Amados irmãos do Veritatis,
Deus seja bendito para sempre!Desculpem a petulância, mas gostaria da ajuda de vocês para discernir sobre uma questão pessoal: Amo demais estudar a doutrina da Igreja, ao mesmo tempo que já não tenho a mesma motivação para me aprofundar (no sentido de cursar faculdade) outros assuntos. Sou jovem, casado, tenho um filho. Mas como disse me dedico muito ao estudo doutrinário da Igreja e gasto meu tempo livre nisso. Tenho o nível médio completo e trabalho para ganhar o pão de cada dia. Mas quando se trata em cursar faculdade fico pensativo, pois terei q abrir mão do meu tempo de estudo da fé. Até o momento tenho procurado descobrir o q realmente quero. Meu único receio é de estar sendo acomodado. Sendo assim peço que se possível me dê uma orientação.
Desde já agradeço a atenção.
Fabrício Lima – Salvador/Ba
Olá caríssimo Sr. Fabrício. Para nós do Veritatis Splendor é uma grande alegria tê-lo como leitor. Agradecemos a confiança em nosso trabalho de evangelização e defesa da fé genuinamente católica.
Vossa pergunta é de cunho muito pessoal e entra nos ditâmes de vossa consciência, por isso não temos a menor pretensão de vos dar uma resposta pronta para vossa indagação, até porque não conhecemos pormenores da sua vida ordinária. É difícil falar em conceitos de certo ou errado aqui. Contudo acreditamos que a exposição de alguns pontos da fé católica possam iluminar a vossa alma a tomar a melhor decisão.
É uma grande alegria saber que ama estudar a doutrina da Igreja, de fato é um rico baú de tesouros espirituais para toda a humanidade. Diante dos desafios que nossa fé é exposta todos os dias, esse estudo se configura como uma verdadeira obrigação para todo católico, de modo que atualmente cursar uma faculdade jamais poderá lhe afastar deste exercício. E isso se faz através de uma pauta bem definida e de uma vida bem ordenada, com horários para cada atividade, otimizando e multiplicando o seu dia. Mesmo com um dia cheio você pode se propor a estudar 30 minutos, pelo menos, de doutrina católica diariamente, focando nos assuntos que mais lhe interessam. Com disciplina e constância chegará a conciliar seus estudos doutrinários com qualquer outra atividade.
Nos dissestes que é casado e tens um filho. Eis aí, Sr. Fabrício a verdadeira preocupação de sua decisão, ela deve girar em torno de sua família, pois é aí, na vossa casa, no dia-a-dia de vosso lar que reside a vossa grande vocação, vosso verdadeiro chamado divino. O que é melhor para vossa família agora e no futuro? Quais os motivos o levariam a cursar o terceiro grau ou a estudar a doutrina católica? São honestos? Voltarão para vossa família como um bem? Será que uma faculdade fará muita diferença em vossa vida econômica e profissional, lhe fará servir melhor a Deus em vosso ofício? Ao mesmo tempo uma faculdade lhe permitirá conviver com seu filho um tempo razoável e necessário para sua formação afetiva e pisquíca? Todos esses pontos precisam ser ponderados.
Penso que o esqueleto que sustentará qualquer decisão de uma forma honesta será aquela que melhor lhe possibilitar servir primeiro a vossa família. Mesmo atualmente se não se consegue, pelo cargos e funções dentro da Igreja, passar algumas horas em vossa casa, acompanhar o crescimento de vosso filho, dedicar-se a vossa esposa, seria preciso repensar seus horários e afazeres.
É muito difícil lhe dizer exatamente o que fazer, caríssimo leitor. Acreditamos que o critério para esse discernimento partirá de vossa vocação matrimonial e de que maneira a poderá servir melhor, de forma disciplinada e ordenada. Em minha opinião pessoal, me sinto inclinado a lhe indicar um curso superior, visto que o crescimento profissional lhe tenderá a um crescimento econômico capaz de suprir todas as vossas necessidades familiares além de possibilitar o aumento do número da família, dando assim mais almas para Deus. Atualmente existem cursos superiores on-line à distância, que talvez possibilitaria conciliar vossas obrigações familiares com o estudo do curso superior.
Essa opção não excluiria o estudo da doutrina que deverá fazer parte de sua vida ordinária diária, encaixando algum tempo em vossa agenda cotidiana para tal exercício, nem que seja necessário acordar mais cedo ou dormir mais tarde.
Mas qualquer que seja vossa decisão, se esta o fizer se afastar de vossa família de maneira séria e irremediável, deixaria de lado sem hesitar. A melhor opção nesse caso será aquela que for melhor para os seus, tirando é claro qualquer acomodação de vossa parte, pois há muitos que poderiam ser mais e melhores e não o fazem por falta de organização do tempo e falta de disciplina e constância.
Não deixe contudo de consultar um diretor espiritual sério, santo e douto, que o ajude com sabedoria e graça a vos indicar o melhor caminho.
Deixo-te um pensamento sábio de São Josémaria Escrivá, santo fundador do Opus Dei, e um grande apóstolo da vida ordinária que deverá lhe orientar neste momento com verdadeiros critérios da vocação matrimonial:
“Para um cristão, o matrimônio não é uma simples instituição social, e menos ainda um remédio para as fraquezas humanas: é uma autêntica vocação sobrenatural. Sacramento grande em Cristo e na Igreja, diz São Paulo , e, ao mesmo tempo e inseparavelmente, contrato que um homem e uma mulher estabelecem para sempre, porque – queiramos ou não – o matrimônio instituído por Jesus Cristo é indissolúvel: sinal sagrado que santifica, ação de Jesus que se apossa da alma dos que se casam e os convida a segui-Lo, transformando toda a vida matrimonial em um caminhar divino sobre a terra.
Os casados estão chamados a santificar o seu matrimônio e a santificar-se a si próprios nessa união; por isso, cometeriam um grave erro se edificassem a sua conduta espiritual de costas para o lar, à margem do lar. A vida familiar, as relações conjugais, o cuidado e a educação dos filhos, o esforço necessário para manter a família, para garantir o seu futuro e melhorar as suas condições de vida, o convívio com as outras pessoas que constituem a comunidade social, tudo isso são situações humanas, comuns, que os esposos cristãos devem sobrenaturalizar.
Santificar o lar, dia a dia; criar, com o carinho, um autêntico ambiente de família: é disso que se trata. Para santificar cada jornada, é preciso praticar muitas virtudes cristãs; em primeiro lugar, as teologais, e depois todas as outras: a prudência, a lealdade, a sinceridade, a humildade, o trabalho, a alegria… Mas no caso do matrimônio, da vida matrimonial, é preciso começar com uma referência clara ao amor dos cônjuges” (É Cristo que Passa, ponto 23)
Esperamos ter ajudado em Cristo Jesus.