Correta celebração da missa (p&r) – parte 1

Por que veio Jesus Cristo ao mundo?

 

Jesus Cristo, Nosso Senhor, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, veio ao mundo para morrer por nossos pecados, assim pagando a dívida que tínhamos contraído em Adão para como Deus. Encarnou-se no seio da Virgem Maria, tornando-se verdadeiramente homem, igual a nós em tudo, exceto no pecado.

 

Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Essas Suas duas naturezas, divina e humana, estão intimamente unidas, aliás, hipostaticamente unidas, i.e., ligadas na única Hipóstase ou Pessoa divina. Sua Personalidade divina, essência que Lhe é comum ao Pai e ao Espírito Santo, manifesta-se na natureza divina, gerada pelo Pai, que não foi perdida quanto de sua união com a natureza humana, gerada pela Santíssima Virgem Maria.

 

Por nossos pecados, contraímos uma dívida para com Deus, que deve ser paga, resgatada. Ora, diante de uma ofensa de tal magnitude, uma ofensa a um Deus, só um resgate de igual valor teria mérito. É a lei da proporção e da justiça: a uma pequena ofensa, um pequeno preço a ser pago; a uma grande ofensa, um grande preço a ser pago; a uma ofensa de valor infinito, um preço de valor infinito a ser pago! ?O salário do pecado é a morte!? (Rm 6,23) Esse é o preço do pecado. E se o pecado é uma ofensa contra Deus, portanto de valor infinito, a morte a ser oferecida também deve ter valor infinito. Diante de nossa condição humana, nunca nossa morte teria valor suficiente para satisfazer o preço do pecado. A justiça requer algo maior! Para tanto, era necessário que um Deus morresse! Por isso, Deus não mandou um profeta para morrer a fim de resgatar o mundo, mas Seu próprio Filho!

 

Por outro lado, quem ofendeu a Deus fomos nós, os homens. Não bastaria simplesmente a morte de Deus, de Cristo, para satisfazer a justiça. Nós precisaríamos oferecer um dos nossos para pagar o salário do pecado. Nesse pensamento, concluímos o motivo de Deus ter vindo Encarnar-se, i.e., assumir nossa natureza humana!

 

Jesus Cristo, por ser homem e Deus ao mesmo tempo, tem plenas condições de oferecer um sacrifício que satisfaça a justiça em seu valor (pela Sua natureza divina), e na razão de ser o ofensor que o apresenta (pela Sua natureza humana).

 

 

Como se deu o sacrifício de Jesus Cristo?

 

Jesus Cristo ofereceu Seu sacrifício na Cruz do Calvário. Completou-se o tempo necessário e, durante a Páscoa judaica, com a idade de aproximadamente 33 anos, subiu a Jerusalém e aceitou ser julgado pelos homens e receber a pena de crucifixão. Para remover a barreira que nos separava do Pai, fazendo-nos Seus filhos adotivos pela graça, o Salvador morreu na Cruz, ressuscitando ao terceiro dia, conforme prometera. O que Ele é por Sua natureza, nós, por Sua morte sacrifical, nos tornamos: filhos de Deus! Morrendo, Cristo mereceu-nos a graça, perdoando nossos pecados e nos dando por herança o Reino dos céus!

 

 

O sacrifício de Jesus Cristo, então, foi suficiente para pagar por nossos pecados?

 

Sim, como já nos ensina o Apóstolo dos gentios, São Paulo, em uma de suas epístolas. ?Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo. (…) Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício… (…) Por uma só oblação ele realizou a perfeição definitiva daqueles que recebem a santificação.? (Hb 10,10.12a.14)

 

Se o próprio Deus morre, o valor de Seu sacrifício há de ser infinito, suficiente para saldar qualquer dívida!

 

 

De onde o homem entende que é necessário um sacrifício para agradar a Deus? O sacrifício de Jesus Cristo foi, de alguma forma, prefigurado, simbolizado ou preparado?

 

Por ter o homem pecado em Adão e Eva, a consciência do erro que o afastou de Deus foi passada de geração a geração por toda a humanidade. O homem sabe que, no fundo, está afastado da divindade e que precisa fazer algo para suprir a lacuna entre eles. A própria Lei Natural, inscrita no coração de todas as pessoas, e que não foi afetada pelo pecado original praticado por nossos primeiros pais, afirma a necessidade de ser construída uma ponte entre Deus e o homem. É preciso, sabe o homem, um meio de unir o divino ao humano, de recuperar a amizade entre os dois!

