A suposta “socia(bi)lização” que é dada pela escola é na verdade exatamente o oposto.
Explico: Na escola, a criança fica imersa em um ambiente completamente artificial, sem semelhança alguma com a real sociedade. Um ambiente em que todos os que estão em torno têm a mesma idade, todos estão (normalmente) vestidos da mesma maneira, o ensino é dado igualmente para todos (o que faz os mais lentos terem dificuldades e os mais rápidos ficarem impacientes), etc…
O resultado prático é fácil de perceber: crianças que vão à escola normalmente têm enormes dificuldades em conversar com adultos ou crianças de outras faixas etárias, seguem doentiamente “modas” (pokemons, etc.), dão muito mais atenção à aceitação por aquela estranha sociedade artificial que ao que os mais velhos dirão, etc.
Sou professor, convivo e trabalho em escolas diariamente há mais de quinze anos, e sou plena e completamente a favor da educação em casa.
Minha dúvida inicial quando fui pela primeira feita exposto a esta alternativa foi exatamente essa; temia que a criança fosse ficar introvertida, sem capacidade de relacionamento social. Em suma, esse tipo de coisa que nós nos acostumamos a considerar “papel da escola”, esquecendo que durante a imensa maior parte da História esta instituição só existiu em regimes ditatoriais (como Esparta, por exemplo).
Comecei a pesquisar quando um amigo meu, também professor, que passa metade do ano nos EUA e metade aqui, aventou a hipótese de educação domiciliar para sua filha. Minha atitude inicial era de descrença. Isso mudou, e mudou da água para o vinho.
Hoje, após ter convivido com crianças educadas em casa – que, ao contrário das crianças da escola, são perfeitamente capazes de “entrar no papo” dos adultos, respeitar os mais velhos sem ficar calado olhando para o bico do sapato, ter interesses próprios e não forçados por pressão dos pares, etc. – e ter percebido as imensas vantagens didáticas (que qualquer um que tenha lecionado em turmas pequenas pode imaginar), percebi que, realmente, a escola deve existir apenas como alternativa para os pais que não têm condições de educar seus próprios filhos.
Cabe lembrar, aliás, que este também é um processo em que os pais aprendem muito; aprendem inclusive a ser melhores pais.
Não se trata de uma “prisão”; prisão é a pobre criança ser encarcerada em uma sala onde ou é cobrada em excesso ou passa o tempo rabiscando o caderno sem poder levantar – a não ser que ela seja a medíocre exceção, para quem a aula é forçosamente dada – durante quase cinco horas por dia, com vinte minutos para brincar como deveria.
A criança deve sim ser “sociabilizada” fora da família também, jogando bola com outras crianças, brincando, entrando para os escoteiros, etc. A real socialização não é a que ocorre enquanto o professor olha para o outro lado, com o repetente ou brutamontes da sala ameaçando os mais novos. A real sociabilização na escola é a que ocorre no recreio, e olhe lá. Digo “e olhe lá’ porque a tendência natural da criança é saciar a curiosidade dela pelos seus colegas de turma com quem não pode falar (a não ser aquilo que o professor manda ou deixa) durante a aula, e estes não têm diferenças suficientes para que a sociabilização seja efetiva.
O ideal é educar as crianças em casa e proporcionar a elas muitas, digamos “atividades grupais extra-curriculares”, tomando sempre o cuidado de procurar atividades em que não sejam formados grupos por faixas etárias, sim por capacidade e competência, que incluam normalmente crianças de pelo menos dois anos mais velhas e mais novas. Isso sim é sociabilização real: aprendizado da diferença, do respeito à diferença, aprendizado com as outras crianças, que usam outras roupas, têm outros interesses, têm capacidades diferentes…
A pior situação possível… é a que é pregada por aí: a criança ficar presa na escola, enfiada em uma fatiota que é exatamente igual à dos outros, procurando freneticamente manter-se “atualizada” em toda mania consumista, convivendo quase que exclusivamente com crianças da mesmíssima idade, roupa e interesses, convivendo com adultos apenas quando são seus professores, sendo forçada a gastar um tempo louco aprendendo fora do seu ritmo, sendo sujeita frequentemente a uma doutrinação politicamente correta que prega da boca para fora o valor da diferença enquanto faz o possível para escondê-la… E então a pobre vítima, digo, criança, chega em casa e mal conhece seus pais. Ela tem o dever de casa do professor da escola (que é pouca coisa) e, muito mais importante, o dever de casa dos colegas: atualizar-se em pokemons, cavaleiros do zodíaco e sabe-se lá quais outros escapismos promovidos a fator de união maior de um grupo já demasiadamente homogêneo.
Os pais não conhecem os filhos, os filhos não conhecem os pais, as crianças não conhecem a diferença, e os pobres professores, mais tarde, vêem-se às voltas com adolescentes absoluta e completamente anti-sociais. Quem os tornou anti-sociais? A “socialização” escolar.
Nos EUA já são mais de milhão e meio de famílias que educam os filhos em casa. Praticamente sem exceção, seus filhos são os melhores nos exames de ensino fundamental e médio, e é raríssimo que eles se envolvam em problemas na rua (drogas, etc.).
- Fonte: A Hora de São Jerônimo