DAS HOMILIAS DE GREGÓRIO PALAMAS, ARCEBISPO DE TESSALÔNICA
Ofício das Leituras para a Solenidade de São Pedro e São Paulo (Comentário a Jo 21,15-19)
Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo
Contemplando Pedro, podemos verificar que não só expiou suficientemente por suas lágrimas de penitência a negação em que tombou, como também afastou de sua alma o vício da arrogância, pelo qual se julgava acima dos outros. Querendo demonstrá-lo a todos, o Senhor, depois de ter padecido por nós em sua carne e ressuscitado ao terceiro dia, disse a Pedro, conforme as suas palavras no Evangelho de hoje: Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? (Jo 21,15), quer dizer, mais do que estes meus discípulos?
Vede como se tornou humilde! Outrora, mesmo sem ser interrogado, antepunha-se aos outros, dizendo: Ainda que todos te reneguem, eu nunca (cf. Mc 14,29 e Jo 13,37-38). Agora, interrogado se amava mais do que os outros, afirma que ama, mas isenta-se de comparações, dizendo: Sim, ó Senhor, tu sabes que te amo (Jo 21,15). E que faz o Senhor? Depois de mostrar que Pedro não deixara de amá-lo e se convertera à humildade, cumpre abertamente o que já lhe anunciara, dizendo: Apascenta os meus cordeiros (Jo 21,15). Se quando Cristo chamando edifício à assembléia dos que nele crêem, promete que tomará Pedro como pedra fundamental (cf. Mt 16,18); se quando fala de pesca, o faz pescador de homens dizendo: de agora em diante serás pescador de homens (cf.Mt 4,19); quando chama os seus de rebanho, coloca Pedro à frente como Pastor, dizendo: Apascenta meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas.
Pedro, porém, mais duas vezes interrogado por Cristo se o ama, entristeceu-se pela repetição da pergunta, julgando que sua afirmação não merecia crédito. Mas convencido do seu amor por Cristo, não ignorando que esse amor era mais conhecido por Cristo do que por ele próprio, vence o impasse não somente confessando o seu amor, mas também anunciando que a pessoa amada por ele é o Deus de todas as coisas: Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo (Jo 21,17). Pois saber tudo é privilégio exclusivo do Deus de todas as coisas.
O Senhor, então, não apenas constituiu o autor de tal proclamação pastor, e pastor supremo de toda a sua Igreja, mas também lhe anuncia que seria cingido de tal força que permaneceria firme até à morte, e morte de cruz, apesar de não ter resistido outrora à pergunta e à afirmação de uma criada. Em verdade, em verdade te digo (disse a Pedro), quando eras jovem e te cingias de juventude corporal e espiritual, usavas a tua própria força e ias onde desejavas, pois eras movido por tua vontade e vivias de acordo com tua escolha; quando porém envelheceres, chegando ao fim da tua juventude corporal e espiritual, estenderás as mãos (cf. Jo 21,18). Queria dar a entender com isto que Pedro morreria pela cruz, que iria padecer, mas não contra a vontade. Estenderás as mãos, e outro te cingirá, isto é, te fortalecerá, e te conduzirá para onde não queres, separando-te dos homens (cf. Jo 21,18). Mostrava assim que a nossa natureza quer a vida, e que o martírio de Pedro estava acima de suas forças humanas. Estas coisas, diz o Senhor, suportarás voluntariamente por minha causa, dando então testemunho de teres sido fortalecido por mim, pois não pode a natureza humana realizar o que está acima das forças humanas.
Homilia 28