Dá pra Viver segundo a Bíblia Hoje? (Galileu, Jan./2008)

A revista GALILEU, de janeiro/2008, lançou uma pergunta mal formulada. Eis o que se lê na 1ª capa: “Nossa reportagem encarou dois meses de vida bíblica ao pé da letra em busca dessa resposta”. E conclui negativamente. A reportagem é tão superficial que não comporta longos comentários, mas proporemos duas observações:

1ª) Viver segundo a Biblia – Este é o programa normal de cada cristão, heroicamente posto em prática por milhões e milhões de humanos em tempos passados e também em nossos dias. A Bíblia não exige um tipo de vida especial; nem os trajes nem os alimentos são controlados pelo Novo Testamento, contanto que sejam honestos ou decentes. Qualquer profissão lícita segundo as leis naturais é lícita também ao cristão. São Paulo é muito enfático ao dizer: “Ninguém vos julgue por questões de comida e bebida” (Colossenses 2,16). A Bíblia reconhece o peregrino, o aprendiz e o encontro com os mais sábios, mas não oficializa algum destes tipos humanos.

Verdade é que o Antigo Testamento propõe normas de vestuário para o culto divino, certas prescrições relativas a animais puros e impuros… Mas isto foi superado. No Antigo Testamento há três tipos de leis: as de ordem do culto divino; as que regulam a vida civil e as de ordem natural. Pois bem: somente estas últimas é que persistem até hoje, ao passo que as demais foram ultrapassadas.

2ª) Fundamentalismo e Gêneros Literários – Na Escritura existem gêneros literários: a crônica, a poesia, a lei, a profecia, a revelação… Devem ser reconhecidos e interpretados como tais, não podendo uma poesia ser entendida como um relato em prosa. Quem não reconhece esta norma e pretende entender tudo ao pé da letra pratica o chamado “fundamentalismo”, que falseia o significado do texto sagrado, dando-lhe um sentido que o autor não lhe quis atribuir. O fundamentalista é obcecado por seus principios “fundamentais”, que não lhe permitem ao escritor saltar seu horizonte.

Antes de Cláudio Tognolli, autor desta matéria de Galileu, A. J. Jacobs fizera a experiencia de viver um ano “segundo a Biblia”. Pode acontecer que este outro peregrino tenha realizado sua facanha por fé e desejo de união com Deus (durou um ano!); mas no caso de Tognolli, ateu convicto, o que se deu foi antes uma palhaçada… palhaçada momentada por quem ignora ou desconhece as Escrituras.

No século XXI é, sim, possível viver a Biblia sem chamar a atenção para este propósito por meio de barba, cajado, sacola de viandante…

  • PARA SABER MAIS: Revista Pergunte e Responderemos nº 550, abr./2008, pp. 166-168.
Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.