Correspondência entre o sr. Dimas Galvão e o prof. Alessandro Lima

Nota: essa correspondência é continuação desta.

Segunda Carta do Sr. Dimas Galvão ao Prof. Alessandro Lima

Data: 12/02/2008 17:10

Prezado Sr. Alessandro,

Recebi sua reação à minha opinião sobre a veiculação do DVD da CF 2008.

Poderia dedicar horas a lhe escrever, contestando uma por uma suas afirmações, mas não pretendo fazê-lo por não acreditar na sua capacidade de compreender e na sua disposição ao diálogo frente à diversidade e pluralidade que caracterizam o nosso mundo e a nossa Igreja.  Mas algo quero, devo e posso dizer. Sua concepção de igreja cai bem para tempos pré-conciliares. É, portanto, totalmente anacrônica. Não existe. Sobrevive apenas em pequenos grupos e redes obscurantistas que remontam a Idade Média. É só ler e entender os documentos do Concilio Vaticano II. Podem até não aceitar e querer uma volta ao modelo de igreja defendida pela Opus Dei, TFP e outros. Gritarão ao vento. Mesmo com um Vaticano bastante conservador no momento, está muito à frente do que foi defendido pelos senhores.

Num primeiro momento fiquei surpreso em relação aos comentários sobre o que faço e onde trabalho, fruto de investigação para fazer pré-julgamentos sobre minha pessoa. Mas depois, analisando melhor o conteúdo de seu extenso e-mail, não teria porque me surpreender com essa conduta de um “apóstolo” da Veritais Splendor. De qualquer forma, lembro que os tempos inquisitoriais foram enterrados pela história. E o AI-5, decretado pela ditadura militar, foi esfacelado pela democracia.

Tenho certeza que essa resposta também será divulgada no vosso site.

Atenciosamente,

Dimas Galvão

Terceira Carta  do Sr. Dimas Galvão ao Prof. Alessandro Lima

Data: 19/02/2008 08:57

Caro Sr. Alessandro, bom dia!

Antes de orar pela salvação de minha alma, ore antes pela salvação da tua porque a arrogância está entre os piores pecados. Deixe que Ele me julgue, não você! Quem garante que a minha não está mais próxima da salvação que a tua? Pense nisso, se é que você pensa!

Não espero e nem quero uma tréplica sua porque não faz sentido. Estamos em campos de pensamentos e modos de vida bastante opostos. E estou absolutamente convencido do que penso e da forma como vivo. Esse tiroteio de mensagens entre nós não leva a lugar algum. De minha parte, deletarei toda e qualquer mensagem que vier dessa fonte, portanto, não precisa perder tempo em gastar seu verbo, seja para me convencer, seja para me tripudiar porque, doravante, não perderei o meu para ler. Tente “converter” os incautos e os que têm dúvida, o que  não é o meu caso.

Ainda hoje vou pedir ao técnico para registrar seu endereço no SPAM. Obviamente esta também será minha derradeira mensagem para o senhor.

Dimas Galvão.

Resposta do Prof. Alessandro Lima ao Sr. Dimas Galvão

Caro Sr. Dimas Galvão, a Paz de Nosso Senhor!

O senhor me escreveu: “Poderia dedicar horas a lhe escrever, contestando uma por uma suas afirmações, mas não pretendo fazê-lo por não acreditar na sua capacidade de compreender e na sua disposição ao diálogo frente à diversidade e pluralidade que caracterizam o nosso mundo e a nossa Igreja”.

Não sou eu quem não possui “disposição ao diálogo frente à diversidade e pluralidade”, mas é o senhor. Suas palavras e atitudes o demonstram. Pena que o senhor não se dignou a responder “uma por uma” as minhas afirmações. Fugiu e o fez pela tangente… Afinal é muito mais cômodo dizer que nosso contendor não tem “capacidade de compreender” ou que lhe falta “disposição ao diálogo” em vez de mostrar-lhe a veracidade dos nossos argumentos. E depois sou eu que não estou disposto ao debate?

Voltemos às suas tão “dispostas” palavras: “Mas algo quero, devo e posso dizer. Sua concepção de igreja cai bem para tempos pré-conciliares. É, portanto, totalmente anacrônica. Não existe. Sobrevive apenas em pequenos grupos e redes obscurantistas que remontam a Idade Média”.

A minha concepção de Igreja, não é minha, mas é da própria Igreja, pois foi dela que aprendi. E esta concepção é eterna, pois a Verdade é imutável, meu caro. Verdade que hoje é e amanhã deixa de ser, não é verdade, é MENTIRA! E isso eu aprendi em tempos pós-conciliares, pois até o ano de 1999 eu era protestante. Não é de se espantar que o seu “catolicismo” veja a Igreja de hoje como um anacronismo. Eu vou lhe dizer o que é anacrônico: é o progressismo que o senhor confessa e que chama de catolicismo. Obscurantistas não são os grupos “que remontam a Idade Média”, mas aqueles ligados à herética Teologia da Libertação. Aliás, quero lhe agradecer por me considerar um medievo, afinal foi durante a Idade Média que mais brilhou a luz da Igreja para o mundo: surgimento das universidades, sistematização da ciência, povos bárbaros transformados em verdadeiras civilizações, crescimento da economia por causa do trabalho dos monges etc. Daria para escrever um livro sobre como a Idade Média foi a Idade das Luzes!