 

Nesse sentido, procurou o homem oferecer sacrifícios que o unisse novamente a Deus. Muitas vezes, cego pelo pecado que lhe confundiu a razão, ofereceu sacrifícios totalmente contrários à vontade do Criador, como holocaustos humanos. Entretanto, não podemos deixar de ver nessa atitude ilícita e totalmente imoral um desejo humano de reconciliar-se com Deus ou, ao menos, aplacar a (justa) ira divina em virtude de seus pecados.

 

Para preparar a vinda de Cristo, o Pai formou, em determinado momento da História, um povo, e o elegeu. Esse povo, Israel, foi iniciado em Abraão, e consolidou-se nos patriarcas, Isaac e Jacó, com seus filhos, fundadores das doze tribos da nova nação, libertada, anos mais tarde, do jugo dos senhores egípcios que a escravizavam. Moisés, o líder dessa libertação, prefigurava o próprio Jesus, preparando-O!

 

Já na primeira fase de Israel enquanto nação, se ofereciam sacrifícios pelos pecados, procurando agradar a Deus. Ele mesmo os exigia, já ensinando o povo que a ponte precisava ser reconstruída, e o pecado desfeito!

 

Mais tarde, com Moisés, um rito foi instituído pelo próprio Deus, de forma a incutir ainda mais na mente dos israelitas toda a pedagogia do sacrifício, e os preparando para o sacrifício definitivo oferecido por Cristo, séculos depois. O cordeiro sacrificado no rito mosaico simbolizava, antecipadamente, Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O ritual da primeira ceia mosaica (cf. Ex 12,1-8.11-14) já se mostra um grandioso símbolo da Paixão do Salvador. Sacrifica-se um cordeiro macho e sem defeito, no lugar dos pecados do povo de Israel; Cristo, mais tarde, será identificado por São João Batista como o ?Cordeiro de Deus? (Jo 1,29), o Agnus Dei, e morrerá, também sem ?defeito? (ou seja, sem pecado, puro, santo, agradável ao Pai) pelas faltas do Novo Israel, a Igreja de Deus, santa e católica. O sangue do cordeiro untado nas casas os assinalaria perante o anjo da morte como os escolhidos para a vida; o Sangue de Nosso Senhor e Salvador, derramado na Cruz e aspergido em nós pela fé e pelos sacramentos, nos assinala como os eleitos para a vida eterna. A Páscoa judaica foi dada como instituição perpétua; essa perpetuidade foi dada por excelência quando Cristo morreu e instituiu a Eucaristia como Nova Páscoa, sinal vivo e presente de Sua Morte e Ressurreição, como um holocausto permanente, conforme já previra o profeta Daniel (cf. Dn 8,11;9,27).

 

Quando Cristo veio ao mundo, antes de oferecer-Se em sacrifício na Sexta-feira Santa, celebrou uma ceia com Seus Apóstolos, na noite anterior. Essa ceia foi uma antecipação mística e real do sacrifício oferecido no dia seguinte.

 

 

O que Jesus Cristo fez na Última Ceia?

 

Antecipou Seu sacrifício, instituindo-o como perpétuo através do oferecimento de Seu Corpo e Seu Sangue. O mesmo Corpo morto na Cruz e o mesmo Sangue derramado foram distribuídos aos Seus Apóstolos, numa verdadeira antecipação do sacrifício.

 

Além de antecipar o sacrifício, vimos, Jesus Cristo tornou-o perpétuo, quando mandou: ?fazei isto em memória de mim.? (Lc 22,19)

 

Assim, quando os Apóstolos e seus sucessores devem obedecer o mandamento de Jesus e fazer o que Ele ordenou: realizar o sacrifício! Se o sacrifício pôde ser antecipado, pode também, por ter-se tornado perpétuo, ser oferecido continuamente. Não se trata de um novo sacrifício, eis que o de Cristo foi definitivo e suficiente, mas do mesmo novamente tornado presente pelos Apóstolos, seus sucessores e os colaboradores destes.

 

 

Quando o sacrifício de Jesus Cristo é novamente tornado presente?

 

O sacrifício de Jesus Cristo foi oferecido na Cruz, e é tornado novamente presente em cada Missa celebrada. Missa, portanto, é um dos nomes que nós damos ao sacrifício da Cruz tornado novamente presente diante de nós.

 

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