Dentro do filão anabatista

QUEM SÃO OS ANABATISTAS?

QUEM SÃO OS MENONITAS?

QUEM SÃO OS BATISTAS?

Em síntese: Os anabatistas tiveram origem no século XVI, quando alguns grupos cristãos na Alemanha e na Suíça não quiseram reconhecer o Batismo ministrado a crianças e, por isto, rebatizavam os adultos batizados na infância. Esta prática era associada a concepções eclesiológicas no-vas: apregoavam uma Igreja puramente espiritual, sem hierarquia visível, constituída unicamente pela adesão dos crentes à Palavra de Deus. Al-guns anabatistas radicais apoderaram-se da ciciade de Münster (Vestfália) e lá proclamaram “o Reino da Nova Sion”; este foi extinto após violento massacre cometido pelos invasores que reconquistaram a cidade. Nem por isto os anabatistas deixa/ao? de existir na Europa. A eles filiou-se o ex-sacerdote católico holandês Menno Simons, que se pôs a pregar as doutrinas anabatistas, todavia sem o ânimo exacerbado de grupos anteriores. Assim fundou ele a corrente menonita, que subsiste até hoje, dividi-da em vários ramos. Os batistas são derivados de tal tronco: com efeito, o pastor anglicano John Smyth (+ 1617) julgava que a reforma anglicana oficial na Inglaterra não era suficientemente radical; foi então obrigado a exilar-se para a Holanda, onde o acolheu um padeiro menonita, que lhe transmitiu idéias anabatistas em 1612, alguns discípulos de Smnyth foram para a Inglaterra e lá fundaram a primeira igreja batista (não mais anabatista); esta foi fundando outras comunidades, que são a matriz dos batistas de nossos dias, também eles divididos em vários ramos.
 

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Os anabatistas, os menonitas e os batistas estão numa cadeia de reformadores ou de fundadores de Igrejas, de modo que, para entender adequadamente os últimos, faz-se mister começar por descrever o movi-mento anabatista do século XVI, o qual se prolongou no menonismo. O presente artigo percorrerá sucessivamente as três fases da reforma anabatista (ou dos re-batizadores)
 

1. OS ANABATISTAS
 

A Reforma protestante encabeçada por Lutero (+1546), Calvino (+1564), Zvinglio (+1531) e Henrique VIII (+1547) e seus sucessores na Europa não pareceu bastante radical a muitos protestantes do século XVI.

Um grupo de cristãos encabeçados por Thomas Münzer, Balthasar Hubmaier, George Baulrock, Ludwig Hoetzer, na Alemanha e na Suíça, começaram a apregoar uma Igreja, em grau máximo, espiritual, sem hie-rarquia visível e constituída exclusivamente pela adesão consciente dos homens à Palavra de Deus. Uma das notas dessa mentalidade era o Ba-tismo a ser ministrado aos adultos e não às crianças: queriam batizar de novo os fiéis que lhes aderiram: daí o nome de “anabatistas” ou “rebati-zadores” que lhes foi dado.

O anabatismo oficialmente teve origem em Zürich (Suiça) na época do reformador Ulrich Zwingli. Este empreendeu uma reforma paralela às de Lutero (na Alemanha) e Calvino (em Genebra), mas seus seguidores se anexaram sem demora ao calvinismo. Sob Ulrich Zwingli discutia-se a conveniência de batizar crianças, alegando que, antes do uso da razão, não tinham condições de assumir o compromisso de vida cristã. Um gru-po. chefiado pelo estudante Konrad Grehel (1498?-1526), filho de rico comerciante de Zürich, opunha-se a Zwingli no tocante aos temas da Re-forma, especialmente no concernente ao Batismo de crianças, que Zwingli defendia (embora com oscilações). Em 1524 Konrad Grebel rompeu com Zwingli, proclamando abertamente a necessidade do re-batismo para quantos tivessem sido batizados na infância (1). A controvérsia chegou ao seu auge em janeiro de 1525: o Conselho da cidade de Zürich, mediante dois decretos, de 18 e 21 de janeiro respectivamente, ordenou que fos-sem, sem demora, batizadas todas as crianças recém-nascidas sob pena de exílio para fora do cantão de Zürich. A este desafio K. Grebel e seus seguidores responderam na tarde do sábado 21 de janeiro de 1525, rebatizando-se uns aos outros. Este feito assinala o inicio oficial cio Anabatismo.

