Cuba não é aqui

Os habitantes da bolha de fantasia em que circulam políticos, Judiciário e mídia parecem decididos a fazer do Brasil uma província de Cuba, uma vasta Sibéria tropical, um campo de concentração monstruoso englobando quase toda a América do Sul. Se um décimo da legislação com viés totalitário que vem sendo aprovada fosse posto em prática, metade do caminho já teria sido feito, e os escravos cubanos importados poderiam ensinar nossos patriotas remanescentes a cortar cana.

Para estabelecer um Estado totalitário, contudo, não basta sonhar acordado ou repetir uma mentira até se convencer dela, e é só isso que nossas autoridades parecem conseguir fazer. Um Estado totalitário depende de uma massa crítica de apoiadores ideológicos, de gente disposta a vestir a camisa parda e fazer valer a vontade do líder. Ou da “lídra”.

Os oposicionistas precisam ser eliminados (mortos, exilados ou aprisionados), os apoiadores do governo vigiados, e a população em geral controlada. Não é tarefa para poucos; sem uma multidão laboriosa a serviço do Estado, nada feito. Dizem que em Cuba uma pessoa em cada 17 trabalha para a polícia política.

Se não houver como conquistar diretamente o apoio ideológico – e não dá; ninguém, nem os próprios membros do partido, consegue acreditar naquelas lorotas requentadas de oprimidos e opressores – é preciso comprá-lo.

A Venezuela pôde ser transformada em ditadura com o dinheiro do petróleo; a Bolívia, a julgar pelas denúncias que vêm pipocando desde que um heroico diplomata brasileiro libertou um senador de oposição, recorreu à renda da coca. E o Brasil? Será que haveria aqui alguma fonte de renda que pudesse comprar apoio em quantidade suficiente, criando uma casta de privilegiados bancados e armados pelo Estado totalitário?

Os gastos do Estado com os programas assistencialistas dificilmente poderiam aumentar, e no seu estado atual, o nível de renda proporcionado por eles pode comprar votos, e não mais do que isso. O nível de fidelidade canina requerido de um guarda de campo de concentração não pode ser alcançado com tão pequena esmola.

As forças de segurança, que poderiam ter sido cooptadas com algum grau de sucesso, não o foram. Os agentes da Polícia Federal suicidam-se em números inauditos, os policiais estaduais pedem exoneração em massa, os agentes penitenciários estão sublevados e as Forças Armadas não conseguem alimentar os soldados.

Resumindo: não há fundos para comprar a fidelidade de amadores, e os profissionais não estão interessados. Ainda bem.

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