Desmentindo a “sola gratia”


O que nos salva é a graça, isto sempre nos disse a Igreja. Quem morre em estado de graça, vai para o Céu, quem morre na ausência dela se condena. Da Graça depende a nossa sorte Eterna. Santa Teresa D’Ávila já cantava há muitos séculos atrás, “Quem tem Deus nada lhe falta, só Deus basta”. Que é a Graça senão a “posse” de Deus? Traduzindo o que nos queria dizer esta doutora da Igreja: quem tem a graça nada lhe falta, ainda de que tudo mais careça; porque, em verdade, só Deus nos basta.

 

  Bem, então a Igreja Católica também defende a “sola gratia”? Se for ao sentido literal da expressão, dizendo que unicamente da graça depende nossa sorte eterna, sim. Mas a doutrina protestante vai muito além disto, cai na heresia ao afirmar que não importa como tenha vivido o crente, ainda que ímpio, injusto, mau, todos serão salvos. Dizem que o fiel está livre do pecado, não porque não os possua mais ou não possa cometê-los, mas porque os têm encobertos pela graça de Cristo. Assim, o justificado tem graça e pecado ao mesmo tempo – simul iustus et peccator.

 

 È bem verdade que Jesus morreu na Cruz para salvar a todos, e que todos podem usar dos méritos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, no entanto, Deus que por misericórdia nos fez capazes do bem; por justiça, fez-nos livres para nos decidirmos por Ele.

 

 Os protestantes prendem-se nesta passagem da Escritura: “Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas é puro dom de Deus".(Efésios 2,8) Também isso sempre nos diz a Igreja, que Deus por sua bondade, de forma gratuita veio a nós, Ele nos amou primeiro. Deus não nos salvou porque receberia algo de nós, até porque, o que temos de bom que não recebemos Dele? Se julgássemos capazes de pagar algo a Deus, seríamos tão ‘ignorantes” como as crianças que na sua inocência, pedem dinheiro a mãe para comprar-lhe um presente, e acham que a presentearam por sua própria conta.

 

  Mas o que difere do pensamento protestante neste ponto é que a Igreja diz-nos que Deus é aquela mãe que deu o dinheiro para ser presenteada. Exatamente porque em Deus a justiça e a misericórdia se encontram da seguinte forma: todo ato de justiça pressupõem um ato de misericórdia.

 

  Continuando com este pensamento, reiteramos, que a doutrina católica, na sua infalível coerência, nos ensina que se Deus não tivesse se compadecido de nós, tomado nossa humana natureza, sofrido e morrido na Cruz, e depois ressuscitado, vã seria a nossa fé. O Católico aprende a viver santamente, a fazer sacrifícios, a imitar Jesus, não porque ache que seus sacrifícios por si mesmo valem muita coisa; mas assim como as pedras feias e sem valor, ficam preciosas quando banhadas em ouro; assim nossos sacrifícios, nossa vida de virtudes, quando banhados no sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, Sangue que brota da Cruz, sangue de seu sacrifício salvífico; ficam muito valiosos.

 

  Ainda concluindo esta questão do “Dom gratuito de Deus”, em verdade não podemos pagar a Deus por nos ter aberto o manancial da Graça, não podemos pagar pela Graça, e por isso Ele não nos cobra, mas também não nos obriga a aceitá-la.

 Poderiam contestar dizendo, “mas nós precisamos aceitar a graça? Não está claro que ninguém quer sofrer eternamente?”. O próprio São Paulo nos responde isto, “è necessário completar na nossa carne o que faltou a Paixão de Cristo”.

 

  Nossa, mas como pode faltar algo na Paixão de Jesus? Isto é verdade, se Jesus é Deus, e Jesus é Deus; todo sacrifício Seu tem valor infinito, logo não falta nada da parte Jesus. O que falta é nossa participação pessoal nesta Redenção. Mas de que maneira? Na aplicação dos frutos da Redenção. Quando nós somos crianças e estamos aprendendo a comer, nossa mãe ao invés de dar-nos de comer sozinha, ela prefere segurar nossa mãozinha e leva-la à nossa boca. Assim faz Jesus: Ele conduz as nossas mãos incapazes com poder de suas mãos divinas, até alcançarmos graça. Isto é, unindo nossos pobres merecimentos aos seus méritos divinos.

 

  “Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me."( (São Mateus 16,24). “Agora vou para Aquele que me enviou...”(São João 16,5) Estes trechos se completam, Jesus nos diz que vai para o Pai, para o Céu, e quem quiser ir também deve imita-lo tomando a cruz e vivendo como Ele. Reparem bem que Nosso Senhor diz, “quem quiser vir após mim”, deixando claro que embora Ele tenha feito tudo pela humanidade, nem todos os homens iriam para o Céu, porque não O haveriam de seguir. 