No dia 25/01 seguinte foi constituída a primeira Congregação anabatista em Zollikon, perto de Zürich. A reação das autoridades de Zürich foi violenta. Aos 5/1/1527 foi executado Felix Manz. o mais próximo cola-borador de Grebei, que morreu atirado nas águas do rio Linmat.

Grebel conseguiu escapar da jurisdição das autoridades de Zürich de modo que as idéias anabatistas se foram propagando por toda a Suíça, pelo Sul da Alemanha e pela Áustria. Em 1527 dois Sínodos, um em Schleintheim e o outro em Augsburq (Alemanha) fixaram as primeiras profissões de fé anabatista. A propagação do movimento se fez ainda através da Boêmia, da Morávia, da Alsácia , da Alemanha do Norte e da Holanda. Entrementes duas tendências foram se configurando dentro do Anabatismo

De modo geral os anabatistas propugnavam total independência da Igreja frente às autoridades civis; eram movidos pelo ideal de “separação do mundo” tido como corrupto, a começar pelas pessoas que exerciam a autoridade civil. Ora essa mentalidade pôde exprimir-se de duas maneiras:

? havia quem quisesse isolar-se do mundo, formando comunidades peregrinas que passariam de região a região contando com um mínimo de tolerância religiosa por parte das autoridades; apregoavam o pacifismo e não a violência;

? outros queriam reagir contra a autoridade civil, tida como malvada e perseguidora, mediante a espada; substituiriam os Governos corruptos deste mundo por remos teocráticos na expectativa da vinda de Cristo que haveria de instaurar um milênio de paz sobre a terra em favor dos seus seguidores.

A tendência pacifista da primeira corrente não se manteve sempre alheia às lutas políticas. Quanto à corrente violenta, foi protagonista do trágico episódio da cidade de Münster, capital da Vestfália (Alemanha). Com efeito, aos 9/2/1534 o munrcinio foi ocupado pelos anabatistas radicais seguidores de Melchior Hofmann. Tomaram posse da cidade e escolheran como burgomestre o companheiro Bernhard Knipperdolling. Des-se momento em diante, Münster tornou-se o refúgio dos anabatistas perseguidos de toda a Europa, e, em particular, da Holanda. Na primavera de 1534 apoderou-se do governo da cidade João de Leyde, que criou um clima de exaltação, transformando Münster em uma “nova Jerusalém”, centro de estranho “Reino de Israel”, neste, com base em textos do Antigo Testamento, foi permitida a poligamia. Os adversários do regime teocrático de João de Leyde foram massacrados, após processo sumário; em 31/8/1534 João de Leyde for coroado “rei da Nova Sion”. Todavia a cidade estava cercada pelas tropas de Franz von Waldech, que era o antigo Senhor do município; não chegaram aos anabatistas os auxílios prometidos pelos holandeses, de modo que a situação em Münster se tornou insustentável; aos 25/6/1535 a cidade foi ocupada pelas tropas adversárias ajudadas por cidadãos mesmos de Münster; foi exterminada, em conseqüência, a maioria da população masculina de Münster. Somente um pequeno grupo conseguiu fugir e sustentou na Holanda um certo “münsterismo”, de efêmera duração. Os três principais chefes do Reino de Sion ? João de Leyde, Bernard Knipperdolling e Bernhard Krecliting ? foram presos, torturados, levados em gaiola ostensivamente para diversas partes da Alemanha, e finalmente executado em 23/1/1536.

Deve-se aqui registrar outrossim o movimento extremado anabatista chefiado na Alemanha por Nicholas Stuick e Fhoinas Münzer; provocou a guerra dos camponeses (1522- 1525), que explorava as idéias de Lutero especialmente no campo social. Lutcro se lhes opôs fortemente; Thomas Münzer foi decapitado em 1525.

Nem por isto os anabatistas deixaram de existir. Dividiram-se, porém, em quatro correntes –  Menonitas, Amich, Hutteritas e Neo-hutteritas – com suas diversas subdivisões.