Ainda o senhor: “É só ler e entender os documentos do Concilio Vaticano II”. Bravo! E pelo visto o senhor não sabe ler ou não os leu, não é mesmo?

Logo no primeiro parágrafo da LUMEN GENTIUM encontramos:

“Cristo é a luz dos povos. Por isso, este sagrado Concílio, congregado no Espírito Santo; deseja ardentemente, anunciando o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15), iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja. E, retomando o ensino dos concílios anteriores [cadê o anacronismo???], propõe-se explicar com maior rigor aos fiéis e a toda a gente, a natureza e a missão universal da Igreja, a qual é em Cristo como que sacramento ou sinal, e também instrumento, da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano. As presentes condições do mundo tornam ainda mais urgente este dever da Igreja, a fim de que todos os homens, hoje mais intimamente ligados por vínculos sociais, técnicos e culturais, alcancem também unidade total em Cristo” (LG 1) (grifos meus).

Nas palavras acima o Concílio nos ensina a pregar o Evangelho “retomando o ensino dos concílios anteriores” ou pregar as doutrinas liberais do Iluminismo e da Revolução Francesa? Ainda:

Cristo, Mediador único, constituiu e sustenta indefectivelmente sobre a terra, como organismo visível, a sua Igreja santa, comunidade de fé, de esperança e de amor, (9) e por meio dela comunica a todos a verdade e a graça. Contudo, sociedade dotada de órgãos hierárquicos e corpo místico de Cristo, assembléia visível e comunidade espiritual, Igreja terrestre e Igreja já na posse doa bens celestes, não devem considerar-se coisas independentes, mas constituem uma realidade única e complexa, em que se fundem dois elementos, o humano e o divino. Não é, por isso, criar uma analogia inconsistente comparar a Igreja ao mistério da encarnação. Pois, assim como a natureza assumida pelo Verbo divino lhe serve de órgão vivo de salvação, a ele indissoluvelmente unido, de modo semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para fazer progredir o seu corpo místico (cf. Ef 4,16). Esta á a única Igreja de Cristo, que no símbolo professamos una, santa, católica e apostólica, (12) e que o nosso Salvador, depois de sua ressurreição, confiou a Pedro para que ele a apascentasse (Jo 21,17), encarregando-o, assim como aos demais apóstolos de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28, 18 ss), levantando-a para sempre como “coluna e esteio da verdade” (1Tm 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele, ainda que fora do seu corpo se encontrem realmente vários elementos de santificação e de verdade, elementos que, na sua qualidade de dons próprios da Igreja de Cristo, conduzem para a unidade católica” (LG 8) (grifos meus).

Aliás, sobre o expressão “subsiste na Igreja Católica”, que vocês liberais distorceram, recentemente Congregação para a Doutrina da Fé a explicou confirmando a Eclesiologia DE SEMPRE:

[…] O Concílio Ecuménico Vaticano II não quis modificar essa doutrina [eclesiologia tradicional] nem se deve afirmar que a tenha mudado; apenas quis desenvolvê-la, aprofundá-la e expô-la com maior fecundidade.

Foi quanto João XXIII claramente afirmou no início do Concílio. Paulo VI repetiu-o e assim se exprimiu no acto de promulgação da Constituição  Lumen gentium: “Não pode haver melhor comentário para esta promulgação do que afirmar que, com ela, a doutrina transmitida não se modifica minimamente. O que Cristo quer, também nós o queremos. O que era, manteve-se. O que a Igreja ensinou durante séculos, também nós o ensinamos. Só que o que antes era perceptível apenas a nível de vida, agora também se exprime claramente a nível de doutrina; o que até agora era objecto de reflexão, de debate e, em parte, até de controvérsia, agora tem uma formulação doutrinal segura”

[…] Cristo “constituiu sobre a terra” uma única Igreja e instituiu-a como “grupo visível e comunidade espiritual”[5], que desde a sua origem e no curso da história sempre existe e existirá, e na qual só permaneceram e permanecerão todos os elementos por Ele instituídos. “Esta é a única Igreja de Cristo, que no Símbolo professamos como sendo una, santa, católica e apostólica […]. Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele”.

Na Constituição dogmática Lumen gentium 8, subsistência é esta perene continuidade histórica e a permanência de todos os elementos instituídos por Cristo na Igreja católica, na qual concretamente se encontra a Igreja de Cristo sobre esta terra. (1) (grifos meus).