 

A conclusão lógica que tiramos disto é:  Jesus é todo amor, se eu alimento ódio, falto com a caridade,  eu estou O seguindo? Jesus é tão puro, se eu me entrego a impureza, eu sigo Jesus? Jesus ama o sacrifício e a mortificação, e eu quero unicamente satisfazer a minha carne, como eu posso assim estar seguindo Jesus? A resposta para estes questionamentos são óbvias, então, logo poderemos concluir: se eu não sigo a Jesus, como posso chegar a Deus, chegar a graça; e um dia, chegar ao Céu?

 

  Quando Deus nos criou, criou-nos para a felicidade eterna, capazes do Céu. Fez-nos para isto, seres ordenados: com o corpo submetido à alma, a vontade para desejar o bem, a inteligência para compreender a verdade; era desta maneira que nos iríamos salvar. Mas o homem pecou, perdeu a graça, e desarranjou toda sua natureza. Foi então necessário que Deus mais uma vez elevasse a nossa natureza, recriando o gênero humano; morreu na Cruz para dar morte ao homem “velho”, e ressuscitou para fazer renascer um novo homem, regenerado em graça.

 

  No entanto, a natureza que outrora fora naturalmente equilibrada, agora por conseqüência do pecado, desarranjou-se; mas deve ainda manter-se equilibrada por que este é o plano de Deus para nossa salvação; porém, isto agora, custa-nos muito esforço, e ainda maior dependência de Deus.

 

    Continuando vamos analisar algumas incoerências racionais desta doutrina pseudo-reformada que afirma o simul iustus et peccato, isto é, simultaneamente o pecado e graça: A primeira, é esta liberdade para pecar, este perdão antecipado com sinceros votos de “fique a vontade para pecar”; isto é brincar com Deus, dizer para Deus que Ele tem de nos aceitar assim, esquecido daquelas palavras de Nosso Senhor que nos diz: “sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito”? Acordem deste sono, isto é sim brincar com Deus, e “com Deus não se brinca.”.

 

   Segunda coisa absurda: a Graça é a posse de Deus na alma. E como Deus pode dividir espaço com o pecado? Como a Graça e o pecado podem subsistir? Deus é Aquele Que É; bom em si mesmo, bom por si mesmo; já o pecado é o contrário, ele é todo mal, ele mal em si mesmo, por si mesmo, é intrinsecamente mal. Assim como em Deus existe a plenitude da perfeição, isto é, o bem; o pecado é plenitude do mal (Porque ele é o resultado da ausência absoluta de Deus). Logo podemos concluir que em Deus não há espaço para o mal, e no pecado não existe lugar para o bem; sendo assim, como um botão não pode adentrar em uma casa fechada, e a casa não entrar em um botão; eles jamais estarão juntos, cooperativos, ou coexistentes. .

 

  Concluindo, o sangue de Jesus realmente nos lava do pecado, nos abre as portas do Céu; por isso Deus tão misericordioso, tão bondoso; não colocou barreiras para afastar os homens de lavarem-se com o precioso sangue de Jesus; todos podem ser perdoados, todos podem ganhar o Céu. Mas aí pode ter vindo uma pergunta; “mas se todos podem, porque nem todos são lavados?” Esta pergunta já foi respondida acima, mas para a melhor compreensão vamos usar uma comparação: se nos pegarmos duas folhas de papel; em uma passarmos resina, e na outra não; e aí jogarmos estes papeis em um balde de tinta. Ao retirarmos perceberemos que o papel que tinha resina não se deixou tingir. Ao contrário, a outra folha ficou impregnada de tinta, a tinta misturou-se a estrutura do papel, de forma que não existe mais papel e tinta; agora existe um papel tingido.

 

Com a Graça de Deus acontece algo muito semelhante; o pecado é aquela resina que não deixa a Graça invadir a nossa alma, é aquele lodo que nos faz impermeáveis a Deus. Ao passo que, com a alma em graça, o sangue precioso de Jesus mistura-se àquela alma justa, de maneira que já não são dois, mais um só; isto é tão verdade que São Paulo diz:  “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim.” (Gálatas 2,20)

 

  E o Sacramento da Penitencia, o que faz? Ele abre um pequeno orifício nesta resina espiritual, permitindo o sangue de Jesus entre na alma, lave-a; e então, imediatamente, isto é, no mesmo instante em que entra a graça, sai o pecado.

 

 Enfim, quando ouvirem pessoas afirmando toda esta distorção doutrinária que discutimos neste artigo; ainda que com toda a caridade cristã, sejamos firmes para contrapor, dizendo: não só a Sagrada Tradição e o Sagrado Magistério da Igreja contradizem tal doutrina; como também a Sagrada Escritura e a razão. 

Facebook Comments

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.