Examinemos agora
 

2. OS MENONITAS
 

Os menonitas devem o seu nome a um sacerdote católico holandês chamado Menno Simons (1496-1561). Foi ordenado em 1515 ou 1516 e exerceu o ministério paroquial. Em 1531 foi condenado à morte o anabatista holandês Seicke Snijder, porque negava a validade do Batismo das criancinhas; Menno então quis estudar a tenática e persuadiu-se de que o sacramento ministrado aos pequeninos não era válido. Escreveu então a Lutero, Bucer e a Bullinger, defensores do Batismo de crianças (pedo-batismo), pedindo explicações; as respostas que lhe enviaram, não lhe satisfizeram; em conseqüência aderiu à corrente anabatista e foi rebatizado em 1536 por Obbe Philips, organizador da primeira comunidade anabatista na Holanda.

O episódio de Münster e a revolução dos camponeses na Alemanha excitaram as autoridades civis da Holanda contra os anabatistas. Menno refugiou-se então em Colônia (Alemanha) e pôs-se a percorrer a Alema-nha Setentrional apregoando suas idéias e fundando centros menonitas. Por essa época escreveu opúsculos e tratados. Menno procurou sempre reprimir o ânimo passional dos anabatistas e coibiu seus excessos, sendo, por isto, considerado o segundo fundador da corrente anabatista, que tornou o nome de Menonita. Morreu em 1559 na Alemanha.

Os menonitas extraíram dos escritos de Menno a sua Profissão de Fé, que data de 1589 consta de quarenta artigos, com o nome de “Confissão de Fé de Waterland”; nega a transmissão do pecado origina,. afirma a morte do Senhor em favor de todos os homens, condena o juramento, a guerra, qualquer tipo de violência; recomenda a obediência às autoridades civis desde que nada preceituem em oposição a Palavra de Deus e só reconhecem o Batismo de adultos.

Prevaleceu entre os menonitas o pacifismo, com a recusa do servi-ço militar e do juramento (mesmo quando prescrito por lei) ? o que lhes causou problemas em vários países. Sofreram a influência de teorias li-berais, mas atualmente tendem a voltar às teses fundamentais de Calvino. As comunidades do Leste Europeu e da ex-URSS foram quase totalmente exterminadas pelo regime soviético.

No mundo inteiro há aproximadamente 700.000 menonitas, distri-buídos por numerosas correntes independentes umas das outras, sendo que algumas contam apenas algumas centenas de membros. Podem ser mencionados como principais ramos a Mennonite Church (USA.), os Irmãos Menonitas (Mennoniten Brüdergemeinde), os Irmãos em Christo (Brethren in Christ), os Menonitas da Antiga Ordem, dos quais o grupo dos black pumpers só aceita canos pintados de preto, a Igreja de Deus em Cristo (de caráter conservador, prescrevendo o uso da barba para os homens e o do véu para as mulheres).

É na sucessão de tais acontecimentos que se situa a origem na denominação batista.
 

3. E OS BATISTAS?
 

Os batistas têm por fundador o inglês John Smyth (+1617). Foi, primeiramente, pastor anglicano. Movido pelo espirito reacionário que agitava não poucos cristãos de sua pátria, queria uma reforma ainda mais radical do que a anglicana; em particular, não se conformava com a organização hierárquica (episcopal) e a liturgia dos anglicanos, que ele julgava supérfluas. Por isso formou, em Gainsborough, uma pequena comuni-dade dissidente do anglicanismo no ano de 1604; foi, porém, obrigado a se exilar com os seus companheiros, indo ter a Amsterdam (Holanda), onde o calvinismo predominava.

No exílio, viveu em casa de um padeiro menonita, que o persuadiu de que era inválido o batismo conferido às crianças (tese anabatista). Smyth então administrou a si mesmo um segundo batismo, de cujo valor, porém, começou a duvidar. Em conseqüência, seus companheiros, por ele convencidos da tese anabatista, o expulsaram da comunidade; Smyth não conseguiu ser admitido nem mesmo entre os menonitas, aos quais pedira acolhimento.

Em 1612, um grupo de seus discípulos voltou à Inglaterra, e lá fundou a primeira Igreja Batista (não mais Anabatista), também chamada “dos Batistas Gerais”, porque, contrariamente à doutrina calvinista, ensinava que Cristo, pela cruz, salvou todos os fiéis. Outros grupos se formaram pouco depois, ditos “dos Batistas Regulares ou Particulares”. Com efeito. em 1641 outra pequena comunidade de dissidentes do anglicanismo, em Londres, convenceu-se da tese anabatista; mandou, então. um de seus membros, Ricardo Blount, a Rijunsburg, na Holanda, a fim de pedir o batismo de adulto à seita do dompelaer (ramo menonita) e levar à Inglaterra o “verdadeiro batismo”. Blount se desimcubiu de sua missão e, voltando em 1641, rebatizou por imersão (única forma de batismo reco-nhecida por esses grupos) 55 membros da comunidade de Londres; acei-tou do calvinismo holandês a doutrina de que Custo salva somente os predestinados ? donde o nome de “Batistas Particulares? que lhes coube.