O mesmo ensina a Declaração DIGNITATIS HUMANAE:

[…] Professa por isso em primeiro lugar o Sacro Sínodo que o próprio Deus manifestou ao gênero humano o caminho pelo qual os homens, servindo a Ele, pudessem salvar-se e tornar-se felizes em Cristo. É nossa fé que essa única verdadeira Religião se encontra na Igreja católica e apostólica, a quem o Senhor Jesus confiou a tarefa de difundi-la aos homens todos, quando disse aos Apóstolos: ‘Ide pois e ensinai os povos todos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a guardar tudo quanto vos mandei’ (Mt 28, 19-20)” (DH 1) (grifos meus).

O Concílio ensinou que o caminho de salvação é o liberalismo da Teologia da Libertação ou é o Evangelho pregado há quase 2000 anos?

O “conceito de Igreja” no Concílio mudou? Por acaso não afirma ser a mesma Igreja de SEMPRE? Realmente numa coisa o senhor tem razão: basta ler os documentos do Vaticano II! Pena que o senhor não os leu. Quem aqui mesmo é o anacrônico?

E em falar da sua querida e moribunda Teologia da Libertação, certa vez afirmou (2) o Papa agora reinante que ela FOI um milenarismo que não deu certo. Note o tempo verbal no passado: FOI. E o que FOI não permanece no patrimônio doutrinário da Igreja, pois este é PERENE e IMUTÁVEL.

Uma aula sobre a Verdadeira Teologia da Libertação (e não essa Teologia da Libertinagem de viés maxista) nos deu o Papa João Paulo II, de feliz memória em uma audiência em 21/02/1979 (3). Naquela oportunidade disse o Santo Padre que “a LIBERTAÇÃO nasce da VERDADE de Cristo“, ou seja, é “portanto processo espiritual, em que o homem se aperfeiçoa na justiça e na santidade verdadeira (Ef. 4,24)” e, por isso mesmo, uma vez amadurecido espiritualmente, torna-se esse homem “representante e porta-voz dessa justiça e santidade verdadeira nos diversos meios da vida social“. Com efeito, é a conversão espiritual que leva, conseqüentemente, à transformação do mundo material (e não o inverso, como pregam os “profetas da TL” com suas “lutas de classe”, “proletariados”, “Cristo agitador político”, “igreja dos excluídos” e outras aberrações mais…).

Ainda o senhor: “Num primeiro momento fiquei surpreso em relação aos comentários sobre o que faço e onde trabalho, fruto de investigação para fazer pré-julgamentos sobre minha pessoa“. As informações que citei estão na Internet; portanto, são públicas e não frutos de investigação. Não seria coerente lhe escrever sem saber quem é o senhor.

Também o senhor: “Antes de orar pela salvação de minha alma, ore antes pela salvação da tua porque a arrogância está entre os piores pecados. Deixe que Ele me julgue, não você! Quem garante que a minha não está mais próxima da salvação que a tua? Pense nisso, se é que você pensa!“. Lamento que o senhor tenha se ofendido por eu ter dito que estava orando pela sua salvação. Foram os apóstolos que nos ensinaram a orar uns pelos outros (cf. Tg 5,16). Se pregar o Santo Evangelho e aquilo que ensina a Santa Igreja é ser arrogante, queira Nosso Senhor que eu morra bem arrogante!

O senhor faz uma triste ironia sobre a minha carta, afirmando: “lembro que os tempos inquisitoriais foram enterrados pela história. E o AI-5, decretado pela ditadura militar, foi esfacelado pela democracia”. Numa democracia, todos têm direitos e deveres. Mas na sua “democracia” (ou seria demoniocracia?) os bebês não têm direito à vida e nem as mães o dever de cuidar de seus filhos. Curiosamente, aqueles que defendem a prática do aborto tiveram TODOS garantido o direito de nascer!

Derramar sangue inocente causa a ira do Senhor: “Seis coisas há que o Senhor odeia e uma sétima que lhe é uma abominação: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, um coração que maquina projetos perversos, pés pressurosos em correr ao mal, um falso testemunho que profere mentiras e aquele que semeia discórdias entre irmãos. Guarda, filho meu, os preceitos de teu pai, não desprezes o ensinamento de tua mãe” (Pr 6,16-20)”.

E pensar que pessoas como o senhor são membros do Conselho Gestor do Fundo Ecumênico de Solidariedade ligado à Cáritas Brasileira. Fundo que financia as “obras assistenciais” ligadas à Campanha da Fraternidade.

Que Nossa Senhora nos ajude.

Nota

(1) CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Apostolado Veritatis Splendor: Respostas sobre Certos Aspectos da Doutrina sobre a Igreja. Disponível em https://www.veritatis.com.br/article/4377. Desde 11/7/2007.

(2) http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=PAPABRASIL&id=pbb0003.

(3) http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/audiences/1979/documents/hf_jp-ii_aud_19790221_po.html.

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