêncio sobre a ordenação de Bispos, Presbíteros e Diáconos eu não estou usando a minha maneira de raciocinar, nem a maneira de raciocinar da Igreja Católica, mas a maneira de raciocinar dos membros das “igrejas de Cristo”, que querem uma ordem expressão para tudo aquilo que eles não compreendem ou que não se ajusta à sua equivocada cosmovisão. Mais uma vez o pregador usa uma falácia de arenques vermelhos e não refuta o ponto questionado, citando um texto onde Deus ordena estabelecer Bispos, Presbíteros e Diáconos. Mas uma vez, não dá o que exige: falácia de petição de princípio.

O pregador afirma:

  • “Você fala de ‘universalidade’, mas na verdade você não emprega o sentido correto da palavra; só o emprega como argumento para alimentar a sua falácia”.

A essa objeção, deixemos que São Cirilo de Jerusalém explique em qual sentido se refere a palavra “universal”:

  • “Chama-se ‘católica’ porque encontra-se difundida por todo o orbe, de um confim a outro da terra, e visto que ensina de modo completo e sem que falte nada todos os dogmos que os homens devem conhecer sobre as coisas visíveis e invisíveis, celestes e terrenas; e também porque submeteu ao culto reto toda classe de homens, príncipes e pessoas comuns, doutores e simples; e finalmente porque cura toda espécie de pecados que se cometem com a alma e o corpo. Ela (a Igreja) possui todo gênero de virtude, qualquer que seja o seu nome, em fatos, em palavras e em dons espirituais de toda espécie”.

E como já era de se esperar, o nosso amigo torna a incorrer numa falácia de petição de princípio, pedindo para mostrar onde aparece “Igreja universal”, apelando para a universalidade. Demonstra-se que a seita “igrejas de Cristo” não são a Igreja que o Senhor Jesus prometeu edificar, já que não provém da época do Senhor, não pregou o Evangelho por todo esse tempo, nem muiito menos em todo o lugar. de fato, nasceram 19 séculos depois! É uma seita “made in USA”.

Por fim, tenta demonstrar que a sua seita não foi fundada por Campbell e Stone, citando alguns dados em que se menciona “igrejas de Cristo” dois séculos antes do início do Movimento de Restauração, extraídos de um revista editada pelo próprio Alexander Campbell chamada “The Christian Baptist”, de 1827 (fonte não-católica, mas campbellita. “The Encyclopedia of the Stone-Campbell Movement: Christian Church (Disciples of Christ), Christian Churches/Churches of Christ, Churches of Christ”, Wm. B. Eerdmans Publishing, 2004, ISBN 0-8028-3898-7, ISBN 978-0-8028-3898-8, 854 pp., verbete sobre “Christian Baptist, The”, pp. 174-175, url: https://books.google.com.mx/books?id=-3UtqrX56rgC&lpg=PP1&hl=es&pg=PA174#v=onepage&q&f=true). Na verdade, citar uma revista editada pelo próprio Alexander Campbell não é um argumento probatório. Nosso amigo procede como uma testemunha de Jeová, citando a revista “A Sentinela” para demonstrar que a sua seita sempre existiu, ou como um ateu citando o documentário “Zeitgeist”. Esta tentativa de refutação é improcedente, dada a carência de fontes primárias. Casualmente fui acusado de recorrer somente a fontes católicos e não a fontes não-católicas, porém, neste ponto, ele apela somente para fontes de sua seita. É compreensível, já que nenhum historiador sério ou fonte externa ao seu grupo sustentará tal coisa.

Quanto ao dado que fornece, que a “igreja de Cristo” é anterior pelo fato de existir uma lápide de um líder da “igreja de Cristo” em Cane Ridge, Kentucky, do início do século XIX, isto não refuta a afirmação de que as “igrejas de Cristo” tenham sido fundadas pelos Campbell; antes o confirma, já que este suposto Movimento de Restauração vinha se formando desde o início do referido século.

Mas ainda supondo que os dados da revitaxs “The Christian Baptist”, de 1827, e a lápide de William Rogers fossem procedentes, mesmo assim o argumento é insalvável pois o pregador apresenta uma evidência frágil da história da sua seita, que remonta no máximo ao século XXIII e não desce ininterruptamente século-a-século até a Era Apostólica.

Concluindo:

1. O amigo pregador basicamente sustentou sua refutação em falácias do espantalho, de petição de princípio e indemonstráveis.

2. Ele tentou abordar outros temas que não pertencem a este tópico.

3. Não demonstrou que a seita à qual pertence remonta à Era Apostólica (no máximo, chegou até o século XVIII e, mesmo assim, precisou apelar para fontes de seu próprio grupo, não-imparciais).

4. Restou demonstrado que o princípio do silêncio proibitivo é inconsistente e foi novamente refutado.

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