Hoje em dia se contam mais de 20 ramos batistas, que em 1905 se uniram de maneira um tanto vaga na Liga Mundial Batista; são, entre outros, os batistas calvinistas, os batistas congregacionalistas, os batis-tas primitivos, os batistas do livre pensamento, os batistas dos seis princípios (porque aceitam como único fundamento da fé e da vida cristã os seis pontos mencionados em Hb 6,1s: arrependimento, fé, batismo, im-posição das mãos, ressurreição dos mortos, juízo eterno), os batistas tunkers, os batistas campbellitas, os batizantes a si mesmos, os batistas abertos, os batistas fechados, os batistas do sétimo dia (observantes do sábado e não do domingo), etc.

Cada comunidade batista é independente de qualquer autoridade visível, seja eclesiástica, seja civil; é regida diretamente “por Jesus Cristo e pelo Espírito Santo”, que agem na assembléia – não há, portanto, hie-rarquia nem jurisdição eclesiástica. O pastor é, de certo modo, o governante absoluto da comunidade, esta, porém, pode rejeitá-lo e substituir por ou-tro. Todo poder é delegado pela assembléia dos crentes, que elege os que por ela respondem, tanto pastores como diáconos.
 

Doutrina

Em sua teologia, os batistas seguem teses calvinistas. Assim, por exemplo, ensinam que Deus predestina os homens, diretamente não só para a glória, mas também para a condenação eterna. Afirmam também que a justificação ou a graça é obtida mediante a fé apenas, de tal modo que não admitem obras meritórias. A graça não apaga o pecado existente na alma do crente, mas tão-somente o encobre. Os ritos do batismo e da Santa Ceia não são meios comunicadores da graça (que vem somente pela fé), mas servem apenas para fortalecer aqueles que os praticam com fé.

Como no protestantismo em geral, a Bíblia é tida como única fonte de doutrina, sem que haja atenção á tradição oral ou à transmissão da doutrina de Cristo e dos apóstolos que se fez de boca em boca e de geração em geração, sem ser consignada rio Livro Sagrado. Esta posi-ção básica dos protestantes dá origem às numerosas denominações, no inicio de cada uma das quais há um “profeta” ilumimado que interpreta a Bíblia a seu modo.

Na verdade, afastam-se da tradição bíblica e cristã aqueles que só querem batizar crianças. Lemos, sim, que vários personagens pagãos professaram a fé cristã e se fizeram batizar “com toda a sua casa”; assim o centurião romano Cornélio (At 10,ls.24.44.47s), a negociante Lídia de Filipos (At 16,14s), o carcereiro de Filipos (At 16,31-33), Crispo de Corinto (At 18,8) e a família de Estéfanas (1 Cor 1,16). A expressão “casa” (oikos, em grego) designava o chefe de família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças.

Quanto à imersão, ela não é obrigatória, pois não é o volume de água que importa, mas sim a efusão da água como símbolo e canal de pureza interior. No dia de Pentecostes, em Jerusalém, as três mil pessoas que se converteram certamente não foram batizadas por imersão, pois lá não havia rio e os reservatórios de água não comportavam tal quantidade de pessoas (cf. At 2,41).

(1) A diversidade do conceito de sacramento está subjacente à controvérsia. Para o Cristianismo clássico (e o Catolicismo), sacramento é um canal da graça que realiza seu efeito ou comunica a graça mesmo a uma criancinha antes do uso da razão ; no caso, Deus tem a primazia comunicando a sua graça para que o cristão oriente a sua vida conforme a Lei de Deus, desde que chegue ao uso da razão. – Para os anabatistas, sacramento é um sinal de conversão efetuada por um adolescente, um jovem ou um adulto; vem a ser mero testemunho de vida dado à comunidade – o que naturalmente não é compatível com a idade anterior ao uso da razão. 

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